Frank - O Caçador #29: "O Retorno de Bloody Mary"


2014 - 5 anos antes 

Leah, uma estudante do colegial da Danverous High School, havia recebido a visita de três dos seus melhores amigos naquela noite com uma atividade previamente elaborada, atividade esta que compreendia um risco não levado muito em conta. A anfitriã recebia um auxílio emocional dos companheiros antes de entrar no banheiro e cumprir com o desafio.

- Todas as luzes apagadas? - perguntou Leah, segurando um espelho quadrado e emoldurado.

- Confere. - disse Maycon, um rapaz negro de óculos e um aparente porte de intelectual - Desliguei o medidor.

- Nenhuma frestinha sequer? - indagou Leah, querendo estar certa de que absolutamente tudo estava nos conformes. As outras duas meninas fizeram que não com a cabeça - Muito bem, fizeram um ótimo trabalho. Quanto mais escuro, mais seguro...

- Resta você fazer o seu. - disse July sorrindo sacana - Ou tá achando que ainda é cedo pra arregar?

- Galera... Se eu estivesse no lugar da Leah... - comentou Cindy, temerosa - ... e eu realmente não gostaria de estar... Acho que ficaria tão insegura como ela tá nesse exato momento. Não sei dizer se é mau pressentimento, nunca senti isso na vida...

- Os antecedentes desse espelho pra mim já seriam motivos suficientes pra não corroborar o que supõem as notícias das tragédias nas quais isso tá envolvido. - disse Maycon, unindo-se à Cindy - Às vezes a ignorância é uma benção, uma benção que pode até salvar sua vida.

- Deixa ela. - disse July - Ajoelhou, tem que rezar. E aposta é aposta. Vão mesmo continuar dando crédito pra sensacionalismo barato? Se nada acontecer, pronto, provamos que Bloody Mary é uma farsa.

- A questão não é essa. - retrucou Maycon - A incerteza de ser real ou não estimula a curiosidade. Eu voto "não" pelo ritual.

- Dois votos... - disse Cindy erguendo de leve sua mão - ... contra o ritual. E você, July?

- A favor, lógico. - disse ela, aborrecida - Leah, essa é nossa deixa pra desmentir uma lenda. Tem tudo que precisa, vai, entra.

- Vieram aqui cheios de empolgação pra na hora H me desencorajarem. Valeu hein, que bom não estarem no meu lugar. - disse Leah para os que opuseram. Ela aproximou o espelho ao seu ouvido esquerdo franzindo o cenho - O quê? Ah, acho que estou ouvindo Bloody Mary falar que adoraria ser acordada do seu descanso pelo menos uma vez, ou seja, agora.

Leah entrara no banheiro escuro e trancara a porta com maçaneta redonda. Pendurado o espelho, retirou o pedaço de papel higiênico e usou uma agulha para furar seu dedo indicador e escrever dois nomes: Bloody Mary e Mary Turner. Segurando o papelzinho diante do espelho, proferiu em voz alta:

- Mary Turner, Mary Turner, Mary Turner...

No outro lado, os amigos aguardavam, Maycon e Cindy um tanto atemorizados, embora pacientes. July, por sua vez, não ficou disposta a esperar.

- Aonde vai? - perguntou Cindy.

- Tomar um ar, tá um calor da moléstia aqui. - respondeu ela, andando - Parem de tremer, vai dar tudo certinho. A Leah é forte.

- Claro, nos tranquiliza muito dizer isso... - disse Maycon, inconvicto sobre o otimismo de July.

No banheiro, Leah prosseguia o ritual.

- Mary Turner, Mary Turner, Bloody Mary. Mary Turner, Bloody Mary, Bloody Mary. - expirou pela boca, soltando um vapor frio - Bloody Mary... Bloody Mary... Bloody Mary. - fechou os olhos por uns segundos, mas abriu o direito para conferir - Está aí?

As luzes de repente acenderam. Leah olhou para a lâmpada, chocada, e virou-se para a parede oposta. Uma mulher pálida de cabelos pretos desgrenhados, trajando um suéter branco manchado de sangue e saia marrom até os joelhos, se via parada frente à jovem que gritou estridente. A moça esclareceu seu rosto, dos seus olhos escorrendo sangue puro e esticou sua mão direita até Leah ofensivamente.

- A luz tá acesa! Você não tinha desligado? - perguntou Cindy.

- Sim, mas... Ah, essa não... July. - concluiu Maycon - Vai atrás dela, rápido. - Cindy correu para ver se July estava próxima do medidor enquanto Maycon dava ombradas na porta para arrombar - Leah! - o grito da jovem não cessava e transparecia dor. Maycon balançava a maçaneta desesperadamente - Leah, sai daí! - esbravejou, batendo forte na porta.

Cindy procurava por July pelos cômodos, indo para fora em seguida. A chamou em alto e bom som.

- Ei, o que é isso? Não tô a mil milhas de distância. - disse July aparecendo com um cigarro aceso na mão.

- Sua desgraçada, religou a energia só pra ferrar com a Leah! Por isso inventou desculpa! - acusou Cindy, transtornada.

