Crítica - O Bom Dinossauro


Sobrevivência do mais forte?

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS. 

Se tem duas coisas que eu acho muito difícil com relação à Disney/Pixar são:

1) A Pixar voltar a apostar em novas sequências de seus antigos sucessos.

2) A Pixar errar a mão com alguma produção sua.

Aconteceu com o infeliz Carros 2, até esperava-se que aqui tivesse um destino igual ou pior, mas, felizmente, o resultado se comprovou, obviamente ao meu ver, com satisfação ao final de uma hora e trinta e três minutos com esta aventura dramática (quem espera uma comédia predominante vai quebrar a carinha) que mescla com muita segurança um "What-if" histórico com uma trama de premissa super-simples envolvendo as dificuldades de um azarado dinossauro chamado Arlo em levar a vida como seus dois irmãos. A questão indicada pelo prólogo é: E se os dinossauros nunca tivessem sido extintos por um meteoro? Logo mais somos apresentados a um casal de dinossauros pescoçudos, Henry e Ida, sendo do pai a tarefa de agricultura plantando milho para não passarem fome na vindoura estação invernal. Não demora muito para o nascimento dos filhotes, em especial de Arlo que, por sinal, sofre influência direta de uma travessura do seu irmão que racha o ovo (ironicamente o maior dos três), causa esta que pode ter provocado o nascimento prematuro dele.

A partir desse ponto, o foco é atribuído inteiramente à jornada de Arlo frente à sua pressionada superação do medo com suas fragilidades e limitações. Essa multifobia supostamente tem ligação com a quebra precoce do ovo, o que torna fácil odiar um dos irmãos que o ridiculariza assustando-o com brincadeiras de mau gosto, enfim é o típico bullying contra alguém que não transparece força, vigor ou preparo para a selva que é o mundo externo. O desafio proposto à Arlo de estar preparado mesmo que tenha nascido negativamente diferente me fez inferir que o longa é uma clara fábula sobre exercício de coragem, como desenvolve-la e quando utiliza-la da melhor forma possível porque ser corajoso não é igual a ser perfeito - o que Arlo não entende muito bem dado que precisou se curar de seus medos mais simplistas na marra, logo tem essa auto-cobrança e na vinda do fracasso tudo o que resta é uma sensação de impotência e inferioridade.

Ao longo da aventura, Arlo e seu amiguinho humano, Spot, conhecem personagens que foram jogados nos determinados momentos que suas presenças influenciassem ativamente na trama como o tricerátopo que coleciona animais chamado Forrest Woodbush e o trio de tiranossauros (estes com maior duração ao lado dos protagonistas, o que consequentemente faz desejar que eles permaneçam juntos até o final). Esses personagens não executam mais que suas funções pré-definidas. Isto inclui também os pterodáctilos, antagonistas que, à parte da previsibilidade, alvejam o pequeno Spot no clímax transformando tudo numa missão de resgate para que Arlo teste a força que adquiriu nos acontecimentos anteriores enquanto ansiava retornar ao seu lar. Tão perto e ao mesmo tempo tão distante.

O que ganha a emoção definitivamente é a amizade de Arlo e Spot. E teve quem não gostou nem um pouco e nesse ponto eu compreendo, talvez grande parte das avaliações desfavoráveis se dê pelo enredo absurdamente previsível (sim, demais). Mas eu não sei o que esperavam de um filme ambientado num período jurássico que não foge à essência simples tão necessária para construir o fator dramático/emotivo e que está intrínseco ao elo dos dois personagens. A simplicidade se traduz como a alma da narrativa que sabe manejar bem seus recursos e aproveitar seu potencial dentro da medida.

O curioso é a atmosfera de curta-metragem alimentada pelo próprio desenrolar do filme. Realmente há momentos em que aparenta ser um curta daqueles que é postado na internet para passar uma mensagem/lição importante (e isso não é uma crítica à qualidade da animação, friso). A persistência é um exemplo trabalhado como na cena de Arlo tentando subir aquele penhasco na perseguição sofrida ao intruso que quase devorou todo o estoque de mantimentos da sua família. Não dava para exigir uma trama com inúmeras camadas, embora haja um subtexto competente, o da lei da sobrevivência. Arlo pode não ser o mais forte, mas certamente se adaptou à sua condição antes de enfrentar o mundo e assim tornar-se forte no sentido de sobrepujar seus medos o que eventualmente pode melhorar sua aptidão aos problemas, perigos e e mudanças que o afetarem. Arlo ser um adolescente só fortalece essa explicação, pois não tem fase da vida mais dolorosa que essa, sobretudo para alguém como o nosso bom dinossauro. Crescer dói e crescer sendo uma ovelha negra insegura e incerta de tudo e de si mesmo é ainda pior.

Considerações finais: 

O Bom Dinossauro (The Good Dinosaur, no original) se constrói como uma fábula dramática sobre coragem, persistência, amizade, força de vontade e superação, pegando um pouco da superfície de O Patinho Feio. O padrão Pixar de qualidade aqui se enxerga sob uma perspectiva nada mais e nada menos que simples e bastante voltada ao toque emocional com funcionalidade consistente.

PS1: Muito tempo se passou após o meteoro passar reto do planeta, mas a população de dinossauros parece ter dado uma reduzida. Não sei quantos haviam no prólogo, mas ao decorrer do filme são bem poucos. A maior parte dos cenários por onde Arlo e Spot atravessam são praticamente desertos dando a entender que encontrar povoações de dinossauros em qualquer lugar é de rara ocasião.

PS2: As asas dos pterodáctilos sobrevoando a região próxima do lar de Arlo fizeram um suspensezinho ao ficarem passando nas nuvens de tempestade e fazendo pensar que ali vinha outra espécie de dinossauro para atormentar e dificultar a missão do clímax. Mas foram bem aproveitados.

PS3: Ecos de Rei Leão na cena em que Henry é arrastado pela correnteza. Lembrei imediatamente de Mufasa e Simba. Que dor...

PS4: Comédia tem, mas é pouca. E quando tem é boa. A cena em que os dois saboreiam frutinhas alucinógenas até ficarem chapadões numa viagem muitcho louca é bem divertida.

PS5: A cena mais bonita e tocante é, sem dúvidas, quando ambos compartilham suas histórias trágicas sobre perdas familiares sem dizer uma palavra, somente representando com objetos (galhos e um círculo feito na areia).

PS6: Só achei meio estranho o Arlo fazer um círculo em volta de Spot e sua nova família sendo que os pais adotivos deles estavam numa distância que mesmo curta não parecia dar para que ele esticasse o pescoço e desenhasse o círculo. Enfim, no mais a despedida foi deveras tocante.

NOTA:  8,0 - BOM

Veria de novo? Sim. 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: http://g1.globo.com/mato-grosso/noticia/2016/01/animacao-o-bom-dinossauro-estreia-nos-cinemas-da-grande-cuiaba.html

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