Frank - O Caçador #4: "O Hóspede Maldito"


Laboratório de pesquisa da Clínica Emergencial 2A - Área Nobre; 23h30. 

O Dr. McLank avizinhava-se até a sala na qual se prestou a ficar em assistência pelo intrigante caso que lhe foi reportado por funcionários menores. Mas por que havia sido logo ele a ser solicitado? Seus passos ansiosos no semi-escuro corredor branco indicavam um interesse real e sincero dados os detalhes abismais fornecidos. Como um homem em seus bem cuidados 50 anos, McLank orgulhava-se de sua bem construída jornada profissional como médico cirurgião para casos clínicos de gravidade máxima. O chamado por sua ajuda indicava a existência de um caso extremo nunca antes constatado pela sua equipe.

Segurando sua prancheta, o homem de rosto quadrado e cabelos grisalhos de corte comum olhou para trás ao notar uma presença que se aproximava com pressa. Um dos seus auxiliares nas pesquisas do laboratório, um rapaz caucasiano de estatura mediana, cabelos pretos partidos de um lado e usando óculos de grau alto.

- Phill, o que faz aqui? - perguntou o doutor, virando-se para frente e continuando a andar. - Já disse que não preciso estar acompanhado para fazer minhas análises. Fique fora disso.

- Então o senhor já sabe?! - espantou-se o jovem, tentando alcançá-lo. - Eu... andei verificando a sala antes da notícia correr solta pelo prédio. Tenho que admitir: Nunca vi algo assim antes.

- Não espero ser surpreendido. - retrucou McLank, sério. - Mas vou compensar seu esforço em querer ser útil neste caso com um relatório completo a respeito do paciente. Se é tão grave como dizem, vou precisar de auxílio extra. E não estou me referindo a você.

- Mas por que? Já provei ter estômago forte. - argumentou Phill, sentindo-se um pouco rejeitado pelo tom do chefe.

McLank interrompeu a caminhada e virou-se para o aprendiz, exalando austeridade na face.

- Olhe aqui, rapaz. Vai precisar provar mais do que isso se quiser ser levado a sério no ramo. Gosto de você, Phill, mas só o que consigo ver é um potencial retraído e desperdiçado. - tocara-o no ombro. - Não se trata de provar a mim. Mas a si mesmo. É assim que começa.

Phill assentiu positivamente, concordando.

O doutor prosseguiu a caminhada, já à poucos metros da sala onde o paciente estava internado.

Quando chegaram, McLank se pôs próximo à grande janela de vidro, encarando com curiosidade, mas sem espanto aparente.

- Como eu disse: Nada que já tenhamos visto. - insistiu Phill, observando o paciente ficando à esquerda do chefe. - Parece ser... algum tipo de infecção parasítica anômala, ele vomitou bastante, mas em vez de suco gástrico, foi sangue. É surreal. Jamais vi um paciente chegar a tal nível. - teorizou, olhando estreitamente. - Meu palpite é que não lhe resta muito tempo. Aparentemente, o volume abdominal excede a cada duas horas.

- Há quanto tempo esse homem está aqui? - perguntou McLank, olhando fixamente para a barriga do paciente.

- Cerca de três dias. - respondeu Phill. - Só decidiram avisar ao senhor quando atingisse estado crítico. Como agora.

- Chame o Controle 2A, imediatamente. - exigiu McLank, estreitando os olhos ao perceber um detalhe que o pegara despreparado. - Rápido, antes que chegue ao limite. Não esqueça do relatório.

- Sim, senhor. - disse Pihll, logo correndo para avisar a equipe especializada.

O detalhe avistado ficou mais nítido, fazendo o sangue de McLank gelar.

O paciente era um homem calvo de meia idade, obeso devido à infecção e sedado na cama. Estava apenas com a calça jeans e os sapatos, as roupas de cima estavam guardadas em um armário.

Sua barriga parecia uma grande esfera de pele humana. Quando vieram pedir pela ajuda imediata de McLank, se referiram à ele como "homem grávido", o que o doutor considerou uma piada de puro mal-gosto tendo em vista a situação extrema e desesperadora.

Os olhos de McLank não paravam de fitar um certo movimento na barriga do homem. O que parecia possuir o formato de um corpo segmentado de uma centopeia passeando dentro do intestino do paciente.

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CAPÍTULO 04: O HÓSPEDE MALDITO

Centro de Danverous City - proximidades do DPDC

Frank vislumbrava o relógio a cada trinta segundos, caminhando apressadamente pela calçada que circundava o prédio do Departamento Policial. Esbarrando em algumas pessoas pelo caminho - e se desculpando várias vezes -, o detetive se amaldiçoou pelo dia atribulado que teria em decorrência do aparente atraso.

Surpreendentemente, Carrie vinha por trás, correndo para alcança-lo. Trazendo um copo de café, não tardou para enfim se colocar ao lado do parceiro antes que ele percebesse sua presença.

- Por que a pressa? - perguntou ela, o ar brincalhão.

- Hã? Carrie!? - disse ele, virando o rosto com uma expressão surpresa. - Não me assusta desse jeito. Parece até um fantasma.

- Não é bem o modo correto de tratar o seu anjo da guarda que, para sua sorte, veio tranquiliza-lo. - rebateu ela, olhando para frente com a expressão fingidamente séria.

- Estou mais atrasado do que nunca. - reclamou ele, parecendo cansado pela caminhada desesperada. - Um minuto a mais e o diretor vai enfeitar a parede do escritório com a minha cabeça. Sorte sua ter permissão de chegar 15 minutos depois.

- Bem, pelo vi que nos jornais, chegou a conclusão de que não sou a única pessoa a ter um dia de sorte hoje. - disse Carrie, retirando um jornal do bolso interno de seu casaco cinza. Entregou-o a Frank, batendo o compilado de papéis sobre o peito do detetive que se assustou com o modo. - Vai gostar disso. Página 14.

O detetive, freneticamente, desdobrou o jornal e o folheou com rapidez até a página citada, sem parar de andar. Ao ver a notícia, desviou o olhar para Carrie, fitando-a com certa estranheza.

- É, acho que não sou o único que está tendo um dia ruim. - comentou ele, devolvendo o jornal.

- E aí, o que achou dos papães de primeira viagem? - perguntou ela, a face sarcástica.

- Carrie, isso não tem a menor graça. - repreendeu Frank, expressando seriedade. - Não consigo ver dia de sorte pra mim com um caso dessa natureza.

- Pensa bem: Vai tirar a poeira dos distintivos falsos. Não é do tipo de caso que interessa a polícia. - argumentou Carrie, tentando convence-lo a assumir as rédeas da investigação. - Espera... - disse ela, parando de andar ao ouvir o ínfimo ruído de vibração do celular. Retirou o aparelho do bolso e verificou a tela. Usou o indicador para ver toda a mensagem.

- O que foi? - perguntou Frank, curioso.

- Sabia que me retornaria bem cedo. - disse ela, inespecífica. Ergueu os olhos para o detetive de relance. - Andei pesquisando esses casos de homens grávidos nas últimas semanas, praticamente está ocorrendo uma espécie de surto, mas os números não são tão alarmantes, por enquanto.

Pelo visto, Frank detestara o termo pejorativo.

- Homens grávidos, Carrie? - indagou ele, olhando-a com reprovação.

- Olha, não tenho culpa, é assim que estão os chamando. - defendeu-se ela, sem tirar os olhos da tela do celular.

- E quem enviou essa mensagem? - quis saber Frank, logo dando uma checada no relógio.

- O Dr. Hammond e eu somos grandes amigos, ele foi meu professor de biologia no colegial. - revelou Carrie, ainda lendo o texto enviado. - Há 18 anos se formou em parasitologia, além de ter um laboratório particular onde analisa vários espécimes, dos mais inofensivos aos mais letais. Assim que pipocaram as notícias na web, e refletindo sobre o caráter delas, eu liguei para ele imediatamente.

- Espera aí, está falando de Victor Hammond? Parasitologista mais bem remunerado da clínica 2A? - perguntou o detetive, ansiando para confirmar.

- O próprio. - respondeu Carrie. - Enviei a ele reproduções das fotos divulgadas. E agora está me dizendo que os pacientes possuem características incomuns de infecções parasíticas conhecidas. É extremamente anormal um parasita do nível mais perigoso assumir um período de incubação de mais de 11 meses. Essas pessoas foram infectadas a quase um ano. - fez uma pausa, fitando Frank. - Isso te faz lembrar algo?

- 11 meses... - disse Frank, com uma mão no queixo, imerso em pensamentos. - Alguma informação sobre um paciente zero?

- Hammond me disse que houve um caso similar em 2002. - informou Carrie, ainda verificando o restante da mensagem. - Todos os dados sobre a vítima foram expurgados com o suposto objetivo de não chocar a população. O que já indica que a coisa é super-bizarra. Mas nessa mesma época, uma ação do governo implementou um controle de pragas nas regiões agrícolas, o que ajudou a evitar mais desses casos. Mais de uma década depois, essa mesma praga volta e arrasta para o hospital mais de três pacientes em poucos dias.

Frank, altamente focado em seu raciocínio, lembrava-se gradualmente de informações sobre os arquivos de seu pai.

- Isso me diz que tenho que ver mais as pastas com a letra A. - disse ele, certificando-se da ameaça.

- O que quer dizer? - perguntou Carrie, franzindo o cenho.

- Os diários do meu pai estão em ordem alfabética, mas geralmente a letra A nunca me interessou tanto pelo conteúdo não ser tão denso quanto as outras. - fez uma pausa, olhando ao redor, procurando ser discreto, chegando mais perto da assistente. - Essa coisa é um Ambroz. Um tipo de parasita monstruoso. Faz muito tempo que li sobre ele nos arquivos. Adora se instalar em água limpa e potável e nas plantações. Começa desse tamaninho... - fizera uma "representação" com os dedos. - ..; quando o hospedeiro atinge 11 meses de infecção... é aí que fica sinistro.

- Não faz isso comigo, Frank. - disse Carrie, aborrecendo-se por detestar ter sua curiosidade afiada sendo testada. - O que diabos acontece depois disso?

- A barriga do paciente faz... "kabum". - disse Frank, gesticulando com as mãos para representar o efeito de uma bomba.

- Caramba... - disse a assistente, engolindo a saliva ao se sentir arrepiada inteiramente. - Então, estamos lidando com verdadeiras bombas. - pensou um pouco a respeito, com preocupação.

- E não é aí que acaba. - continuou Frank. - Ele sai andando... até encontrar um ambiente ideal para sair do casulo quando atinge determinado tamanho.

- Tamanho de quê exatamente? - perguntou Carrie, ainda amedrontada pela descrição do ciclo.

- Acho que de um... - deu de ombros, procurando algo na rua que o lembrasse. Ao visualizar, apontou rapidamente. - Daquele hidrante vermelho ali.

Carrie se virou para trás e arqueou uma sobrancelha.

- Ah, porque estou tão impressionada. Não é a primeira e nem vai ser a última criatura bizarra que você caça desesperadamente.

- Não lembro bem da fraqueza dele. Mas primeiro vou conversar com o Hammond. - determinou Frank, as mãos na cintura.

- Então vai mesmo tirar um dia de "folga"? - perguntou Carrie, fazendo aspas com os dedos.

- Exato. Diga que houve uma emergência pessoal, não precisa ser tão específica. - disse Frank, olhando para a porta do prédio.

- O diretor e você são relativamente próximos. É óbvio que ele não é do tipo que se contenta só em ver a casca do abacate, quer ver como é o caroço também.

- Você é esperta, certamente vai inventar uma desculpa convincente. - disse Frank, afastando-se devagar para sair andando pela direção de onde veio. Apontou com o polegar para trás. - Como meu carro ainda está na oficina, vou pegar um táxi e falar pessoalmente com o Hammond.