- Tá louca, garota? Falei que ia tomar um ar por causa do calor e aproveitei pra dar uns tragos enquanto a Leah não terminava. Nem toquei no medidor, eu juro. O que tá pegando lá dentro?

- A Leah começou a gritar, parece que ela olhou nos olhos da Bloody Mary. Você não me convence, tá mentindo, July. Vai dizer que foi coincidência como falou das mortes nas famílias que tinham o espelho? Não vou cair mais nesse papo.

Cindy virou as costas para a amiga na direção à casa.

- Vai fazer o quê? - perguntou July.

- Ligar pra polícia. Faço questão de dar meu depoimento contra você.

- Isso aí, vai em frente, conta pra eles que tentei matar minha melhor amiga usando um fantasma! - rebateu July, afobada.

Maycon desistira de empurrar a porta e andava de um lado para o outro em pura aflição, sobretudo após os gritos de Leah terem cessado. Alguns minutos passaram-se e o rapaz viu um detetive de porte robusto vestindo um sobretudo bege chegar no corredor. Cindy estava do lado de fora olhando torto para July que fumava seu cigarro tranquilamente.

- Ela se trancou no banheiro? - perguntou Frank vendo o desespero estampado no rosto de Maycon.

- Tentamos avisar... Ficamos do lado dela o tempo inteiro, mas nenhum de nós conseguiu faze-la voltar atrás.

Frank deu dois passos para trás e logo chutou a porta com seu pé direito. Deparou-se com o corpo de Leah e seus olhos derretidos em sangue. O detetive reparou no espelho que de instantâneo lhe soou conhecido.

Enquanto os policiais que acompanharam Frank faziam varredura na casa, Frank, do lado de fora, conversava com os três amigos abalados com o fim dantesco de Leah.

- Soube que ela guardava um pote com ácido. - disse July - Tão arrasada com a própria vida que jogou nos próprios olhos, ela sabia que não ia arder igual pimenta. Ela foi corajosa, suportou até seu limite.

- Vão me desculpar, mas essa história de depressão não tá me despertando lógica. Ela parecia ser popular e feliz tendo amigos confiáveis, tendências suicidas não é típico de gente com uma auto-estima elevada, ainda mais sendo jovem.

- Nunca soube de casos de pessoas que aparentavam serem alegres e de bem com a vida acabarem se matando? A depressão é silenciosa. A Leah nunca foi abertamente sincera conosco. - disse Maycon.

Cindy lançou um olhar acusatório para July que não aprovava a mentira para acobertar a causa mortis real.

- Como esse caso tá com mais furos do que espremedor de batata, vou requerer um depoimento sigiloso a ser prestado unicamente a mim. - determinou Frank, desconfiado - Ah, tem mais: O espelho que vi no banheiro... vou mante-lo confiscado até toda a verdade vir à tona. Acreditem, comigo interrogando terão mais liberdade pra detalharem tudo. Tudo mesmo.

Frank se afastou deles para checar as informações. Maycon, July e Cindy entreolhavam-se tensos.

- Parece que vamos ter que encarar alguém que conhece muito bem a Bloody Mary. - disse Maycon.

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CAPÍTULO 29: O RETORNO DE BLOODY MARY

2019 - Dias atuais

Como muito ocasionalmente fazia, Frank tirara uma dia para passar cuidadosamente uma vassourinha de espanar nas proteções de vidro que cobriam alguns objetos sobrenaturais que colecionou ao longo da ocupação, sem esquecer dos mais expostos ao acúmulo de poeira. Baixou a cabeça em furstração ao sentir o celular vibrar no bolso da sua calça - era acostumado a sentir o modo silencioso tocando num bolso do seu sobretudo de trabalho com o qual não estava vestido no momento, mas sim com uma camisa azul claro de mangas. Tinha receio forte com ligações de números desconhecidos.

- Alô?

- É com o Sr. Frank Montgrow que estou falando? - perguntou a voz masculina rouca e misteriosa.

- Não me leva a mal, mas pra mim é mais sensato que você, seja lá quem for, me deixar saber quem é antes de confirmar se ligou mesmo pra pessoa que queria contactar. Tá bom assim?

- Me chamo Lincoln Gallagher, sócio oculto de uma entidade beneficente que está muito interessada nos seus itens decorativos e extraordinários. O único nome que não posso revelar é de quem o indicou.

- Tá falando dos artefatos da minha coleção? Não tô com cabeça pra segredinhos, então melhor confirmar a identidade de quem recomendou que o senhor me telefonasse pra falar do meu museu.

- Ah, um museu?! Como os do Warren. - disse Lincoln, entusiasmado - Nesse caso a disponibilidade é boa. Você é mesmo a pessoa certa.

- Certa pra quê? Vai direto ao X da questão se não quiser que eu desligue na sua cara.

- Quanta falta de confiança, meu caro. Só estou propondo uma ação valorosa que vai recompensa-lo merecidamente. Um homem de negócios como eu nunca dispensa clientes rentáveis. Pode se dispor a um encontro hoje ao meio-dia?

- Entidade beneficente que nem sei o nome... Alguém que provavelmente conheço fez com que o senhor me ligasse... Minhas quinquilharias sob demanda... É bom que não seja cilada das brabas e isso vai depender do lugar que você escolher.

