Frank - O Caçador #23: "Almas Sobreviventes"


CAPÍTULO 23: ALMAS SOBREVIVENTES

O toque do telefone de Frank reverberou de modo que o acordasse sem ter que fazer a pessoa do outro lado da linha esperando demais. Pela quantidades de toques que o detetive contava enquanto descia a escada, tinha certeza absoluta de que quem quer que fosse não desistiria da chamada.

Após muitos resmungos mentais, devido à fala impedida por bocejos constantes, atendera:

- Quem ousa me perturbar... às três horas da manhã? - indagou, soando enervado.

- Frank, olá. De fato não me reconhece por essa voz... então vou ser direto: Me chamo Clancy, o bruxo que falhou em faze-lo cair no meu golpe ano passado.

- Espera aí... O cara que imitou a voz da Megan?! Então é você, desgraçado.

- Te ajudou a despertar mais? Espero que sim porque o que tenho a dizer requer atenção.

- Olha, já peço desculpas por não ter devolvido o anel a tempo. Me meti num rolo. É a verdade.

- E nós corrigimos o erro. Terrence foi um bom homem. Criou a filha sabiamente.

A espinha de Frank sofreu um arrepio nesse momento.

- Tá dizendo que... O Terrence pagou com a própria vida por te me ajudado? Seu... canalha.

- Podemos pular a parte do drama e focar nos negócios. Acho melhor assim. Não concorda?

- Acho melhor você parar de ser um pé no saco ou vou atrás de você pra te dar o que merece.

- Eu desfaço o feitiço de preservação mágica do anel para a devolução acontecer sem crise. Mas não vou deixa-lo sair com as mãos abanando. Escuta só: Você fez um amigo leal, bacana, gente fina e altruísta que presta serviço voluntário a pessoas que não superam o luto. Consegue adivinhar?

Frank vasculhou na memória e ligara os pontos, tendo um embrulho no estômago.

- Filho da puta. - disse ele, fervendo raivosamente - Promete libertar o John se eu devolver o anel?

- Prometo. Sem nenhum arranhão, escoriação ou hematoma. Na verdade, não foi necessário usar a força para que ele cooperasse conosco. Foi até divertido vê-lo assustado com o que faz de melhor.

- Obrigou ele a fazer o quê?

- Ele é nosso trunfo. Informação sigilosa. Se quiser saber, o nosso amigo médium te atualiza.

- Tá pensando que sou burro de nem desconfiar que não vai desfazer porcaria nenhuma de feitiço quando eu abdicar do anel, me deixando queimar vivo e o John continuar sequestrado.

- Só que não. Promessa é dívida. Vou ser eternamente grato por isso. Mas venha sozinho. Ao menor sinal de outros caçadores, o acordo já era e Cober ganha um pedacinho de metal no cérebro. Ele me deu seu número de celular, mando uma mensagem informando o endereço. Estamos entendidos? Até amanhã.

- Também tô louco pra te conhecer. - disse Frank, logo desligando. Respirou fundo para não permitir que a fúria que havia tirado seu sono não levasse junto sua sensatez em ponderar as ações. A vida de um inocente dependia dela mais que tudo.

                                                                                     ***

Departamento Policial de Danverous City 

Na sala particular de Carrie, Frank entrara rapidamente sem dizer nada e sentou-se na cadeira passando a mão no rosto num nítido sinal de preocupação. Para a assistente nunca era mistério seu melhor amigo se sentar diante dela, o que lhe dava certeza de que havia algo errado.

- Eu ia fazer como uma daquelas adolescentes que levam toco no baile: Ir pro banheiro e chorar como se não houvesse amanhã. - disse Frank - Mas enfim... Nenhum caso pra hoje? Pra agora?

- Você é péssimo querendo fingir que não tem nada ruim acontecendo. - disse Carrie, largando a caneta para focar em ajuda-lo - O que acha que vou pensar com você chegando silencioso na minha sala e com essa cara de poucos amigos? É como se tivesse um alerta piscando na sua testa.

- Pelo jeito, você sempre é a primeira a notar. E tenho poucos amigos. Mas tô sentindo que cheguei num ponto crítico. A minha carreira indo ao topo... ao topo da desgraça total.

- Fala logo. Até parece que tem prazer em me deixar curiosa. - disse Carrie, ansiosa.

- Desculpa, não faço de propósito, é sério. O cara que se passou pela Megan no telefone ligou pra mim de novo ontem à noite sem o truque da imitação. Tá querendo trocar a vida do John Cober... o médium que mora próximo da sua rua...

- Sim, sim, o caso do Bicho-Papão, nunca me esqueceria, minha mente faz arquivamento talvez melhor do que qualquer super-computador de agência de inteligência. Foi mal te interromper...

- Tá legal, continuando: Barganhei com o líder bruxo dessa facção onde a Megan foi integrante. Quer o anel em troca da liberdade do John. Tenho quatro horas pra me decidir. Ou eles o matam.

- Mas se tirar o anel você...

- Ele veio com um papo suspeito de tirar o encanto que protegia a Megan. Parece que todo bruxo que se sobrecarrega na magia passa a usar o anel pra suprir energia. Eles... mataram o Terrence.

- O pai da bruxinha loira da SOD?! - surpreendeu-se Carrie - A troco de quê?

