Frank - O Caçador #21: "Efeito Mariposa"


Stacy - uma garota de 21 anos com jeans rasgado, jaqueta preta e cabelo curto com mechas vermelhas nas pontas - se despedia de suas amigas após mais uma fim de tarde e início de noite num rolê. Ela cortara caminho pegando um atalho à sua casa, andando por uma trilha ladeada por árvores esguias.

Seu celular vibrara, indicando ser uma ligação.

- Fala Rebecca. Onde você se meteu, sua vadia? A gente ficou te esperando por meia hora.

- Não põe culpa em mim, merda! Foram meus pais, me enxotaram de casa pra ir estudar na biblioteca. - Stacy revirava os olhos ao ouvir - Não vou me desculpar por não ter avisado.

- E por que não?

- A bateria do celular morreu. Terminou de carregar agora há pouco.

- Exatamente quando voltamos. Ah, da próxima vamos nos lembrar de não te convidar.

- É pra isso que servem as amigas? Entendi...

Repentinamente, uma sombra pôde ser visível no chão de algo voando à frente de Stacy. Algo com asas enormes similares as de uma mariposa. A garota estacou, sua espinha arrepiada.

- O que foi isso? - perguntou a si mesma, baixinho.

- Tá falando do quê? - indagou Rebecca - Stacy... Qual o problema?

- Não... Nada, não é nada, esquece. - disse ela, apressando o passo - Olha, a gente se vê amanhã.

- Eu ainda nem te contei a novidade bombástica...

- Rebecca, amanhã eu te ligo, prometo. Não é uma boa hora agora... - Stacy olhava ao seu redor.

- O quê? Tem um vagabundo te perseguindo? Mostra seus golpes de taekwondo...

Stacy derrubara o celular devido à tremedeira que a acometeu. Logo que apanhou-o, se deparou com a visão que gostaria de ter evitado naquela noite e deu um rápido grito. Um ser alto coberto com suas asas até metade inferior do rosto e cuja metade superior abrigava um par de olhos vermelhos grandes.

A criatura aproximou-se dela devagar, mantendo as asas contidas.

- Não... - dizia Stacy, amedrontada - Vai embora...

Em seguida, ela teve uma reação dolorosa partida dos seus olhos que começaram a lacrimejar sangue profusamente. A garota se desesperou ao sentir os olhos encharcando-se de vermelho. Tudo por apenas manter contato visual com o olhar seco da criatura que tinha um interesse particular nela.

O monstro logo abriu suas asas como cortinas e as envolveu sobre a garota trazendo-a para perto.

- Stacy! Stacy! - gritava Rebecca, ainda na linha, preocupada ao escutar o grito estridente da amiga - O que houve? Stacy, fala comigo por favor! Stacy! Vou chamar a polícia!

No caminho que ela não terminara de percorrer, havia apenas o celular largado no chão.

  ______________________________________________________________________________

CAPÍTULO 21: EFEITO MARIPOSA

Departamento Policial de Danverous City


Era bastante ocasional Frank invadir a sala de Carrie para qualquer coisa que fosse perguntar ou dizer. A assistente ergueu o rosto antes focado num caderno de anotação e tirou os óculos meio surpresa ao vê-lo. Era comum que não pensasse em algo bom com aquela visita.

- Frank, o que houve? Já te disse um monte de vezes que vir à minha sala significa...

- Não Carrie, não vim conversar sobre coisas pessoais dessa vez. Eu só queria ficar inteirado daquele caso que você me repassou há poucos dias. - disse Frank, mantendo-se de pé - Ainda se lembra?

- Cadê os detalhes? Poucos dias são quantos dias exatamente?

- Talvez uns 5 ou 6. - disse ele, dando de ombros - Tô chegando aos 50 e memória ruim já é um bom mau sinal disso. Era sobre... - ficara pensativo, passando a língua entre os lábios.

- Se nem você lembra e está pondo culpa na idade pelo esquecimento...

- Desaparecimentos. - disse ele, estalando os dedos - Isso aí. Olha, não acho correto você fazer isso de novo, Carrie. Se você me manda um caso, tem que ter absoluta certeza do que ele consiste.

