Frank - O Caçador #13: "Entomofobia"


Universidade de Danverous City - 23h50

O laboratório de microbiologia estava fechando uma hora mais tarde naquele dia por um dos alunos considerados mais aptos a disputar o concurso que garante medalha de reconhecimento. Seu nome era Mark, rapaz de estatura alta e cabelos castanho claros vestindo jaleco branco. Fechara a porta da sala sendo iluminado pelas luzes azuladas de parte do corredor enquanto o restante do caminho era um breu total. Já estava de saída, bocejando em intervalos curtos e logo saiu andando com sua pasta cheia. No entanto, o silêncio lhe penetrou como algo a proporcionar suspeita e olhou para trás.

Nada se viu. Mas um vulto passara assim que retomou a andança. Novamente ele estacara e olhou derrubando a pasta sem querer.

- Tá legal, eu não quero saber de pegadinha hein. - disse ele, irritado, voltando a andar.

Outra vez a sensação de perseguição ao sentir um ventinho no seu jaleco, o que foi estopim para que corresse apavorado dobrando alguns corredores e tomado pelo medo que o deixava sem rumo.

Tropeçara, caindo e se arrastando, sentindo o corpo inteiro tremular impotente. Buscaria refúgio em qualquer porta ali. Mas ao erguer a cabeça à uma janela de laboratório deparou-se com uma caixa repleta de abelhas em criação numa colmeia fechada. Mark gritara horrorizado.

O aluno que no momento trabalhava saiu da sala. Era Adrian, alguém não muito simpatizado pelos colegas, principalmente concorrentes do grande concurso. O universitário tinha rosto caucasiano meio redondo com óculos grandes e cabelos longos penteados para trás até o pescoço.

- Mark?! O que ainda tá fazendo por aqui? Você nem tá participando da competição pra sair tão tarde.

- A-Adrian... - disse ele, levantando-se - ... tem que acreditar em mim... esse lugar tá assombrado.

- Soube que tinha problemas de síndrome do pânico. Não tomou seu remédio hoje?

- Para com isso, não tô de brincadeira.

- E muito menos eu. Se quer saber, eu honestamente não ligo pras suas paranoias.

- Só quero que me ajude, tinha uma coisa me seguindo!

- Chispa daqui, Mark. Os melhores sempre estudam até tarde. - disse Adrian, sorrindo infame.

Mark alterou sua expressão para repúdio ao colega e saiu... mas não sem um contra-ataque.

- Você não vale as bactérias que seus insetos tem.

Adrian levara aquilo como um insulto grave dada o seu semblante de aborrecimento.

Poucos minutos depois, no caminho, Mark foi atormentado de novo pelo vulto e o zumbido assustador e correu até se esconder numa sala. Encostou-se na porta reavendo o fôlego. Porém... sentiu algo duro atravessar seu corpo. Ao olhar com expressão de dor viu seu peito transpassado pelo que parecia um ferrão gigante.

A ponta ensaguentada saíra devagar e Mark caiu sofrendo hemorragia. Do lado de fora da sala, uma vespa do tamanho de uma motocicleta batia suas asas e do ferrão caíam gotas de sangue no chão.

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CAPÍTULO 13: ENTOMOFOBIA

Departamento Policial de Danverous City 

Pelo corredor que levava à sua sala, Frank andava segurando uma caixa de papelão média, carregando-a na lateral do corpo e assoviando baixinho. Logo sacou a chave da sala para abrir a porta. Porém, sua visão periférica detectou uma presença que interrompeu seu assovio.

- Posso saber a quem pertence essa caixa que me parece tão familiar? - perguntou Carrie, os braços cruzados. Olhou para a mão direita dele que imediatamente tapou o adesivo com nome escrito.

- Ahn... enfeites novos pra minha sala, é claro. - disse Frank, disfarçando.

- Corta essa, não sou cega e minha intuição é tão boa que vale por dez melhores. - disse ela, intimidando o detetive para pressiona-lo - Tira a mãozinha daí, quero ver...

Frank pusera rápido a caixa na outra mão para abrir a porta.

- Tá legal... Então é assim né? - perguntou Carrie entrando logo atrás dele - Não sabia que ganhou permissão para se apropriar de objetos estranhos, ainda mais de uma certa... secretária folgada.

O detetive parou de costas à ela, logo virando com o cenho franzido.

- A quem tô querendo enganar né? Tá bom, olha aqui. - disse ele, mostrando o adesivo retangular branco com o nome "Megan" - O diretor me pediu que eu entrasse em contato com ela pra devolver essas coisas já que você não se daria ao trabalho por ficar de ciuminho.

