Nem tudo é o que parece #6


Nos nossos tempos de criança, minha prima e eu adorávamos entrar em qualquer parque de diversões que encontrássemos. Pra falar a verdade, ela tinha um entusiasmo maior que o meu, apesar de meu maior medo ser de montanhas-russas. Enfim, preciso falar de um dia que marcou nossas vidas para sempre. Evidentemente, foi em um parque. Era um dia cinza. As ruas estavam desertas. Parecia quase um cenário de apocalipse zumbi.

Encontramos um parque como uma aparente velharia de décadas atrás. Não sei porque minha prima se sentiu atraída por aquele monte de ferrugem à primeira vista. Ela correu, tive que ir atrás, claro. Nossa, que menina veloz. Em uma fração de segundos, já estávamos no centro do terreno onde ficava o parque. Estava um completo deserto.

- Bob, quer ir no carrossel comigo? - perguntou ela, sorridente.

- Não... vai você primeiro. - disse eu, relutante.

A aparência daquele carrossel era deprimente. A ferrugem cobria os cavalos quase que inteiramente. Mas dava pra ver que as cores originais dos cavalos era preto, o que era no mínimo estranho, sendo que, geralmente, carrosséis costumam apresentar cores variadas para atrair melhor. Havia um homem encapuzado que era responsável por ligar o brinquedo.

Ela ficou lá... brincando naquela coisa medonha. Quase todos os brinquedos estavam em péssimas qualidades, mas minha prima parecia não se importar com esses detalhes estéticos.

Fiquei chutando a areia, de costas para o carrossel, bastante entediado. Até que senti a terra tremer levemente. Virei para o carrossel. Minha prima havia sumido. No entanto, o tal homem permanecia ali.

Não sabe o quão fiquei desesperado. Como isso foi acontecer?

Tudo parecia uma mar de dúvidas, até que olhei para trás e me deparei com eu e minha prima correndo, com as mesmas expressões de quando havíamos chegado. 

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Em uma manhã de domingo, estava tranquila e sentada em um banco de uma praça, lendo um jornal, especificamente na parte dos próximos capítulos das novelas. Tudo bastante agradável, até que, de repente, surgiu um homem sentado próximo à mim. Olhei para ele com certa estranheza. Aparentava ter uns 60 e poucos anos. Estava cabisbaixo e não demorei a tentar ajuda-lo.

- O senhor está bem?

- Nunca me senti melhor, como agora. - respondeu ele, abrindo um sorriso.

Estranho. Do nada ficou feliz. Voltei com minha leitura, mas poucos minutos depois, percebi algo que vinha dele. Em suas costas pingava sangue. Na realidade, suas costas estavam bastante ensaguentadas, pois deu pra ver uma enorme mancha, apesar de ele estar vestindo um casaco preto.

- O senhor tem certeza de que está bem? E-está sangrando... o que houve?

De repente ele se levantou. O mais estranho foi perceber que o sangue havia parado de escorrer. Foi andando calmamente pela minha direita. Até que, antes de ir embora, ele falou:

- Coloque na página 10.

Eu não havia chegado nessa página. Mas, por curiosidade, atendi à recomendação.

Na notícia, de caráter policial, estava escrito - para meu forte espanto: "Será velado hoje, corpo de homem que foi baleado nas costas, após reagir a uma tentativa de homicídio." 

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Quando eu era criança, em uma bela tarde ensolarada, avistei um palhaço que vendia balões. Lembrei que meus colegas da época falavam bastante dele, mas sempre rejeitei a ideia de comprar um por puro desinteresse. Não sei porque, mas me bateu a vontade de ter um balão naquele dia. Pedi pra minha mãe comprar, claro. Fomos até ele e escolhi um, cuja cor era de um vermelho bem sombrio.

Além disso, tinha uma carinha feliz nele. O engraçado era o peso dele. Perguntei para o palhaço o que havia dentro do balão. Ele disse que era apenas água, para que quando estourasse divertisse mais as crianças.

O vento estava meio forte, então o balão me carregava, em vez do contrário. Cheguei em casa e o amarrei na perna da mesa da cozinha, enquanto minha mãe preparava o jantar.

Fiquei um tempo vendo TV, até que de repente escutei um estouro seguido de um grito de horror. O grito de minha mãe. Corri até a cozinha e vi a sujeira mais grotesca de todas!

O balão havia estourado. Metade do chão da cozinha estava coberto de sangue, e, como se não bastasse, haviam pedaços de entranhas. Outro detalhe: havia um bilhete. Minha mãe correu até a sala e ligou para meu pai, ela chorava copiosamente.

No bilhete estava escrito: "Surpresa! Espero que tenha gostado do brinde. Escolhi você para se divertir comigo. Quero arrancar o que há de bom em você."

Assim que terminei de ler, olhei para a porta da cozinha. Atrás dela estava uma mão segurando vários balões. 

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Alguns meses após eu ter tido minha filha, meu marido saiu em viagem. Tive que carregar o fardo de cuidar daquela bebê chorona sozinha. Nossa, como ela chorava! Mesmo estando em meus braços, aquela pirralha berrava como uma gata no cio. Juro e confesso que tentei por vezes joga-la na parede, pois não conseguia mais aguentar aquele choro. E para amenizar esse desconforto - de ambos os lados - lhe comprei uma boneca, muito realista, por sinal.

Bastante velha, maltrapilha e com o rosto desgastado, mas que possuía um mecanismo de fala. Consegui agradá-la. Se tornaram melhores amigas. Mas, com o passar dos meses, fui notando como a conexão entre ambas era forte. Os choros pararam, ainda bem. Mas... eu sentia que precisava melhorar aquela relação. Queria inovar. Passei a gostar mais da boneca do que de minha própria filha.

Foi então que através de inúmeras pesquisas na internet, consegui pôr meu plano em prática.

Foi interessante inverter os papéis.

Não havia outro jeito. Não havia outra saída. Eu tinha que abraçar esse meu desejo, por mais louco e insano que ele parecesse.

Foi por isso, então, que transformei minha filha na boneca da minha nova filha... aquela boneca adorável! 


FIM... por enquanto! 

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