Frank - O Caçador #22: "Falha na Matrix"


O novo parque chegara à Danverous City com enorme barulho há dois meses, logo arrastando multidões com seus atrativos anúncios, além de firmar uma lucrativa parceria com um circo não-itinerante para divisão do território chegando a salva-lo do abismo da falência que fecharia todas as portas se essa fusão não se concretizasse. A atração completa para o divertimento estava aberta.

Um casal passeava pelo local após uma experiência na montanha-russa. Claire, uma mulher de cabelo loiro curto com uma franja caída na testa, acompanhava seu namorado, James, entusiasmada. O rapaz de cabelo castanho e barba cheia não parecia tão entretido, na verdade sentia-se enjoado...

- Se vai vomitar, é melhor correr. - disse Claire, prendendo o riso - Sério que foi a primeira vez?

- Também a última. - retrucou James, desconfortável - Sabe... toda essa movimentação tá piorando meu estado. Podemos pegar um cinema. O que acha?

- Ou esperarmos o circo abrir. Falta pouco, uns 40 minutos. Dá tempo de você esvaziar o tanque. - disse ela, olhando no relógio do celular - Ou tá com medinho de palhaços? - deu uma risada.

- Vê se cresce, Claire, eu nunca... - disse James, interrompendo a fala ao passar por um homem vestido à caráter de palhaço, mas sua maquiagem não transmitia tanta confiança. Ficaram parados se encarando por 5 segundos - Agora sim tô decidido: vamos embora.

- Você nunca o quê mesmo? - indagou Claire, mantendo a zoação - Ah, não, James. - parou-o antes que ele seguisse - Dá um tempo, por favor. Aquele dali é o controlador do carrossel. Eu sempre amei esse brinquedo. Te imploro, é o último e a gente cai fora. Dez dólares por 05 minutos. O que acha?

- Tá legal, você se livrou da minha chatice. - disse James, tirando dinheiro da carteira - Vai lá. Te espero na saída. OK? - a beijou na boca rapidamente - Só uma vez hein.

- Valeu. - disse Claire, bastante empolgada em ir até o brinquedo mais encantador da sua infância.

O sol do fim da tarde já indicava estar se pondo e James ficava ansioso pela demora preocupante.

Andou por várias direções, olhando para todos os lados e nenhum sinal da namorada.

- Claire! - gritou, percebendo o pouco movimento do parque. Eis que Claire aparecera atrás, assustando-o - Nossa, aí está você. Eu falei que era só uma vez.

- Do que você tá falando? - perguntou ela, franzindo o cenho.

- Gastei 10 dólares pra satisfazer sua nostalgia no carrossel. Vamos pra casa?

- Não! - disse Claire - Acabamos de sair da montanha-russa, fui no banheiro, você não quis entrar por mentir sobre estar bem e de repente seu rosto ficou menos pálido. Posso saber por que?

- Você passou pelo carrossel. Foi nessa direção que te vi ir. O que diabos tá havendo aqui?

- Eu que pergunto. Mas já que mencionou... Quero muito ir pro carrossel.

- Não... - James estava perdidamente confuso - Volta a fita: Nós viemos pela direção oposta ao carrossel, depois você foi no banheiro, esperei, voltamos a andar, esbarrei com aquele palhaço medonho que cuida do carrossel e daí você teve a ideia. Foi isso que aconteceu.

- Eu não lembro de palhaço nenhum. - disse Claire, também sentindo confusão - Parte do seu cérebro escapou na montanha-russa?

- Claire, isso não tem graça. Olha, que tal irmos pro circo? À essa hora já devem ter abrido.

- James, o circo só abre daqui à 40 minutos. - disse Claire, logo rindo - Não vai me dizer que ficou preso num loop temporal? Faça-me o favor...

- Oh, meu deus... - disse James, pondo as duas mãos na cabeça em desespero ao notar o ambiente. O palhaço do carrossel passara por eles sem olha-los - O que tá acontecendo? O que tá acontecendo? O que tá acontecendo? - olhara para Claire numa expressão apavorada e correra sem rumo.