- Por minha causa. - disparou Frank num tom rígido - O acordo cobria a devolução do anel. Presumo que o Terrence negociou com esse cara, chamado Clancy, pelas minhas costas. Não vou ser hipócrita, tentei agir sem que ele soubesse pra recuperar o anel e acabar com os espectros... Se ele tivesse devolvido à essa máfia de bruxos, eu nunca teria voltado pro meu corpo antes dos espectros desistirem. - fez uma pausa, baixando a cabeça - Isso nunca teria acontecido se...

- Não, para. Por favor, para. - disse Carrie, tremendamente séria - A última coisa que quero ver é você carregar essa culpa nas costas. Consequências fatais... não tem como evitar. Foi natural que Terrence pagasse o preço da sua escolha.

- Eu não sei... Tô com a sensação de que isso vai piorar a cada desdobramento.

Alguém batera na porta educadamente. Frank e Carrie se entreolharam por um segundo.

- Pode entrar. - disse ela, sem a mínima ideia de quem fosse.

Ao abrir da porta, os olhos da assistente encheram-se de brilho que denotava fascinação espontânea. A visita-surpresa pegara o detetive desprevenido também, se bobear até mais.

- Rainha! Ícone! - disse Carrie, levantando-se depressa para abraçar Natasha - Você voltou por mim!

- Um dos motivos, devo dizer. - disse a caça-vampiros, sorridente à sua maior fã - Mas hoje infeliz e definitivamente não é dia de rock, bebê. E aí? Como estão?

- Bem. Digo... não totalmente. - disse Carrie, logo olhando para Frank - Problemas como sempre.

- E aí Natasha? Como vai? - indagou Frank, apertando a mão dela - O que te traz aqui afinal?

- Houve um roubo no museu onde fica a ala secreta do seu ancestral mais famoso. Adivinha só...

Frank logo sacara a resposta e expressou inquietude na face. Pra ele, uma perda quase irrecuperável.

- Não pode ser. Tá de zoeira comigo... Justo a lança do Sacre?! Cacete! - passou a mão na cabeça sem esconder o desespero - Quando foi isso? Há quantos dias?

- Dias não, horas. Cerca de 32. - respondeu Natasha - Aproveitei e dei uma checada. Pus um rastreador no único carro que estava estacionado. Arrisquei um palpite. Quem me repassou foi o Mike, minha fonte mais segura por incrível que pareça.

- Ele hackeou as câmeras do museu? - perguntou Carrie.

- Através de um programa duvidoso. Graças à isso ele brinca de espionagem à distância. - a caçadora de belos cabelos cacheados pretos voltou-se à Frank - Ele instalou quando fomos lá naquele dia.

- Explicado porque ele nos mandou ir na frente. - disse Frank - Um sidekick nerd. - deu uma risadinha - Mas e agora? Você monitorou pra onde o carro seguiu?

- Rua Baker Hill, 354. - disse Natasha, conferindo o endereço no celular que por sinal atiçou a atenção de Frank - Depósito de cargas abandonado. Deve ter pego o voo e ido direto pra lá. 6 horas aproximadamente de viagem. O que acho engraçado é que... - cruzou os braços, pensando - ... na filmagem ele não retirou a lança, mas tentou arrancar o rubi dela, a fonte de poder.

- As peças estão se ligando. - disse Frank, andando devagar pela sala - Esse endereço... é exatamente o mesmo que o Clancy me passou, sem dúvida. O cara não estava interessado na lança pelo que deu a entender, ele queria a pedra mágica. O roubo e a ligação acontecerem tão próximos não é coincidência. Me digam que não tô paranoico.

- Espera, que ligação? - questionou Natasha, confusa - O que tem a ver?

- O Frank está sendo ameaçado por bruxos que sequestraram um médium com o qual ele fez amizade recentemente num caso. Querem um anel mágico que Frank conseguiu...

- Tudo bem, percebi que a história é longa e o nosso tempo urge. - disse Natasha, logo olhando para Frank visualizando a mão esquerda dele - Posso dar uma olhada?

O detetive esticou o braço para que sua parceira ocasional examinasse. A constatação foi imediata.

- Tesouro de Merlin. - disse Natasha, meio estupefata - Esmeralda legítima. Reluzente... é, de fato.

- Que papo é esse de tesouro de Merlin? - perguntou Frank, mas subitamente uma memória ecoou para auxilia-lo - Não, espera... Megan, a bruxa que concedeu o anel a mim depois de se render e confessar seus pecados horríveis, citou o Merlin, o maior bruxo de todos os tempos.

- Tem algo mais que ela forneceu? - perguntou Natasha.

- Disse que o anel pertenceu à ele.

- Talvez seja verídico. - disse Natasha, semeando a dúvida nos dois - Tudo se conecta. O ladrão rejeitar a lança querendo tirar o rubi sem sucesso e tendo que levar a lança. Frank virando portador de um anel com pedaço de esmeralda que antes foi propriedade de Merlin. Bruxos bandidos ameaçam um médium, a única pessoa capaz de estabelecer contato com fantasmas, para intimidar Frank o obrigando a devolver o anel. Prestem bem atenção. Estão juntando artefatos para um plano maior.

- Então as pedras são o tesouro de Merlin? - quis saber Frank - Faz sentido. Eles não estão nem aí pra alma da Megan dentro da esmeralda, querem só a droga do anel porque era do big boss da bruxaria.