- Dificilmente ele está no expediente agora. - disse Carrie, estranhando a pressa do detetive. - Mas pode ir de táxi, eu te mando o endereço da casa dele por SMS.

- Valeu mesmo, Carrie. - disse Frank, fazendo um joinha com o polegar direito, virando as costas para a assistente e andando no mesmo ritmo com o qual viera de casa.

- Ahn, Frank, espera um pouco. - chamou ela, andando até ele.

- O que foi? - perguntou ele, virando-se.

- Se em 11 meses encerra o período de incubação... - disse, com certa aflição contida. - ... então os atuais pacientes na clínica podem estar as portas da morte. Não tem como impedir isso? Será que, sei lá, não há uma cura pra isso?

- Infelizmente, não conheço nenhum tipo de veneno capaz de matar o Ambroz ainda dentro do hospedeiro. - disse Frank, lamentando. - Talvez nem meu pai conhecia. E se conhecia, provavelmente era raro ou já havia se esgotado. - olhou para Carrie, compreensivo. - Não posso matar esse monstro com o hospedeiro vivo. Essa é a parte mais dura.

- Entendo. - aquiesceu Carrie, assentindo para o parceiro.

- Te vejo mais tarde. - disse o detetive, tornando a se encaminhar para o ponto onde acenaria para o táxi.

- Ligo se descobrir algo. - prometeu Carrie, olhando-o ir por uns segundos para depois andar quase correndo em direção ao DPDC para evitar se atrasar mais do que o parceiro àquela altura.

Três pacientes em estado grave mantinham-se em observação na clínica. Ambos temiam a mesma coisa. Para agilizar investigação logo no início, Frank sentiu-se no dever de evitar que os três espécimes se libertassem numa única vez tendo em vista os períodos de incubação que praticamente foram coincidentes.

                                                                                              ***

Departamento Policial de Danverous City

Carrie dera um rápido grito ao deparar-se com o diretor Duvemport parado próximo a janela. O chefe, por reflexo, virou-se para ver quem entrava e aliviou-se rapidamente ao ver a figura da assistente.

- Olá, bom dia, Sra. Wood. - cumprimentou ele, andando até ela. Seu terno azul escuro parecia bem passado e a gravata vermelha realçava.

- Bo... Bom dia, diretor. - retribuiu ela, insegura, o olhar estranho. Olhou para trás tremulamente, logo culpando-se por ter deixado a porta aberta. Esticou o braço esquerdo, tocando na maçaneta e empurrou a porta para fecha-la. Virou-se depressa para o diretor, sorrindo nervosamente. Desfez da face fingida ao notar a desconfiança no olhar intimidador de Ernest. - Está bem, já sei, o Frank está encrencado por ter se atrasado como nunca antes. - disse, revirando os olhos. - Mas posso dizer, com toda a sinceridade, que não fez por negligência, aconteceu alguma coisa e ele precisou voltar urgente e provavelmente não vai poder comparecer hoje.

- E por acaso pensa que isso me importa? - perguntou Duvemport, indo em direção a mesa da assistente. - Vamos encarar, ora. Sei como se dão os papos entre você e o Frank. É fácil imaginar os dois tramando as desculpinhas esfarrapadas. - tocara no laptop de Carrie e o virou para ela, mostrando uma página de um portal de notícias. - Ele fez bem em tirar um dia de... folga.

Carrie fitava a tela do laptop estarrecida.

- Há quanto tempo soltaram essa bomba? - perguntou ela.

- Agora há pouco. - respondeu ele, direto. - O paciente de número 5 estava internado há dois meses com o que diagnosticaram ser uma gravíssima infecção por parasita.

- Mas não é... a clínica 2A. - disse Carrie, mexendo no laptop ao querer ver mais de perto.

- Não é a única da cidade. - disse Duvemport, apontando o óbvio.

- Isso eu sei, mas... - seu rosto empalidecia a cada vez que descia a página. - Frank precisa ir até lá.

- E onde ele está?

- Foi até a casa de Victor Hammond, já mandei o endereço. - disse ela, logo sentindo seu sangue gelar ao descobrir, no final da notícia, uma filmagem da câmera de segurança da sala onde o paciente. O portal de notícias recebeu a captura do exato momento do incidente. - Olha o que temos aqui...

Duvemport se aproximou ao perceber, ficando ao lado de Carrie.

- Não vou clicar. - disse Carrie, relutante em apontar para a seta que simbolizava "Play" no centro do vídeo.

- Estômago de papel. - provocou Duvemport, olhando-a com suspicácia.

- Não é isso. Afinal, qual o seu maior palpite sobre o que acontece com esse cara? - perguntou ela.

- Como vou saber? Mas se lhe satisfaz, estou apostando num vômito negro a jato. - disse ele, sem parecer temeroso. - É a única coisa que espero de uma doença como essa. Nunca vi nada igual.

- Urgh... - soltou Carrie, em sinal de nojo. Voltou os olhos para a tela. - O pior é que Frank me descreveu parte do ciclo de desenvolvimento do parasita. Este homem teve sua barriga explodida em mil pedaços. Estamos lidando com uma criatura que necessita de hospedeiros humanos para crescer e se fortalecer.

Duvemport se direcionou ao bebedouro para tomar um pouco de água. Pegou um copo descartável. Antes que o líquido preenchesse o copo, Carrie virou-se a tempo de impedi-lo.

- Não! - gritou ela, arrancando o copo da mão do diretor, deixando derramar algumas gotas no chão.

Duvemport a olhou desconcertado.

- O que deu em você? - perguntou, o cenho franzido, visivelmente irritado com o ato súbito.

- A água do DPDC é fornecida pelo mesmo reservatório que está contaminado pelas formas larvais do parasita. - disse ela, sem teorizar, amassando o copo. - A página informou os locais que foram notificados para receberem inspeções nos próximos dias. É melhor que cancele o contrato enquanto é tempo.

- Posso cuidar disso depois. - retrucou Ernest, ajeitando a gravata.

- Há quanto tempo veio a última leva? - perguntou Carrie, intrigada.

- Cerca de uns 3 meses. - respondeu ele, olhando-a com curiosidade quanto a conclusão.

- Os 5 pacientes mais críticos internaram-se há dois meses... Sendo 11 o período total de incubação... - dizia Carrie, mergulhada em seus pensamentos. - É isso, eles começam a apresentar os primeiros sintomas dois meses antes do período se concluir. Na pior das hipóteses, a coisa que saiu da barriga do cara da outra clínica deve ter escapado.

- A menos que tenham solicitado a equipe de contenção previamente. - disse Duvemport, passando a tratar o caso com mais interesse. - Mas sobre o fornecimento de água...

- Sim, sim, já sei o que vai dizer. - interrompeu Carrie, mostrando a palma da mão direita, pouco paciente quanto a ouvir as justificativas do chefe. - Não vamos evacuar e nem interditar o prédio para não gerar um furdúncio ainda maior.

- Parabéns, tirou as palavras da minha boca. - disse o diretor, levantando uma sobrancelha em sinal de ironia. - E então, a pergunta que não quer calar é: Como diabos Frank conseguirá salvar 4 pessoas irremediavelmente sentenciadas a morte?

A assistente andava de um lado para o outro, com as mãos juntas diante dos lábios.

- Tem que haver um jeito. - disse ela, preocupando-se. - 11 meses... - parou ao volta-se para o diretor. - Em que mês nós estamos?

Duvemport revirara os olhos.

- Francamente...

- Ah, dá um desconto, andei totalmente abarrotada de trabalho nos últimos dias que me desliguei um pouco dos dias da semana. No fim de semana passado, por exemplo, acordei pensando ser quinta-feira. - disse ela, a fala apressada. - Parasitas normalmente atacam nos verões... Em qual mês começou o verão passado?

- Outubro. - respondeu Duvemport, lacônico. - Estamos em Agosto.

- Isso! Restam dois meses! - falou Carrie, empolgando-se. - As formais larvais se instalaram nas plantações nesta época do ano. Porque o verão é a época do cultivo e colheita. - constatou, esboçando um leve sorriso de satisfação. Ao lembrar-se da clínica onde o quinto paciente falecera, sua expressão alterou-se. - Mas... não lhe parece estranho a maior parte dos pacientes do surto atual estarem internados na clínica 2A, em vez da outra, que, por sinal, possui mais rentabilidade e verba em toda a região?

- Hum... Diria que a 2A pode ter conseguido um maior poder aquisitivo recentemente. - teorizou Duvemport, pensando a respeito. - Alguém envolvido diretamente com alguma organização financiada pelo governo pode estar movendo as cordinhas. Talvez um investimento mais forte no laboratório de pesquisa. Quem quer que seja, está atraindo mais pacientes com sérias doenças, não só para tentar cura-los, mas, especificamente, estuda-los...

- Como cobaias de experimentos. - completou Carrie, a face um tanto perplexa. Fechou os olhos por uns segundos, balançando a cabeça negativamente. - Olha, odeio ficar teorizando por tanto tempo e acabar me sentindo paranoica. Eu prefiro agir e ir colhendo evidências até nos aproximarmos da verdade. E é o que Frank está fazendo agora, mas está indo ao local errado.

- O que vai fazer? - perguntou Ernest.

- O que eu devia ter feito logo depois de ver a notícia do nosso homem-bomba. - disse Carrie, sacando seu celular e tocando na tela sensível com o polegar direito, telefonando para o detetive. Pusera o aparelho próximo ao ouvido esquerdo.

- É simplesmente inútil. - disse Duvemport, sentindo-se de mãos atadas.

- Então pode ser útil se ligar para a clínica 2A e se passar por um familiar de um dos pacientes e sugerir a participação da equipe de contenção para se preparar caso um deles exploda e libere o bebê monstrinho. - aconselhou Carrie, o tom soando autoritário demais para Ernest concordar em ajudar.

- Devo lembra-la de quem verdadeiramente está no comando aqui? - perguntou o diretor, ríspido.

- Que droga. Está fora de área. - reclamou Carrie, olhando para o celular. - Não tenho escolha. Vou ter de ir a casa de Hammond. Se possível, chegar antes de Frank.

- Não acha que o fato da ligação não ter completado significa que Frank já esteja lá? - especulou Duvemport, os olhos estreitando-se.

- Hammond costuma enrolar bastante. - disse ela, guardando o aparelho e seguindo em direção a porta. - Vai ser um atraso. Esqueci de avisar que é comum ter instabilidade de sinal no bairro onde ele mora, então por isso vou precisar ir até lá. - virou-se para o diretor. - Tem a gentileza de me emprestar o carro?

- Não vá batê-lo. - disse Duvemport, soando engraçado, jogando as chaves para a assistente. - Só permito porque estamos diante de uma causa maior.

- O único lado bom dessa história é que finalmente vou dirigir um Mercedes Classe A. - disparou Carrie, exalando um ar de realização nítido, logo fechando a porta ao sair de sua sala.

                                                                               ***

Residência de Victor Hammond 

Umas quatro batidas na porta foram mais que suficientes para garantir um rápido atendimento. Frank suspirou um pouco, pacientemente relanceando alguns detalhes da fachada da grande casa enquanto ouvia os ruídos de trancas sendo destravadas. Em resumo, a localidade encontrava-se em uma área relativamente pataca. Havia ocorrido uma rápida chuva que deixara algumas poças na rua e havia tornado o clima moderadamente nublado.

A porta, enfim, abriu-se com rapidez, apresentado um homem aparentando ter em torno de 55 anos, de estatura mediana, couro cabeludo calvo, rosto branco meio redondo, com alguns sinais nas bochechas e uma barba por fazer. Os olhos azuis mantinham-se por trás de uma armação de grau médio, estuando a aparência de Frank, sem muita surpresa evidente.

- Olá, sou o detetive... - disse Frank, logo sacando o distintivo para exibi-lo.

O homem o cortara erguendo uma mão.

