Crítica - Às Cegas


A esperança é a última que sobrevive.

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.

Antes de mais nada, digo que optei pelo título alternativo em português em razão do sentido geral que ele fornece ao conjunto da história (porque lidar com essa "calmaria" pós-apocalíptica obrigatoriamente vendado é literalmente viver à cegas, como se a visão, o mais essencial dos cinco sentidos na minha opinião, tivesse sido mais do que privada e sim roubada) ao invés de Caixa de Pássaros que tem associação direta ao fato das aves manifestarem inquietação quando os monstros invisíveis estão próximos, logo esse é um título meio parcial e uma vez olhando para a sinopse pode parecer desconexo com a trama (ou emitir uma ideia de que a caixa de pássaros é apenas um "símbolo" interpretativo que não vai ser trabalhado e o filme traz à tona o contrário). É a primeira produção-modinha da Netflix aqui resenhada (o Shit Note não conta, aquilo foi um fracasso retumbante - que vai ganhar sequência! x_x) e não estranhe ou ache ruim eu falar que é modinha... porque é mesmo (Vingadores: Guerra Infinita, querendo ou não, é elevado a esse pedestal e produções da Netflix como Stranger Things e La Casa de Papel também não ficam de fora dessa linha) e honestamente minha posição sobre ele não pode ser definida com base nessa opinião, ou seja, não posso ser tachado hater por tachar um filme que está na boca do povo como modinha, não se trata de uma reclamação/crítica e sim uma constatação. Já enrolei demais, bora lá.

O filme centra seu enredo não-linear numa mãe (meio irresponsável, meio super-protetora) chamada Malorie (Sandra Bullock imergindo pesadamente na personagem, gostei de ver, passou aquela confiança e além disso autenticidade na incorporação da figura - mantendo uma nítida beleza jovial aos 54 anos que você não sabe se vem dos produtos Ivone ou de uma plástica) que se encarrega de manter vivas duas crianças pequenas, uma delas o seu filho, tido há 5 anos (época do início da caótica onda de suicídios), o qual ela chama apenas de Garoto, e a outra é uma menina que ela adotou de Lydia (morta pela indução suicida), outra gestante moradora da casa onde se instalou para sobreviver com outras pessoas, e que também não possui nome (se Malorie não quis nomear nem o próprio filho, que dirá a cria dos outros?). Mas vamos chama-los de Tom e Olympia, pois a mulher teve um lampejo de consciência aos 45 do segundo tempo (leia-se: na cena final) para dar esse direito básico às duas indefesas e inocentes crianças. O longa alterna com muita eficácia as duas frentes narrativas de passado e presente para no terço final cruzarem-se e a partir daí engatilhar para os desdobramentos finais. Percebe-se uma organização consistida no pandemônio anterior à "tranquilidade", a tempestade que precede a bonança, mas uma bonança com riscos independentemente de todo o preparo dos personagens para driblar as criaturas espalhadas feito moscas por toda a parte (quase sempre no lado de fora). Olhou pra uma delas, já era, é caixão e vela preta. Em meio ao caos, Malorie testemunha a morte de sua irmã Jessica (Sarah Paulson) que se pôs na estrada para um caminhão vir atropela-la, logo em seguida salvando-se na casa juntamente a estranhos e um desses estranhos desaprova a ideia de receber outros estranhos no abrigo e estou falando do, a princípio problemático, personagem de John Malkovich (Douglas). Evidente que todos vão morrer, exceto Malorie e suas criancinhas (que até demoraram pra desobedecer a mamãe e quase são fisgadas pela coisa) que estão lá remando num rio até o local seguro de acordo com a pessoa na chamada pelo rádio.

O estímulo à dúvida se faz o grande trunfo do filme. Não se sabe em quem confiar e muito menos o que são as tais criaturas mortíferas - as únicas provas dadas pelo enredo de que elas estão lá não passa de um recurso limitado na forma de folhas flutuando e vultos rápidos, mas não adianta culpar baixo orçamento visto que a invisibilidade das criaturas é intrínseca à proposta e não tem como fugir disso restando utilizar poucas maneiras de convencer o espectador de que o perigo é iminente. Já quanto às interações dos personagens, a união é o caminho inevitável e que deve permanecer acima de qualquer desconfiança. Porém, a harmonia dura pouco com a chegada de Gary (Tom Hollander), homem a quem Lydia, a única com fé na humanidade naquela casa (que naquela circunstância pode ser interpretada como inocência imprudente), concedeu estadia, para o desespero de Douglas que já estava perturbado antes durante e depois da morte de Charlie (o mártir do grupo). Eis que o hóspede não era mesmo peça boa (como se não bastasse também a fuga cabulosa de dois membros - é bom que tenham se ferrado) e não tarda para o filho de uma meretriz trair a galera desfazendo toda a proteção nas janelas para que todos vejam o quão belos são os turistas (de sabe-se lá onde) que só querem ser notados. A construção do ambiente tenso é uniforme de modo que não seja possível desprender a atenção, por mais que a coisa pareça um marasmo, é o suspense que comanda e direciona os acontecimentos - realmente nisso o filme ganha muitos pontos. E que viés filosófico é esse que não captei? Simplesmente não peguei nenhum subtexto reflexivo. Há quem diga ser uma metáfora para a depressão (oi??). A perspectiva que tomei é de um filme que soube executar dois dos seus maiores alicerces para melhor proporcionar à experiência. Não tem nada implícito que suscite ou justifique discussão a respeito dos temas levantados pelas teorias, é apenas um pós-apocalipse que desperta questões unicamente referentes à trama por trás dos monstros, mas respeito as interpretações de qualquer tipo, todo mundo é livre para faze-las. Serão alienígenas, demônios, fantasmas ou uma nova espécie de pokémon? Explicar pra quê, afinal? Deixa assim que tem mais graça.

Considerações finais:

Às Cegas (vulgo Bird Box, no original) tem boa elaboração na sua totalidade, mas claro que não escapa de alguns pontos que mereciam justificações (como a doutora lá do pré-natal sobreviveu à infestação a ponto de reencontrar Malorie no Santuário?). A tensão levada às alturas mostra que o suspense teve mão cheia na escrita. Não é ame ou odeie, mas também não é pra racionalizar tanto né?

PS1: Os desenhos do Gary com diversas aparências imaginárias das criaturas deixam a curiosidade nervosa.

PS2: Os monstros afetam somente humanos, certo? Não lembro de ver sequer cães em nenhum dos atos.

PS3: Esqueci de falar do Tom, namorado de Malorie, o segundo mártir da equipe. Na divergência com a Malorie sobre a historinha que ele contava pras crianças que ela interrompeu, eu fiquei do lado dele. As crianças precisam crescer, sonhar, imaginar, se surpreenderem, se decepcionarem para no futuro lidarem com os infernos da vida como qualquer pessoa.

PS4: Vejo uma jornada de sobrevivência da humanidade para evitar a auto-exterminação, pronto e acabou.

NOTA: 8,0 - BOM

Veria de novo? Sim. 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://jovemnerd.com.br/wp-content/uploads/2019/01/bird-box-cena-trem-760x428.jpg

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