- A lenda dizia que Merlin forjou as pedras cada uma com uma função diferente. São três no total. Uma vez juntas e fundidas originam uma nova pedra usada para um ritual de quebra.

- Quebrarem o quê? - indagou Frank, altamente curioso.

- As barreiras que sustentam o equilíbrio entre o mundo dos vivos e o dos mortos. Literalmente controle de fantasmas por magia de mestre. A gente pegou um peixe bem grande e dos brabos.

- A pescaria ainda não começou. - disse Frank, sentindo-se pronto - Mas peraí... Qual é a terceira?

- A pedra que falta? É uma safira.

Um intenso frio na barriga perpassou em Frank. O detetive parecia ter elevado seu desespero num ritmo mais rápido que o natural. As garotas apenas o observavam esperando uma reação verbal.

- Frank, o que foi? Deve ser impressão minha, mas... tá aparentemente pálido. - disse Carrie.

- Olha, me deem licença, tenho que dar uma passada ligeira em casa. Volto logo. - disse Frank, saindo às pressas da sala como se encaminhando a uma emergência além da troca do anel por John Cober.

                                                                               ***

Sabendo que a probabilidade de haver casos a investigar para serem entregues logo pela manhã era consideravelmente baixa, Frank arrependeu-se de ter saído de casa podendo receber um telefonema de Natasha avisando que iria encontra-lo na residência caso não o visse no DPDC. Boquiaberto, o detetive olhava sua sala de estar revirada e bagunçada.

- Essa não... - disse ele, logo correndo para o arquivo. Nas gavetas dos armários estava tudo completamente desorganizado. No baú onde normalmente guardava os artefatos que colecionava, o medalhão anti-éter foi o único a estar claramente ausente - Puta merda! - fechou o baú com força. Seu celular tocara - Alô? Carrie?

- Por que saiu tão depressa? Ficamos preocupadas, sua cara indicava que estava se sentindo mal...

- Olha, não tem nada demais, tô bem, lidar com estresse, com toda essa... gigantesca merda.

- A última vez que a cidade ficou tão à mercê foi quando deu a louca no Anjo da Morte. Perigos grandes assim mexem com o seu costume aos pequenos casos.

- Quer dizer que não tô preparando pra enfrentar se um exército de fantasmas tomar conta da cidade?

- Sendo honesta... um pouco despreparado sim. Lógico que batalhar sozinho é loucura. O que foi?

- Passou um furacão de miseráveis aqui. - disse Frank, visualizando com certo desânimo a baderna - Viraram o arquivo do avesso e... levaram o medalhão anti-éter.

- Ma-mas... como sabiam sua localização? Ah sim... a bruxa redentora suicida. A informante nota 10.

- Pois é. - disse Frank, limpando o suor da testa não abrandando a preocupação - A esmeralda, teoricamente, pode ser um orb... o mesmo usado pra dar vida a um Stein. - fez uma pausa ao ter uma faísca de ideia passando na sua mente - Acabei de formar uma ideia genial. Eu ainda tenho o Stein!

- Não, Frank! O ideal é você ir sem trapaças. Qual a vantagem nisso? Mandar um homem de lata fingindo ser você com que Orb Esmeralda? Eles não nascem em árvores. Esqueceu do que falei? As memórias da pessoa a ser imitada pelo Stein ficam depositadas na pedra e você não é um Anakon.

- Ah... verdade. - disse Frank, recordando-se e diminuindo a euforia - Muito raros. OK, descartado.

- Frank, vai de cara limpa. Disfarce e truques só pioram as coisas. Estamos torcendo por você.

- Manda a Natasha vir aqui. Os desgraçados estavam apressados pra surrupiar o medalhão, podem querer voltar pra queimar os arquivos do meu pai achando que vou ficar fora de casa o dia todo.

- Tudo bem, vou ligar pra ela, saiu há alguns minutos. - disse Carrie - Com essa galera não se brinca. Tchau.

- Falou. - disse Frank, desligando. Há pouco tempo antes da ligação de Carrie o detetive sentia um odor desagradável, mas seu nervosismo descontrolado impediu que o olfato agisse a favor constatar antes. Apurou o sentido caminhando em lentos passos pela sala empoeirada. Seu nariz fungava. E não teve sombra de dúvida - Enxofre. - pensou mais um pouco sobre o roubo da lança do Sacre - É isso. Por que não saquei de primeira? - bateu sua mão direita fechada na palma da esquerda ao desvendar - Tá na cara. Os demônios viraram paus-mandados dos bruxos pra roubarem as pedras.

                                                                                     ***

Finalmente chegando ao depósito de cargas, Frank vasculhou com olhadas rápidas os arredores enquanto se direcionava à porta metálica enferrujada. Bateu fortemente com a mão fechada. Um ferrolho foi puxado pro lado e pela brecha dois olhos irritadiços fitaram o detetive. Para quebrar a tensão, Frank deu um fingido aceno amigável. A porta fora destrancada.

- Estranho não revistarem. - disse ele, andando com dois capangas demônios ao lado no corredor.

- O chefe está ansioso pra vê-lo. - falou um deles - Mas caso tente um movimento audacioso, o encantador de mortos vai pro saco. Ele confia que vai ser prudente.

- O seu chefe já tratou disso comigo alto e claro na ótima conversa que tivemos ontem. - rebateu Frank - Só não entendo porque demônios seguem ordens de bruxos. Quero entender essa parada.

- Mais rápido, tiozão! - reclamou o outro, empurrando Frank.

