Desistência de uma existência sem insistência
Da vida plantei árvores. Da colheita, vieram-me podres.
Ao vazio da escuridão, eu caminhei. A luz não me alcançou, parei a pensar:
"Quando ela finalmente irá desistir".
Dos sabores mais intensos eu desfrutei. Das provações mais diabólicas, eu enfrentei.
Pessoas vieram. Permanentes e benevolentes, pensei que fossem. Desiludido me senti. Com raiva, me atirei ao precipício.
Deslizando em meu corpo, a lâmina dançou nua e fria. Sangue na minha boca provei.
Momentos bons surgiram. Quão passageiros eram.
A vida trouxe seus infernos, e os portões de meu céu foram selados.
A chave redescobri. Demônios deixei escapar. De minh'alma se apossaram.
Fui meu herói e meu vilão. Travei batalhas, mas perdi guerras.
Vívidos momentos, memórias vagas tornaram-se.
Nos mares que minhas lágrimas formaram, afundei-me e afoguei-me, à deriva fiquei.
Vãs crenças, por terra caíram, como edifícios implodidos. Outras foram-me obrigadas a adotar.
Velhos conceitos abandonei. Abracei novos.
A solidão de mim fez refém. As trevas fizeram dela sua filha.
De tanto ouvir falarem, perdi a voz. Andarilho sombrio me tornei.
A piada que ninguém entendia, mas todos achavam cômica, assim fui eu.
Quanta repulsa senti. No espelho, horrorizado fiquei. No reflexo, a prova de que não agradei.
Ninguém nasce sabendo, é claro. Mas se da vida eu soubesse, antes da chegada, talvez cauteloso eu fosses.
Dividido fiquei, quando elas lutaram dentro de mim, em pensamentos.
Sem escolha me vi. Vida ou morte?
Enquanto uma me convence ser um tormento, a outra se exibe como a salvação.
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