- James, espera! - gritou Claire - Volta aqui! - o seguiu tentando alcança-lo.

Ele atravessou a entrada do parque, em seguida dobrando uma rua. Avistou um caminhão preto em certa velocidade - impossível de frear. Para James nada fazia mais sentido. Pisara no asfalto, dando passos lentos, parando no meio da faixa branca e virando-se diante do caminhão. Abrira seus braços.

O veículo colidiu contra seu corpo o esmagando num impacto brutal fazendo sangue espirrar para cima. Um pedaço do seu braço esquerdo caiu na calçada esparramando sangue.

   _________________________________________________________________________

CAPÍTULO 22: FALHA NA MATRIX 

A interdição do parque veio a ser decretada dois dias após o desaparecimento de Claire aliado a morte trágica de James que muitos integrantes das autoridades divergiram sobre a natureza. Frank estacionou seu sedã prata e encaminhou-se até o guarda diurno. Para um lugar que, a priori, tivesse o objetivo de fazer seu público feliz e que acabou sendo ligado à desgraças, o tempo nublado caía bem.

- Olá, bom dia. - disse Frank, mostrando o distintivo ao guarda - DPDC. - apertara a mão dele - Agente especial Frank Montgrow. Fui designado a uma vistoria no parque. Podemos entrar?

- Será um prazer acompanha-lo, detetive. - disse o homem, indo abrir o portão - Venha.

Já caminhando no local, ambos conversavam a respeito do que levou ao fechamento.

- Eu particularmente não vi ninguém saindo antes da abertura do circo. - disse o guarda - Mas lembro do cara que saiu correndo e foi atropelado. Estava branco como se tivesse visto um fantasma.

- Bem, pelo menos você gravou o rosto do James. - disse Frank, visualizando as atrações do parque - E quanto à Claire? Não identificou ninguém suspeito pagando entrada?

- É uma coisa muito obscura, sabe... Quem diabos desaparece do nada num carrossel em parque movimentado?

- Alguém que se tornou vítima de sequestro despercebido, mas só tô teorizando.

- Não vi ninguém com um perfil suspeito. Sem querer exagerar... é que eu sinto uma vibração estranha.

- Vibração? - indagou Frank, olhando-o - Tipo... um desconforto inexplicável? Um mal-estar?

- Basicamente. Deve ser bobeira. Só que essa pulga atrás da orelha não para de coçar.

- As duas ocorrências não se interligam. Falta uma penca de detalhes. - declarou Frank, parando - Mesmo assim, quero dar uma olhadinha no carrossel. Se me permite...

- Ah, sem problema, fique à toda vontade. - disse o guarda, gentilmente - Tá sabendo que a garota não foi a única desaparecida né? Vou te falar: Esse carrossel explica tudo. Não tô ficando louco.

- Tenha certeza de que você não tá nem perto disso. Eu quase cheguei. Bem, verifiquei o celular do James, tinha apenas uma ligação à polícia. Poucos minutos antes dele ser atropelado. O que talvez signifique que ele não ficou totalmente pirado quando falou do sumiço da namorada.

- E a parte da viagem no tempo? Não é loucura o bastante? Tinha que fazer exame toxicológico...

- Já deu. Nenhum traço de psicoativo. O cara estava lúcido e de repente teve impulso suicida.

- Minha mente tá ficando embaralhada com essa história. Boa sorte, detetive. - falou o guarda, acenando com a cabeça ao se deixa-lo ir.

Frank sacou o EMF procurando pelo carrossel na direção indicada pelo guarda antes dele sair. Ligou o aparelho que apresentou dois tracinhos na leitura. Quatro passos depois... mais três traços.