- Sim, eu sei quem você é, Carrie me enviou uma mensagem a quase 10 minutos. - disse, olhando para o celular - Estava o esperando. - disse Victor, para o espanto de Frank.

- O quê?! - indagou o detetive, estreitando os olhos em suspicácia. - Ahn... - ficara sem saber como reagir. - O que ela disse?

- Que está no lugar errado. - disparou Hammond, sem rodeios. - Pode ler a mensagem se pensa que estou mentindo. - disse ele, querendo entregar o celular a Frank.

- Não, acredito piamente no senhor, na verdade eu até já esperava que ela fosse aprontar essa. - justificou Frank, inseguro. - O que ela disse mesmo, especificamente?

- Foi confirmada a existência de um quinto paciente com a tal doença parasítica misteriosa que a mídia está movendo todos os pauzinhos para censurar. - revelou Hammond, meio sisudo. - Ela foi bem enfática. A barriga do cara explodiu feito um balão.

- Houve uma morte!? - surpreendeu-se Frank, arqueando as sobrancelhas. - Há quanto tempo?

- Cerca de meia hora, aproximadamente. - informou Hammond, guardando o celular. - Não deveria estar aqui.

- Olha, vai me desculpar, mas... - Frank interrompeu a frase, permitindo o desespero crescer dentro de si. Inclinou-se para Hammond para conversar baixinho. - Eu preciso do conhecimento que o senhor possui, agora mesmo. Então, já que vamos ser quase parceiros nesse caso, vamos nos desfazer de nossos segredos. Eu começo: Sou um caçador de coisas malignas e monstruosas. - disse, apontando para si com o polegar direito. - E o senhor é o único ligado a maior clínica desta área que pode me ajudar a conhecer mais desta criatura.

- Se é de caráter sobrenatural... e você me parece ser nascido e criado aqui em Danverous City... - disse Hammond, fitando-o estreitamente. - ... então porque não é tão bem versado em um parasita extremo que em alguns verões ataca a população?

- Por que cometi um erro ao rejeitar um dos arquivos do meu falecido pai, que também caçava as mesmas coisas. - revelou Frank, em um tom meio afobado, mas direcionado a si mesmo com relação a negligência. - Por favor, senhor Hammond, meu carro está na oficina, peguei uns dois táxis até aqui, o sinal de celular é péssimo...

- Está bem, está bem, está bem. - cedera Hammond, impacientemente gesticulando com as mãos para pedir que Frank parasse de "mendigar" seu auxílio. - Uma morte talvez não signifique o fim do mundo. Mas terei de ser rápido para ajuda-lo a chegar a tempo de evitar outra.

- Muito obrigado, Dr. Hammond. - disse Frank, mostrando-se sinceramente grato, entrando na casa.

- Siga-me. Está no meu porão. - disse Victor, andando na frente e seguindo por um corredor praticamente escuro e decorado com papéis de parede verdes.

- É curioso, sabe. - comentou Frank, bem-humorado. - Pessoas que escolhem casas com porões geralmente tem algo a esconder.

- Não, fique tranquilo. Não tem nenhuma garota amarrada e amordaçada. - disse Hammond, meio brincalhão. Olhou para Frank por cima do ombro. - O que tenho ali... é uma peça valiosa e invendável.

- Bem, então temos algo em comum. - disse o detetive, satisfeito. - Somos dois homens de segredos.

                                                                                     ***

Frank mal sentira sua boca abrir-se em completo assombro e seus olhos mal desviavam para os outros itens armazenados nas médias prateleiras que ficavam em dois lados opostos, sendo a mesa central ficando entre elas.

A iluminação do porão provinha de uma única lâmpada parecida com um abajur invertido, banhando com uma luz pálida a mesa metálica retangular... e o objeto sobre ela.

- Caramba, é mesmo autên...

- Sim. - disse Hammond, confirmando. - Cortesia do grupo responsável pela análise de atividades secretas da comunidade científica da cidade.

- Um casulo de Ambroz. - disse Frank, ficando na outra ponta da mesa, diante do parasitologista, observando o exemplar autêntico: Um pupa ou casca do parasita de tonalidade branco-acinzentada, denotando que a aparência do mesmo possuía formato insetóide com élitros parecidos com os de besouros e na cabeça podendo-se ver duas protuberâncias pontudas e horizontais que lembravam chifres. Frank tornou a olhar para o médico. - Vi muito pouco sobre essa criatura. Acho melhor o senhor refrescar minha memória... quanto ao ciclo de evolução.

- Tudo bem. Repare no rasgo nas costas dele. - apontou Hammond, fitando a área. - Foi daí onde ele saiu após o fim da terceira etapa, quando seu peso dobrou de tamanho depois da casca absorver uma grande quantidade de oxigênio favorecendo os nutrientes que ele sorveu do organismo humano na segunda etapa.

- Isso depois de ele perder a mobilidade após os três dias perambulando pelos cantos até seu corpo não suportar mais o peso da casca. - disse Frank, lembrando-se dos detalhes básicos com clareza.

- A casca se fragiliza já no segundo dia. - informou Hammond, olhando para o espécime. - O que estamos vendo não é a coloração original. Imagino que está louco de curiosidade sobre como obtive esse exemplar.

- Pois é... A propósito, esse espécime foi capturado em qual ano exatamente? - perguntou Frank, apontando para o objeto.

- Em 2002. Presumo que Carrie tenha lhe dito quando leu minha última mensagem. - disse Hammond olhando firmemente para Frank.

- Espera aí, naquele caso onde a mídia encobriu praticamente tudo a respeito? - questionou Frank, pegando-se curioso e surpreso ao mesmo tempo.

- Exato. - respondeu Hammond. - Usei minha influência como diretor-chefe do laboratório de pesquisa da clínica 2A, na época, e me apossei do paciente, o qual estudei minuciosamente ao lado de uma equipe de três ou quatro aprendizes, não lembro muito bem quantos eram, mas houve um ocorrido imprevisível que nos deixou em alerta. Nos deparamos com o paciente morto e pedaços de suas vísceras, pele e órgãos espalhados por toda a sala. Um aprendiz meu estava completamente encharcado de sangue e, encolhido num canto da sala gritava de horror incessantemente. Só parou quando demos um calmante e nos disse que viu uma criatura escapar pela janela. De fato, haviam marcas sangrentas de pegadas com três garras no chão que seguiam pelo corredor, que não havíamos percebido antes, então graças a isso foi fácil capturar o espécime.

- E quanto ao aprendiz? Como ele saiu dessa? - perguntou Frank, um tanto amedrontado, interessado em saber mais sobre.

- Pediu demissão no mesmo dia e usou todo o dinheiro que conseguiu com o estágio para pagar psicoterapias. - revelou Hammond, friamente.

Frank deu um assovio baixo sinalizando surpresa.

- Fizemos uma bateria de exames - disse Hammond, prosseguindo -, por sorte um sedativo poderoso o bastante para parar uma baleia serviu contra ele, mas, após oito horas seguidas de contínuas análises nos sistemas internos e externos, ele demonstrou uma alta carência de glóbulos vermelhos o que indicava ausência de oxigênio ou uma perda progressiva, seus sinais vitais caíam vertiginosamente a cada meia hora. O retiramos do laboratório e o conselho científico autorizou a criação de um território aberto com propriedades similares a de uma floresta bem arborizada e o jogamos lá para que se fortalecesse e seu desenvolvimento seguisse o curso natural. O acesso era altamente restrito. Somente pessoal autorizado poderia entrar quando houvesse uma ocorrência imprevista. Eu apenas me limitava a observa-lo e estuda-lo pela janela.

- E o que fizeram depois que ele saiu do casulo? - perguntou Frank, prendido pela história.

- Três dias e meio depois tentamos matar o espécime interno com combinações de agentes químicos letais. - contou Hammond, bastante calmo. - O casulo, o espécime externo no caso, tornou-se propriedade do laboratório. E posteriormente minha propriedade. O ganhei no maior lance num leilão reservado a cientistas. Não me pergunte o valor.

O som de vibração do celular de Hammond quebrou a conversa. Ao retirar o aparelho do bolso, o médico surpreendeu-se com a nova mensagem, logo em seguida olhando para Frank com urgência.

- É a Carrie? - perguntou o detetive.

- Sim. Disse que está vindo para cá agora mesmo. - revelou ele. - Vou retornar dizendo que você está aqui, mas que já está de saída para ir a 2A.

- Olha, não precisa. - disse Frank, erguendo levemente uma mão. - Deixa que eu mesmo mando uma mensagem pra ela, tenho quase certeza de que ela pegou o carro do diretor emprestado.

- O diretor do Serviço Secreto? - indagou Hammond, desconfiado.

A pergunta pegara Frank totalmente desprevenido, fazendo-o fitar de forma insegura o parasitologista por vários segundos.

- Como é que é?

- Ela disse que você é do Serviço Secreto. - disse Hammond, arqueando uma sobrancelha. - Ou devo ter lido errado?

- Não, não, ela está certa, trabalho para o Serviço Secreto. - disse Frank, assentindo positivamente, querendo sair daquela casa o mais rápido possível.

- Um agente do SS com uma vida dupla? E tratando de um caso grave de saúde pública? - questionou ele, aproximando-se de Frank a medida que a suspeita aumentava.

- É complicado, Dr. Hammond... - disse Frank, recuando.

- Ah sim, complicado demais em ser honesto. - acusou ele, mostrando-se irritado. - Carrie trabalha no DPDC há anos, não tem como ambos terem uma ligação tão forte.

- Tudo bem, você me pegou. - disse Frank, erguendo as mãos como que simbolizando rendição. - Sou do DPDC. Agente especial.

- E iria até a clínica 2A com a intenção de se apresentar como agente do SS? - perguntou Hammond, estranhando. - Quem você pensa que é?

- O diretor e eu assinamos uma cláusula contratual que cobre a permissão de usar distintivos falsos em situações que exijam minha presença e não dependem da utilidade policial. - explicou Frank, tentando convence-lo de uma vez, expressando seriedade. - Meu superintendente é um dos poucos do alto escalão que não sabem disso. Se descobrisse, chutaria minha bunda direto pra rua como se eu fosse um gato vira-lata. Por favor, suplico para que o senhor não me denuncie.

- Eu deveria. - disse Hammond, o tom severo e o olhar fuzilante.

Frank suspirara longamente com os olhos fechados por alguns segundos. Entendia que seria um tanto árduo convencer o médico mais importante da clínica mais rentabilizada da área de que suas intenções eram totalmente positivas no que dizia respeito a salvar vidas.

- Há mais quatro pacientes a beira da morte. - disse o detetive. - Não existe nada que se possa fazer para salva-los, mas ao menos vou tentar fazer os médicos concordarem de que o mais adequado é transferi-los para um local onde seja possível fazer uma contenção segura. Um já pode ter escapado. Dado o tempo de evolução... nem eu gosto de pensar no quanto a situação pioraria.

- Está bem. - aquiesceu Hammond, parecendo cansado. - Vou acompanha-lo até a porta.

                                                                                      ***

Ambos seguiam em direção a porta de entrada. Frank caminhando com uma estranha vagarosidade e Hammond emanando uma tranquilidade aparentemente normal.

O ex-professor de Carrie tocara na maçaneta redonda. Contudo, não a girou. Permaneceu inerte no ponto por vários segundos.

- Algum problema, doutor? - perguntou Frank, olhando-o com curiosidade.

Para Hammond o sinal de nova mensagem na forma de uma inconfundível vibração viera em boa hora. Retirou o celular para verificar o texto recém-enviado, mantendo-se de costas para Frank.

- O senhor mesmo disse que ia ser rápido. - relembrou Frank, desconfiado. - Concordou com Carrie sobre eu não estar no lugar certo. Então, será que pode me dizer o que ela mandou dessa vez?

Hamond deu uma risadinha quase inaudível ao virar-se para o detetive, exibindo um estranho sorriso torto.

Segurava o celular com a mão direita... enquanto que na esquerda...