- Ciúme que nada. - defendeu-se Carrie, revirando os olhos - Além do mais, o diretor já havia me...

- E você fez de novo. - disse Frank, interrompendo-a ao ver uma pasta com arquivo na sua mesa, logo pegando-a para conferir o novo caso da vez - Não tô reclamando, só que... sabe, é que prefiro você vindo na minha sala me entregando o caso. Como nos velhos tempos.

- Nem são tão velhos assim. - retrucou ela, abrindo as persianas e deixando a luz do dia entrar - Trabalha no DPDC há quatro anos e esteve fora por três meses, dado como morto pelo seu chefe, por sinal. Olha, Frank, quero te falar uma coisa...

- Agora não, Carrie. A gente tem que se concentrar nessa bagacinha aqui. - disse ele, sentando sobre a mesa lendo as páginas - Caramba...

- Bizarro né? Os relatos que você está lendo aí são de pessoas entrevistadas pelos outros agentes e que afirmam e juram de pés juntos terem visto insetos gigantes circulando pelo campus da UDC. Não é coincidência atualmente estar tendo um concurso de duplas da área científica que concorrem à medalhas e pontuações importantes. Muitos estão acusando a dupla mais aplicada.

- É, tem uma lista anexada aqui com todos os nomes dos que se inscreveram no tal concurso.

- Essa não é a pior parte...

Frank virara a página e arregalou os olhos ao ver duas imagens: um cadáver e um casulo gigante.

- Você chegou à pior parte. - disse Carrie, olhando-o.

- Agora dá pra entender a revolta do pessoal. O cara que estudava na sala de microbiologia, Mark Drabbon, foi achado com o peito perfurado bem no meio do tórax no depósito de limpeza. Pelo buraco, é como se a ponta de uma lança tivesse atravessado o coitado.

- O laudo pericial só corrobora ainda mais o que as testemunhadas falaram. - disse Carrie - No sangue do Mark foram encontrados vestígios de uma toxina que parte do ferrão de uma vespa silvestre.

- Tá bem, isso ajuda a arrepiar todos os pelos do meu corpo. - disse Drank, desconfortado - Um dos caras do projeto que tá sofrendo risco de boicote cria uma colmeia de abelhas no laboratório.

- E qual o problema? - indagou Carrie, logo formando um sorriso risonho - Ah não vai me dizer...

- Não, sem zueira, por favor. - disse Drank, erguendo de leve uma mão - Me leva a sério, não vou fugir de uma responsabilidade por causa de uma trauminha qualquer.

- Me conte sobre essa trauminha e quem sabe não tiro conclusões erradas.

- Desde que incomodei uma colmeia, abelhas pra mim são como... Eu era um garoto curioso, me arrependi e aqui estou com quase cinquenta anos na cara e com receio de investigar um caso que possivelmente envolve insetos gigantes com abelhas no meio. - suspirou - Abelhas gigantes...

- Fica tranquilo, relaxa. Ah, e não esqueça dessa coisinha nojenta que acharam. - Carrie apontou para o casulo fotografado por um dos agentes - Possivelmente ou com certeza tem insetos grandões na parada? Isso me cheira a Prisma Negro. Ele deforma humanos, deve provocar aumento de tamanho nos insetos, talvez diferentes efeitos em várias formas de vida.

- Não, aposto na teoria de que a dupla é inocente e rolou alguma sabotagem de uma equipe rival. Deve ter outra substância nessa jogada. - disse Frank, logo fechando o arquivo - Me deseje sorte.

- Vá logo antes que a largatinha vire uma borboleta comedora de cérebros. - avisou Carrie.

- Não há forma melhor de lidar com seus medos do que encarando eles de frente. - falou o detetive, andando para sair - Espera, do que você ia me falar mesmo agora há pouco?

- Deixa pra lá. E prometo não xeretar a caixinha da Megan. Aliás, nem tenho coragem de me aproximar. - disse ela, aparentando sentir repúdio da caixa - Você vai conseguir.

- Ótimo, pelo visto nós dois vamos tomar cuidado em relação à nossa curiosidade. - disse Frank, fechando a porta. Ele se esforçou até onde pôde para transparecer coragem à assistente e prova-la.

Carrie adquiriu um semblante sério após a saída do detetive e direcionou o olhar à caixa.

"A bruxinha safada não pode voltar de surpresa sem que o Frank saiba da verdade.".