- Deve estar por aqui... - disse ele, confiante. Sua audição captou um voz alarmada e correra até lá. O medidor bipou alto com a leitura alcançando o limite. Frank desligara ao ver o carrossel à sua frente. Porém, ali estava o controlador da máquina trajando suas vestes de trabalho - Ei, amigo. Tá fazendo o quê aqui? Desculpa, vou reformular a pergunta: Por que você está aqui? O lugar tá fechado. Todos os funcionários dispensados. - esperou uma resposta e nada. Olhou para o carrossel e seus cavalos dourados - Quanto custa pra subir? É que... foi um dos meus favoritos desde criança. - deu uma risadinha, ainda que por dentro frustrava-se um pouco por nunca ter sido levado ao parque de diversões pela mãe ou pelo seu pai que nunca se disponibilizava para momentos alegres em família.

O palhaço usava uma máscara branca com dois olhos negros. Preparou para ligar o carrossel.

- Opa, valeu mesmo. Fico muito agradecido. - disse Frank, subindo num dos cavalos. O carrossel girara num ritmo um pouco mais rápido do que normalmente se esperava. Após o giro que durou cerca de 3 minutos, Frank descera, prestes a dar uma gorjeta ao palhaço, mas ele recusou fazendo que não com a cabeça. Sem insistir, o detetive se direcionou para sair do parque acreditando que não existia propriedades anômalas no carrossel. Contudo, parou repentinamente ao ver uma coisa absurda - Mas que... Cacete. - sua face era de estupefação pura. Enxergou a si próprio despedindo-se do guarda.

"O James não mencionou viagem no tempo à toa!", pensou ele, logo correndo de volta ao carrossel.

- Ei! Amigo! Liga de novo isso aí. E-eu... deu vontade de brincar outra vez. Mas gira no sentido contrário. OK? - de acordo com esse pedido, Frank acreditava que voltaria ao presente. Subira depressa antes que sua cópia escutasse sua voz. O carrossel seguiu em sentido inverso como pedido. Mas o desespero o impediu que percebesse algumas mudanças no espaço. Descera, mas não encontrou o controlador em parte alguma. Na verdade, o clima mostrava-se gélido, apático e cinzento - Aonde foi que vim parar? - pelas sensações, era certo de que não se encontrava em seu mundo.

                                                                                      ***

A atmosfera do lugar beirava ao preto e branco. O sol encoberto por nuvens cinzas e o silêncio dominante ajudava a diminuir a serotonina. Frank não podia ficar inerte esperando algo acontecer. Andou pelo parque sem rumo por não lembrar onde ficava a saída.

Eis que sua visão periférica pegou um vulto passando por entre barracas de jogos que valiam prêmios. Correu imediatamente querendo deduzir para quais direções a pessoa foi. Percorreu por entre as barracas e brinquedos infantis. Olhou para a piscina de bolinhas e resolveu entrar como se pensasse que este alguém queria lhe tapear numa pegadinha. Procurou espalhando as bolas coloridas.

- Por que tô fazendo isso? Eu nem sequer voltei pro mundo normal!

De repente, um braço veio ao seu pescoço por trás formando um mata-leão.

- Epa, epa! Vamos com calma aí. - disse Frank, sem reagir agressivamente ao movimento - Caí de pára-quedas nessa terra desconhecida. Sou um forasteiro perdido. Dá pra me largar?

Ao se desvencilhar, ele olhou de baixo à cima a aparência de quem o abordou. O corpo não denunciava ser uma mulher, esta vestindo um casaco preto com capuz que ocultava seu rosto em parte. Dava para ver uns fios castanhos caídos na blusa verde escuro. Ela permanecia fria na posição.

- Pensa que me engana? Você nem se esforçou pra apertar.

- E você não resistiu. - disse ela, revelando sua face - Boa escolha. Não é um deles disfarçado.

- Como é? Tá falando do quê? Sinceramente, tô ficando perdido nesse caso.

- Bem, o meu trabalho é ajudar a manter qualquer um que chegue aqui em segurança. Me chame de patrulheira da dimensão sombria. - disse ela, aproximando-se - Lisbell. - estendeu a mão.

- Frank. Então estamos numa outra dimensão? O carrossel foi amaldiçoado ou coisa parecida?