- Um restaurante, o que me diz? Podemos almoçar juntos ao mesmo tempo discutindo sua aliança.

- Pelo jeito requintado que fala, na certa é um coroa ricaço com fama de filantropo.

- A propósito, a pessoa que o indicou é deveras próxima. De você, obviamente. Foi uma dica e tanto, não acha?

- Já até imagino quem seja. - disse Frank, estreitando os olhos ao pensar nas duas únicas pessoas que sabiam do seu pequeno museu sobrenatural - OK, Lincoln, fechado. Meu acervo tá aberto a negociação. Onde eu te encontro?

                                                                              ***

O restaurante selecionado por Lincoln tinha uma estrutura externa e interna bem modesta. Frank entrou no estabelecimento procurando o negociante com os olhos rápidos. Lembrou da descrição que Lincoln fizera de si mesmo, enfatizando seu cabelo branco como a neve penteado para trás. Frank torceu para que fosse o homem de paletó preto que trazia uma bengala mais semelhante a um cetro. Tocou no ombro dele arriscadamente. Lincoln virou o rosto com um sorriso amigável.

- Aí está você. - disse antes que Frank perguntasse - Vamos, sente-se. É um prazer conhece-lo.

- Considerando que ainda tô meio com o pé atrás sobre a tal proposta recompensadora, é bom que não tenha esperado eu falar "o prazer é todo meu". - disse o detetive, sentando-se diante do enricado.

- Não vai dar uma olhada no cardápio?

- Sei que o rango vai pela sua conta, mas eu tô bem, minha fome é mais por respostas do que por comida. O senhor quer meus artefatos para o quê exatamente? Ficou bem estranho ter se referido à isso falando numa entidade beneficente.

- Sim, de fato pareceu bastante desconexo e sem sentido. A verdade é que seus itens podem ser de enorme ajuda ao leilão que estou organizando junto aos demais sócios. A arrecadação será vertida para a associação de necessitados que eu gerencio. Posso lhe dar uma concessão de exclusividade. Em outras palavras, depositar parte do lucro à sua conta corrente.

- Desculpa, não posso compartilhar algo tão pessoal num negócio que nem sei direito se devo confiar.

- Mas deve, Frank. - disse Lincoln com veemência - Bem, uma pequena alteração pra deixar seu julgamento mais flexível: O item mais valioso que for arrematado é o que terá montante destinado à sua conta.

- Bem melhor. - disse Frank, arqueando as sobrancelhas - Seria bom me dar um endereço, posso criar tipo um catálogo e mostrar uma parte dos objetos que coletei durante à minha carreira profissional.

- E do que sei em relação à essa carreira... foi bem mais produtivo do que posso imaginar. Temos um trato?

- Feito. - disse Frank, assentindo, porém sério. Lincoln entregou seu cartão de visita.

- O leilão ocorrerá hoje á noite. Sua presença é mais do que indispensável, Frank. - disse o influente e persuasivo homem. Frank não sabia que dúvida tirar primeiro: as associações misteriosas de Lincoln ou a pessoa que lhe indicou à ele.

                                                                                ***

No retorno para casa, Frank dirigia enquanto falava com Carrie ao celular.

- Peraí, desconfiou que eu tivesse fornecido uma informação confidencial pra um grã-fino que é dono de uma instituição de caridade?! - disse a assistente num misto de incredulidade e indignação - Quem dera eu fosse próxima dessa gente.

- Relaxa, foi suspeita momentânea, tirei logo da cabeça a ideia de você dar com a língua nos dentes pra falar da minha coleção e principalmente que sou um caçador de paranormalidades. Então sobra apenas um suspeito... o culpado, aliás.

- Um certo diretor da maior agência policial da cidade e atualmente candidato à prefeito cujo nome começa com Ernest e termina com Duvemport. - disse Carrie, não tendo dúvidas. Ernest inesperadamente entrava na sala - Falando no diabo...

- O que foi? Ele tá aí? - indagou Frank, curioso.

Carrie tapou o aparelho para falar com Ernest que estranhava.

- É o Frank. Finalmente pode colocar a conversa em dia após um bom tempo sem se falarem.

- Eu enviei mensagens pra ele avisando que em breve farei uma visita pra tratarmos da audiência com o CDS. - disse Ernest - Me passa o telefone, vou dar uma prévia do meu pedido de desculpas pelo péssimo exemplo de amigo que fui.

A assistente entregou o celular ao chefe operacional do DPDC.

- Frank, aqui é o Ernest, seu bom e velho amigo do peito que não fez descaso da sua situação.

- Diretor, agora não é hora de discutir esse assunto e nem tô afim. Quero saber como, onde e porque se aproximou de Lincoln Gallagher. O velhote cheio da grana que me propôs abrir mão de alguns objetos do meu museu por um leilão beneficente.

- Contar pessoalmente não será tão difícil quanto por telefone. Vou saindo daqui direto pra sua casa.