                                                                                   ***

Universidade de Danverous City

O diretor do centro científico e Frank caminhavam pelo espaço aberto do campus.

- Isso tem sido nossa maior e mais estressante responsabilidade até agora. - disse Dale Smith, o diretor, andando ao lado do detetive - Todas as apurações feitas... indicam uma coisa terrível.

- No que está pensando pra fazer essa poeira baixar mais rápido? - perguntou Frank.

- Na verdade, eu gostaria que respondesse minha pergunta primeiro. - disse Dale, desconfiado.

- Sem problemas Sou todo ouvidos.

- Com a conjuntura atual sugerindo que estamos de fato lidando com anomalias descontroladas nos experimentos... por que logo o DPDC me envia seu suposto melhor agente para investigar a fundo?

- Lidar com coisas estranhas é meu trabalho. - disse Frank, logo pigarreando - Quero dizer... Fui designado a ajudar da maneira que posso e esse caso importa bastante pra corporação. Houve uma morte, afinal de contas. Mesmo assim, com quase tudo já descoberto, preciso reunir mais provas.

- Entendo. - disse Dale, assentindo - Mas a decisão final quem tomará sou eu.

Um dos competidores do concurso, Elijah, exatamente da dupla que estuda o fortalecimento do exoesqueleto de insetos, se dirigia aos dois trazendo uma papelada volumosa. O rapaz vestia um jaleco branco e sua aparência era jovial com cabelo castanho curto meio espetado e óculos.

- Senhor diretor. Aqui está, novamente mais um.

- O que é isso? - perguntou Dale, estranhando. Logo riu de si mesmo - Ah sim, o relatório.

- Me parece abatido. - disse Elijah - Eu interrompi, não foi? - indagou, olhando para Frank.

- Não, não esquenta. o diretor e eu só batíamos um papinho sobre os recentes incidentes com... insetos supostamente gigantes e mutantes. - disse Frank - Espera aí... Você não é o Elijah?

- Muito prazer. E o senhor? Como me conhece?

- Tô com a sensação de que tá se fazendo de desentendido. Não reagiu quando mencionei o assunto.

- Detetive Montgrow, o que insinua? - perguntou Dake, aborrecendo-se com a postura dele.

- Me desculpe, mas... eu sei sim do que tem acontecido, do que aconteceu com o Mark... Eu acabei de voltar do funeral, aliás. - disse Elijah, expressando seriedade.

- E mesmo com essa polêmica você e seu parceiro ainda seguem com o projeto? - perguntou Frank.

- Olha, é melhor... a gente pode conversar num local reservado. Não acha? Sou suspeito número um.

Frank assentiu, concordando num semblante sério. No laboratório, ambos discutiam a respeito do experimento e do prosseguimento autorizado pelo diretor apesar do caos.

- É o Adrian, é ele que me preocupa. - disse Elijah, as mãos apoiadas na mesa - Ele ainda não chegou, dificilmente se atrasa e hoje é dia de testarmos um novo composto.

- Não tem suspeitado dele ultimamente? - perguntou Frank.

- A ideia do experimento partiu dele. Quando ouvi as propostas, fiquei deslumbrado e aceitei virarmos parceiros nessa droga de concurso. Nossas carreiras estão arruinadas.

- Não estarão mais até que possam arranjar um jeito de limpar o nome da equipe.

- E acha que é possível? Espalharam cartazes opressivos e picharam os muros, tô me sentindo na idade média, sendo perseguido por um pecado que cometi. Indiretamente, mas sou parte disso.

- Você não tem culpa de nada, pelo que me parece. Vamos esclarecer: Suspeita do seu amigo? - perguntou Frank, desviando lentamente o olhar para uma caixa com várias baratas cascudas amontoadas andando umas sobre as outras e em seguida visualizou a colmeia, logo voltando à Elijah.

- O Adrian tem agido estranho realmente. Não sei o que pensar, ficamos tão... amigos nesse tempo.

- Não vou te impor minha teoria como se eu tivesse a maior e suprema capacidade dedutiva... Mas vou te falar: Pelo que sei, acredito que o Adrian pode estar agindo pelas suas costas. Você não parece confortável quando diz o nome dele. Como é a relação em trabalho?

- Acho que minhas definições de relação complicada foram atualizadas. Nós trabalhamos para fortalecer propriedades que tornam alguns insetos resistentes. Com os resultados do testes bem-sucedidos, alcançamos pontuação máxima e saímos com a medalha de ouro. Agora essa sonho foi pelo ralo. - disse Elijah, em seguida pegando um frasco com um líquido negro - Essa porcaria arruinou nosso projeto. Ou Adrian modificou a fórmula, mas... por que nos sabotaria?