- Esse não é bem o lugar apropriado pra te passar os detalhes. Hoje acordei com vontade de dar pontapés nos idiotas e quando te vi... imaginei que fosse um deles. Tem que vir comigo.

Frank seguiu-a na saída do parque, estavam se dirigindo a um carro.

- Vai me contando aos poucos, não precisa guardar tudo pra quando chegarmos sabe-se lá onde. - disse Frank, insistente.

- A coisa é muito mais complicada do que pensa. - retrucou Lisbell, abrindo a porta do carro - Esse mundo não passa de uma prisão para aqueles que se divertem no carrossel. Tenho que estar concentrada, portanto não faça tantas perguntas. A dimensão, ou como gosto de chamar... terceira camada... é infinita, não importa pra qual direção vá, sempre dá no mesmo lugar. Mas não quer dizer que não possamos encontrar abrigos. Se seguir em linha reta, o parque estará na sua frente.

- O lance é fazermos rotas alternativas e atalhos pra evitar de chegar sempre ao parque. Ótimo, isso sim deu pra entender. - disse Frank, bastante extenuado - Fica de boa, não vou te interrogar.

- Acho bom. - disse Lisbell, entrando no carro. O veículo branco deu partida, saindo em velocidade moderada.

                                                                                 ***

Entrando na cabana, Frank dera um espirro alto que não deixou Lisbell surpresa.

- Desculpe, não sou muito paciente com faxina. Quer um lenço?

- Não, obrigado. - disse Frank, fungando o nariz. Olhando para o interior do esconderijo da sua salvadora, incomodava-se com o estilo de vida quase precário - Mora aqui desde que foi pega pela anomalia inter-dimensional do carrossel ou só tá de passagem?

- Provisório. - disse ela, fechando a porta usando uma cadeira como tranca - Eu nem sei porque tô sendo insistente nisso? Eles vão nos achar de qualquer jeito mesmo. E é disso que preciso falar.

- Vamos lá, rasga o verbo. - disse Frank, cruzando os braços querendo ouvi-la - Por que quem brinca no carrossel vem parar nessa... cópia deprimente do mundo real?

- Três palhaços do circo foram acusados de assassinato há três meses e com isso demitidos. O caso não gerou tanta repercussão na mídia pelo pagamento rapidinho de fiança pelo dono. O parque chegou, o dono do circo financiou a parceria e o trabalho mútuo prosperou para os dois. O motivo da demissão dos palhaços quase levou o circo à ruína. Devido a falta de provas, os patetas saíram da cadeia, mas sem recuperar os empregos. Você é um detetive. Não te reportaram?

- Tá achando que se me falassem antes teria evitado mais desaparecimentos?

- Não sei ao certo. Sou uma garota perdida, quem dera ter habilidades paranormais. Essa é a única vantagem que eles tem sobre nós. Fui a sobrevivente mais duradoura até agora. - fez uma pausa, meio triste por recordar a noite - Embarquei no carrossel resgatando minha criança interior.

- Ahn... Comigo foi o mesmo. - disse Frank, com um pouco de vergonha pela experimentação infantil que tivera - Esses palhaços são o quê, afinal? Falou que tem habilidades. Como assim?

- Lá vem a parte bizarra: O mágico do circo teve uma discordância com o dono e se demitiu para representar a honra ferida dos palhaços e culpava o tratamento do chefe por corrompe-los. Segundos boatos, não eram bem assalariados e supostamente se envolveram com gangues que ofereciam quantias maiores em troca de sangue derramado. Eu conheço de bruxaria... - disse Lisbell, andando pela cabana enquanto falava - Tá na cara que estamos dentro de um feitiço que perturba o espaço-tempo. Se não quiser ouvir minha explicação científica...

- Me contento com as evidências sobrenaturais. - disse Frank, sorrindo leve - Desculpa, é que... ciência não é muito minha praia. Então os bastardos pactuaram com o mágico pra se vingar.