- Muito bem, chega de fingir. - disse Hammond, sem rodeios, exibindo e apontando um revólver preto de calibre 38 para Frank. - Estou de pleno com você, Frank. Somos mesmo homens de segredos. Muitos segredos.

O detetive recuou por puro reflexo, erguendo de leve as duas mãos.

- Ah, ótimo, veja só o que temos aqui, acho que já sei o que tá rolando de verdade. - disse ele, encarando-o seriamente. - Abre logo o jogo Hammond: Quem te enviou a última mensagem? Carrie obviamente não foi.

- Carrie não está vindo até aqui. - revelou Hammond, mantendo a arma em riste e o sorriso malevolente. - Digamos que antes de receber as novidades ela vai dar uma passadinha no hospital.

- O que aconteceu com ela? - perguntou Frank, o tom exasperado.

- Se está tão curioso... - disse Hammond, mostrando o celular com a tela exibindo uma foto de um Mercedes cinza com sua lateral esquerda completamente amassada, indicando uma impactante colisão com outro veículo. O detetive fitou a imagem com um olhar semi-tristonho, quase cerrando os punhos e considerando avançar contra Hammond, mesmo desarmado, para escapar. - É uma pena, Frank, realmente estou desapontado. Carrie era, de fato, uma excelente aluna. - disse ele, guardando o aparelho e concentrando-se em ameaçar Frank. - Deveras frustrante ver que ela passou a andar com as más companhias.

- Diz o cretino que está me apontando uma arma depois de tirar o disfarce de médico sensato. - provocou Frank, não mais recuando. - Portanto, é bem correto dizer que nós somos os decepcionados nesta história. Ela parecia ter uma admiração por você. E a trai dessa forma tão... - balançou a cabeça negativamente, sem encontrar palavras que descrevessem aquela forte punhalada pelas costas. - Enfim, chega de enrolar. Qual é o lance?

- O lance é que não devo permitir que vermes como você, que se dizem agentes da lei, interferiram nos meus planos. - disse Hammond, andando alguns passos adiante.

- Agora falou como um verdadeiro super-vilão caricato. - disse Frank, provocando-o com um sorriso sarcástico.

- Estou doido pra ver se continua com essa face tranquila depois de um tiro no peito. - ameaçou Hammond, aproximando-se um pouco mais.

- Ah é? Se quiser descobrir, vai ter que chegar mais perto. - disse Frank, não desistindo de alimentar a impaciência de Hammond.

O parasitologista tivera uma ideia menos desconfortável, a qual poderia manter Frank inativo e rendido as ameaças pelo tempo que achasse necessário até a nova fase do plano ser concluída. Olhou para um cadeira de madeira marrom escuro, próxima a janela da parede à direita, logo voltando seus sibilantes olhos azuis para o detetive.

- Sente naquela cadeira. Já! - ordenou, esticando mais o braço que segurava a arma ao elevar o nível da ameaça.

- Primeiro vai ter que dizer em detalhes o que você e sua turma andam planejando com relação as infecções. - pediu Frank, resistindo a exigência corajosamente.

Hammond rosnou feito um cão raivoso, aproximando-se um pouco mais.

- Eu disse: Senta... na... cadeira!! - insistiu ele, explosivo.

- Tudo bem, tudo bem... - disse Frank, andando de lado em direção a cadeira, as mãos levemente erguidas para provar que estava ciente de sua posição como refém cooperativo. - Me prometa que o acidente não foi tão grave a ponto de remover Carrie dessa história.

- Com remover você quer dizer matar?! Ora, não me faça rir. - disse Hammond, esboçando um sorriso cínico. - Tempos de desespero exigem medidas desesperadas. Minha primeira impressão de você era de um homem maduro e seguro de si, mas muito hesitante quando se trata de vidas em risco. - fez uma pausa, passando por cima de um banquinho, mantendo a arma mirada em Frank.

- E a minha a seu respeito era de um cara mentalmente são e admirado pelo seu ótimo trabalho. - disse Frank, sentando na cadeira e fitando Hammond com decepção. - Não um babaca que se dispõe a esfaquear os outros pelas costas e, sabe-se lá como, vê um tipo de benefício na enfermidade dos outros.

- É, tem razão. - concordou Hammond, assentindo e mordendo os lábios depois. - Primeiras impressões muitas vezes enganam. - em seguida, deixara a arma depositada sobre uma mesinha com tampo de vidro. - Sinto muito, Frank. - disse ele, indo em direção a uma pequena caixa posta sobre uma estante de madeira vermelha. Tirara de lá uma longa corda de poliester. - Ela era um obstáculo. - encaminhou-se até Frank, pegando os pulsos do detetive para trás com certa violência a fim de amarra-lo.

- Para seu próprio bem, Hammond, é melhor você me falar logo qual é o seu plano. - disse Frank, ameaçador, seu corpo sendo apertado pela corda. - Se minha teoria estiver certa... Eu diria que você anda desviando o dinheiro que consegue com as pesquisas para bancar algum tipo de cartel que vende espécimes larvais do Ambroz para a clínica. Este mesmo grupo também está por trás da disseminação dos parasitas... nas lavouras, plantações, reservatórios... tudo não passa de uma maldita conspiração!

- Passou perto. - disse Hammond, terminando de apertar o nó que fazia os pulsos do detetive doerem. Andou até a mesinha para reaver a arma, tornando a mirar em Frank. - Desista, "agente". Não há salvação para nenhum deles. Mas quanto a sua teoria... Fico surpreso com sua perspicácia. Mas não sou totalmente o vilão. Na verdade, me odiaria se me julgassem como tal.

- Então que merda de plano você e seus cúmplices andam bolando? Fala logo. - disse Frank, aborrecido em decorrência do aperto do nó maltratando suas mãos.

- Paralelamente ao estudo do parasita, montei um pequeno laboratório na minha antiga residência, em Nova Orleans, onde considerei o desenvolvimento de um veneno, uma droga potencialmente letal para o parasita, mas que, em simultâneo, bloqueasse os efeitos adversos dele no paciente a longo prazo. - explicou Hammond.

- Como é?! - indagou Frank, incrédulo ao franzir o cenho. - Você nem ao menos testou essa droga?

- Por enquanto, ainda se encontra em fase primordial. - revelou ele, ríspido. - Levará anos até que atinja o estado ideal para combater o parasita. Ele basicamente se torna conectado ao hospedeiro, tal como uma mãe a um feto, com a diferença de que o cordão umbilical é uma espécie de apêndice ou ferrão que expele um fluido que favorece o ganho de peso do hospedeiro. O ferrão se dissolve na corrente sanguínea pouco antes do término do período de incubação. E quando isso acontece, o fluido aumenta o volume de gordura a níveis impensáveis, o que causa a explosão. Estou pondo em curso um dos maiores projetos de minha vida, algo que me trará um reconhecimento há tanto desejado.

- É isso que você quer? - questionou Frank, arqueando uma sobrancelha. -  Se sagrar o herói da comunidade lançando uma droga inovadora depois de um epidemia nacional?

- Municipal. - corrigiu Hammond, frio no tom, mantendo a arma apontada. - Um passo de cada vez.

- Se depender de mim, isso aí não chega nem na metade. - garantiu Frank, mostrando-se inabalado. - É só um maníaco egoísta com medo da rejeição. - baixou um pouco a cabeça, pensativo.

- Está muito enganado. Sou um visionário, Frank. - argumentou Hammond, dando alguns passos a frente, sem tirar o dedo do gatilho. - Incompreendido e buscando um sonho. E você, tem algum sonho do qual tanto se esforça para realiza-lo?

- Olha, não estou nem um pouco afim de compartilhar meus objetivos com a pessoa que está me mantendo refém. - retrucou o detetive, virando o rosto em desprezo. - E devo dizer que essa sua lógica de sacrificar algumas vidas para salvar outras muitas é bem falha.

- É questão de opinião, meu caro. - disse Hammond, andando devagar pela sala, balançando o revólver. - Pena que não viverá o bastante para ver a cara dos que integram o alto escalão.

- É bom me dizer quem são os desgraçados. Porque sou investigador muito bem treinado e tenho uns truques na manga que você nem pode imaginar. - disse Frank, mantendo-se auto-confiante.

A gargalhada zombeteira de Hammond fizera o detetive rir fingidamente.

- Isso aí, vai rindo. - disse Frank, mantendo o sorriso forçado. - Em menos de três horas, creio eu, o diretor vai enviar uma tropa de 15 agentes armados para cá caso eu não volte nesse tempo. O acidente de Carrie deve ter deixado muitos rastros.

- Ele não saberá até que um cinegrafista amador ponha o vídeo na internet. Algo bem improvável, convenhamos. - redarguiu Hammond, soando cada vez detestável com seu tom canalha.

- Existe uma sala especial no DPDC com um pessoal que tem acesso ilimitado a todas as câmeras de trânsito da cidade, monitorando cada rua, cada estrada e cada viaduto. - revelou Frank, sentindo-se numa competição para saber quem mais possuía vantagens para se sobressair. - Com revezamentos, é claro.

- E por isso duvida que o acidente não tenha sido registrado? - perguntou Hammond, sem parecer preocupado.

- Vá por mim: À essa altura, o diretor já deve estar dando um prognóstico de uma missão de resgate depois de hackear o sistema GPS do celular de Carrie. - disse Frank, não deixando-se levar pela desesperança. O suor que aumentava em suas mãos serviu como uma luz para acreditar novamente numa saída. Moveu os pulsos amarrados na tentativa otimizar o tempo para que o suor facilitasse o desatar dos nós apertados. - Está brincando com fogo, doutor. Se quiser sair ileso dessa, é melhor me soltar...

- Não sugira um rumo alternativo para que nós dois escapemos com vida. - disse Hammond, voltando com a postura ameaçadora contra o detetive. - Só uma pessoa irá morrer aqui, e será você, protótipo de investigador.

- Então porque não vai em frente e atira logo? - perguntou Frank, não entendendo a razão do médico estar prolongando seu julgamento. - Vamos, está com medo? Ponha uma bala na minha cabeça. Você não gosta de remover obstáculos? Você me mata, sai daqui tranquilo como se nada tivesse acontecido e volta para a clínica para assistir as mortes das pessoas que seus parceiros ajudaram a infectar. Por acaso, nunca matou alguém? - os nós começavam a ficar mais frouxos. - Ah, sim, entendi, você é apenas um médico especialista em vermes intestinais, e essa é a sua primeira missão de assassinato. Está com medo de não ter a famosa sorte de principiante, não é? - perguntou o detetive, lançando um sorriso zombeteiro.

- Pare de me testar, seu tagarela. - reclamou Hammond, enfurecendo-se aos poucos e quase que involuntariamente puxando o gatilho. - Só estou saboreando... cada segundo de satisfação por ter minha presa sob custódia e rendida ao meu poder. Não acha meio irônico?

- Essa desculpa não cola. - disse Frank, desconvencido. - Está meio calor aqui, não acha?

- O termostato está em 29 º. - disse Hammond, olhando para uma caixinha branca e retangular fixada a parede que exibia o número. - Não venha querer puxar conversa para desviar minha atenção.

- Tudo bem... - disse o detetive, virando o rosto para sua esquerda. - ... depois não diga que não avisei sobre... - Frank cortara a frase propositalmente, seguido de uma parte que soou quase que inaudível aos ouvidos de Hammond, fazendo despertar nele uma curiosidade dominadora.

- O quê? O que foi que disse? - perguntou ele, inclinando-se com uma mão atrás da orelha indicando não ter escutado.

- Só falo se você chegar mais perto. - disse Frank, dando a condição.

- É bom ser importante. - disse Hammond, aproximando cuidadosamente do detetive, ainda segurando o revólver.

Estando a uma curta distância, o médico preferiu parar em ponto que julgava ser seguro.

- Fale daqui. Estou ouvindo. - disse ele, o tom severo.