- Calma aí. Eu tô sendo pacífico com um alvo na minha cabeça e não é pra deixar vocês fazerem o que bem entendem comigo. - alertou o caçador - Duvido um bruxo poderoso dar essa liberdade pra gatos pingados. Achava que eram independentes, rejeitavam um líder. Mudaram por que?

- A conversa agora é com o patrão. - disse o demônio abrindo a porta.

- Cober... - disse Frank, adentrando rápido ao ver o médium amarrado numa cadeira.

Clancy surgira atravessando uma cortina preta. O bruxo de meia idade tinha porte mediano, vestia um terno cinza escuro com gravata azul e dotado de um rosto intimidador que disfarçava uma amigabilidade.

- É um imenso prazer, Frank Montgrow. - disse o bruxo, estendendo a mão para apertar a de Frank que recusou - Está bem, você finalmente chegou a toca do coelho. Sem tempo pra formalidades.

Frank apontou para Cober com raiva:

- Solta ele primeiro. Sei que você é o manda-chuva da cambada, mas exerço meu direito como vítima. É assim que a polícia negocia com bandidos. A gente não dá satisfação pras regras deles.

- Começo a gostar de você. - disse Clancy, sorrindo cinicamente - A Megan falava que ostentava esse ar de brucutu típico de caçadores americanos. Você é um exemplar legítimo e autêntico, é uma honra.

- Quer parar de enrolação e solta-lo? Não tenho o dia todo. Enquanto vocês... fazem os preparativos da farra de espíritos do mal pra tocar o terror na cidade porque não se importam com nada.

- Como sabe disso? - indagou Clancy, arrancando a fita adesiva na boca de Cober.

- E vou expor minha fonte? Tira o cavalinho da chuva. - disse Frank. O médium levantou-se tremendo e olhava para o detetive numa súplica muda - O que houve contigo, amigo? Não parece nada bem...

- Muito bem, o anel. - disse Clancy - Não me force a cortar seu dedo fora. Faça o dever de classe.

- Todo seu. - disse Frank mostrando-o. Clancy esticou a mão fechando os olhos e imergindo na concentração para quebrantar o feitiço. O anel saíra do dedo direito à mão do bruxo - Já foi? Acabou?

- Perfeito. - disse o bruxo maravilhado ao estudar o anel - Estava certo, não é em memória da Megan. Pra sua informação, nós a chamávamos mais pelo nome falso do que pelo verdadeiro. Dorotheia não combinava com a aparência jovial. E soava estranho chama-la assim na cama... - guardou o objeto no bolso do terno - Já que sabe do nosso plano de fazer vivos e mortos terem uma noite de arrepiar... esse fragmento de esmeralda é o restante.

- Vamos dar o fora daqui, John. - disse Frank, levando o médium para fora. Mas virou-se para falar brevemente uma última coisa à Clancy - Ah e fica sabendo que... vou ser obstáculo duro pra isso aí.

- Sou um homem paciente. - disse Clancy, altivo - Não vou impedir que me impeçam. Tenha bom dia.

O detetive lançou um olhar mordaz ao bruxo como um aviso de "te pego mais tarde".

- Frank... - chamou Cober, baixinho - É tarde demais. Dizer isso à você é muito difícil... mas minha liberdade foi em vão. Acredite. Fui usado por Clancy pra...

- Olha, vê se não se esforça além da conta. Falamos disso depois... num lugar mais seguro.

De volta à sua casa, pelo fim da tarde, após levar Cober para um exame psicológico no DPDC, Frank e Natasha discutiam a respeito da empreitada dos bruxos contra a cidade.

- Que tipo de interesse um caçadora de vampiros tem numa problemática fora da sua área? - questionou o médium sentando na poltrona tomando um copo d'água.

- Esqueci de fazer essa pergunta. - disse Frank, encostado na parede - Mas como não podemos cortar o mal pela raiz, o jeito é se organizar reunindo um arsenal excelente. Pelo menos tem como encaixar você na luta. Sorte que disponho de um pacote repleto de balas de látex.

- A sugestão de balas não-letais é pro caso de possuírem inocentes... acertei? - quis saber Natasha, sentando no sofá com as pernas cruzadas.

- Em cheio. - respondeu Frank - Vamos chamar meu plano de elemento-surpresa.

- Espero que não seja surpresa desagradável. Tipo... algo que começa com kami e termina com kaze.

- Não, fica fria. Veja só, agora pareceu a Carrie quando demonstra excesso de preocupação.

- Clancy me forçou a cometer um pecado imperdoável. - lamentou Cober - De qualquer forma, alguém deve faze-lo pagar e... apesar de desconfiar do que pode acontecer se você colocar em prática sua ideia que faz parecer infalível... no fundo enxergo você como a melhor opção.

- Pragmatismo é fundamental. - disse Natasha - Afinal, como foi a experiência com o feitiço?

- Tortura define absolutamente tudo a que fui coagido a fazer. E-eu... tentei avisar ao Frank, mas... - uma tremedeira acometeu o médium repentinamente o fazendo derrubar o copo de vidro que se estilhaçou no chão. Frank e Natasha se mobilizaram para ajuda-lo imediatamente.

- Está convulsionando! - disse a caçadora, alarmada. - Pulso fraco... - comprovou tocando-o.