- Eu sei disso, mas de início me pareceu estranho de um modo que atiçaria sua curiosidade também.

- E nesses dias que você não me atualizou... descobriu algum indício paranormal? - indagou Frank.

- Indícios paranormais não, mas... - digitou no computador numa pesquisa rápida - ... saíram hoje de manhã umas fotos quentinhas do forno de um suposto desaparecimento. E mais outros relatos.

- Qual foi a última ocorrência?

- Uma garota chamada Stacy tinha saído com as amigas e na volta enquanto falava por celular com outra amiga, esta que por sinal não foi ao evento, parece ter sido atacada por alguém. A amiga de Stacy é Rebecca Blown, prestou depoimento agora há pouco à polícia. Ela chamou os caras pra averiguar e só tinha o celular de Stacy no chão e também... respingos de sangue.

- Pode ser assalto seguido de homicídio e o bandido sequestrador a levou como todas as outras vítimas. Na certa pode ser isso. - disse Frank, depois virando-se para sair - Me mantém informado.

- Ei, espera. - disse Carrie, meio tensa - Acho que tem um complemento dessa história. - Frank se voltou à ela mostrando-se interessado - Frank, tem acontecido uma série de desastres acidentais. A ponte Brickett cedeu há dois dias, várias pessoas morreram. Você soube disso, né?

- Desculpa, não dou atenção pra TV quando mergulho nas minhas pesquisas, revisando os arquivos.

- Um repórter chamado Tobias Carter postou no seu blog uma foto da ponte antes mesmo dela cair. - disse Carrie, logo mostrando a imagem à Frank ao virar o monitor - Não especificamente a ponte.

- O que é essa coisa? - indagou Frank, visualizando minuciosamente - "Homem-Mariposa"?!

- Carter é dono desse blog de creepypastas e notícias assustadoras. Mas o resto do conteúdo está encriptado, poderia levar semanas para descascar esse abacaxi. Que saco. - reclamou Carrie.

- Vi também o número de visitas na página... quase um milhão. O cara é praticamente famoso.

- Pois é, deve estar ganhando uma grana gorda. Vou te dar o endereço. Sim, invadi o banco de dados novamente, não me olha de cara feia. - após uns segundos, ela imprimiu - Prontinho.

- OK, vamos ver se esse tal Tobias me esclarece a correlação desses acidentes, os desaparecimentos e esse monstro asqueroso que parece qualquer coisa... menos uma mariposa humana.

- Aproveito pra pesquisar antecedentes dessa criatura. Ele também foi visto nos outros pontos de desastre. - disse Carrie, estralando os dedos - Se não tiver ligação...

- Não, nada disso, um caso por vez. - disse Frank, saindo da sala, guardando o papel num bolso.

                                                                                  ***

Durante o trajeto até a casa de Tobias, Frank dirigia calmamente no seu sedã prata por uma rua meio estreita onde dobrara para chegar a um atalho, ignorando o GPS. O carro subitamente pareceu bater com as rodas dianteiras em alguma coisa. O detetive parou e desceu logo para verificar.

- Mas que merda... é essa? - se perguntou, olhando para uma larva gigante completamente esmagada embaixo da roda expelindo um sangue amarelado - Eca... - disse ele, enojado - De onde veio isso?

Desviou o olhar para um bueiro cuja tampa estava curiosamente aberta. Sem perder tempo, sacou um frasco e suportou o odor podre ao coletar uma amostra da gosma amarela da larva. Era praticamente certo que ela saíra pelo bueiro e devido ao seu tamanho aplicou grande força para abri-lo.

- Argh, que merda nojenta. - reclamou ele, voltando ao carro.

Chegando na casa de Tobias, olhara pelas janelas. Aparentemente ninguém estava presente a julgar pelo silêncio. A porta trancada frustrou o detetive que precisou recorrer ao velho truque do grampo.

Ele entrara sem fazer nenhum ruído com os passos e chegara subiu a escada. No segundo andar ficava o quarto de Tobias. O jovem repórter - de óculos de armação grossa e cabelo castanho meio espetado - estava em seu computador realizando múltiplas pesquisas sobre a pauta que o levou ao sucesso. O ranger da porta o fez se virar rápido.