O detetive olhou fortemente intrigado à substância e olhou à direita onde haviam frascos menores.

Enquanto Elijah falava de costas, Frank surrupiara uma das amostras, escondendo no sobretudo.

- Tudo bem, preciso ficar mais calmo. Não sei se vou manter as aparências por muito tempo. - disse ele, procurando algo no armário - Droga, cadê?

- Quer ajuda pra achar alguma coisa? - perguntou Frank.

- Merda, a chave do depósito sumiu! - reclamou Elijah, batendo a porta - Detetive, pode me dar licença? Tenho que ver com o diretor, pode estar com ela. Cada dupla possui um depósito específico.

- Tá legal, se é importante melhor ir logo. Obrigado pela atenção. - disse Frank, sorrindo amigável.

- Fique à vontade, faz o pente fino. - concedeu Elijah, saindo do laboratório. Durante sua vasculha, Frank não achara nada que correspondesse minimamente a algo levantado pelas testemunhas. Olhou novamente para a colmeia improvisada repleta de abelhas e expressou tensão, logo saindo.

                                                                                     ***

Ao sair da universidade, passando pela área espaçosa que ligava a entrada com o campus, Frank sacou seu celular para contactar Carrie.

- E aí, como se saiu? - perguntou ela - Os rapazes armazenam insetos gigantes em câmaras?

- Você tá encarando isso tudo como uma ficção científica barata. - disse Frank fechando rápido os olhos meio indisposto em falar sobre sua entomofobia - O Elijah, pelo menos ele, é inocente. Mas o outro... o tal do Adrian, pelo que parece, tá sob suspeita até do parceiro. Tô saindo agora. Não vai acreditar no que peguei emprestado, se é que me entende.

- Me conta logo se não quiser deixar sua assistente numa crise de curiosidade e acabar reduzindo seu desempenho no trabalho até que você venha me mostre o que você descobriu.

- Boa tentativa, mas isso não me assusta. - disse Frank, sorrindo torto.

- Frank, desembucha logo!

- Tá legal, vou te falar: Os caras andaram trabalhando nos insetos com uma água preta meio gosmenta e aproveitei que o Elijah se distraiu falando e...

- Você furtou uma prova?! Pirou de vez? É proibido sem autorização. Por que simplesmente não pediu? - questionou Carrie.

- Porque mesmo que ele aparentemente não tenha envolvimento no planinho secreto do parceiro com os insetos, é bom manter um pé atrás nessa altura da investigação.

- Te entendo. É arriscado confiar. Então o fim justifica o meio?

- Do meu ponto de vista, sim. - disse Frank, fazendo uma pausa - Ahn... Sobre o que você ia...

- Ah, aquele outro assunto. Pois bem... é sobre o sumiço da Megan, uma coisa que descobri...

- Olha, pode me esperar chegar? Tô levando a amostra da coisa. A gente conversa melhor depois.

- Tudo bem.... - disse Carrie, meio incerta - A gente se vê.

Ambos desligaram no mesmo instante. Porém, enquanto guardava o celular virou o rosto para trás e olhar o chamativo globo da UDC acabou esbarrando numa outra pessoa.

- Opa, foi mal amigo... - disse Frank, se interrompendo ao ver quem era.

- Não, está tudo bem. - disse Adrian, agachando-se para apanhar os papéis derrubados. Frank resolveu ajuda-lo - Pela cara e pelo sobretudo, deve ser um investigador contratado né?

- Como assim pela cara? - perguntou Frank, soando rude, mas logo desviou a atenção para um papel com desenhos curiosos... um mesmo símbolo repetidamente desenhado. Adrian tomou o papel da mão de Frank rapidamente.

- Não quis ofender, me desculpe. - disse Adrian retribuindo com um sorriso amigável - É fácil reconhecer detetives com porte físico igual ao seu... Deixa pra lá, me expressei mal.

- Não, não fiquei ofendido. Pode passar. - disse Frank, flexível.

- Obrigado. - disse Adrian, andando depressa. Mas Frank o chamou para avisa-lo.

- Ahn, ei... Adrian! Escuta, err... O Elijah, conversei com ele agora há pouco, está doidinho atrás da chave do depósito. Não devia estar com o diretor o tempo todo?