- Ah merda! Cober! - Frank não sabia como ampara-lo. O choque convulsionante parara. Porém, o médium estava com boca aberta e os olhos revirados. Natasha inclinou para ouvir sua respiração.

- Agora está morto. - disse ela, deixando Frank amargar numa frustração - O que ele ia te avisar?

- Em relação ao feitiço, tenho quase certeza. O rompimento da barreira entre os dois mundos. Acho que isso... sugou dele até não poder mais. E o que sobrou de vida... tinha prazo de validade. - uma lágrima escorreu. Fechara as pálpebras de Cober jurando a si mesmo acabar com Clancy a todo custo.

                                                                                     ***

Alguém batera na porta da sala de Carrie justo quando a mesma arrumava suas coisas para finalizar o expediente. Ela bufou de aborrecimento desistindo de colocar os pertences na bolsa.

- Reconheço o modo como bate. Entra... diretor.

Ernest veio com alguns papéis e numa postura de alarmismo.

- Estou dispensando o pessoal, um pandemônio assolou as ruas dos principais bairros. Saques, roubos em massa, arrombamentos, violência generalizada por toda parte. Cadê o Frank nessas horas?

- No que ele seria útil pra conter um cenário de guerra? Escuta bem: Desconsidera as mil teorias insanas que certamente o senhor fez. O mal que recaiu na cidade vem de uma coisa muito maior.

- O curioso nisso tudo... - disse Ernest destacando os papéis - ... é que certos locais verificados por câmeras de seguranças foram invadidos por pessoas com traços em comum com criminosos mortos nos presídios. Como exemplo, Louis Waldson usou uma caixa de correio para quebrar a vidraça de uma loja de conveniência em 1995 e rendeu funcionários armado com um bisturi. Há poucos instantes o noticiário mostrou um cara fazendo exatamente o mesmo ato.

- Os fantasmas... já foram libertos. - disse Carrie, perplexa - Todos aqueles que praticaram algum mal em Danverous City e estão doidos pra possuírem aleatoriamente as pessoas. Não podemos sair daqui.

- Cometi um erro mandando todo mundo embora? As pessoas estão mais seguras nos seus lares.

- Não nessa situação. Temos que ir à dispensa, pegar sal e nos proteger. Todos se tornaram alvos, inclusive eu, você... e até mesmo o Frank. Além do mais, nem temos ideia do término do feitiço.

- Que feitiço é esse? Alguém pode me explicar a razão por trás desse clima de fim do mundo?

- Vem comigo que explico. - disse Carrie, pegando-o pelo braço quase que querendo arrasta-lo.

Não muito distante das áreas mais movimentadas da cidade, Clancy e seu grupo adentravam no famigerado templo de Merlin que séculos após a morte do bruxo foi reconstruído para se tornar uma igreja devido à expansão do cristianismo na idade média. No centro do salão vazio iluminado pela luz da lua cheia, o líder da facção colocou ao chão as três pedras preciosas dispostas em "triângulo". Os demais fecharam seus olhos e deram as mãos compartilhando da energia mágica.

- Chegou a grande hora. - disse Clancy exalando toda sua magia - Que as portas do etéreo se mantenham abertas ao comando. Nada totalmente maligno que sai dela fora do comando.

As pedras tremiam ao passo em que pareciam atraírem-se lentamente. As mãos de Clancy sobre elas estavam firmes como rochas. O bruxo reabriu os olhos que exibiam um luz esverdeada nas íris.

Com a união das pedras, o lugar fora tomado pela luminosidade branca e ofuscante que cegaria olhos despreparados. A fusão deu origem a um material transparente similar ao diamante.

- Finalmente... - disse ele, com sangue escorrendo no nariz pegando o novo objeto - O tesouro de Merlin é todo meu... - sorriu torto por contemplar a beleza da relíquia - E o controle total da magia.

Enquanto isso, Frank andava de um lado para o outro transtornado pelo pavor que atingia a cidade.

- Vou reconsiderar. - disse ele, parando para refletir - Os outros caçadores vão me esculachar se eu sugerir armas com balas de borracha contendo sal. E não pode ser só você e eu...

- Frank, será que dá pra você parar de falar à si mesmo e revelar logo que plano é esse pra reconsiderar? - exigiu Natasha, aborrecida de impaciência - Além do mais, temos um corpo pra enterrar. Ligo pro DPDC, mas as linhas congestionaram e nem tenho coragem de ligar a TV.

- Um Stein... Sabe o que é um Stein? O Orb Esmeralda, uma das pedras necessárias pro feitiço, é a chave para darmos vida à ele. - disse Frank, tocando a caçadora nos ombros.

- Ouvi lendas a respeito... Sério que tem um deles aqui guardado? Eu quero ver.

- Tá no porão, por sorte os demônios não encontraram. Mas sem a maldita pedra é inútil.

- E o feitiço já começou. - disse uma voz vinda da porta que abriu-se num rangido vagaroso. Um relâmpago seguido de um trovão engrandeceu a chegada de um visitante misterioso à casa do detetive. O rapaz tinha estatura alta e trajava uma longa veste negra parecida com um sobretudo - Não quero apressa-los, mas... a coisa anda feia lá fora.

- Escuta aqui... Quem é você? - perguntou Frank, não soando muito gentil - Demônio? Bruxo? Fantasma? Seja o que for, não transmite uma boa energia. - foi aproximando-se.

