Crítica - Os Incríveis 2


Maior apenas no número de heróis em cena.

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS. 

Mas já adianto que gostei de como o filme se desdobrou em sua maior parte. Pra ser franco, ainda que o filme derrapasse feio no que ele acertou primorosamente no anterior eu não iria vir aqui e escrever uma crítica sem condizer com minha opinião e doeria no meu coração ter que detona-lo mas ao menos eu não estaria faltando com a minha verdade apenas por ser Os Incríveis que como já falei noutra ocasião, aqui no blog, é sim o meu filme favorito da Pixar. E já deixei bem cristalino acima o que o segundo filme significou nessa minha visão de fã que aguardou 14 anos por uma sequência que reprisasse a qualidade geral do primeiro filme porque supera-la era uma tarefa hercúlea que não caberia exigir. Aliás, até teria se o primeiro longa tivesse uma quantidade relativamente menor de acertos, se fosse algo mais introdutório, quando na realidade é uma história muito redonda se formos para pensar, mesmo com um gancho descarado no final com o vilão Escavador que comparado ao Síndrome e seu Omnidroide não era ameaça que pudesse dar muito trabalho, mas claro que na prática não seria tão fácil detê-lo ainda mais com aquela broca gigantesca.

A sequência inicial prossegue diretamente a partir de onde o primeiro filme parou e de todas é a quem mais tem brilhantismo e um autêntico trabalho em equipe da família Pera. Lutaram juntos e foram punidos, ninguém tá fora desse barco furado que é atividade de super-heróis na cidade, nem mesmo Gelado (com seu destaque insistentemente ínfimo) que tentou ali uma escapadinha pra não se queimar já que os heróis permanecem como ilegais pelo decreto governamental. A ação empolgante de fato se estende somente até as performances da Mulher-Elástica no seu novo emprego como super-heroína a serviço da Devtech cujo proprietário, o caricato Winston Deavor, é um cara nostálgico (movido a tragédia) ansiando por fazer a população reconquistar a confiança nos super-heróis para garantir que finalmente eles voltem a ativa legalmente. Como foi dito muito antes dos primeiros trailers lançados, o foco seria na Mulher-Elástica e em nada o longa fugiu dessa ideia. Se pudesse resumi-lo em três palavras, eu diria: Inversão de papéis. Teve quem taxou como falta de criatividade, teve quem encarou numa boa. O conflito-mor do filme original foi propulsionado pelas decisões do Sr. Incrível cujo maior fã tornou-se o pior inimigo e de quebra ameaçou sequestrar seu filho mais novo, inclusive, ainda sobre o patriarca, uma ação sua (impedindo um homem de se matar) foi o estopim para a lei que obriga os super-heróis a se reclusarem. Mas a Mulher-Elástica enquanto centralizada executa uma função completamente oposta trabalhando para a corporação de Deavor. Ela é a esperança que os heróis precisam para retornarem à ação e o Sr. Incrível passa por uma crise de auto-estima ao sofrer dificuldades nas obrigações paternas ao mesmo tempo que a esposa se diverte chutando bundas.

Eu não vou nem entrar no mérito aqui do "feminismo" da personagem... Mentira, vou sim. Isso não deveria ser usado como "justificativa" para reforçar o papel da Mulher-Elástica como heroína e não quero acreditar que Brad Bird teve intenções "lacradoras" ao faze-la se auto-afirmar como boa o suficiente para ser importante na reversão de uma causa que envolve até mesmo sua família. Mulher não precisa se impor com superioridade em relação ao machismo dos homens. Os sexos são complementares, é a droga de um trabalho em equipe, um valor que une o casal como a linha frontal que protege seus filhos (a sua retaguarda). Não estou dizendo que não valeu a pena a Mulher-Elástica se fazer como a luz no fim do túnel para os super-heróis, mas sim que não precisavam embutir um caráter feminista para que ela se valorizasse como tal enquanto o Sr. Incrível afunda numa espiral de desespero e impotência (ao menos é confortado por Violeta numa rara demonstração de afeto entre ambos, gostei da cena entre eles numa aproximação depois da briga por causa de Toninho) tendo que lidar com os múltiplos poderes de Zezé (o segundo - e divertidíssimo - grande foco do filme, vale frisar) e felizmente, nos 45 do segundo tempo, é reerguido pelos filhos para posteriormente salvar sua esposa das garras do Hipnotizador. Engraçado que Mulher-Elástica fica temporariamente como donzela a ser resgatada, fica nesse oscilamento, ora "empoderada", ora como "segunda em comando". Não estou sendo machista aqui, só ainda ACHO que o Sr. Incrível não perdeu ali sua importância.