- Não... - disse Frank, insatisfeito, balançando a cabeça lentamente em negação. - Quero que chegue um pouco mais perto.

- Por que? - perguntou Hammond, suspeitando.

- Somente revelo essa informação se estiver dentro da minha condição. - determinou Frank, emanando seriedade na face. Aposto na ideia de fazer o médico se concentrar unicamente no que seu prisioneiro teria a dizer, o que daria mais liberdade para o detetive desvencilhar-se da corda.

Hammond, atendendo a exigência, inclinou-se para escutar, seu rosto ficando poucos centímetros próximo ao de Frank.

- Fale.

- Seu bafo fede a enxofre. - disse Frank, provocando-o.

- Agora. - ordenou Hammond, quase desistindo.

O detetive só esperou mais alguns segundos, enquanto olhava para o rosto meio enrugado e com antigas marcas de espinhas nas bochechas.

Quando menos Hammond esperava, Frank aplicara um movimento surpreendente, batendo fortemente sua cabeça contra a do médico, fazendo-o cair no chão, derrubando a mesinha e, por conseguinte, largando a arma.

Tentando se levantar por inteiro, Hammond, gemendo em dor na cabeça, quis reaver sua arma, mas Frank a chutara para longe com seu pé esquerdo. O detetive, logo em seguida, levantou-se um pouco, ainda meio preso as amarras. De costas, golpeou Hammond no rosto com os pés traseiros da cadeira, duas vezes até, por fim, derruba-lo contra o chão novamente. Um pouco de sangue espirrara no piso.

Os nós afrouxaram definitivamente e Frank foi tirando a corda de seu corpo, largando-a no chão.

Pisara na mão esquerda de Hammond quando o mesmo tentou se virar para cima e apontou o seu revólver para ele, a expressão sisuda e impaciente.

- Está esmagando... - dizia o médico, a boca sangrando, queixando-se da dor provocada pela sola da bota de Frank.

- É a mão se você cooperar. Se vacilar, vai ser na barriga. - disse Frank, impondo medo. - Anda, fala! As identidades dos homens para os quais você trabalha.

- Não sei exatamente o nome de todos, seu imbecil! - vociferou Hammond, forçando-se para ter sua mão livre - Você nunca... nunca saberá seus nomes, muito menos chegar a cruzar o caminho deles. Mas... eles possuem um local reservado de encontro.

- Qual? - perguntou Frank, o tom frio.

- O galpão de uma fábrica abandonada. - revelou Hammond, trincando os dentes devido a dor. - Westville, a quinze quilômetros desta área, ao norte, próxima ao lago que faz ligação a um dos reservatórios mais abundantes, é o marco zero. - fez uma pausa, gemendo, olhando temeroso para o pé direito de Frank pisando em sua mão. - Hoje é seu dia de sorte. As reuniões só ocorrem uma vez por semana, sempre as quartas-feiras.

- Mais alguma coisa? - quis saber Frank.

- O mais importante... - disse Hammond, desejando, mais do que tudo, sair daquele aperto. - ... é que foi para aquele exato lugar... que o primeiro espécime interno encontrado foi transferido. Entra e sai por uma via que não estava na planta original da fábrica, eles a construíram para esse objetivo. Se quiser elimina-lo, vai ter de ser rápido... - o fitou com dureza no olhar. - É a época dos pequeninos nascerem.

O detetive ergueu-se, libertando a mão de Hammond após sentir-se inteirado o bastante para traçar um curso de ação dali em diante.

Hammond dera um arquejo de alívio, permanecendo no chão, sentindo uma dormência na mão antes quase esmagada.

Destravando a arma e removendo o pente com balas, Frank aprontou-se para ir embora dali o mais rápido que pudesse.

- Eu fico com isso. - disse o detetive, mostrando o pente. Dera as costas, tendo uma doce sensação de ter ganhado parte da batalha. - Adoro uma reviravolta. - falou, jogando o revólver vazio para trás.

                                                                                     ***

Os dedos de Frank apertavam freneticamente na tela sensível ao toque do seu celular ao telefonar para o diretor, enquanto caminhava por uma calçada meio cheia de poças d'água, na mesma rua, após sair da casa de Hammond.

Dois toques depois, veira o imediato atendimento.

- Alô?

- Diretor, aqui é o Frank. É melhor o senhor me escutar com toda a atenção. - disse ele, olhando para as pessoas que passavam por ele, procurando falar no tom mais mínimo possível. - Foi tudo uma cilada. A mensagem que Carrie recebeu só serviu como anzol para atrair a isca. Victor Hammond está encabeçando uma conspiração entre médicos e cientistas, estão querendo facilitar uma epidemia. Mas ele não passa de um subordinado de um grupo misterioso, sem ligação com as clínicas, mas que tem interesse no uso dos parasitas e parece querer assumir controle da saúde pública quando a coisa ficar feia. Não passam de um bando de cretinos que veem os Ambrozes como uma mina de ouro. São eles quem estão por trás de todo esse caos.

- Me dá a impressão de um plano para reduzir a população. - especulou Duvemport.

- Por enquanto, estão focando no primeiro passo. - informou Frank, apressando-se. - E Hammond me fez de refém para me atrasar quanto as próximas mortes.

- Notícias de Carrie?

- O senhor vai surtar. - garantiu ele, a expressão de puro nervosismo saltando.

- Não tenho o dia todo, Frank. Diga o que aconteceu. - ordenou o diretor, o tom de voz alterando-se.

O detetive mordera os lábios, fechando os olhos por alguns segundos. Estava prestes a dar uma notícia que abalaria seu chefe de certa forma. Uma maneira imprevisível, na visão de Frank, de reagir a um fato trágico.

- Carrie sofreu um acidente. - disse ele, ainda assim sabendo que não o convencera. Resolveu abrir o jogo. - Com o seu carro... Um dos comparsas de Hammond bateu o carro contra o do senhor. Não faço ideia se a levaram para o hospital.

- O quê?! Ma.. Mas... - disse o diretor, atordoado. - Foi muito feio? - sua voz parecia levemente comovida.

- Olha, honestamente - disse Frank, estreitando os olhos. -, não há mecânico que resolva. A parte esquerda da lataria parece que foi amassada tão fácil quanto papel. - um incômodo natural acometeu-o. - Sem querer ser grosseiro, não me leve a mal, mas... Está mais preocupado com o estado do carro do que Carrie?

- Estou preocupado com os dois! - vociferou Duvemport, para o total desprazer de Frank que afastou um pouco o celular do ouvido, bastante incomodado com o tom.

- Tudo bem, já entendi, me desculpa. - disse Frank, revirando os olhos. - Hammond precisa ser detido. Eu ia algema-lo, mas depois lembrei que só trouxe meu distintivo e as chaves da minha casa.

- Ah, é sério isso? - perguntou Ernest, denotando reclamação. - A essa altura, já deve ter contatado seus superiores ou escapado. Você pode estar marcado para morrer, Frank.

- Eu tranquei a porta da frente por fora. E o desarmei. - contou ele, mantendo-se aflito. - Mas ainda há uma chance de pega-lo, ele está fora do expediente e talvez não vá se arriscar sair de casa quando boa parte da vizinhança conhece sua rotina. Então, por favor, o senhor precisa mandar uma equipe depressa.

- Ótimo, ótimo, já cuidarei disso. - assegurou Duvemport, o tom firme. - Embora eu acredite que o perdemos. Por que não atirou nesse desgraçado, já que conseguiu escapar ileso?

- Eu bem que queria, diretor, mas tenho minha moral. - justificou Frank, sem esboçar arrependimento. - Não achei certo atirar em alguém desarmado. Então, apelei para as ameaças.

- E para onde está indo agora? - perguntou Duvemport, a fala rápida.

- Vou direto para a 2A verificar a situação dos pacientes. - respondeu Frank, no mesmo ritmo.

- Sabe que não não existe nada que possa salva-los, certo? - perguntou o diretor, lembrando-o do inaceitável fato.

- Olha... - desconversou Frank. -... acho melhor o senhor ir analisar a filmagem da câmera de trânsito da rua 32 BKL, foi a única amostra escrita que extraí quando Hammond me mostrou a foto do acidente. Ou peça para um dos funcionários fazê-lo. É importante não só para sabermos qual veículo colidiu com o seu carro, mas também detectar se o ponto tem alguma proximidade com um hospital. De repente, acho que alguma alma bondosa se prestou a ajuda-la.

- Alguém com certeza rastreou isso. - disse ele, convicto. - Não vou esperar que me avisem.

- É bom mesmo. - disse Frank, o tom soando mais autoritário do que o esperado.

- Como disse? - indagou Duvemport, a voz suspeitosa.

- Ah, não, nada... - disse Frank, estremecendo. - Será que o senhor pode meio que assumir as funções da Carrie por um dia e me manter informado?

- Sem problemas. - concordou o chefe, compreensivo. - Ligarei se descobrir algo.

- Obrigado, diretor. - agradeceu o detetive, desviando de um poste.

- Tome cuidado, Frank. - alertou Duvemport, o tom completamente sério. - Seja lá quem forem esses cretinos que estão no comando desse plano maligno, já devem saber seu nome, seu rosto, sua profissão e as pessoas com quem você se importa, e, se duvidar, até o endereço da sua casa.

- Tomei ciência disso, senhor. Antes de desligar, quero que saiba de algo: É totalmente improvável que eu passe no prédio ainda hoje.

- Mas por que?

- Hammond me deu uma localização. O parasita em estágio final está lá confinado feito um animal selvagem. Vou dar cabo do monstro nessa noite. - determinou Frank, externando toda sua auto-confiança no trabalho.

- Como, afinal? - questionou Duvemport, incrédulo.

- Nos arquivos do meu pai deve ter uma informação sobre a fraqueza do Ambroz.

- Pensei que já soubesse disso, tendo em vista seu nível de profissionalização. - apontou o diretor, pouco acreditando no fato do detetive estar pouco versado em algum tipo de criatura sobrenatural.

- Pois é, essa coisa, em especial, não é muito conhecida por mim. - disse Frank, olhando no relógio e pulso do braço esquerdo. - Vou estar contando com a sorte. Por favor, não esquece da equipe de captura contra o Hammond. Não vejo a hora de visitar a Carrie e desfazer a face de bom samaritano desse canalha.

- Ah, como eu odeio me sentir seu empregado. - reclamou Duvemport, fazendo Frank sorrir como se ouvir seu chefe resmungando sobre algo que o incomoda o divertisse.

- Até mais, diretor. - disse Frank, encerrando a ligação, logo em seguida desligando o aparelho e tratando de andar com mais tranquilidade para não levantar suspeitas de possíveis espiões disfarçados e ocultos em algum ponto da rua - supostamente contatados por Hammond de antemão.

Ao atravessar, olhou para os dois lados, a parte de trás do seu sobretudo bege esvoaçando com o vento.

                                                                                     ***

Clínica 2A


A palma da mão de um dos integrantes da equipe do Dr. McLank surgiu como uma barreira aparentemente intransponível para um afobado Frank.

No corredor principal da ala de observação, um frenesi dramático indicava uma emergência claramente associada aos quatro homens internados.

- Me desculpe, senhor, terá de se retirar. - disse o subordinado de McLank, um jovem alto, atlético e cabelo castanho claro, categórico com o detetive. - É parente de um dos pacientes?

- Serviço Secreto. - disse Frank, exibindo o distintivo falso, resistindo ao aviso e não deixando de notar a confusão em uma das salas além de escutar vozes alteradas. - Agente especial Clifford. Preciso falar com o médico especialista.

- Mas eu sou especialista no caso. - retrucou o rapaz, franzindo o cenho, sentindo uma pontada de desdém.

- Quis dizer seu superior. - esclareceu Frank, tornando-se impaciente.

- Está ocupado no momento. - disse ele, sem se aprofundar. - Estamos no meio de emergência. Será que pode, por favor, se retirar e resolver falar com o Dr. McLank numa outra hora?