- Os depósitos são propriedades dos competidores. Está tudo sob controle, detetive. - disse ele, logo virando as costas retomando curso. O detetive ficou a encara-lo com suspicácia por um instante.

                                                                                   ***

Minutos depois, o diretor havia chamado Adrian para uma conversa na sala.

O aspirante a cientista levantou-se subitamente da cadeira ao ouvir o ultimato do idealizador.

- Isso é loucura!? Diretor, onde está com a cabeça?

- Me sinto plenamente consciente do que decidi. - disse o diretor, as mãos entrelaçadas na mesa - Ninguém pode me impedir de fazer um simples telefonema e solicitar a companhia de averiguação.

- Não... - disse Adrian, desesperando-se - Pensa só em como isso vai arruinar, vai sujar a imagem da nossa equipe, está colocando tudo em a perder por nada...

- Por nada?! - disse o diretor, exaltado - Onde está sua empatia, Adrian? A morte de alguém está associada ao projeto que você e Elijah desenvolveram! Está muito claro pra mim. Pense na escola em primeiro lugar e menos no concurso, veja a que ponto as coisas chegaram. Quero que seja sincero comigo. Você confirma os boatos? Vamos lá, a menos que queira zerar na pontuação.

- Nós falhamos, eu sei... mas... - Adrian estava visivelmente desconcertado.

- Foi o que pensei. Talvez os resultados da operação da companhia me revelam quem são de verdade. O concurso está suspenso, por ora. Saia da minha sala.

Após se dispensar, Adrian entrara no laboratório encontrando um insatisfeito Elijah.

- Feliz agora? O diretor acaba de decretar suspensão do concurso.

- Então é isso? Pra você só importa seguir em frente como se nada tivesse acontecido?

- Podemos corrigir essa falha, nós dois... ainda podemos limpar nossos nomes. - disse Adrian.

- Chega, não tem jeito! - disse Elijah, afastando-se - E eu gostaria de saber... o que a chave do nosso depósito fazia no seu armário pessoal. Soa como se restringisse meu acesso. Por que? - indagou, rude.

No DPDC, Frank chegara rapidamente à sala de Carrie trazendo um papel.

- Tá aqui, é esse o desenho. - disse ele, pondo sobre a mesa.

- Espera, que desenho? - perguntou ela, olhando.

- Por uma incrível sorte, o Adrian esbarrou comigo na saída. Vinha carregando uma papelada e enquanto o ajudava... fisguei esse negócio. Parece místico pra você?

- Parece desenhado por uma criança de 7 anos. - disparou Carrie.

- Eu fiz o melhor que pude. Memorizei na hora, afinal veio de um suspeito.

- Se tivesse o pego sem que ele percebesse, teria sido melhor. Ah não, estou me contradizendo, porque roubar provas é moralmente errado. Não te recrimino, mas é errado. Mas eu te entendo. De que lado eu estou? Vamos logo pra pesquisa, tá me deixando confusa.

- E aqui a amostra. - Frank pusera o frasco sobre a mesa - Levo direto pro laboratório escanear?

- Não, deixa que eu levo. - disse Carrie, vidrada no monitor - Ah, finalmente chegou.

- Finalmente o quê?

- Autorização do reitor via e-mail pra acesso às câmeras de segurança. - ela clicara numa filmagem. O vídeo mostrava parte do campus vazio com alguns carros estacionados. Três minutos depois, surgira uma figura semelhante a um vulto de sombra passando devagar - Isso foi às onze e meia.

- Acho que encontramos o nosso cara. - disse Frank, olhando para ser estranho que parecia coberto por um manto negro - Ele tá meio embaçado diferente do resto do cenário. Percebe?

- Sim, destoa bastante. E olha... deixa um rastro preto. Os agentes mencionaram isso, mas ignorei.

"Ou Adrian modificou a fórmula... mas por que nos sabotaria? A fala de Elijah ressurgiu na mente de Frank naquele momento e teve uma pequena epifania.

- A data da filmagem coincide com a maior parte dos relatos. Pode ser o mesmo dia em que o casulo gigante foi achado. - disse Carrie - Essa assombração, seja lá o que for... é nosso alvo. - ela retirara alguns papéis pequenos e entregou a Frank - Toma. Números de telefone das testemunhas.

- Carrie, preciso voltar pra UDC. Formei uma teoria.

- Precisa se aprofundar e te dei o melhor caminho.

- Tem razão. - Frank assentiu - Me liga se a análise da amostra der algo.