- É difícil explicar. - o jovem tirou o seu rosto das sombras e tinha uma face meio esquálida com cabelo preto bastante curto.

Natasha mirou uma arma para ele e Frank não demonstrou reprovação.

- Você não acreditaria em palavras. - disse o rapaz - Meu nome é Franz Haultbam-Bennet...

- Nos conhecemos, por acaso? - indagou Frank franzindo o cenho - É que... sei lá, tô sentindo uma coisa meio familiar vinda de você, eu... realmente sinto que o vi antes em algum lugar.

- Frank, eu vim pra ajuda-lo. Segui sua aura do cemitério até aqui, não foi nada difícil, parece que seu nervosismo ajudou. - ergueu a mão e tocou na testa do detetive - Vou lhe dar as respostas que precisa.

O jovem enviou uma sequência de memórias que atordoou Frank.

- Frank... - disse Natasha, continuando a mirar - O que ele tá fazendo?

- Tá pedindo permissão pra atirar, gatinha? - indagou Franz - Vai em frente, faço questão de dar um bom motivo. - usou telecinesia empurrando-a contra parede. Frank agarrou seu braço.

- Ei, espera, não faz isso! Ela tá conosco. Natasha, tudo bem?

- Tudo tem sua primeira vez... até mesmo ser atacada pela força da mente. - disse ela, levantando-se - Será que ele é invulnerável à lâminas? - ameaçou, sacando uma machete do casaco.

- Não briguem, por favor. - disse ele, ficando entre ambos - Eu conheço ele... É o amigo que visitei ano passado um dia depois da nossa missão contra os vampiros em Londres.

- Ah, é ele?! Muito atrevido pro meu gosto, começando por não bater antes de entrar.

- Essa é a tal da Natasha que você me falou?! Bonitona. - disse Franz olhando-a com malícia.

- Olha, causas maiores em primeiro lugar, pessoal. - disse Frank, interrompendo-os - Ainda resta uma pessoa pra somar a nossa frente de batalha. Temos de levar o corpo pro cemitério onde ele fica.

- Tem um cadáver aqui? Se bem que sinto cheiro de carne putrefato, melhor se livrarem dele. - disse Franz.

- Só uma pessoa? Desistiu de reviver o Stein que tem guardado? - questionou Natasha - Bem, não vou contestar, afinal a esmeralda na forma esférica é extremamente rara e roubar dos bruxos é tarde.

- Disse Stein? - indagou Franz, interessado - Eu posso tentar algo.

- O quê? Do que você tá falando? Especifica. - perguntou Frank, odiando se sentir perdido.

- Não apenas mostrei minhas lembranças, mas como vi as suas também. Como uma troca de informações... entende? Pois bem, o Stein é possível de caminhar novamente. Posso reanima-lo. Temporariamente.

- Vou pegar o cabeça de lata. - disse Frank, mas logo voltou-se para Franz - Só uma dúvida: A sua magia sombria não vai deixa-lo agressivo e desobediente?

- Pode confiar, mas por contingência acho melhor compartilhar as suas lembranças e terá de tocar em mim pra isso.

Natasha o fitou desconfiada, mas recebeu um olhar de leveza por Frank dizendo-a que não havia com o que se preocupar.

                                                                                   ***

No DPDC, Carrie e Ernest escondiam-se na dispensa numa correria para buscar uma proteção eficaz contra os fantasmas que invadiam o prédio. A decisão de Ernest em mandar todos para casa veio a calhar, evitando possessões em massa e um caos muito pior. A assistente pegou um saleiro como única alternativa de defesa.

- Isso mesmo, Wood. Jogar pitadinhas de sal nos fantasmas irá nos manter salvos.

- Não é sal grosso. Estamos ferrados. - disse ela, inconformada com a pequena quantidade.

- Vou contatar o Frank. - disse Ernest, pegando o celular. No entanto, a linha estava muda - Ou a operadora tá de sacanagem comigo ou esse feitiço não passa de uma maldição azarenta.

A energia elétrica caíra naquele instante para fechar com chave de ouro.

- Blecaute. - disse Carrie, tentando se acalmar - Obrigada fantasmas.

- Agradeça aos bruxos que trouxeram o inferno até nós. Danverous City está por um fio. Torça pra porta não ser arrombada.

- Nos resta contar com Frank e sua equipe pra fazer a cidade voltar aos eixos. Ele vai conseguir.

- Equipe? Frank não pode recrutar um exército de caçadores e matar pessoas possuídas por fantasmas para expulsa-los.

- Aaah... Eu odeio ficar incomunicável com ele. Deixa o celular ligado, a única fonte de luz. O feitiço vai se reverter. O Frank precisa mais do que tudo ganhar essa batalha... pelo bem de toda a cidade.

No cemitério clandestino, Frank tratava de enterrar Cober. Estava quase terminando.

- Lamento profundamente... não te dar um túmulo decente. - disse ele, tapando o buraco com a pá - Descansa em paz, amigo. Quero dizer... vai descansar quando todo o fuzuê acabar. Eu prometo.

- Faça promessas que pode cumprir. - disse Jack vindo até ele atrás - Não precisa ficar de delonga, sei bem o que tá rolando por aí. Fantasmas irados à solta cometendo atrocidades a mil por hora.

- Vou te poupar de outros detalhes. Tô reunindo um grupinho de contenção. Tá afim de entrar?

- Como fiquei te devendo por te me livrado do lado obscuro... Eu topo. Mas não posso.