- É pra lá que eu vou, tô voltando do restaurante onde o Lincoln marcou da gente se encontrar. Ter falado dos artefatos, tudo bem. Mas revelar que sou caçador? Ele não ganhou 100% da confiança, portanto é uma mancada das grandes até que eu seja contrariado e acredite na generosidade que ele diz ser o seu norte moral, como ele me disse naquele sotaque chique.

- Frank, aguente firme, não vou encobrir nada. Aliás, não o fiz conhece-lo por mal, eu garanto à você honestamente.

- O leilão é hoje à noite, mas pode vir no finalzinho da tarde, ainda dá tempo de ir até a mansão do Lincoln apresentar uma lista dos objetos. O senhor deve estar tão ocupado que não pode nem abandonar sua sala por mais que cinco minutos.

- Acertado então. Nos vemos mais tarde. - disse Ernest, logo desligando e em seguida devolvendo o celular à Carrie que o fitou de modo recriminante - Por que me olha desse jeito? Estou prestes a ser perdoado pela minha negligência.

- Não é isso que tá me incomodando, afinal você tem boas razões pra explicar a falta de contato com o Frank ultimamente. Sua campanha, por exemplo. Se ele concordou em chama-lo pra conversar, não é porque está chateado com a sua distância e sim com essa história cabeluda que você o colocou. O que tá rolando de verdade? Essa sua amizade repentina com o tal Lincoln não foi obra do acaso nem tampouco sorte. - Carrie levantou-se, impondo uma pressão ao chefe - É furada, não é?

- Sim e não. - respondeu Ernest, nervoso - O Frank está livre de riscos fatais, mas há pessoas conhecidas dos amigos de Lincoln que não terão a mesma sorte. É por isso que colocar minha segurança em cheque revelando tudo que sei é algo que deve ser feito no presencial. Mas vendo a maneira que está me encarando, não tenho outra escolha senão satisfazer sua curiosidade patológica e lidar com a possibilidade de você entregar de antemão ao Frank.

- Eu não estava querendo saber antes do Frank, mas já que deu a ideia... - disse Carrie, sorrindo - Estou ouvindo.

                                                                           ***

À tarde, na mansão de Lincoln, Frank mostrava as fotos dos artefatos que tirara através do celular. O ricaço passava cada imagem tocando na tela sentado à sua mesa de escritório. Frank observava a organização da sala com paredes cor creme, nada parecendo fora do lugar. Lincoln de repente se empertigou ao ver algo que apontava com certa euforia.

- Isto daqui, veja. - disse ele, pedindo para Frank aproximar-se e olhar a foto. Um dos seguranças truculentos e com bastante gelo no cabelo não o olhava amigavelmente - Este espelho no canto...

- Ah, esse é um espelho que adquiri de um leilão. De início, ele foi confiscado pela polícia, mas depois encaminhado pra um antiquário que leiloou algumas peças, dentre elas o espelho.

- Quanto desembolsou por ele? - indagou Lincoln, não tirando os olhos da foto.

Frank pensava procurando na memória.

- Uma bagatela de 3 mil dólares. Um gasto bem alto pra assegurar que ninguém mais pudesse sofrer consequências de ter esse espelho em casa sabendo de como reza a lenda macabra que espalharam sobre ele. Já ouviu falar na Bloody Mary?

- S-sim... Inclusive, eu reconheci a moldura exatamente por lembrar do caso da pobre garota morta no banheiro da escola... no qual este espelho foi achado com manchas de sangue. Foi em 1976, a juventude problemática daquela época...

- Ahn... Impressão minha ou o senhor perdeu o interesse no medalhão? Tem certeza que quer trocar pelo espelho?

- A mais absoluta certeza de todas. - disse Lincoln, formando um sorriso de contentamento - Meus subordinados irão segui-lo para pegar os materiais selecionados. Desde já, é uma honra fazer negócio com você, Frank. - estendeu a mão ao detetive.

- Fico honrado também. - disse Frank, apertando a mão dele, embora relutante quanto ao espelho novamente sob oferta.

                                                                              ***

O relógio marcava quinze para as sete e Frank ainda se aprontava no banheiro terminando de fazer a barba. Lavou o rosto com a água da pia, mas ao erguer a cabeça para olhar-se no espelho notara que no seu ombro direito não havia a marca sagrada e o tocou suavemente, franzindo o cenho intrigado.

"Como foi que sumiu assim de uma hora pra outra?", se questionou ele, achando-se desatento por não ter percebido horas mais cedo. Ouviu a campainha tocar e pegou rápido seu roupão de banho para ir atender.

- Diretor... - disse ele, após abrir a porta - Tinha esquecido dessa cara que exalava toda a autoridade respeitável do DPDC.

- E a sua pelo visto parece bumbum de bebê. - disse Ernest, apontando a barba feita - Se preparando para o evento milionário?

- Não sou de desfeita. - disse Frank, deixando-o entrar - É capaz dele não me pagar a bufunfa pelos que comprarem as minhas peças. Tô me sentindo meio pressionado, o velhote tem um poder de fazer você dizer sim pra tudo que ele propor.

- Se eu fosse você, não iria pelo dinheiro, mas sim para averiguar. - disse Ernest, sentando-se no sofá maior - Acredite, vai me agradecer se pensar menos no prêmio de consolação que ele pode dar.