                                                                                       ***

A companhia de averiguação científica chegara uma hora e meia após a conversa entre o diretor Dale e Adrian. A organização enviava homens trajando vestes brancas semelhantes as que agentes de descontaminação radioativa utilizavam. Cerca de seis deles invadiram o depósito da dupla acusada.

Entraram arrombando a porta, todos munidos de lanternas e sensores que eram retângulos metálicos que emitiam zunidos fininhos e inconstantes e eram passados bem próximos as paredes e no piso.

Os fachos luminosos dilaceravam a escuridão do local.

- Sem sinal de assinatura. - disse um deles, olhando para cima. Sem perceber, se distanciou do resto.

De repente, um som abafado o atraiu. Por dentro o traje era frio, o que fazia ele soltar "espirais" de bafo gelado pela boca. Hesitou apontar a lanterna. Mas o sensor agiu rápido. Todos voltaram suas atenções com o apito do sensor e as lanternas voltaram-se ao homem.

- Pessoal, está bem aqui... Perigo de proximidade... em nível alarmante.

- Garret, melhor não dar mais um passo. - orientou um - Se os rumores forem reais...

- Não seja idiota. Nos jornais tem a foto de um casulo enorme. - retrucou outro - Alguém pagou uma bagatela ao reitor para aquilo servir de estudo, não duvido. Pra ter sumido...

- Estão ouvindo isso? - perguntou o que estava com o sensor apitando. O barulho parecia com um zumbido... bem familiar. Direcionou a luz ao ponto e se deparou com seres de olhos vermelhos vindo ao seu encontro. - Ah meus deus! Mas que diabos...

- Todo mundo pra fora! Rápido! Depressa! - disse o líder, gritando.

O agente que descobrira o som tropeçou enquanto fugia e logo encarou com terror.

- Ah não! São... são moscas! Socorro! Não!!!

As moscas mediam a altura de uma criança de 08 anos e carregaram sua vítima até um compartimento pequeno. Um dos agentes apontou a lanterna para lá e assistiu horrorizado o amontoado de insetos devorando a carne do companheiro, suas asas brilhando. Logo depois fugira, atormentado pelo grito ecoante do amigo que deixou para trás.

Enquanto isso, de volta ao DPDC, Frank retornara à sala de Carrie.

- E aí, algum progresso com o símbolo?

- Te pergunto primeiro: Como foi com as testemunhas?

- Correu tudo bem, as descrições são muito profundas pra parecer brincadeira. A UDC tá mesmo infestada de praga.

- Bem, OK. - disse Carrie, virando o monitor à ele - O desenho que Adrian fez é uma insígnia mística bem conhecida. Essa aranha de seis patas representa um selo de invocação a uma entidade ligada à pragas. Até o recitamento tá disponível. Além disso, é necessária uma barganha. Em troca de um objetivo qualquer, o Peste Sombria recebe um exército para caminhar sobre a Terra e propagar a pestilência até que a humanidade se curve ao seu domínio.

- Soa muito apocalíptico pra um caso pequeno. - disse Frank, olhando a tela apreensivo - O desgraçado quer comandar um exército de insetos... enquanto o Adrian sente um gostinho da vitória antes do mundo acabar. Era mesmo aquela coisa igual um mendigo perambulando no campus.

- Sim, não há engano. - disse Carrie, logo assustando-se pelo seu telefone tocar - Alô? Diretor, por favor, vai devagar. Minha nossa... - sua expressão mudara - Tá certo, OK, vou pedir imediatamente.

- O que foi que houve agora?

- Os caras da companhia de averiguação científica quase sumariamente mortos por... moscas. Um deles não teve escapatória. Melhor acertar as contas com o Peste Sombria, estão evacuando o prédio.

Frank cerrou os punhos, impulsionado pelo desejo de finalmente retornar à UDC e resolver tudo.

                                                                                 ***

Já eram cerca de 17 horas e 42 minutos. Em um corredor, iluminado por lâmpadas amarelas, que dava para o estacionamento, Adrian havia se encontrado com Peste Sombria que parecia um velho homem coberto por um manto esfarrapado, sujo e podre com mãos esqueléticas e feias, tal como o rosto cuja boca expelia várias larvas que caíam e metamorfoseavam rapidamente em moscas. Outros insetos passeavam por ele, como baratas, lagartas, formigas e besouros.

- Eu não sei bem... se ainda podemos prosseguir com isso, sabe...

- Você quer rescindir o acordo? - perguntou Peste Sombria, a voz macabra.

- Não me entenda mal. Por que não damos... uma pausa? As coisas... meio que saíram do controle. - disse Adrian, apreensivo - Preciso de mais tempo.