E quanto ao vilão... temos desapontadamente a pior parcela do longa. As motivações do vilão pareciam vir embargadas de um certo mistério, mas era óbvio e previsível que com o plot do iminente revival dos heróis as intenções dele viessem a justamente atrapalhar isso. Evelyn Deavor, irmão do empresário de telecomunicações, é a faceta por trás do perigoso vilão, mas sem nenhuma surpresa claro. Ela já tinha entregado o jogo quando disse que era o gênio por trás do gênio e até que suas interações com Helena foram substanciais na criação do vínculo entre elas que logo se desmancharia com a "grande revelação" e o "grande plot-wist" da trama. Hipnotizar as pessoas para manchar a imagem dos super-heróis é uma boa tática de manipular a opinião pública, mas só perde uns pontinhos pela desvantagem de que a pessoa uma vez livre da hipnose não se lembra das informações que assimilou. A menos que ela distribuísse os óculos de alguma forma muito mirabolante e instaurasse um controle absoluto da população como um super-vilão dominador, mas aí precisaria de um poder absurdo tanto em tecnologia quanto em ego. E o ego de Evelyn apesar de inflado e corrompido pelo sentimento ruim da morte do pai porque os super-heróis não vieram salva-lo (os caras já tinham se tornado ilegais àquela altura e o que mais ela queria?) não é forte o bastante para deflagrar uma ameaça de um naipe mais expansivo. A coisa toda é bem menor do que parece, fazendo do Hipnotizador, que não passa de um personagem falso, um artifício limitado pela sua própria criadora. Talvez a motivação de Evelyn que gerou suas convicções errôneas tenha feito Helena se compadecer dela querendo perdoa-la no final, não estritamente pelo fato dela ser mulher.

O terceiro ato que deveria coroar uma boa aventura não emociona tanto, deixando à reserva de uma compensação a respeito dos poderes de Zezé (esse bebê é um dos melhores personagens, se não me falha a memória o próprio Brad Bird considerou-o personagem principal), sob os cuidados de Flecha e Violeta, bem como os desenvolvimentos dos outros heróis até então inéditos (destaques para Voyd - grande fã da Mulher-Elástica - e Arrasador) e que foram estimulados pela iniciativa de Winston quase sabotada pela irmã rancorosa. Era óbvio demais que aqueles óculos serviriam para controle do Hipnotizador, acho que isso deveria ter sido vetado do último trailer pois entregou antecipadamente. Voltando ao clímax, o problema inteiro foi numa escala inferior com a família e Gelado tentando salvar a cidade do navio desgovernado de Deavor que era palco de um evento transmitido a público para assinar a legalidade dos heróis. O longa amarra uma ponta solta e, não sei dizer se para o bem ou para o mal, sem indiciar elementos ou preparar terreno fértil para uma terceira aventura.

Considerações finais:

Os Incríveis 2 pode não ser a sequência que os fãs merecem, porém o charme da família Pera continua irretocável e acima de tudo eles são uma equipe de membros familiares heroicos que devem unir forças independentes das divergências. A busca por um mundo mais seguro com heróis não deve ser menor que o conflito de interesses egoístas de um pai e uma mãe e antes disso se concretizar ambos precisavam de amadurecimento tantos como tutores de seus filhos quanto como super-heróis de uma população sem um se sobrepor ao outro. Os papéis antagônicos de Sr. Incrível e Mulher-Elástica se completaram, nos dois filmes respectivamente, mas em relação à matriarca não era necessário inflar nela uma postura combativa a larga maioria de heroísmo masculino. Ela terminou sua missão e pode sim provar seu valor sem nenhum tipo de empoderamento forçado. Sexos diferentes, mesmas capacidades. Uma família comum pode superar suas diferenças. Por que não uma super-heroica?

PS1: Zezé detém a marca de 17 poderes. Os primeiros 17, aliás. Imagine o que mais esse bebê serelepe pode aprontar. Sério, eu adoraria ver num terceiro filme (que pode nem vir a acontecer), pagaria pra ver no cinema inclusive, uma exploração maior dos poderes dele, como protagonista obviamente, com um salto temporal de alguns anos, acho que com ele na mesma idade que a Violeta lidando com essa pluralidade de forças dentro de si. Ou será que a teoria de que os filhos de super-heróis que nascem com vários poderes só acabam ficando com um quando ficam mais velhos está certa (lembro de ter visto no Imaginago, não sei se minha memória tá me traindo)?

PS2: O CGI tá avançado de lindo, mas a ação... Pois é, como eu disse, vale apenas pela batalha contra Escavador e as missões da Mulher-Elástica pois de resto é bem mais do mesmo e bem contido.

PS3: Violeta claramente está na puberdade e ainda na (supostamente primeira) TPM pra ter que culpar o Sr. Dick de apagar a memória do Toninho que acidentalmente descobriu sua identidade no ataque do Escavador e até o seu pai de esconder o fato. Podia recomeçar a amizade sem ficar de chilique e mimimi, mas se tratando de adolescência...

PS4: É pra baixar num Torrent da vida ao invés de adquirir o DVD pra ver trocentas vezes.

PS5: Expectativas é um negócio sem futuro e cruel. Diga NÃO ao hype.

PS6: Eu escolheria esperar mais 14 anos (não, talvez uns 5 hehehe) para o Brad Bird imaginar uma trama digna para uma sequência, ele precisava de mais tempo para pensar... e duas vezes.

NOTA: 7,0 - BOM 

Veria de novo? Provavelmente sim. 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: http://www.papelpop.com/2018/04/novo-poster-de-os-incriveis-2-nos-prepara-pro-trailer-que-sai-nessa-sexta-feira-13/

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