- O senhor prometeu colocar em pratos limpos na minha frente e tô ouvindo com atenção máxima. - disse Frank, mantendo-se de pé - Há um motivo especial pro Lincoln querer peças da minha coleção no leilão dele?

- Lincoln tem um poder que vai além de sentidos humanos e certamente você já foi testemunha. Pra começar do início de fato, recebi a desprazível visita do seu mais novo inimigo da pesada...

- Espera, tá falando do Malvus?! Ele veio na sua casa dizer o quê? Eu sabia que tinha coelho nesse mato, só não esperava que fosse... esse "coelho". O dedo podre do Malvus metido nisso é um agravante que deixa tudo mais sinistro.

- Eu tentei afrontar, me impor, mas toda a coragem que eu teria pra arriscar a vida da minha família por um simples "não" como resposta ficou atrás do medo que se apossou de mim. É esse bastardo que encabeça o plano para favorecer a causa pessoal de Lincoln. - disse Ernest, angustiado - Fui ameaçado se não falasse de você e da sua coletânea de objetos incríveis.

- Se bem que o Lincoln viu uma foto da lâmina sacerdotal... - disse Frank, conectando os pontos - Matei a charada: O Malvus arquitetou isso pra me fazer perder a espada, a única arma pra matar demônios, e por coincidência, ou não, a marca sagrada no meu ombro sumiu... ahn, o senhor não sabia disso, claro, mas é uma história longa, fica pra depois.

- Você não pode reaver mais nada se já cedeu os direitos. Uma vez que tente sabotar o leilão, Lincoln te transforma em poeira. Ele é patriarca de uma família de bruxos ocultistas que jurou vingança à uma facção cujos membros estarão lá.

- Minha ideia não é sabotar, quero acompanhar de perto, mas como convidado sem levantar suspeitas de que compareci pra fazer papel de detetive. Na minha teoria, Malvus tá desesperado por alguma razão e vai aproveitar que não tenho mais a lâmina e a marca pra mandar demônios me atacarem.

- O foco aqui é Lincoln e sua estratégia vingativa que Malvus sabe muito bem porque se justifica. - disse Ernest, olhando fixamente para Frank - Não deu o espelho que abrigava o espírito da garota sangrenta né?

- O espelho da Bloody Mary... Eu tirei a foto de um medalhão asteca e do ladinho estava o espelho, daí ele viu, ficou deslumbrando e resolveu trocar. Senti uma obsessão estranha vinda dele. Por que o espelho maldito vale tanto?

Ernest baixou a cabeça silencioso, procurando as palavras certas para afirmar.

- Vai acontecer uma tragédia, Frank. Se puder, impeça. Salve quantas vidas for possível.

Frank decifrou o sentido oculto da mensagem e foi tomado por uma força impulsionante de urgência.

- Melhor apressar o passo. - disse Frank, indo até as escadas - Os lances começam às oito, tenho que estar lá meia hora antes, no mínimo.

- Vamos no meu carro ou no seu? - indagou Ernest.

- No meu carro, mas eu sozinho. O envolvimento do senhor acabou. Não vou deixar quebrarem aquele espelho.

                                                                              ***

O leiloeiro batera o martelo para o lance final do espelho de Bloody Mary. O comprador, um senhor de idade que aparenta boa experiência com a vida, comemorava seu gasto de 320 mil em meio á aplausos calorosos.

Mas ninguém estava pronto para o súbito apagão na ampla sala do evento, sobrando a luz natural da lua atravessando as janelas. Os aplausos pararam no mesmo instante, dando lugar à vozes alteradas e aflitas dos convidados levados pelo instinto de autopreservação. Uma figura sombria e esguia adentrava no salão portando um machado de combate à incêndio, passando por entre as mesas e ganhando todos os olhares atônitos. O homem inteiramente vestido de preto e usando uma máscara nos olhos ia em direção ao espelho posto numa cadeira e sacara uma arma disparando na cabeça do leiloeiro que caiu com buraco vermelho no meio da testa. Da plateia se ouviram gritos e arquejos de pânico.

O intruso logo subiu ao palco, pegando o espelho para coloca-lo no chão e por fim dando fortes machadadas que despedaçavam o vidro. As portas fecharam-se de repente quando todos se dirigiam para sair correndo. Foram surpreendidos com a aparição igualmente repentina de uma descabelada moça de suéter branco e saia até o joelho que logo mostrou seu rosto pálido e furioso de cima do palco. Sangue grosso escorria pelos olhos fundos de Bloody Mary que emitiu um grito estridente de raiva, quebrando várias taças e torturando os tímpanos dos convidados encurralados.

Frank chegara à mansão e ignorou os seguranças particulares de Lincoln que trataram de barrar sua entrada agarrando-o pelos braços. O detetive se livrou das mãos pesadas que o seguravam agressivamente.

- O quê que é? Não estão me reconhecendo? Frank Montgrow, lembram? Eu preciso entrar imediatamente!

- Sem exibível, é apenas um penetra. - disse um segurança. Frank mostrara, mas isto não os satisfez.