- O tempo que lhe dei não foi suficiente? Receio que alguém... tem conhecimento do plano. E quem se opuser sofrerá consequências graves. Grave minhas palavras, lacaio.

- E-eu... entendi. - disse Adrian - Terá seu exército completo... Mas a situação se complicou. Os insetos não me obedecem, são selvagens e hostis. - falou, logo notando uma barata subir pelo seu ombro esquerdo e tirando - O que eu faço?

- Não cabe a mim decidir isso. Dê o seu jeito. Você não falou que era um gênio?

Adrian balançou negativamente a cabeça, totalmente aflito.

Na entrada da UDC, vários homens da companhia de averiguação saíam correndo ao lado de policiais. Professores e alunos também eram despachados.

Frank chegara e correu na direção oposta, se dirigindo ao reitor e mostrando o distintivo.

- DPDC! Pode me dar um status?

- Até onde sei, faltam poucos a saírem. Sugiro que mantenha o depósito trancado. Ele já foi averiguado novamente.

- O que aconteceu com o cara da companhia?

- Parece que... foi devorado até restar os ossos que estavam cobertos... de ácido corrosivo.

- Mas se voltaram pra lá sem serem atacados... - disse Frank, pensativo - Ah, essa não... - se lançou em disparada para entrar. Com seu rifle, adentrou. As luzes azuis piscavam tremulamente.

- Mariposas nas lâmpadas... - disse ele. Dobrou a um corredor escuro. Acabou ouvindo um "creck" do seu pé esquerdo. Olhou e conferiu com uma lanterninha: pisara numa barata. De repente, a luz da sala à sua direita piscou pela janela grande. Depois apagou por uns segundos. Frank se aproximou, ouriçado. Subitamente, a luz acendera desta vez com uma barata gigante presa à janela, parecendo uma silhueta. O detetive assustou-se quase caindo.

- Mamãe tá furiosa né? - perguntou. Mas lembrou que precisava encontrar Adrian e Elijah e correu.

No laboratório, Elijah e Adrian discutiam calorosamente em meio à confusão.

- Que conversa fiada! É claro que você tramou esse tempo todo, pois comigo ao seu lado você não achou que ia ser garantia de sucesso!

- Como eu ia largar tudo assim por um motivo tão idiota? - defendeu-se Adrian - Tem que me ouvir, Elijah! - aproximou-se do amigo, desesperado - Adorei trabalhar com você, é inteligente, atencioso e o melhor parceiro que alguém nesse concurso poderia ter. Eu queria que vencêssemos juntos!

- Então esclarece!

Frank chegara de surpresa. Adrian estremeceu, sentindo-se mais pressionado.

- Detetive Montgrow!? O que faz aqui? - perguntou Elijah.

- Tentando deter uma horda de insetos gigantes asquerosos. O prédio tá sendo evacuado.

- Não, antes disso o Adrian precisa confessar. Chegou numa boa hora, detetive. Fala logo, Adrian.

- Abre o jogo. - pediu Frank - Eu vi o desenho no papel que você derrubou, até tomou de mim bem rápido. Tá achando que engana quem?

- Então você sabe do Peste Sombria? Mas como? Que tipo de detetive você é? Caça-fantasma?

- Caça-fantasma, caça-demônio, caça-vampiro, caça-qualquer coisa bizarra. E você tem pacto com um monstro pestilento que deseja espalhar pragas e doenças pelo mundo todo. Desfaz essa merda antes que muito mais gente se machuque.

- Não tem como. - disse Adrian - Já é tarde demais.

- Como você conseguiu transformar os insetos?

- Usei uma solução aquosa drenada dos cristais negros na fenda. Misturei à gosma do monstro e...

- E criou o meu exército definitivo. - disse Peste Sombria, aparecendo de surpresa na sala.

- Pra trás! - avisou Frank, disparando contra ele. Com o tiro, desapareceu em fumaça negra.

O detetive resolveu sair correndo freneticamente, atirando contra qualquer inseto que visse. Porém, deparou-se com uma abelha gigante voando poucos centímetros do chão, fazendo-o reduzir sua postura combativa e automaticamente baixar a arma. "Merda, essa maldita..."

- Preciso levar meu conselho em prática se não quiser acabar com um ferrão cravado no peito. - disse ele, respirando fundo.

A abelha avançou com seu zumbido apavorante, mas Frank rapidamente atirou na cabeça.

- O bicho sangra preto. E se sangra, pode morrer.