- Essa não. Quem está aí? Leva tudo, mas me deixa viver, por favor.

- Ei, calma aí, sou eu. - disse Frank entrando - Sem histeria, sem desespero... - mostrou o distintivo - Agente do DPDC. Você é Tobias Carter né?

- Em pessoa. - respondeu ele, ainda assustado - E você... Veio fazer o quê? Pra um agente federal invadir minha casa e chegar de fininho... eu devo estar arrasando. Não é?

- Sou Frank Montgrow. Sei que tá investigando o Homem-Mariposa, também quero brincar.

- Previsível. - disse ele, meio desanimado - Mas eu sugiro que nós dois fiquemos longe disso.

- Olha amigo, você tá diante de um caçador paranormal e pode crer... já vi muita coisa de fazer qualquer um dormir de luz acesa por um mês. - disse Frank, aproximando-se - Você é o único que pode me ajudar a saber mais sobre esse monstro. Tem postagens suas datando de 2011.

- É, eu... tô há um bom tempo nessa busca. Reunindo fatos, compartilhando teorias, relatos... O Homem-Mariposa é um dos seres mais perigosos, nem as histórias que posto chegam perto.

- Aconteceram desastres ultimamente... - disse Frank, andando devagar pelo quarto - Existe alguma ligação com ele? A foto que vimos era da ponte Brickett...

- Ele foi responsável. Ele é o causador de muitas tragédias. Por estar diretamente vinculado a esses acontecimentos, muitos dizem que ele é um espírito pressagiador de morte. Só que não... é uma criatura física, um meio-homem e meio-animal que traz destruição por onde passa.

- E como ele faz isso? Parece saber, então é bom não me deixar nada passar.

- Espera que eu minta? Tá bom, suspeite o quanto quiser, estamos no mesmo barco.

- Eu sei disso. Só achei que ia ocultar uns detalhes por me ver como um concorrente.

- Relaxe, não me sinto ameaçado só porque você se diz caçador de sobrenatural e tem porte físico de um policial malvado. Pra dizer a verdade... eu tô tentando manter as pessoas seguras. E há pessoas que me leem e confiam na minha credibilidade e você intervindo assim...

- Olha, vamos fazer um trato. - disse Frank, tocando-o no ombro - Nós dois caçamos a coisa juntos, dividimos os lucros, se é que me entende, e largo do seu pé sem afetar sua reputação. E aí, topa?

Tobias manteve a cabeça baixa numa expressão neutra, mas estava refletindo na proposta.

- Pensando bem, acho que vale a pena. É meu dia de sorte.

- Sim, mas tem gente desaparecida e outras que com certeza podem ser próximos alvos, certamente é dia de azar tanto pra elas quanto pra nós de alguma forma. - retrucou Frank.

- Tá, você me convenceu. OK? O Homem-Mariposa não faz distinção de vítimas, ataca quem estiver pela frente no seu limitado campo de visão pelo que deduzi. E tem outra coisa...

- O quê? O que ele faz para causar os desastres?

- Ele tem uma habilidade poderosa de... vibrar suas asas numa determinada frequência... distorcendo a realidade e se estiver focado em algum ponto... é nesse foco que acontece a reação. É assustador.

                                                                                ***

Paralelamente, uma área restrita para obras estava a todo vapor quando de inesperado uma viga de metal presa a uma corda começou a balançar e logo se soltou caindo rapidamente.

O mestre de obras estava bem abaixo do ponto de impacto, nem dando tempo de olhar para cima, e a viga o esmagara por completo achatando seu corpo no solo. Gritos de pavor e uma comoção se formou ao redor e o desespero tomou conta de todos. Em um bar ali próximo, o Homem-Mariposa estava escondido observando por uma janela pequena com seus frios olhos vermelhos. Suas asas repugnantes vibravam bastante contidas e um leve zumbido reproduzia. Tirando sua atenção, um bêbado entrara lá, o que fez com ele visse o lado bom: uma nova presa fácil.