- Tudo pra manchar a imagem dos dois sócios e desmoronar a parceria. - disse Lisbell, encostando-se numa parede - Me deixa te perguntar uma coisa, Frank... - o fitou intrigada.

- O que quer saber? - indagou ele.

- Na primeira vez que o carrossel girou... você sentiu ter retornado ao passado?

- Sim, eu... - disse Frank, baixando a cabeça de tanta confusão que o atormentava - Caramba, nem sei por onde começo. De todas as coisas assustadoras que já enfrentei nessa vida, nada foi mais arrepiante do que assistir a mim mesmo... numa repetição de um momento. Eu corri de volta pro carrossel e vim parar aqui quando achava que...

- Voltaria ao presente. - completou Lisbell, interrompendo-o - É, eu sei. O padrão do feitiço. Duas camadas de realidade. Podemos considerar o mundo real a primeira. A segunda é um regresso ao passado breve. E a terceira... é esta aqui, como falei antes. Onde os palhaços dominam, controlam e distorcem as leis da física. Temos que ser papa-léguas pra não acabarmos como coiotes. São imbatíveis. A menos que tentemos um jeito.

- Qual jeito pra gente derrotar os três panacas que conseguem fazer coisa absurda de desenho animado?

- Voltando à segunda camada e interagindo com sua cópia do passado para depois chegar ao mundo real e se unir à outra cópia. Pois é, de explodir cabeças, mas se volta ao passado duas vezes pra gerar o paradoxo. Pelo menos assim dizia o bilhete que recebi ontem. - disse Lisbell, pensativa e desconfiada quanto aquilo.

- Lisbell, melhor você entregar o jogo. Quem te enviou o bilhete? - questionou Frank, severo na fala.

Risadas infames foram escutadas provindas do lado de fora. Lisbell estremeceu.

- Eles chegaram!

A porta sofria batidas pesadas prestes a ser arrombada. Frank confiou numa das suas armas.

- Esqueceu da parte estranha? Não podem ser feridos por balas.

- Vão colocar o dedo no cano e fazer o revólver explodir?

Os desordeiros destruíram a porta, despedaçando-a. Subitamente, numa fração de segundos, Frank e Lisbell estavam fora da cabana, cercados pelos três palhaços usando máscaras que imitavam suas maquiagens tenebrosas. O trio vestia roupas brancas com bolinhas vermelhas. Permanecer juntos era a única opção viável naquele instante para a dupla.

- Melhor lugar seguro hein. - ironizou Frank.

- Era seguro. - rebateu Lisbell - Distrai eles. Vou nos liberta são e salvos.

- Como é que é? O que você tá pensando?

- Vê se sai inteiro dessa a tempo de me encontrar. - disse ela, a expressão decidida - Me desculpa. - saiu em disparada e curiosamente para o detetive os palhaços ignoraram a fuga.

- E aí? Que tipos de truques vocês tem pra mostrar? Tomara que não decepcionem, porque senão...

Um dos palhaços metamorfoseou-se em um Zeta para o total espanto de Frank.

- Apelação pouca é bobagem. - disse o detetive, congelado de tensão. Os outros dois o seguraram pelos braços e o falso Zeta aproximou-se com os orifícios nas suas mãos despejando o gás alucinógeno - Ah não, passar por isso de novo é dose! - Frank lutava, mas eram como rochas.

Enquanto isso, Lisbell corria pela floresta dobrando constantemente. Até que tropeçara e caíra.

- A dama quer que eu ajude a levantar? - perguntou a voz grave de um homem ali perto.

Lisbell olhou ao redor ao levantar-se, amedrontada com quem ou o quê podia ser.

- Apareça. Tira essa capa de invisibilidade, não seja tímido. Ou eu te forço a aparecer.

- Senti um tom de ameaça. - disse o mágico surgindo repentinamente diante dela - Não te subestimo. Embora sejamos iguais. Me diga, bela donzela... Como se sente ao finalmente saber que não é única?

- Arrasada, mas não desencorajada. - disse Lisbell, tranquila - A sombra que me perseguia era você. Pode desfazer essa bagunça estalando os dedos. Seu covarde.