- É um caso de vida ou morte. - disse Frank, pressionando-o.

- E como acha que estamos lidando com a situação? - perguntou o jovem aprendiz, a expressão de seriedade.

- O que está havendo aqui? - perguntou McLank, irrompendo por entre dois médicos que passavam pelo corredor as pressas. Vislumbrou Frank, não entendendo sua presença ao julga-lo pelas vestes. - Quem é esse?

- Ele se diz do Serviço Secreto, não faço ideia do que quer descobrir aqui. - disse o jovem, olhando tanto para o chefe quanto para o detetive.

- Dr. McLank, teria a gentileza de me conceder a permissão de verificar o estado de um dos pacientes? - pediu Frank, a testa encharcada de suor.

McLank demonstrou instantânea hesitação na face.

- Diga-me seu nome. - exigiu ele, rígido.

- É Clifford. - disse o rapaz, intrometido. Olhou para Frank com estranheza. - De qualquer forma, ele parece um agente oficial.

- O que está insinuando? - perguntou Frank, afetado. - Em primeiro lugar: Tenho informações precisas e detalhadas sobre o parasita que vocês andaram estudando. E em segundo lugar: Se me deixarem dar uma olhada, prometo não esconder absolutamente nada do que eu sei. E garanto, com toda a certeza, que vão ter a ganhar, pensem nos avanços das pesquisas.

- Está tentando nos chantagear ou nos dar falsas esperanças? - perguntou o jovem aprendiz, cada vez mais se aborrecendo com a presença do detetive.

- Se é pedir demais, estou tentando ajuda-los. - retrucou Frank, olhando para ambos.

- Senhor, não pode permiti-lo... - disse o rapaz, querendo, ao máximo, a expulsão de Frank do local. Falou um pouco próximo ao ouvido direito de McLank. - Onde já se viu o Serviço Secreto investigar um caso assim? Não é estranho? Na pior das hipóteses, ele vai nos arruinar, nos trazer prejuízos irreparáveis.

- Me desculpe, Ralph - disse McLank, afastando-se do rapaz, erguendo levemente uma mão pedindo que pare. -, mas agora está exagerando. Se ele tem de acatar uma ordem explícita, então não podemos priva-lo do seu direito em exercer seu trabalho. - virou-se para Frank. - Tem minha permissão. - consentiu, assentindo positivamente.

Um intenso estrondo cortara abruptamente a conversa, praticamente soando como um tremor de terra. Frank, McLank e Ralph estremeceram completamente assustados e, por reflexo, olhando para o corredor a frente. Uma correria tumultuante se iniciou, com médicos de outras alas direcionando-se velozes a uma das salas de observação. Um deles, sem querer, esbarrou no ombro esquerdo de Frank, pedindo desculpas rapidamente e tornando a seguir.

Ouviu-se exclamações de espanto na sala em questão.

Atraídos pelo alarido, os três correram freneticamente. Frank, enquanto, desviava de outros médicos igualmente desesperados e curiosos, pensou ter ouvido alguém, dentro da sala, dizer em voz alta: "Fechem a porta, depressa, fecham, fechem, rápido!!!".

- Serviço Secreto! Me deixem passar! - gritou Frank, levantando seu distintivo para o alto ao passar pelo mutirão de médicos que lhe iam abrindo passagem.

Antes que pudesse entrar, um dos médicos que presenciou a explosão do paciente fechou a porta, trancando-a, as mãos extremamente trêmulas. O jaleco branco do homem - bem como parte do seu rosto - estava ensopado de sangue fresco misturado com um fluido amarelado, além de pequenos pedaços de massa intestinal meio grudados.

- Vou precisar entrar! - disse Frank, batendo sua mão direita na porta e olhando para o médico com urgência na expressão. - Por favor, destranque.

- Quem é você? - disse o médico, gaguejando, a boca tremendo e o olhar dilatado.

- Ah, dane-se, sai da frente! - disse o detetive, empurrando-o e pondo-se a frente da maçaneta. Aplicou um forte chute contra a porta, arrombando-a num só golpe, quase quebrando as dobradiças superiores. Entrou rapidamente, quase escorregando no piso coberto de sangue. Sua visão desfocou do paciente caído no chão com a pele flácida e a barriga com um considerável buraco por onde despejava-se uma mistura de sangue e substâncias líquidas desconhecidas de coloração alaranjada. Passou a olhar por muitos segundos para outro ponto da sala, igualmente desesperador.

Outros médicos entravam, estupefatos com as paredes brancas pintadas de vermelho. Frank, emudecido e lívido, apontou para o canto onde visualizava com certo temor. Os demais acompanharam seu olhar e lançaram arquejos de pânico.

Um profundo buraco no chão havia sido feito pela criatura libertada do hospedeiro desfalecido.

                                                                                 ***

Um grito por socorro ecoou pelo corredor, chamando a atenção de todos aqueles que focavam-se na sala encharcada de sangue. O apelo provinha de uma outra sala de observação localizada depois de mais duas. Boa parte dos médicos que acompanhavam do lado de fora da sala viraram o rosto, imediatamente alarmados. Alguns correram adiante só ao vislumbrarem o semblante pálido e apavorado do homem que saia da sala com o corpo tremendo, quase beirando a cair para trás.

Frank desviou a atenção para o outro alarido que ocorria pelas suas costas, notando a correria dos médicos e lembrando de demais pacientes que aguardavam na fila da morte.

Passou correndo por vários dos profissionais, esbarrando em uns e empurrando outros, não sendo mais tão educado quanto antes devido a aflição contagiosa que movia seus membros a toda velocidade.

Quando enfim chegou, cerca de cinco médicos já estavam na sala, atônitos ao assistirem um homem de 45 anos, antes pesando 81 kg - e naquele instante sua massa corporal ultrapassava os 120 -, parecendo agonizar em gemidos arrastados e roucos. Por alguns segundos, o detetive o fitou consternado com aquele estado deprimente, logo aproximando-se sem medo. Um dos médicos tentou puxar seu braço esquerdo a fim de impedi-lo.

- Quem é você e o que está fazendo aqui? - perguntou ele, soando rude.

- É um agente federal. - respondeu outro, a direita. - Não me pergunte porque. - disse, dando de ombros.

- Talvez haja uma forma... - disse Frank, sem tirar os olhos da enorme barriga que dava a impressão de estar vibrando. - ... de removermos o parasita sem causar maiores danos.

- O que está dizendo!? - retrucou o que o segurara. - Este homem... - respirou fundo para se acalmar. - Este homem brevemente irá ter o mesmo destino do outro. Não venha querer bancar o... - desistiu, ao se dar conta de que o detetive pouco estava ligando.

Frank o ignorou, tocando na barriga do paciente. Os outros médicos cochichavam, aturdidos e temerosos. O detetive sentiu, de imediato, a pele fervendo em febre elevada e o volume de gordura crescer em uma rapidez impressionante.

- O que você pode fazer? Que sugestão pode nos dar? - perguntou o mesmo médico incrédulo, exasperado. - Ele vai morrer! Fizemos centenas de testes, injetamos doses e mais doses de drogas contra parasitas letais, nada, absolutamente nada do que fizemos adiantou pra alguma coisa!

- Você quer que isso se assemelhe a um parto normal? - perguntou outro, um rapaz caucasiano careca de olhos azuis. - Impossível. - disse, balançando a cabeça em negação, dirigindo-se a Frank. - Veja como ele está. Ardendo em febre, talvez delirando, e sua barriga cresce em tamanho a cada três segundos.

- Isso vai ser meio complicado. - disse Frank, erguendo de leve as mãos, preparando-se para tentar. No entanto, virou o rosto para os médicos atrás com um sorriso meio nervoso. - Alguém tem uma serra elétrica?

- "sem causar maiores danos". - disse um dos médicos, repetindo a frase do detetive. - É, esse é o plano perfeito. - ironizou.

- Vou chamar a segurança. - disse o médico que tentou impedir o caçador, saindo da sala.

- Ficou louco? Não podemos danificar o corpo do paciente numa tentativa com probabilidade mínima de sucesso. - disse o jovem médico careca, próximo de Frank.

- Ele não geme mais alto quando o arranho de leve. Olha. - disse Frank, usando a unha do seu indicador esquerdo e rocando-a na barriga do homem. - O parasita, próximo de concluir seu segundo estágio, faz o paciente perder a sensibilidade. Ou isso é por causa das doses cavalares de anestesia?

- Não, os anestésicos só foram usados na injeção das drogas. - afirmou o rapaz, igualmente tenso. - O que ocorre é a debilitação do sistema nervoso, que perde, aproximadamente, 91,5% de sua funcionalidade. Os batimentos cardíacos estão anormais e a febre foi medida em mais de 40 graus.

- Vamos precisar de mais ação e menos papo. - disse Frank, esfregando as mãos e mantendo-se observando o homem.

- Fizemos exames de raio-x também. - revelou o jovem, visualizando tanto Frank quanto o paciente. - É bizarro. Me sinto num filme ficção científica. Seja lá o que for essa coisa, tem mais preferência em usar organismos humanos como incubadoras vivas do que animais selvagens.

- Tem um bisturi aí? - perguntou Frank, virando-se para o jovem, estendendo a mão direita.

- Em primeiro lugar: Só porque estou lhe dando informações relevantes, não significa que estou disposto a ajuda-lo. - retrucou o jovem, sisudo no tom. - E em segundo lugar: Se quiser remover o parasita cirurgicamente, vai precisar de luvas. E em terceiro e não menos importante: Você não vai chegar a fazer isso, porque além de não haver tempo, a segurança chegará aqui para expulsa-lo.

- Tem que haver algum jeito de salvarmos alguém, droga! - disse Frank, esbaforido. - Temos a chance de tentar, por mais arriscado que seja. - falou, apontando para o homem.

- Nosso tempo é escasso. - disse o jovem médico, recuando lentamente ao fitar a barriga que vibrava com mais força.

- É, eu sei, é como desarmar uma bomba. - disse Frank, no ápice da tensão, começando a sentir-se impotente mediante ao problema. Trincou os dentes, indignado por não conseguir fazer nada.

Aquela esfera de pele parecia uma panela de pressão em alta ebulição.

O indício de alerta máximo elucidou-se na forma de um corte que despontou da parte inferior da barriga, fazendo respingar gotas de sangue no chão. Os demais médicos afastaram-se, perturbados.

- Vamos, não podemos fazer mais nada! - disse o jovem médico, puxando Frank pelo braço com força.

O detetive se limitou a ceder e olhar para o paciente sentenciado a morte pela última vez com uma visão entristecida, indicando uma impotência com a qual ele nunca antes sentiu-se obrigado a lidar.

A porta fora fechada e trancada rapidamente. A grande janela retangular encontrava-se coberta por dentro por um cortina branca. Ao lado de uma multidão de profissionais, Frank, o olhar estático, ouvira o estrondo poucos segundos depois de sair, assustando-se um pouco.

A equipe inteira suspirava em lamento pela perda de mais um infectado e um deles cogitou abrir a porta. Pela ínfima brecha de baixo, saía o líquido avermelhado.

- Espere! - gritou Frank, interrompendo-o e ganhando a atenção da equipe médica. Sua expressão denotava concentração em algo até então obscuro para a maioria. - Ouçam. - ergueu de leve o indicador esquerdo. - Estão ouvindo isso?

Os ruídos estranhos pareciam de terra sendo mexida ou pedras pequenas sendo removidas.

O detetive acenou com a cabeça para um dos médicos permitindo a abertura da porta. O profissional o fez, meio curioso, meio hesitante, a mão trêmula girando a maçaneta metálica e redonda.

Após a porta abri-se um pouco mais, a equipe deparou-se com uma visão repetida, mas não menos apavorante.

Frank decidiu tomar uma atitude.