O homem cambaleava segurando uma garrafa e parecendo não se dar conta da presença da criatura. Logo o Homem-Mariposa aproximou-se dele e agarrara sua cabeça para faze-lo olhar diretamente em sues olhos e infligir a dolorosa reação para a sua captura.

- O que você tá... - disse o homem sem entender - Você quer um gole né? Mas é só um, tá?

Vendo que o estado de embriaguez dele não o deixava encara-lo, apenas o envolveu em suas asas e abrira sua boca vertical com dentes afiados, devorando-o em seguida. Pela sombra na parede graças a um pouco de luz solar que passava da janela, via-se que a criatura mostrava-se ferozmente faminta.

                                                                                  ***

Frank e Tobias percorriam um caminho que poderia leva-los a localização de uma das testemunhas para colher novos relatos e quem sabe se atualizarem para fazer novas descobertas.

- Tá legal... Nossa primeira parada será onde mesmo? - perguntou Frank, andando depressa.

- Tem uma moça que frequenta o parque central e já vi ela dar uma entrevista na TV há seis meses, mas cruzei as informações que eu tinha na época com o que ela disse e comprovei... que ela abafou o caso para que não vestissem uma camisa de força nela. Ela pode estar lá amamentando seu filho. Fiz muitas investigações paralelas, espionei algumas testemunhas... Isso não é crime, certo?

- Se foi autorizado pelo seu chefe...

- Ah, me ferrei. - disse Tobias, imaginando o que fariam se descobrissem.

Uma movimentação no local em obras afetado pelo Homem-Mariposa chamara atenção dos dois imediatamente pelas viaturas de polícia e grande concentração de curiosos.

- O que aconteceu aqui? - indagou Frank ao policial do DPDC.

- Acidente fatal de trabalho. A viga cedeu sobre o cara e o espatifou inteirinho. O que está fazendo por essas bandas, detetive?

- Ahn... Tô no meio de um caso dos grandes e aquele ali é... o meu parceiro temporário.

O policial assentiu, compreendendo.

- Boa sorte então.

- Ah, espera aí. Se estiver de saída... - disse Frank, tirando o frasco do bolso - ... eu gostaria que levasse isso aqui para o laboratório. É urgente. Mas manda pela Carrie.

- Parece pus. - disse ele, analisando com nojo.

- É, dá pra ver. Tem que ser rápido. Diga que é importante.

- Você que manda.

Logo depois, a dupla prosseguiu indo por uma rua pouco movimentada, andando pela calçada.

- Às vezes... sou atormentado por pesadelos. - disse Tobias.

- O Homem-Mariposa te assombra toda noite?

- Até em pensamentos. - confessou, meio angustiado - Queria ter o mesmo estômago que você pra encarar isso de frente e deslanchar minha carreira. Nem tudo pode ser perfeito. - deu de ombros.

Um homem assustado saíra frenético de um bar poucos metros à frente dos dois e passara entre eles quase derrubando-os. Frank pensou em segui-lo, mas desistir ao ver que não ia alcança-lo a tempo.

Tobias correra ao bar indo primeiro e o detetive fora atrás, sacando sua arma discretamente.

O interior do lugar estava completamente ao avesso, com mesas viradas, cadeiras, garrafas e copos quebrados... parece que um tufão tinha feito uma visita ali. Mas nada disso impressionou mais do que a aterradora constatação. Tobias apontou tremendo para bolhas de gosma cinzenta do tamanho de barris. Na verdade, eram espécies de casulos. Frank aproximou-se cauteloso e entreviu o corpo de uma pessoa adormecida dentro de um deles. Exalavam odores de torcer o nariz.

- E-ele... ele esteve aqui. - falou Tobias - Aliás, ainda está, provavelmente. O cara estava pálido, Frank...

- Tob, essas coisas nojentas aqui... não são ovos.

- Leu minha mente, por acaso? Adivinhou minha teoria primária. Agora vamos dar o fora.

- Nem pensar. Vamos passar o pente fino. Pode me esperar lá fora se quiser.