- Querer sem poder fazer. - disse ele, limpando seu terno preto e roxo - Lamento te desapontar.

- Por que não? Os idiotas te coagiram? Será que não entende que pessoas morreram de fome aqui?!

- As crianças, eu entendo. Perdi minha autonomia no plano. Impossível... me rebelar contra eles.

- Ótimo, ao menos uma coisa me alegra: Você é tão vítima quanto eu e o último cara que chegou. Por minha causa, ele tá em apuros. Investiguei meu perseguidor nesses últimos tempos... e ele me livrava de todas as enrascadas. Por que resolveu aparecer agora? Por que quis que eu sobrevivesse?

- Leu o bilhete não foi? Imagino que sim. Te dei uma colher de chá... por precisar de você pra acabar com tudo isso. Hesitava convence-la e temi ser pego com a boca na botija. Os manteve ocupado, foi uma excelente hora pra agir certo. Lavo as suas mãos e você as minhas. É assim que vai ser?

O silêncio apático de Lisbell predizia algo óbvio. Eis que seus lábios repuxaram para o lado... num sorriso de interesse.

                                                                                  ***

Frank se afastara dos palhaços tossindo bastante devido a lufada de gás que recebeu. Viu à sua frente um exército de seres coberto de preto humanoides com olhos escarlates vindo em sua direção.

- Saibam que me vacinei disso antes. - disse ele, resistindo - Tem que se esforçar mais... - fechou os olhos apertando-os e grunhia para liberar sua força mental. Os palhaços riam continuamente.

Abrindo os olhos, Frank teve um curto tempo de respiro aliviado ao perceber que a ilusão acabou.

Um dos palhaços transformara-se na besta de Vanderville, o que de imediato enfureceu Frank.

- Ah não! Covardia! Muita covardia! - disse ele, logo sacando sua arma e disparando inúmeras vezes. As balas mal efetuavam danos. A fera avançou contra ele lhe dando uma bofetada com o dorso fazendo o detetive cair à uns metros. Ao se virar, um Ambroz se jogou por cima dele salivando sua baba pegajosa entre dentes. O monstro arreganhara a boca pronto para devorar a cabeça de Frank que, sem aberturas, resolveu pensar que era o fim. Porém, nada sentiu tocar sua pele. A infantilidade das brincadeiras começava a deixa-lo ainda mais irritado. "Esses miseráveis até leem mentes?"

O palhaço que aparentava ser o líder flutuou no ar transformando-se num bicho-papão, idêntico ao que o detetive enfrentara no ano anterior. Os outros dois imitaram perfeitamente e passavam rodeando Frank atacando-o repetidas vezes de vários lados a fim de derruba-lo e esgotar sua força. Na perspectiva de Frank, os vários ataques consecutivos pareciam vir de mais do que três. Levar tantos golpes na cara e no corpo não fraquejaram a percepção aguçada de Frank.

Um dos palhaços teleportava-se ou todos eles de uma única vez, o que explicava a rapidez das investidas. Frank aguardou o segundo exato e tocara num deles, desaparecendo instantaneamente. Finalmente estava de volta ao parque. Mas assim que avistou o carrossel e correu para alcança-lo, já se encontrava num ambiente fechado. Uma sala de espelhos do parque. Frank via-se cercado por reflexos de múltiplas formas. Mas ao dar um passo para sair dali, as luzes apagaram-se rapidamente. Segundos depois a luminosidade foi substituída por um azul-marinho.

- Tá legal. Qual é o próximo joguinho ridículo? Torta na cara com dinamite?

- Olá, minha outra metade. - disse uma voz igual a dele num tom rouco e sombrio. Frank virou-se para o espelho de trás que mostrava um reflexo de face praticamente caveirosa nos olhos e sem boca.

- Demorou pra levar a sério. - disse ele, intrigado, mas não menos apreensivo.