No laboratório, Elijah fabricava algo que poderia teoricamente ser usado contra os insetos.

- O que está fazendo? - perguntou Adrian - Tem que fugir! O Peste...

- Eu vou ficar e lutar! O detetive precisa de mim. - disse ele, logo saindo com um objeto similar a uma granada. O jovem cientista encontrou Frank num corredor.

- Cadê o Adrian? - perguntou Frank.

- Não ligue pra ele. Trouxe uma arma. - disse Elijah - Esses insetos... estão mexendo com a instalação elétrica, deve haver centena de milhares escondidos.

- Isso é menos importante que o... - a fala de Frank interrompeu-se com a presença de Peste Sombria - O diabo apareceu antes de falar nele. - disparou várias vezes, mas não adiantava.

Peste Sombria avançara superveloz contra Elijah pegando-o pelo pescoço e o jogando.

- Eu convoco os destruidores que impedem a vida florescente da terra. - disse ele, em voz alta.

A granada foi largada pelo chão e Frank pegaria enquanto ele se distraísse. Entretanto, foi percebido e paralisado com telecinesia antes que pegasse.

- Dá pra sentir seu hálito podre daqui... seu velhote fedorento. - disse Frank, resistindo.

Elijah levantava-se ouvindo atentamente. Olhou pela janela do corredor e entreviu pontos de cor verde-pântano se aproximando.

- Vou comprimir seus órgãos e músculos até esmagarem. - disse Peste Sombria, torturando Frank.

- Não pode ser... Gafanhotos! - disse Elijah. Uma nuvem de gafanhotos vinha em alta velocidade.

Adrian surgiu para a surpresa dele e armado com um lança-chamas. Liberou o fogo que acertara Peste Sombria com tudo.

- Depressa, isso não o afeta! Elijah!

Frank sentiu os movimentos voltaram e vendo que estava numa curta distância à granada em comparação à Elijah, correu para pega-la. No entanto, o lança-chamas deixou de trabalhar.

- Ah não, não! - disse Adrian, frustrado. Peste Sombria se reorientava e logo ergueu uma mão para guiar um enxame de vespas contra seu ex-subordinado.

- Não, Adrian! - gritou Elijah, atônito. O enxame atravessara o corpo do rapaz e quando passaram ele caíra duro feito uma rocha no chão com os olhos abertos.

Aproveitando, Frank enfim pegou a granada, jogando-a no Peste Sombria. O objeto se abriu derramando sobre ele um líquido que reagiu ácido fazendo derreter seu corpo numa gosma cinzenta.

Enquanto o detetive e o cientista encaravam um atormentado monstro se liquefazendo, o exército de gafanhotos gigantes perdia força, alguns começando a cair.

- O que tá acontecendo? - perguntou Frank - Que diabos tinha na granada?

- Um composto com propriedades inseticidas. - disse Elijah - Essa reação é... incrivelmente horrível.

Os gritos desesperados do Peste Sombria cessaram ao tornar-se inteiramente em gosma, sobrando apenas o manto esfarrapado. Vários gafanhotos caíam mortos perto da UDC. Um deles caiu sobre um carro, esmagando a fuselagem e assustando quem estava próximo.

- Não ouço mais zumbidos... - disse Elijah - As luzes não piscam mais...

- Pelo visto, matar o Peste Sombria também matou os insetos. Já que fazia parte da composição, estavam ligados pela gosma que ele soltava quando andava. Como eu sei disso? Bem, digamos que eu tenha uma grande amiga que sempre consegue as coisas com o que ela sabe fazer de melhor. - ele sorriu, mas Elijah não correspondeu pois fitava o corpo de Adrian com tristeza. Frank o consolou - Olha... Eu sinto muito.

- Está tudo bem. Nós vencemos. - disse ele, tranquilo - Nós três.

Frank o tocou no ombro amistosamente. A companhia de averiguação foi novamente chamada para recolher os cadáveres de insetos do interior e das proximidades do local.

                                                                                   ***

Poucas horas depois... 

Os agentes não encontraram vestígios da gosma cinzenta no corredor, achando somente o manto.

Na verdade, ela meio que deslizou por fissuras e brechas até alcançar o ponto mais baixo do esgoto.

Lá a mesma se movimentou e amontoou dando forma a algo que crescia. Pela sombra na parede banhada pela luz da lua que passava pelas frestas no alto, podia se ver um aspecto humanoide se reconstruindo e emitindo sons de vários zumbidos...

                                                                             -x- 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

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