- Ué, por que não? A Carrie me disse que os decaídos não são apenas cabeças de abóbora ligadas a um corpo humano. E se pusermos num outro corpo? Não literalmente um corpo...

- Entendo o que diz. Aí que mora o perigo. E se não funcionar? Não gasta seu tempo com peso morto.

- Você duvida sobre não funcionar... pra mim significa que tá escondendo algo. Vamos, Jack. Demônios também estão metidos nessa, você e meu outro amigo fortão podem arregaçar com eles.

- Tem um segredo... na sala de velório, digo... secretamente além dela. Posso te mostrar.

                                                                                        ***

Natasha cruzava uma das vias de mão dupla, a que estava menos engarrafada, com sua moto potente em alta velocidade fazendo ultrapassagens pouco seguras. Na garupa, Franz expressava incômodo.

- Sabia que o uso do capacete é importante?

- Sabia que estamos no meio de um apocalipse fantasmagórico e isso é irrelevante? - retrucou ela.

- Você que manda, segunda em comando.

Um caminhão desgovernado veio à esquerda. Natasha precisou acelerar mais para o veículo não atropela-los diretamente, mas isso fez com que perdesse o equilíbrio e a moto derrapasse na lateral com ambos caindo à alguns metros. O caminhão batera em uns postes que salpicaram faíscas aos montes enquanto eram derrubados.

- Você está bem? - perguntou a caçadora.

- Nenhum arranhão. Mas eu adoro essa roupa e sujei com essa areia úmida.

Frank chegara juntamente com Stein e Jack... este último ostentando uma armadura medieval prateada que fora mantida na sala secreta da casa de velório e o decaído hesitava em rouba-la.

- Quantos amigos estranhos você tem na sua lista de contatos? - perguntou Natasha, impressionada com Jack e sua nova aparência - Posso conhecer outras variações paranormais, mas não sabia que o mundo era tão diversificado assim.

- Ela vai me amar. - disse Jack perto de Frank.

- Bem galera, esse aqui é o Jack, ele nasceu humano, mas foi vítima de uma maldição que aprisionou sua alma nessa abóbora de Halloween e desde então ele vaga por aí como um nômade.

- Irado. - elogiou Franz, admirando-o.

- É, eu sei. - disse Jack - E você, garoto? Qual a sua história?

- Pra definir numa palavra: Complicada. Se sobrevivermos, nós conversamos.

- Todo mundo pronto então. Os perímetros são intransponíveis. A gente se limita aonde não foi cercado, o que também consiste nas áreas com mais concentração de possuídos. - disse Natasha, carregando suas pistolas.

- Então eu e você cuidamos dos possuídos nas zonas mais críticas. - determinou Frank enfatizando seu papel como líder - O EMF detectou atividade demoníaca ao norte, Jack e FStein vão pra lá a fim de mante-los o mais distante possível dos possuídos, facilita se os grupos ficarem separados. E quanto à você, Franz... - voltou-se ao jovem - Como o feitiço controla os fantasmas e os trancam nos receptáculos, não pode usar seus poderes abertamente pra exorciza-los, então tem que resolver uma situação com reféns num banco à quinze metros e salvar o maior número de pessoas que puder.

- FStein?! - estranhou Natasha - Muito criativo.

- É um nome carinhoso. Não concorda, amigão?

O ser metálico grunhiu raivoso, mas exprimiu suas palavras:

- Você Stein. Eu Frank. - disse apontando para si com o polegar.

Os detalhes que permitiam diferenciar a cópia do original eram as cicatrizes na face que deixavam traços de metal à mostra.

Alguns possuídos - homens e mulheres adultos - surgiam agrupados com expressões e posturas intimidantes, logo seus olhos piscaram luzes verdes comprovando estarem submetidos à magia. Frank e sua equipe prepararam-se encarando-os.

Avançaram contra Frank e Natasha. Jack e FStein correram à direção onde deveriam atuar. Franz caminhou à um local escuro e envolveu-se de umbracinese para deslocamento furtivo.

Frank disparara contra os possuídos com as pistolas .40 e Natasha os chutava para afasta-los e atirava menos vezes para economizar munição. Muitos deles usavam armas improvisadas para atacar.

- Tá funcionando! - falou o detetive - Enfraquecendo eles! Me dá cobertura, vou avançar.

- Pra onde você vai? Não íamos ficar juntos? - questionou a caçadora, em seguida sendo agarrada por um possuído nas costas. Deu uma cotovelada e virou-se para disparar três vezes derrubando-o. De repente, não avistou Frank em nenhum ponto próximo. Outro agarrou-a por trás e ela pegara-o pelos braços para joga-lo ao chão. Depois chutara outro que veio segurando um cano de ferro oxidado - Droga, Frank! - recarregou mais balas.

Num beco, Frank pusera um demônio contra parede com violência segurando-o pela gola do casaco.

- Me fala onde fica o Q.G dos bruxos?

- Você é um policial branco... mataria um bandido negro?

- Essa fase já foi superada. Você é só um monstro imundo usando um cara negro inocente como uma casca. Bandido aqui é você, salafrário. Agora desembucha: Cadê... o Clancy?

- O templo de Merlin.

- Eu trabalho com detalhes. Vamos, esclarece aí.

- A igreja... largada aos ratos e baratas, construída sobre o templo. Na verdade, o Clancy te espera.