Paralelo à isso, no parque, Lisbell e o mágico, cujo nome era Dale, chegavam para encontrar o carrossel e decidir qual deles iria para desfazer o feitiço através do paradoxo temporal.

- Sinal de que a barra está limpa? - indagou Dale, visualizando as imediações do parque.

Teria sido pior se comemorasse cedo. Os palhaços surgiram num piscar de olhos com suas risadas asquerosas e posturas desajeitadas. Lisbell manteve o silêncio como forma de rendição.

- Não temos escolha. O Frank tem nossa confiança, não podemos com eles...

- Pelo visto, não se importam com o fato de te-los traído... - disse Dale, com medo - O irônico é que minha magia que ajudou a criar essa dimensão horrível os tornaram mais fortes que eu. Merda!

Na sala de espelhos, Frank não dava brecha fácil para confusões mentais.

- Eu já passei por provações muito mais terríveis que essa, é fichinha pra mim. Não tenho pavor de olhar pra mim mesmo com essa aparência jogando duras verdades na minha cara. Nada mais me causa medo.

- Está errado. - disse o reflexo sombrio - Negando o que sabe você melhor do que ninguém. Continua fugindo da verdade. Quantas pessoas salvou nos últimos meses? Consegue lembrar e contar?

- Olha aqui, vou meter bala nesse espelho, não faço ideia do que é real ou ilusão nessa porcaria! - esbravejou frank, atirando contra o espelho que estilhaçou todo. Porém, o reflexo expandiu para todos os outros - Ah caramba, só melhora. Que diabos de fardo você quer que eu carregue pelo resto da vida? Meus ancestrais não deixaram um documento com cláusula me dizendo como devo ser caçador ou que preciso ser o melhor caçador! Faço o bem sem olhar a quem, respeitando os meus limites! Tá bom assim agora? Me deixa em paz e fala onde fica a saída ou destruo cada um desses espelhos.

- Mesmo que livrando dos espelhos... ainda vou estar dentro de você. Sou a sombra que você rejeita toda noite nos pesadelos. Venha até mim e me aceite. Não disse que perdeu o medo? Eu quero ver.

Frank, num impulso, correu gritando a um espelho aleatório na esperança de atravessa-lo. Mas viu que estava de volta ao parque. Ao menos, ficou satisfeito pela sua dedução confirmada.

- Lisbell? - chamou ele, andando uns passos até topar com escritos no chão feitos a giz de cera que diziam "Vá em frente ao carrossel, mas eles vão morrer hahahah!!!" - Pegaram ela... e ao que indica o bruxo também. Quer saber? Dane-se. Vou picar a mula daqui. - correra ao carrossel e ao subir o mesmo se movimentou sozinho em sentido horário. Retornando ao passado de alguns minutos antes de ter subido pela primeira vez, Frank descera rapidamente e foi ao encontro de sua cópia.

O Frank nº 2 aproximava-se com arma em punho pensando ter ouvido vozes. O espanto foi abrupto.

- Que merda é essa? - perguntou ele, mirando para atirar.

- Não! Não! Calma aí! Não atira. Confia em mim, não sou nenhum tipo de metamorfo ou...

- Foi mal, mas não caio tão fácil nessas atuações de quinta categoria. O que você é?

- Literalmente você. - disse Frank nº 1, aflito - Parece loucura, mas... Não, isso é loucura! Pra não termos um surto juntos, vamos ter ir pro carrossel, é o único jeito da gente acabar com o feitiço.

- Peraí, que feitiço? Vo-você... É uma cópia que viajou no tempo ou algo assim? - fez uma pausa - Qual é a data do meu aniversário?

Frank nº 1 revirou os olhos e grunhiu de impaciência.

- 07 de Maio.

- Geralmente eu não responderia dessa maneira.

- Isso porque eu tô numa fria e você super-tranquilo sem entender absolutamente nada. Muita informação pra ti, mas tem que me acompanhar até o carrossel. Vem, é sério!

Os dois Frank foram ao carrossel e subiram juntos bem próximos.