- Sugiro que vocês solicitem a equipe de contenção, urgente. - disse ele, virando-se para os médicos. - Já foram dois que escaparam. Podem estar nos esgotos mais próximos, mas esse pesadelo ainda não acabou.

- Ele tem razão. Os dois pacientes restantes são os últimos a explodirem. - disse um deles. - Cedo ou tarde, já estarão em pleno pico de infecção.

- Demos injeções letais no paciente da sala A-1, mas, ao que parece, o parasita faz o organismo repelir o efeito 10 vezes mais rápido que a ação imediata dele. - relatou outro, preocupado. - Foram mais de 50 tipos de combinações mortais dos mais potentes venenos e nenhuma delas funcionou.

- Por que estamos dando satisfações a ele? - perguntou um incomodado médico mais velho. - Serviço Secreto? Que diabos ele veio fazer aqui? Deve ser uma farsa. - acusou, olhando-o sério.

- Digam o que quiser, mas eu concordo em chamar a equipe de contenção o quanto antes. Um voto a favor. - disse o jovem médico careca, erguendo a mão direita em sinal de concordância.

- Olha, façam o que bem entenderem. - determinou Frank, rendendo-se a impaciência e andando a fim de ir embora dali antes que homens vestidos de terno preto lhe mostrassem a saída de um modo menos educado. - Eu vou indo fazer minha parte. - os médicos lhe abriram passagem.

- Que parte? Não tem serventia nenhuma, só veio nos atrapalhar. - provocou o mesmo médico que questionara a presença do detetive. Frank saiu caminhando, sem dar ouvidos.

- Está enganado, ele realmente quis ajudar a pelo menos frear boa parte dos efeitos anômalos. - retrucou o jovem médico que esteve próximo de Frank, defendendo-o. - Se um agente federal vem aqui colher informações sobre uma infecção parasítica anormal, então não é estranho pensar no que pode estar por trás disso.

- E no que está pensando? - perguntou um outro médico, afro-descendente.

- Minha teoria básica diz sobre algum tipo de plano sinistro com fins lucrativos. - respondeu ele. - A maioria de nós somos aprendizes em crescente aprimoramento, não temos nenhuma noção do que ocorre nos bastidores. Não quero acusar ninguém, mas... É muito intrigante.

- A profundidade desse buraco deve ser mais de 2 metros... - disse um dos novatos, observando a pequena cratera no chão, encontrada diante da cama onde o paciente estava deitado.

- Eu não consigo mais olhar pra isso, me deem licença. - disse o mesmo médico mais velho que provocou Frank, sentindo-se enojado com a imagem horrenda no interior da sala.

As discussões e teorias seguiram a todo vapor no corredor.

Ainda seguindo para sair da clínica, Frank notara Ralph conversando com um dos médicos.

- Ei, Ralph. - chamou o detetive. O médico lhe lançou um olhar antipático logo quando o viu se aproximando.

- O que você quer? A segurança foi chamada, então é bom que seja rápido. - disse ele, sem disposição para conversar com o "agente federal".

- Existe uma fábrica abandonada em Westville? - perguntou Frank, respeitando o pedido do jovem. - Próxima a um lago, o qual dá acesso ao maior reservatório da cidade?

- Bem, tem sim... - respondeu ele, encarando-o com estranheza. - Por que?

- Obrigado, só precisava confirmar. - disse Frank, tornando a caminhar e encerrando por ali, dando uma batidinha no ombro esquerdo do médico.

Os dois seguranças avizinhavam-se, esbanjando rudeza em suas posturas. O médico que solicitou-os encontrava-se atrás.

- Tudo bem, já conheço a saída, não precisam apelar para a violência. - disse Frank, a fala rápida, erguendo de leve as duas mãos e mantendo a tranquilidade de seus passos ao passar pelos dois homens robustos.

A calma fortaleceu-se após a confirmação. Provou-se verdade Hammond ter se intimidado com as ameaças de Frank, tendo seu medo voltado a tona e o forçado a contar a verdade sobre a localização exata. Para Frank foi aliviante saber que a tal fábrica era, de fato, uma localização geográfica. Só precisou selecionar alguém que transparecesse o mínimo de honestidade. O tom de Ralph sequer fez passar pela cabeça do detetive uma teoria ridiculamente fugaz de que o mesmo compactuava com a sociedade misteriosa, tamanha foi sua sinceridade - além do forte desejo de querer vê-lo fora dali, seja expulso pelos seguranças ou saindo educadamente.

Após sair do prédio da clínica, um som vibrante do celular de Frank o alertou. Retirou o aparelho rapidamente do bolso da frente e verificou a nova mensagem.

"Hammond escapou, como esperado! Faremos uma investigação mais profunda, com um mandado de prisão impresso. Queremos uma oportunidade encurrala-lo o mais breve possível. Meus agentes já se espalharam para as possíveis direções para as quais ele normalmente segue, graças a informações de conhecidos e vizinhos. E Carrie foi levada a um hospital, alguém chamou uma ambulância. O veículo possuía carroceria e era mais robusto que o meu, mas não foi possível ver a placa.  "

"Ótimo, diretor, mas Hammond, agora, é o menor dos problemas.", pensou Frank, pronto para digitar uma mensagem. "Em compensação Carrie está bem, menos uma preocupação".

"Está uma loucura na 2A. Dois Ambrozes escaparam como toupeiras mutantes. Sobrando dois pacientes que esperam a morte chegar. Vou para casa agora mesmo, dar uma lida no arquivo, pegar o material e ir até Westville, uma fábrica abandonada onde um dos espécimes está trancafiado, como eu disse ao senhor. Mas, claro, preciso verificar se há uma segurança reforçada de última hora antes de invadir a nave-mãe. Nos vemos amanhã de manhã, se tudo der certo."

Enviara. Guardou o celular de volta no bolso, andando com mais rapidez e logo acenando com a mão direita para um táxi próximo.

                                                                                    ***

Westville - Instalação de recursos hídricos desativada; 21h15. 


O sedã cinza de Frank - recém-saído do conserto - encontrava-se estacionado a cerca de poucos metros da desgastada cerca de rede laminada que guardava a entrada do local, mas bem próximo a um poste de iluminação cuja lâmpada tremeluzia uma luz amarela clara. O detetive jogou o galão de gasolina por cima da cerca e agachou-se para, em seguida, deitar seu corpo e passar sob uma única brecha.

Ao conseguir finalmente entrar, com certo esforço que o fizera suar um pouco, Frank levantou-se, dando batidas leves no sobretudo, meio que limpando-o por conta do chão quase molhado e úmido.

Apanhou o galão preto com gasolina e tornou a caminhar, visualizando cada ponto que possivelmente elucidaria uma ameaça à parte do principal alvo. "Sem câmeras de segurança... nenhum sistema de vigilância ativo. Isso vai ser fácil pra burro.", pensou o detetive, um pouco desapontado pela ausência de itens vigilantes que lhe proporcionassem algum desafio que o convencesse de que o trabalho renderia suor e sensação de "missão perigosa". A iluminação interna praticamente não existia. O galão foi deixado num ponto oculto no lado de fora.

Ligou a lanterna ao entrar num compartimento, abrindo uma enferrujada porta e pisando numa poça d'água meio lamacenta. O ar úmido e frio aliado ao silêncio pesado contribuía para uma atmosfera de tensão. Frank seguiu, fazendo a luz rasgar o breu pelo piso sujo e molhado além das paredes descascadas. Tudo parecia ter cheiro de ferrugem em alto estágio. Após andar alguns metros, entrou por um corredor meio estreito que possuía uma retangular e pequena janela aberta por onde atravessava a luz da lua.

O chão, a medida que se avançava, aparentava ficar mais imundo, ainda mais pela água suja - e provavelmente contaminada - espalhada quase que inundando alguns cantos. Os olhos de Frank mantinham-se fixamente alertas como nunca. Contudo, não saía de sua mente a enorme frustração por ter de liquidar apenas um único espécime localizado. Mas era um trabalho, uma caçada autêntica, e, certamente, devia-se seguir em frente ainda que o progresso fosse lento.

Também considerou a possibilidade do diretor ligar no meio da missão, por não ter informado o horário exato em que agiria, por isso desligara o aparelho e deixou-o no carro - com alarme ativado, por via das dúvidas.

A luz revelou uma porta escancarada... e um odor intenso penetrou nas narinas de Frank, forçando-o, por reflexo, a por o braço esquerdo na frente do nariz. O detetive deu um grunhido baixo em incômodo. "Que merda de cheiro é esse? Parece... parece uma mistura de ovo podre e fezes de gato!", pensou, andando mais rápido em direção a porta, movido pela pressa.

Quando deu conta, viu a água acumulada no chão se misturar com um estranho líquido verde e pegajoso. Era um claro sinal.

"O desgraçado... É aqui! É onde ele está!"

Antes que percebesse, já estava dentro do recinto, fitando o interior estupefato. Havia uma janela de tamanho um pouco maior que a outra, deixando a luz azulada do luar iluminar uma espécie de "berço", que nada mais era que uma couraça negra, basicamente assemelhando-se ao formato de um ninho de pássaros, só que do tamanho de um sofá com dois lugares.

Frank não hesitou em se aproximar, apontando a lanterna para os pequenos ovos esverdeados. Parecia que dentro de cada um deles, numa análise de perto, várias larvas minúsculas "nadavam" no conteúdo aquoso de mesma cor. A parte de baixo dos ovos era envolvida por um pouco da couraça negra, deixando algumas linhas finas alcançarem o "topo".

Frank contabilizou cerca de 48 ovos. "O imbecil do Hammond tinha razão", pensou ele, cogitando pegar um para apresentar como amostra real para a equipe médica que cuidava dos casos.

Ao pegar um deles, o detetive parou, antes que pudesse coloca-lo num bolso. Seu olhar ficou estático. Não havia reparado no canto mais escuro, onde encontrava-se uma abertura na parede que servia como saída alternativa para o Ambroz respirar um "ar puro" numa parte reservada, deixando-o quase invisível de tantas barreiras colocadas, e de difícil acesso se caso o invasor entrasse pelo lado de fora.

O detetive virou o rosto para sua direita, os músculos retesados, arriscando apontar a lanterna novamente ligada para a direção de onde vinham os passos estranhos.

Mais rápido do que esperou, a luz focou diretamente na cabeça da criatura, em segundos, abrindo um grande "leque" de dentes finos, brancos e pontiagudos. A cabeça, por sinal, não parecia ter olhos, apenas a boca, os aparentes lábios e os chifres horizontais nos dois lados como grossos espinhos.

O Ambroz dera um rugido rápido e animalesco, seus dentes parecendo terem ficado maiores e indicando estar raivoso ao flagrar seu executor roubando um de seus preciosos ovos.

Frank desfocou a lanterna, largando-a e correra, sem soltar o ovo. O Ambroz fora mais rápido, contudo, ao derrubar o caçador com uma bofetada que o lançou contra a parede. Frank, enquanto caía no chão, por um instante, sentiu as garras do monstro arranhando sua bochecha esquerda e uma dormência durou por pouco tempo, logo fazendo a dor retornar com mais força.

O ovo fora perdido, rolando pelo chão e nem mesmo o seu proprietário se deu ao trabalho de procura-lo nos cantos obscuros. Nos arquivos lidos por Frank, horas mais cedo, continha uma informação a respeito dos instintos predadores do Ambroz. Quando alguém viola seu ninho com a intenção de roubar um exemplar autêntico, não importa o estado do ovo se caso o alvo se descuidar em perde-lo, seu foco passa a ser única e exclusivamente sua presa que deve ser eliminada em primeiro lugar.

O detetive, tentando se levantar, via turvadamente o monstro vir em sua direção em quatro patas. "Ele quer me devorar!". Passou rapidamente a mão direita na bochecha arranhada e sentiu o sangue quente escorrendo bem como três linhas meio fundas. "Ah, merda...".