- Bem, eu não quero. A menos que você me acompanhe. - retrucou Tobias, aborrecido. Porém, sua visão periférica detectou algo estranho. - Ah não... Frank, se abaixa!

Um enxame de mariposas veio em disparada saindo de algum canto. Frank se abaixou com arma em punho. Os insetos seguiam para fora do estabelecimento. Devido ao número enorme, bloqueavam a luz que passava pela janela. Mas quando terminaram de sair, ficara visível o Homem-Mariposa com uma sombra de olhos escarlates e o branco da luz solar na janela ao fundo realçava o terror.

Tobias tremia a boca enquanto levantava-se com Frank. A criatura avançou contra Frank que disparou na hora. Bolaram no chão. O Homem-Mariposa se levantou e mostrara seus dentes para querer devora-lo, mas Frank o chutara na barriga, mas foi agarrado pelo sobretudo e jogado até o balcão derrubando várias taças e garrafas. Tobias agarrou a chance e tirara uma foto com o celular.

Frank logo disparou mais três vezes detrás do balcão e a criatura se debatia sendo atingida. Ao levantar voo, deixou cair um ovo do tamanho de uma frigideira e escapara pelo teto quebrando-o.

- Mas o que foi isso? - perguntou Tobias, amedrontado - Bem que avisei pra sairmos...

- Olha aí o que ele nos deixou de presente. - disse Frank, guardando a arma e indo até o ovo - Digo, ela, no caso. - pegara-o - A mamãe mariposa esqueceu do filhote.

- Por que tá pegando nisso? Pode ser tóxico, radioativo... - disse Tobias, analisando - Ei, quero saber de uma coisa: O que você tinha dado ao policial? O que era aquilo?

- Uma amostra do sangue de uma lagarta que atropelei. Uma lagarta bem grande. Saiu de um bueiro.

- O que talvez signifique que ele esteja espalhando filhotes por aí... Mas olha só. - Tobias mostrara a foto que tirara... para o aborrecimento de Frank - Um novo salto para a fama me aguarda.

- O que você tem na cabeça, seu idiota? - perguntou Frank, tomando o celular - Me dá isso aqui, vou apagar. Estamos em trabalho, não pode fazer alarmismo pros seus leitores assim tão rápido.

- Vou apenas deixar como rascunho, por favor devolve. - explicou Tobias - Frank, tô implorando...

- Me prometa... que não vai levar isso a público. - disse Frank, categórico. O repórter ficou inseguro - Não podemos causar mais pânico, o número de vítimas só aumenta e se não pararmos ele... digo, ela... a proporção que isso pode tomar não vai ser brincadeira. Você tem que entender que nem tudo que é desconhecido precisa ser descoberto e muito menos exposto. Vai fazer isso por mim?

Tobias se manteve pensativo por vários segundos. Tudo era uma questão de bom senso.

- OK. Até que resolvamos isso, fico de bico fechado. E esses... casulos? Temos que tira-los...

- Reparou que as pessoas dentro estão com deformações no rosto? - perguntou Frank, olhando-os.

- Incubadoras de novos Homens-Mariposas. Que arrepio. - falou Tobias, expressando desconforto - O que a gente faz agora? Ele se foi, perdemos uma grande chance.

- Podemos economizar tempo interrogando a pessoa ligada a última vítima. - disse Frank, checando o endereço no celular enviado por Carrie - Rebecca Owenton.

                                                                                          ***

Rebecca estava regando o jardim com uma mangueira quando sentiu presenças vindo atrás. Era uma garota jovem de cabelo castanho amarrado em rabo de cavalo vestindo moletom azul e legging cinza.

- Quem são vocês? Não dei permissão...

- DPDC. - disse Frank, mostrando o distintivo - Agente especial Frank Montgrow. Nós gostaríamos de apurar detalhes da sua última conversa com sua amiga Stacy.

- Ela foi uma imbecil por não ter marcado nossa farra um dia antes....

- Será que dá pra ir direto ao ponto? - indagou Tobias - Estamos com pressa.