- Se for armadilha... já sabe né? Esse caso não tem como ficar mais bizarro. - disse Frank nº 2.

- Cala essa boca, outro eu. - reclamou o nº 1 - Pode ligar aí, parceiro. Sentido normal.

Com o giro em sentido horário, o retorno ao mundo real fora concretizado. Ambos caíram como se tivessem sido expulsos do brinquedo. De repente se depararam com o "terceiro" Frank.

- Tem um feitiço... - falaram o nº 1 e o 2 em uníssono. Olharam-se estranho por uns segundos.

- Ai meu deus. - disse Frank nº 3 quase esbugalhando os olhos, congelado de horror - Será que deu treco na minha mente e confundi o uísque que o diretor me deu com o adoçante?

- Bem, como aparentemente não aconteceu nada pra anular o feitiço... - disse o Frank nº 1 aproximando-se do 3 - Talvez a chave de ativação seja... o toque. - pegou no braço da duplicata.

- Tá fazendo o quê? O caso é dos loucos, mas... acho que deu nó na cabeça.

- Sei como se sente. - disse o nº 2 tocando-o no ombro - Aliás, nós três sentimos.

Uma luz refulgiu em toda parte "engolindo" até tudo se reduzir a um branco ofuscante.

Frank acordara deitado no chão do parque tomado por uma leve dor de cabeça que parecia aumentar conforme levantava. Esquadrinhou ao redor. O carrossel estava em chamas, inteiramente destruído. O controlador foi achado morto com sangue escorrendo numa poça.

O celular tocara. Carrie, pela primeira vez no dia, ligava para ficar atualizada com o caso.

- Alô? Fala Carrie. - não tirava os olhos do carrossel incendiado - Olha, tenho que admitir... Depois dessa vou ter que aderir ao modo do diretor em esquecer dias ruins. Foi muito doido. Curiosa é? Acho que vou desenhar porque em palavras não dá muito certo. Já tô voltando. Tchau - desligara.

O detetive virou as costas e saiu andando devagar tocando na cabeça que latejava bastante.

Não muitos metros à distância, Lisbel o observava. Dale vinha atrás dela um pouco desgastado.

- Foi por pouco né? Finalmente lar doce lar. Agora... a oferta paga. Diz aí o que pensou no acordo.

- Eu iria agradecer Frank, mas melhor deixa-lo em paz. - disse Lisbell voltando-se à ele - Ele era a nossa única chance de sairmos vivos. É claro que vou te recompensar por dizer a verdade.

Lisbell abriu sua mão esquerda e o anel mágico de Dale fora arrancado por telecinesia até ela.

- O quê? Lisbell, então você... Me enganou o tempo todo?! - a pele do bruxo ardia fumaçando leve.

- Frank não passou de uma garantia. Depois que encontrei você, imaginei que não precisava matar Frank para eu mesma ter que fazer o trabalho pesado sozinha. - retirou o pedacinho de esmeralda do anel e o jogou - Aqui estou eu vencendo. - sorriu maleficamente. Dale teve o corpo acometido por combustão espontânea como efeito da retirada do anel preservador de magia. Virara cinzas. Lisbell sacou do bolso do casaco um Orb Esmeralda. Encaixou o pedaço ao espaço que faltava - Muito bem... resta só mais um. - disse ela, pensando no quanto ganharia de seus chefes pela diligência.

                                                                                   -x-

N.A: A trama desse capítulo foi moderadamente baseada nas histórias de Nem Tudo É O Que Parece que abordam as anomalias e os bugs da realidade. Porém, não significa que as falhas na Matrix (o universo não é uma Matrix, apenas jeito de expressar) sejam integralmente causadas por influência de feitiços mágicos e rituais, aqui foi apresentado um exemplo de como podem ser criadas sem dependência dos "Error 404" que vez ou outra acontecem espontaneamente. Em suma, as falhas na Matrix da outra série não se originaram por magia. 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://casa.abril.com.br/bem-estar/os-23-parques-de-diversoes-abandonados-mais-medonhos-do-mundo/

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