- Continuam aí com essas caras amarradas?! Sou convidado de honra, doei objetos pro leilão, o Sr. Lincoln Gallagher reservou uma mesa especialmente pra mim e tenho passagem oficial. Qual o problema?

- Não está vestido à ocasião. - retrucou o outro. O detetive viera com suas vestes habituais: camisa branca de mangas longas por baixo do sobretudo de trabalho - Queira se retirar, por favor. Volte quando estiver em roupas adequadas.

- Olha, escutem bem, eu não queria ficar argumentando com vocês, mas tô aqui por uma questão de vida ou morte. Tem gente correndo perigo lá dentro! - disse Frank, estourando a paciência - Não arredo o pé daqui sem encontrar o Lincoln.

Os seguranças tiveram seus pescoços quebrados e caíram. Frank, estupefato, virou o rosto para a sua direita e não acreditava na pessoa que aproximava-se pisando no gramado.

- Clancy!? - disse ele olhando o líder da facção de bruxos com terno marrom e sorriso debochado - Resolveu aparecer justo aqui? Por acaso sabia de alguma coisa? Fala de uma vez ou juro que estouro seus miolos.

- Retaliar contra o bruxo que acabou de salvar sua pele?! Vocês caçadores sempre nessa mania primitiva. Mais diálogo e menos balas, por favor. - disse Clancy, andando para entrar na mansão - Venha comigo, embora tenha chegado tarde demais.

Frank o seguiu pela mansão com intensas suspeitas contra ele.

- Sabia o tempo todo o que o Lincoln planejava? O leilão foi só um pretexto pra uma vingança. E por que você tá aqui?

- Vim para salvar meus companheiros, mas acabo de perder a conexão, não sinto mais a energia deles fluindo nesse maldito plano terreno. Em outras palavras, libertaram o fantasma assassino. Nós dois falhamos.

- Então você é associado à facção inimiga do Lincoln. O que fizeram pra eles precisarem colocar em risco a vida de inocentes, pessoas que nada tem a ver com a rusga de bruxaria entre vocês?

A dupla entrava no salão que se encontrava repleto de corpos. Frank reparou no espelho danificado.

- Essa não, o espelho... O Lincoln foi um tremendo desgraçado, não se importou com quem não precisava pagar pelo que quer o grupinho que você comanda tenha feito. - disse Frank, revoltado.

- Encare esse fato, Frank. Pra fugirmos disso, teremos que selar um acordo... - disse Clancy - Esses caras da Index não dormem no serviço.

- Bom saber que eles tem um nome bem sugestivo. - disse Frank - E sua facção? Anônima?

- Arautos de Merlin. Bruxos também seguem um legado. Por que acha que cooptei demônios que se desvincularam da Index por livre e espontânea vontade em prol de um plano maior, melhor e vantajoso? Malvus deveria estar orgulhoso, mas...

Bloody Mary aparecera interrompendo-o e atacara Frank o empurrando contra mesas. Clancy correu para uma direção aleatória e visualizou uma saída. Frank disparou em Bloody Mary com seu rifle a repelindo e saíra atrás do bruxo. Ao chegar num corredor, Clancy diminuiu o ritmo, mas uma bala lhe acertara na barriga. Uma bala apropriada para liquidar com bruxos.

Frank o viu caído e atirara contra o bruxo da Index que usou uma mágica de desaparecimento.

- Eles tem balas anti-bruxo também, pelo que dá pra ver...

- O que está fazendo? Vamos Frank, me largue aqui ou me chute, me espanque, faça justiça pelo que fiz à você e à essa cidade! - disse Clancy, sofrendo com a dor. O detetive o fitava indeciso, mas logo pensou com frieza e sensatez.

- Todo o ódio que eu senti por você... não vou descontar te vendo nessa situação. Sou melhor do que isso. - disse Frank, tomando a atitude de levanta-lo e carrega-lo com o braço dele sobre sua nuca.

                                                                                      ***

O detetive avistou um quarto com a porta entreaberta e resolveu entrar trazendo o pesado corpo de Clancy que pressionava a ferida transbordando de sangue. Frank fechara a porta, em seguida deixando Clancy sobre uma cadeira. Tirou um vidrinho de sal grosso do bolso e derramou na soleira da porta fazendo uma linha de impedimento contra Bloody Mary.

- Frank... - disse Clancy, debilitado - O melhor que pode fazer por mim e por si mesmo... é fugir daqui, não quer estragar seu legado morrendo nas mãos desses patifes... ou de um reles fantasma.

- Nem nas últimas você deixa de lado esse orgulho de bruxo né? Reles fantasma o escambau, ela é forte, pode derreter seus olhos em sangue fresco só com um olhar, como já aconteceu com a última pessoa que se apropriou do espelho e fez o ritual para invoca-la. Mas uma coisa que não entendo é a fixação do Lincoln pelo espelho pra matar os inimigos justo nessa circunstância. Por que Bloody Mary? Eu doei um livro trancado que aprisiona uma entidade comedora de almas, falei pra ele.

- Não pergunte pra mim, as intenções pessoais dele não me dizem respeito. Eu não fui convidado... por que se tornou de conhecimento geral que estava morto dado o meu sumiço depois que Malvus me defenestrou do seu clubinho do inferno.