- Como é? Ele tá me esperando? Tá OK... não quero sair sem agradecer. - disse Frank, pegando uma garrafa com água benta e derramando na boca do demônio que se debateu com a ardência extrema que corroía sua carne - Engole essa.

O demônio fora solto caindo com a boca fumaçando e soltando palavrões contra Frank que sabia exatamente a igreja que batia com a paupérrima descrição. Os relâmpagos constantes iluminavam o interior da igreja de estrutura precarizada. O líder bruxo deliciava-se com o novo status atingido, observando as duas metades do diamante no centro da sala.

Frank aparecera e parou bem na entrada. Um relâmpago o "transformou" numa sombra medonha atrás de Clancy que sorriu de satisfação ao notar a presença do adversário.

- Veio confessar seus pecados? Solicitar um milagre? - indagava o bruxo, sarcasticamente.

- Não. - disse Frank, entrando - Um dos seus servos demônios foi um bom garoto, revelou a localização e aqui estou eu pra acabar com essa fanfarra. Por que os demônios se meteram nessa?

- Por um favor que tomei a liberdade de fazer. - disse Clancy, ficando de frente para ele. Segurava um copinho de vidro com bebida alcoólica dentro e virou num gole só - Ah! Refrescante. Os demônios são dignos de pena, você deve admitir. Enfim, não posso concordar mais. No entanto... como o homem de palavra que sou, não apunhalo pelas costas quem me acrescenta vantagem. Por um longo tempo eles foram desajustados e solitários, os reuni por uma causa em comum.

- Que tipo de... manipulação mágica ou sei lá que porcaria... você colocou neles?

- Eles querem um líder triunfando de novo como nos velhos tempos. Me veem como uma ponte segura para chegar ao objetivo. Não vou deixa-los na mão agora que não pode ser desfeito.

- Fala do feitiço? Os demônios escolheram te seguir por livre e espontânea vontade... Parece até piada.

- A piada aqui... é você, Montgrow. - disse Clancy, sorrindo com cinismo - Pensa que está salvando pessoas, sendo altruísta, moderado e heroico? Não, não está, não chegou nem perto. Você só está... se desgastando em vão, lutando uma guerra que não pode vencer. Os fantasmas que escapam pela fissura que abri graças à joia preciosa de Merlin... - apontou para trás destacando o diamante com as duas metades uma diante da outra - ... substituem as almas dos corpos que pegam. Sabe pra onde vão as pobres almas? Ao lugar que os demônios chamaram de lar.

- O Inferno. - disse Frank, atemorizado - Transferiu as almas inocentes... pra que os espíritos ruins dominassem. O feitiço é como uma âncora. Uma vez desfeito, as almas voltam aos corpos. Não é?

- Não exatamente Inferno. Está mais para uma dimensão habitada por tudo que há de mais sobrenatural que você nem imagina. Esse mundo jamais seria o mesmo se tudo migrasse de uma vez.

- Fazer almas ruins trocarem de lugar com as boas. Inversão de polos, é esse o jogo. - disse Frank - Agora tem que dizer como quebra o feitiço. Ou eu...

- Você me matará? Eu posso parar cada bala que quiser desperdiçar comigo. Mas se quer uma ajudinha da minha parte... Vou satisfaze-lo de bom grado. Você é uma alma eminentemente pura. Já preparei o ritual. Basta você ficar entre os dois pedaços do diamante e a sua querida cidade fica livre dos fantasminhas desordeiros. É pegar ou largar.

Sem hesitar, Frank caminhou ao centro da sala principal da igreja.

- Não se preocupe. A Terra Negativa é um playground para caçadores. Divirta-se, meu caro mártir.

- Esse é o nome do lugar? Aumentou minha curiosidade. - disse Frank, colocando-se no ponto exato - Se é pelo bem da cidade... não abro mão. Eu vou sobreviver e quando voltar... fica esperto, porque vou atrás de vocês e não deixar nada sobrando... nenhum pedaço pra contar história.

- Um bom homem não desdenha da sua promessa. - disse Clancy, sério. Estalou os dedos.

As metades do diamante se movimentaram em direções contrárias fazendo um rastro no piso até formar completamente um círculo que emitiu uma poderosa luz branca ao redor de Frank. O chão cedera em pedaços na demarcação e o detetive caíra no abismo luminoso. Frank, durante a queda, arriscou uma olhada para baixo e arregalou os olhos amedrontado com alguma coisa vista lá no fundo. Acordou sobressaltado no meio de uma estrada deserta à noite.

Não precisamente uma noite. Frank levantou-se e fixou o olhar num sol eclipsado.

- Algo me diz... que o desgraçado tinha razão.

Ouviu sons abafados de tremor. Um "Tum-Tum" que se aproximava cada vez mais. O detetive congelou altamente relutante em virar para trás e dar de cara com o que quer que fosse o responsável por aqueles passos que vibravam o asfalto. Frank focou sua atenção numa poça d'água ondulando.

- Tomara que seja um tiranossauro Rex. - disse ele, a expressão de inquietação estampada.

Os tremores fortaleciam-se. O coração de Frank batia acelerado na frequência dos passos.

E foram crescendo de volume... continuadamente.

                                                                                    -x- 

                                                             FIM DA 2ª TEMPORADA

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://www.estudopratico.com.br/onde-fica-floresta-misteriosa-conhecida-como-floresta-das-criancas-desaparecidas/

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