- Olha, eu chamei a polícia e tudo que acharam foram marcas de sangue. Mas tem um lance que a Stacy me contou uma vez de um bicho bizarro que ela achou no quintal. Ela com certa dificuldade matou ele com uma pedra e disse que precisávamos guardar segredo. Até me enviou uma foto.

- E onde está? - perguntou Frank.

- Ahn... Eu apaguei. Foi mal. Não ia manter aquela coisa nojenta no meu arquivo.

- Era uma lagarta? Tipo, assim... desse tamanho? - perguntou Tobias, usando as mãos para exemplificar o tamanho que ele imaginava.

- Mais ou menos. O que tá havendo? Sabem quem matou a Stacy? Tinha sangue, claro que está morta. Éramos melhores amigas. - disse Stacy, quase chorando - Me sinto um monstro por conseguir seguir em frente tão fácil sem ela. A morte não significa mais nada pras pessoas?

- Você não é um monstro. - disse Frank, compadecido - E a Stacy pode estar viva. Acredite.

Enquanto se distanciavam da casa de Rebecca, a dupla discutia sobre o caso:

- Essa sua teoria pode ter uma lacuna. - disse Tobias - Reconheci a pessoa que vi num dos casulos apesar das mudanças físicas e... - mostrou uma lista dos desaparecidos - ... ela está entre as vítimas levadas pelo Homem-Mariposa e além disso não tem registros associados à ela por amigos sobre nenhuma lagarta gigante morta no jardim, não acho que todos deixariam isso secreto. Não faz sentido o Homem-Mariposa querer se vingar de quem matou seus filhotes. Ele não tá sendo seletivo.

- Vou engolir meu orgulho e acreditar que posso estar errado. - disse Frank - Sendo vingança ou não, essa coisa tem que tomar uma no meio da testa. - seu celular tocara - Alô, Carrie. E o resultado? Quase terminando? OK, já tô indo. Aproveito e te repasso as bombas. Tchau. - desligara - Pra não fazer de você um peso morto, vou te passar um serviço: Tenta tirar ao menos uma pessoa do casulo.

- Mas vou ser um homem morto ou encasulado se ele voltar.

- Vai por mim, ele não volta. Deixei o ovo no porta-malas. É isso que ele quer. Se esqueceu, uma hora vai se lembrar e ir atrás de mim seguindo o faro e o instinto. Tenho que pegar o resultado da amostra.

                                                                                     ***

Poucas horas após a passada no DPDC, Frank encostou seu carro numa estrada. Era perto de seis da tarde, o sol já tinha se posto quase totalmente. O detetive se engajou numa pesquisa feita no seu laptop sobre o Homem-Mariposa em registros antigos de aparições relatadas. Se surpreendeu com a estátua situada em Point Pleasant, na Virgínia Ocidental, em homenagem à lenda. Em seguida conferiu um texto referente a uma usina hidrelétrica fechada em 1967 e próxima da fenda de Danverous City. A fenda já existia pois um ano antes ocorrera o primeiro terremoto. A usina fechou seis meses após o desastre, já no ano seguinte. Alguns relatos mencionavam a usina a qual todos davam como interditada pela estrutura frágil decorrente dos tremores. O que era uma desculpa.

No bar, um hesitante Tobias verificava o estado dos casulos. Porém, seu coração quase saltou pela boca ao ver dois deles completamente vazios.

- Ah não... Ah não!- disse ele, apavorado, logo correndo para avisar Frank imediatamente.

O detetive estava inteiramente focado na pesquisa quando de repente um rosto magro e aterrorizante colou no vidro esquerdo, assustando-o. A face remetia muito ao Homem-Mariposa, com grandes olhos vermelhos e uma pele marrom meio áspera e peluda. Outro surgiu batera no vidro à direita.

Frank girou a chave e pisou fundo antes que quebrassem os vidros ou aparecessem mais. Acelerou acima do limite de velocidade da estrada e as criaturas o seguiram voando.

Tobias chegara no ponto alguns minutos mais tarde, procurando Frank que tinha avisado de antemão onde ele estaria para reencontra-lo e passar as informações depois da pesquisa.