- Parece que ele adora fazer dos seus aliados de fantoche pra jogar fora que nem lixo. - disse Frank, sentindo uma certa piedade ao vê-lo naquele estado - Isso aí foi uma bala anti-bruxo, não é?

O líder bruxo retirou o projétil dolorosamente e mostrara à Frank que percebeu o símbolo talhado na ponta.

- Fuja, Frank, é a última vez que peço. - disse Clancy, respirando com dificuldade, o efeito da bala se agravando.

- Não vou te perdoar nunca pelo que fez com o Cober, com as almas enfeitiçadas, o seu joguinho chantagista que me afastou da cidade e custou meu emprego, aquele circo dos horrores todo, mas você tá agonizando e não sou de largar um moribundo pra trás mesmo um grande filho da mãe como você. Então se quer provar arrependimento, sua única chance é agora.

- Se minha vida importa... então fique para mante-los ocupados enquanto esgoto as sobras das minhas forças para um feitiço inquebrável... vai limitar o espaço do fantasma nessa mansão... e vou destruí-la com uma mágica de pulverização que afeta almas independente de serem boas ou más. Prometa que irá escapar a tempo. Pare de sentir pena e prometa, caçador idiota!

Frank entendia perfeitamente o significado daquela declaração lamentosa.

- Está bem, se esse for o jeito mais fácil de acabar com tudo. Como fará esse feitiço nessas condições?

- Apenas me deite no chão... e saia. O meu sangue é importante. - disse Clancy, os lábios empalidecendo.

Assim que deitara Clancy de barriga para cima no piso do quarto luxuoso, Frank acelerou o ritmo dos passos, com o rifle carregado, pelo corredor escuro esperando por um bote de Bloody Mary. Viu outro quarto à sua direita com a porta escancarada e a chutou de leve para abri-la mais. Apontou o rifle para direções aleatórias, o dedo no gatilho pronto para qualquer ataque. A porta fechara, o que certamente não foi uma corrente de vento forte.

Lincoln e dois asseclas seus apareceram magicamente.

- Eu senti que não estava sozinho, ainda mais lembrando que seus bruxinhos de estimação ficam invisíveis. - disse Frank.

- Os meus seguranças estão mortos, mas não o acuso de ser responsável. - disse Lincoln, intimidador - Quebraram seus pescoços. Confirmei todos os nomes dos Arautos de Merlin na lista e todos estão lá, mortos e estripados.

- Provavelmente ele trouxe alguém impertinente. - especulou um dos bruxos mascarados - Ele não passaria vestido assim.

- Tem razão, eles me barraram, dei a desculpa de que o cachorro rasgou o terno e eles acreditaram. Ponto pra mim. Agora dá licença, Lincoln, que eu quero meter bala nos seus empregados e dessa vez não vai ter truque que me faça errar.

- Amarrem ele. - ordenou Lincoln, frio. Os dois bruxos esticaram seus braços com as mãos abertas e empurraram Frank com telecinesia derrubando-o de modo que o prendesse ao chão - Eu não incluí aquele espelho no leilão à toa, Frank.

- Disso eu sei bem. - falou Frank, não sentindo nenhum milímetro do seu corpo poder se mover - O que você e a Bloody Mary tem em comum pra você escolher logo ela pra sua vingança? Um livro com uma entidade mais poderosa e você não aceitou.

- O que teria feito se eu aceitasse e tivessem o aberto com magia ao invés de adicionar o espelho à nossa tabela? - questionou Lincoln.

- Faria qualquer coisa pra obstruir com o plano matador de vocês. - retrucou Frank - Ficou ressentido com a debandada dos seus cãezinhos de olhos pretos e quis mexer no time que tava ganhando.

- Não exatamente por essa razão, esse não foi o estopim fatídico. - disse Lincoln, pronto para esclarecer, rodeando Frank deitado sem se mexer - Dick Hellstrom era filho de um influente bruxo dos Arautos de Merlin e aluno da mesma escola onde Mary Turner cursava o último ano do colegial e que a molestou e mutilou deliberadamente. Minha querida Mary partiu em dor.

- Querida Mary? Não vai me dizer que... É parente sua?

- Minha neta. - respondeu Lincoln, pesaroso - O estuprador não flertou com ela por acaso, ele foi aliciado por terceiros. Eu sabia pela minha filha que Mary tinha problemas em lidar com sua natureza fechada e introspectiva, o que sempre a tornava um alvo fácil de insultos, fofocas, brincadeiras de péssimo gosto... Posso dizer com convicção que aqueles degradados estiveram por trás usando meninas que perseguiam Mary com a promessa de recompensarem o trabalho sujo e fazer parecer que eles não foram as mentes perversas que alvejaram ela para me atingir emocionalmente.

- Os baba-ovos do Merlin são mentes perversas. E vocês, do Index, são o quê? Usou sua própria neta pra uma vingança egoísta, larga de hipocrisia velho sangue de barata! - repreendeu Frank querendo reaver os movimentos para socar Lincoln.

Mary surgira na sala, pegando os bruxos do Index despreparados.

- Ela não devia estar aqui. - disse Lincoln, estupefato - O feitiço se desfez antes da duração?