Sacou um isqueiro, acedendo-o antes que a criatura pulasse para cima dele. O fogo, segundo os arquivos, era a principal aversão do Ambroz e sua pior fraqueza.

Balançou o isqueiro de um lado para o outro, gritando para afasta-lo. O Ambroz grunhia selvagemente quanto mais recuava logo ao sentir o calor do objeto. Frank usou a artimanha para escapar mais fácil, andando para trás e devagar até a porta.

Assim que ultrapassou a soleira e teve certeza absoluta disso, fez a pequena chama sair da vista do Ambroz e fechara a porta, batendo-a com um estrondo tremendamente alto. Pensou te-lo visto avançar assim que apagou a chama do isqueiro, em milésimos.

Não houve tempo para colocar algo que servisse como barreira para a porta - se é que existia algo para tranca-la. Apenas correu o mais rápido que pôde, sem olhar para trás.

Quando enfim alcançou o compartimento por onde entrara, saíra pela porta enferrujada, sentindo as solas de suas botas encharcarem pelas várias poças pisadas. Felizmente, lembrou onde deixou o galão de gasolina: encostado numa grossa barra de ferro cravada sobre o chão. Pegara-o e novamente entrou no local, retirando a tampa e despejando o líquido combustível no piso, nas paredes, em qualquer parte.

Empertigou-se ao ouvir o rugido horripilante da criatura. Ele estava próximo... e mais enfurecido.

Jogou mais gasolina próxima a entrada para o corredor, em seguida correndo para fora, ainda derramando gasolina como uma linha sendo formada. Estando a uma curta distância do prédio, Frank largou o galão para longe de si, logo sacando o isqueiro e acionando a válvula de propano.

No entanto, o que parecia impensável, se mostrou um infeliz ocorrência ao detetive. A ignição do isqueiro estava falhando. Seria a temperatura baixa da região?

- Anda, anda... acende logo... - dizia Frank, aflito, tentando repetidas e repetidas vezes, ora olhando para o objeto, ora olhando para a entrada. Nada de fogo, apenas cliques irritantes.

O Ambroz aproximava-se e seus grunhidos podiam ser ouvidos daquela distância. O isqueiro continuava não respondendo as expectativas de seu proprietário, para o desprazer do mesmo. Seu polegar contra a válvula já começava a arder.

O suor de Frank aumentou assim que a criatura saíra, quebrando a porta. A linha de combustível não era tão longa.

O detetive respirou fundo de olhos fechados, confiando na sua última chance.

Baixou o dedo sobre a válvula com mais calma.

A luz esperançadora refulgiu ao seus olhos ao brotar do objeto.

Na metade da linha, o Ambroz foi surpreendido pela pequena luz alaranjada na mão de Frank. O detetive, sorrindo em satisfação, jogou o isqueiro sobre a linha de gasolina que imediatamente entrara em chamas e seguia seu curso em alta velocidade até seu alvo.

O Ambroz se viu envolvido pelas labaredas agressivas que torturavam-lhe, rugindo com mais intensidade e descontrolando-se facilmente, como uma fera ensandecida.

As chamas alcançaram a instalação e boa parte do local começou a incendiar em questão de segundos, gerando algumas explosões.

Frank, comemorando consigo mesmo, mantinha-se parado no mesmo ponto, assistindo o Ambroz ser consumido pelo fogo implacável, a luz das chamas iluminando seu rosto satisfeito embora sério.

Apenas faltava, como última parte, tentar invadir a área reservada e retornar ao ninho do Ambroz por tal caminho para, por fim, atear fogo já que as chamas não se alastrariam com muita facilidade até àquele ponto devido à quantidade insuficiente de gasolina utilizada.

                                                                                 ***

Unidade emergencial D-1; 07h52

Os olhos de Carrie apertavam-se, praticamente sendo torturados pela luz do sol que transpassava o vidro da janela próxima a cama na qual ela estava deitada, coberta por um lençol branco até o tórax e a cabeça repousada sobre um confortável travesseiro.

Com a visão meio turva, entreviu um vulto abrindo a porta. Segundos depois, a silhueta embaçada transformou-se na figura de um homem alto, troncudo e vestindo um sobretudo bege, que se aproximava calmamente. O rosto, enfim, tornou-se claro.

- Frank? - indagou ela, a voz meio fraca. Havia um grande esparadrapo com um pequeno ponto vermelho na sua têmpora esquerda e no rosto algumas escoriações leves mas perceptíveis. - É você mesmo?

- Tá achando que morreu e de repente já ganhou passe livre para o céu? - brincou Frank, pondo-se ao lado da cama.

- Não, é que... - disse ela, tentando sentar-se. - Em dados momentos, eu via... homens de branco... Deve ter sido efeito de alguma anestesia ou estava delirando. - falou, os olhos estreitados. Olhou para Frank, as pálpebras menos pesadas. - Sem flores?

- Uma vez apressado nessa hora, sempre apressado. - disse ele, com um sorriso meio torto. - Como está se sentindo?

- Como se tivesse sido arrastada por um trator. - respondeu ela, indicando exaustão, os olhos fechados por um instante. - E aí? O que aconteceu? Os parasitas...

- A boa notícia: O seu amiguinho, Victor Hammond, se tornou um foragido da polícia. - informou Frank, sucintamente, a expressão séria e lançando uns olhares para os cantos temendo a reação decepcionada da assistente. - A má notícia: Eu vou ficar sozinho nos próximos dez dias sem minha fiel escudeira.

- Então são duas boas notícias. - disse Carrie, a voz arrastada. No entanto, subitamente despertou, arqueando as sobrancelhas e visualizando o detetive com surpresa. - Hammond está sendo caçado?! Ma-mas... Como? Por que? O que ele fez?

- Sinto muito dizer isso, mas ele não passava de um cúmplice de toda essa parafernália conspiratória. - disse Frank, revoltando-se por dentro. - O cara lucrava com a liberação dos parasitas através de outras pessoas, cujos nomes ele não quis me revelar enquanto me fazia refém com uma arma.

- Ele prendeu você na casa?! - indagou Carrie, a face aturdida e desconsolada. - Como foi tudo isso? Me conta!

- Primeiro ele se fez de bom samaritano, com um bom psicopata. - disse o detetive, lembrando-se dos minutos de tensão pura que passara na residência. - Me mostrou uma casca autêntica do Ambroz, extraída daquele mesmo caso de 2002.

- Sério? Não brinca. - disse Carrie, mantendo-se estupefata.

- Pois é, as pesquisas na clínica 2-A são financiadas por um grupo secreto que banca os recursos que Hammond tem a disposição para progredir nos estudos. Não deseja nada mais do que fama e reconhecimento público. - fez uma pausa, tendo uma preocupação imediata abatendo-o. - Queria tanto... mas tanto saber quem são esses chefões que andam planejando uma epidemia "ambrósica" pela cidade. Sabe, Carrie, ontem eu tirei uma dura lição. - olhou para ela, meio tristonho. - Salvar vidas nunca foi tão difícil. Talvez seja essa a sina macabra de um caçador. Nunca conseguir salvar a todos.

Carrie esboçava uma comoção em sua face, compreendendo perfeitamente a frustração do amigo.

- A verdade vai aparecer. - disse ela, os olhos meio marejados. - Não é só você, Frank, que está engajado em cavar mais fundo nessa história. Eu só não quero que se culpe pelas vítimas. Porque... sinceramente, me dói ver você se queixando de que não foi bom o bastante. - fez uma pausa, segurando as lágrimas, tendo a típica sensação de nó na garganta. - O carro que bateu contra o do diretor... era de algum cúmplice do Hammond, não era?

- Sim, era. - confirmou Frank, assentindo para ela, a expressão também emocionada. - Digamos que ele tentou tirar você do caminho.

- Maldito. - reclamou a assistente, trincando os dentes ao sentir uma profunda raiva domina-la, apertando o lençol com força.

- Mas veja pelo lado bom: Até as pessoas mais insanas temem a sua esperteza. - disse Frank, tentando anima-la, sorrindo de leve.

- Pensando bem... - disse, encostando sua cabeça no travesseiro. - ... é bem verdade mesmo. - sorriu, orgulhosa de si e de seu talento.

O celular de Frank emitiu um bipe exclusivo de um aplicativo para avisa-lo quando sua ajuda é solicitada. Retirou o celular do bolso e verificou a razão do chamado.

- Opa, veja o que temos aqui. Já pressinto que isso ainda está bem longe de acabar. - disse ele, sem reclamar da missão.

- Qual é o trampo? - perguntou Carrie.

- Homem achado morto dentro de sua própria casa. - disse ele, inespecífico. Ergueu o olhar para Carrie. - Adivinha.

- "Kabum"? - indagou Carrie, referenciando o modo como o detetive descreveu o ciclo de desenvolvimento do parasita Ambroz.

- Exato. - confirmou Frank, baixando os olhos para a tela. - Alguém da vizinhança me chamou pelo aplicativo, significa que é conhecido. O cara foi encontrado com um buraco enorme na barriga de onde está saindo um rio de sangue e... bílis, se é que pode ser isso. O estrondo foi bem alto e ninguém se atreveu a entrar, parece que estão todos apavorados por terem escutado um barulho de vidro quebrando, suspeitando ser algo escapando da janela. Tem até uma foto, olha.. - disse, intencionando mostra-la a Carrie.

- Argh, não, vai, vai logo. - disse ela, virando o rosto em enojo.

- Boas férias. - disse Frank, soando irônico ao caminhar em direção à porta.

- Seu idiota... - retrucou Carrie, sorrindo levemente como se prendesse um riso fácil.

                                                                                      ***

Confessionário:

Antes de mais nada, olá para vocês que me acompanham. Aaah... hoje foi destruidor. É difícil para um caçador como eu lidar com situações que parecem labirintos sem saídas. O dia de hoje foi exatamente assim. Os "homens grávidos" - detesto esse apelido - que alguns de vocês provavelmente viram nos jornais foram meu foco na caçada deste dia exaustivo e turbulento. Todos eles foram pegos e usados como incubadoras ambulantes para criaturas monstruosas, parasitas que se alimentam da força vital dos hospedeiros para se fortalecerem. Quando atingem determinado tamanho, o hospedeiro ganha peso, beirando a obesidade mórbida, estando sujeito a paradas cardíacas, falência múltipla de órgãos ou até mesmo demência. 

E quando esse estágio termina ele explode o hospedeiro, precisamente a sua barriga que estoura feito um balão e espalha pele, sangue e outros pedaços por toda a parte. Depois ele caminha, caminha, dentro do seu casulo, em busca de um ambiente apropriado para se desenvolver, mas só o oxigênio em si é essencial para mantê-lo vivo num período de três dias, até o casulo ir envelhecendo. Depois ele sai e anda livremente como um animal, procurando um esconderijo. Podem atingir uma altura de dois metros e meio, no máximo. São ovíparos e solitários, preferem ambientes úmidos e não são nada coletivos. Quando concluem o segundo estágio, se sentem que estão num ambiente fechado, cavam buracos numa velocidade impressionante. 

Esse caso me ensinou uma difícil lição: Não se pode salvar a todos. 


Não existe cura para repelir o Ambroz. O único destino dos que são infectados é a morte. Você vive os últimos 11 meses da sua vida vendo sua barriga inflar aos poucos sem saber o que tem. Na verdade, você já está morrendo lentamente à medida que o processo avança mês após mês, como uma gestação mortífera. 

Então é isto que recomendo: Fiquem atentos. Principalmente em relação à água que bebem. Se são tratadas corretamente. Procurem saber a fonte. Na descrição abaixo, está uma lista com os prováveis reservatórios infectados. 

Até o próximo caso. 


                                                                                  - x -



*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos ou intenções relativas a ferir direitos autorais. 

*Fonte da imagem: http://ultradownloads.com.br/busca/aliens-vs-predador-para-colorir/2,,,,,11,2,.html



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