- Frank! - chamou bem alto - Ué... - sentiu-se confuso. Contudo, sentiu o espaço ao redor ser tomado por uma escuridão. Mas na verdade eram asas longas o envolvendo. Asas do Homem-Mariposa.

                                                                                     ***

Pela estrada, Frank percorria a mil por hora, aliviado pelos saídos dos casulos terem desistido da persegui-lo, o que era meio estranho. O detetive pensou em jogar em ovo, mas desconfiou que não essa ideia não salvaria sua vida facilmente, portanto era importante entregar pessoalmente ao dono.

Mandara uma mensagem por voz à Tobias.

- Tobias, aqui é o Frank. Não sei onde você se meteu depois que te pedi pra dar uma olhada nos casulos, é bom não ter sujado com nosso acordo hein. Olha, presta atenção... Em 1967 já haviam relatos de avistamentos do Homem-Mariposa aqui na cidade. A usina foi fechada por causa dos danos do terremoto, mas ninguém mais se atreveu a entrar lá novamente, muitos usando a desculpa de que o prédio ia desabar. Só que não. A coisa estava pondo seus ovos lá na certa. O que estamos enfrentando pode não ser o mesmo monstro... acho que é um dos que foram transformados há muito tempo. Tô indo até a usina entregar o ovo. Fica onde tá, te encontro mais tarde. - enviara, por fim.

Enquanto Frank dirigia, Tobias sofria subjugado pelo Homem-Mariposa sendo preso num casulo. A criatura soltava fios e gosma para confeccionar o casulo. O repórter estava perturbado com aquilo, querendo sair de qualquer forma, mas era como se seu corpo grudasse ou a gosma forçasse ele a ficar.

- Por favor, eu imploro... Não posso olhar nos seus olhos, mas posso fazê-lo me ouvir! Sei que entende minha língua. Vou te dar o ovo! O seu filhote... Por favor, não!

O Homem-Mariposa sequer dava ouvidos às súplicas de Tobias, continuando seu trabalho.

Eis que Frank aparecia antes que o fechamento do casulo se completasse. O monstro virara o rosto como uma coruja.

- Frank! Não olhe diretamente nos olhos dele! - gritava Tobias sua voz abafada no casulo semi-preenchido. Chutava e batia para ver se quebrava aquela casca gosmenta e fedida.

- Olá, mamãe mariposa. - disse Frank, segurando o ovo na entrada da usina - Enfim, não sei bem ao certo se você é mamãe ou papai... mas vim aqui te devolver uma coisinha que esqueceu quando atirei em você e se assustou... Desculpa, eu não sabia. Você tinha pego meu amigo aí, eu quero ele de volta. Olha, eu posso estar sendo idiota em tentar dialogar com um monstro provavelmente irracional, mas tenho que admitir... você é bem esperto. - depositou o ovo no chão cuidadosamente - Aqui está. Sem nenhum arranhão.

A entrega não passava de uma distração para poder resgatar Tobias a tempo de saírem com vida.

Assim que o Homem-Mariposa andou em direção ao ovo, o detetive caminhou até o casulo incompleto onde Tobias estava.

- Te enviei mensagem à toa. - disse Frank, rasgando a casca - Devia ter ligado antes enquanto era perseguido...

- Perseguido? Por quem? - perguntou Tobias, ajudando-o para sair.

- Parece que o monstrengo ali tem minions.

- Eu ia te alertar justamente sobre isso. Tinham casulos abertos no bar quando voltei.

Um pequeno grupo de transformados se libertava dos casulos e andavam trôpegos ameaçadoramente.

Frank sacou o revólver e atirou num deles bem na cabeça. O estampido afetou ao Homem-Mariposa que virou-se para a dupla, mostrando seus dentes afiados.

- A-acho que você o irritou. - disse Tobias, preparando-se para fugir.

O Homem-Mariposa soltara um ruído agudo como um sinal à todos para um ataque direto à Frank.

- É aqui onde fica a maior concentração de casulos! - disse o detetive, usando duas armas e atirando incessantemente - Corre, vai! - andou para trás, disparando contra todos.