- Ainda devíamos estar invisíveis pra ela, senhor. - disse um dos bruxos, recuando.

O espírito avançou contra eles velozmente, rasgando suas gargantas com golpes de mão preciso. Frank aproveitou a deixa para finalmente recuperar a mobilidade e se levantar para acender a luz, o que vulnerabilizou Lincoln encarando sua neta diretamente nos olhos pela emoção de reencontra-la.

- Não... Tenha piedade, ainda sou seu avô. - disse o bruxo com as mãos levemente erguidas. Mas os olhos de Mary desaguarem em sangue pelo seu rosto decrépito fazendo os olhos de Lincoln lacrimejarem vermelho numa profusão absurda. Frank abria a porta, assistindo o bruxo sofrer ardorosamente, parecia que nem mesmo Mary o perdoava de usa-la como instrumento. Lincoln ajoelhou-se, gritando de dor pelos seus olhos que reduziam-se em sangue puro.

Ao terminar de punir o avô, Mary desviou o olhar para Frank que logo tratou de fugir correndo. O detetive felizmente havia pegado seu rifle de volta. Bloody Mary surgia à sua frente cerrando os dentes. Com a vantagem de não ter muita luz, Frank atirou nela visualizando-a bem. Após repeli-la, correu para a saída da mansão. Na suíte de luxo, o sangue de Clancy traçava-se em duas linhas que seguiam por baixo das paredes para delimitar o território. O bruxo usou sua derradeira energia para recitar o encanto que incendiou as linhas de sangue das pontas para chegar até o núcleo, ou seja, seu corpo no qual estava desenhado um pentagrama  invertido com o sangue. Frank agilizou, dando olhadelas para trás vendo se Bloody Mary o alcançava, mas conseguira sair da mansão bem a tempo do fogo chegar à Clancy e explodir seu corpo e todo o lugar.

O fogo da explosão vinha na direção de Bloody Mary que gritou urrante, as chamas avassaladoras destruindo-a. Frank assistia a mansão se estourar em nuvens altas de fogo e fumaça, reconhecendo o sacrifício sincero e expiativo de Clancy.

                                                                                  ***

Frank fizera uma parada na taverna em que costumava tomar umas saideiras com Ernest. Sentou-se no balcão, um tanto abatido, e chamou o barman com estalares de dedos. Mas antes que pedisse a bebida que descesse mais quente disponível, Ernest chegava sentando-se ao lado de Frank e fez o pedido como se tivesse adivinhado o pensamento do detetive.

- Por minha conta. - disse Ernest, empurrando o copo cheio que deslizou no balcão até parar na mão de Frank - Como nos velhos tempos.

- É bom ter um amigo que sabe exatamente do que você mais precisa num momento de dureza. - disse Frank, dando um gole.

- Nada me satisfaz tanto agora do que ver você inteiro e sobrevivente de mais uma missão impossível. - disse Ernest, puxando a cadeira para se aproximar de Frank - Vou te dar a liberdade de me poupar dos detalhes.

- Não, eu faço questão, pelo menos pra resumir: A sangrenta era neta do Lincoln, o estupro dela foi premeditado por sugestão de meninas malvadas com silêncio comprado pelos membros da facção rival. Um ex-integrante dela apareceu hoje e me deu uma ajudinha.

- Conseguiu o auxílio de um bruxo inimigo da gangue do Lincoln? - indagou Ernest, cético.

- O nome dele é Clancy. - disse Frank, dando mais um gole - O mesmo bruxo que foi responsável pelo caos que assolou a cidade há mais de três meses. Por causa dele que tive de escolher entre eu e a cidade, pois o feitiço que mantinha os fantasmas no controle dele só podia ser quebrado caso uma alma pura passasse umas férias num inferno onde a noite nunca tem fim. O senhor deve estar imaginando e entendendo. Foi por conta dessa decisão de herói que desapareci.

- Mas você foi um herói. - disse Ernest - Ainda é, apesar do Fred ser um investigador promissor da sua área, essa área em que tão poucos estão encorajados a suar e sangrar ou morrer. Sabe Frank... Na hipótese de eu ser eleito, tenho uma ideia.

- Quando o senhor fala em ideias já fico meio nervoso. Mas... manda aí. O que vai fazer, futuro provável prefeito de Danverous City?

- Estive pensando... em torna-lo meu sucessor. Não surta comigo, estou falando seríssimo.

- É a ideia mais descabida que já ouvi alguém sugerir na minha vida. Melhor encher o copo e não levar esse assunto pra frente.

- Ótimo, vamos brindar. - disse Ernest, pegando seu copo - À amizade. - tocou seu copo ao de Frank num brinde singelo.

Frank obviamente não percebia, mas estava sob certa vigilância á poucos metros, mais especificamente da grande janela da taverna. Adrael, com vestes humanas, observava-os tranquilo e mergulhou em pensamentos lembrando-se de quando na noite anterior pousou sua mão no ombro direito de Frank para remover a marca sagrada enquanto ele dormia.

                                                                                -x- 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://ladyarouche.wordpress.com/2013/04/16/espelho-gotas-de-sangue-e-um-chao-vivo/

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