No entanto, a rainha da colônia de mariposas-humanas o atacara com os pés, fazendo-o ir parar do lado de fora tamanha força do golpe. Em seguida, o levantou e o jogou contra algumas barras de ferro empilhadas. Tobias escapava sendo perseguido pelo exército de transformados. Frank pegara um granada e jogara contra a criatura. Explodiu sobre ela um gás ácido que pegou certeiro nos olhos, a arma de maior poder que ela tinha.

- Toma essa, miserável. - disse Frank, logo reavendo suas armas e atirando em pelo menos dois transformados que vinham de direções opostas. Ambos caíram mortos rapidamente. Outro viera pulando por cima do detetive, abrindo suas asas, mas recebeu dois tiros.

Numa tentativa de salvar Frank, Tobias cansou de ficar parado sem saber o que fazer e entrara no carro do detetive. Acelerou e se aproveitou da oportunidade que a cegueira da criatura lhe dava.

A atropelou até colidir fortemente com a parede, danificando um pouco os faróis do carro.

- Será que agora me dei bem? - se perguntou.

Subitamente, num salto mortal, o Homem-Mariposa pulou sobre o capô quebrando o para-brisa e agarrando Tobias peço pescoço para faze-lo olhar nos seus agoniantes olhos vermelhos. De perto pareciam ter pequenos hexágonos, como os de uma mosca.

- Não! Socorro! Aaaaaah!! - gritara Tobias com seus olhos sangrando profusamente.

A criatura rugiu com seus dentes afiados, abrindo sua boca largamente enquanto sacudia-o violentamente como um objeto apertando o pescoço mais forte. O fez bater sua testa na de Tobias, liberando sua língua pontuda para lamber o sangue que escorria pelos olhos do repórter.

Frank, sem outra escolha, disparara contra o ovo quatro vezes. Todos os transformados que naquele instante se libertavam dos casulos faleceram de instantâneo. Assim como a rainha que caiu dura como pedra sobre o volante. Tobias saíra do carro ofegando e aturdido, os olhos ardendo e encharcados de sangue. Frank ainda não acreditava no que havia testemunhado.

- Tobias! - disse, correndo para ajuda-lo - Vem cá... Tá tudo bem agora. Está salvo.

- Isso foi um pesadelo... - disse ele, começando a chorar.

- Shhh... Já passou. - disse Frank, aproximando a cabeça do rapaz ao seu ombro para ampara-lo - É esse inferno que enfrento todos os dias. Na minha primeira vez... eu também me senti exatamente assim. - declarou, expressando uma certa angústia por relembrar do seu árduo início de carreira.

Um pouco de tempo depois, era chegado o momento de tomarem seus rumos.

- É, foi uma aventura que não jamais vou esquecer. - disse Tobias, mais calmo.

- Consulta terapêutica faz bem pra evitar estresse pós-traumático. - disse Frank.

- Não, relaxa... Já me sinto bem melhor. Graças à você. E se não fosse por você... nem teria conseguido a melhor foto de toda a minha trajetória como jornalista.

- Ah, por falar nisso... Acho bom agora você concordar com a decisão correta que eu sugeri.

- Eu pensei bem, Frank. É sério. - disse Tobias, transmitindo seriedade - Nunca passou pela minha cabeça um dia obter a chance de ficar cara à cara com a criatura que estive investigando por 6 anos. O esperado era desmentir a história, trazer provas cabais de que a lenda é só lenda. Mas agora que tudo se confirmou diante dos meus olhos... meus sofridos olhos... - deu uma risadinha - ... eu entendi.

- O que decidiu fazer então?

- A coisa certa. Como você mesmo aconselhou. Obrigado.

Apertaram as mãos firmemente. O repórter recusou uma carona pensando em não desgastar Frank.

Logo que o carro partira, Tobias verificou seu celular. "Suposta fotomontagem do Homem-Mariposa! Será mesmo real ou farsa". Este era o título de sua matéria que havia escrito paralelamente à pesquisa de Frank.

- Agora sim, bem melhor. - dissera ele, sorrindo de satisfação pura.

                                                                                         -x- 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

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