Crítica - AXL: O Cão Robô
O " melhor amigo" do homem com ambições nefastas.
AVISO: A crítica contém SPOILERS.
O design do personagem-título é um chamariz ideal para quem possui um mínimo de predileção por ficção científica, mesmo que remeta a coisas um tanto quanto infelizes como os Bayformers (como carinhosamente costumo chamar os robozões que sofreram nas mãos de Michael Bay por quatro filmes - excluo o primeiro devido a ser o único que dignifica os personagens), mas vale também para quem tiver boas lembranças com tal franquia ou com diversos outros exemplares protagonizados por máquinas avançadas que num passado áureo e longínquo eram pensadas com um estímulo sonhador como se o futuro altamente tecnológico estivesse anos e anos à distância e percebemos que hoje em dia esse cenário futurístico até então completamente imaginário caminha para tornar-se uma realidade cada vez mais palpável (apesar das exceções, como os apetecidos carros voadores que estão décadas de atraso considerando as visões de futuro que permeavam muitas cabeças nos anos 70 e 80). Nossa, como eu enrolei nessa introdução! Mas sabe o que essa crítica e esse filme possuem em comum? Exatamente a falta de laconismo. O ritmo inicial arrastado que não permite ir direto ao ponto.
O prelúdio é bem explicativo, embora não apresentando o cachorro metálico de imediato, nesse ponto é mais ao projeto que envolve a criação do AXL e para quais objetivos o mesmo é designado. A tecnologia de origem governamental não é bem vista pelas forças armadas americanas que querem apossar-se do negócio para evitar consequências desastrosas do perigo que essa inovação contemporânea representa, também valendo-se do argumento de que as intenções dos desenvolvedores não são nada boas. E não são mesmo, pois os caras não estão afim de salvar vidas através do AXL e cumprem seus papéis de antagonistas, realçados a determinado altura do enredo, altura esta que marca uma passagem benéfica na trama para um clima de tensão apurada em que os agravantes da situação que o protagonista humano, Miles Hill, se enrosca até o pescoço junto à sua namorada, Sara Reyes (uma presença feminina para acompanhar o cara nunca é demais, afinal é sempre bom ver um casal se divertindo com um cãozinho de estimação, ainda que não biológico, que os mantém conectados afetivamente - isso quando não tem pãozinho no forno da mulher =P -, até podemos achar uma comparaçãozinha com Transformers nisso vendo Sam e Mikaela tão apegados ao Bumblebe - mais da parte do Sam do que dela, mas ela também tinha um apreço pelo fiel soldado de Optimus Prime, não muito demonstrável, mas tinha) quando antes a lente narrativa focava demasiadamente a vida de Miles, sua relação com o pai e a prática do seu esporte radical favorito por quase meia hora (acho que passando um pouco disso, aliás) sem dar a adequada atenção para AXL, atrasando o encontro (teve hora que me perguntei: "Isso é um filme de motocross ou sobre um cão robótico? Quero ver sci-fi rolando, não um bando de marmanjos competindo em corridas). Tamanha demora implicou em prejuízo na imersão, dificultando a sustentação de expectativa de que a problemática geral não vá avançar tanto no sentido de proporcionar bons momentos de ação que é um dos recursos básicos que uma ficção científica deve utilizar (embora não seja de toda obrigação para qualquer produção do gênero).
Esse núcleo onde Miles pertence ganha uso eficiente por escancarar a índole de Sam, colega de Miles nas corridas, que já não dava cara de ser boa peça, o qual posa de amigo e depois tenta sabota-lo e roubar Sara dele, mas não contava com a bravura de cão de guarda mostrada por AXL que tem dois estados de humor, cada qual sinalizado pela cor de seus olhos (azul = dócil, vermelho = raivoso). A virada é gradual, basicamente um bloco que nos antecipa o clímax atravessando boa parte do segundo ato começando pela vingança de Sam contra AXL e armado com um lança-chamas o valentão danifica-o, em seguida com Miles e Sara vindo ao socorro do robô e por fim à "ressurreição" de AXL que sai à caça de Sam e sua trupe (se eu não, e certamente ninguém, dialogaria nem com um pitbull salivando e rosnando, que dirá com um cão robô ainda maior e com olhos vermelhos feito uma besta-fera saída do inferno! o_o). No tocante à esse ataque do AXL, há uma pegada "terrorífica", por assim dizer, transformando-o numa ameaça que muitos jurariam ter vindo de um filme de terror, o que incrementa apesar de breve. Com a captura de Miles e Sara, e AXL apreendido pelo cientista que o projetou, Andric, que ao lado de seu parceiro Berman vigiou os passos de AXL durante sua fuga até chegar à Miles, preocupados com possibilidades que atentassem contra o cão robótico, vê-se uma considerável melhoria de cadência preparando os personagens para a ação climática - antes tardio, em mais da metade da duração, do que nos 45 do segundo tempo - resumida em perseguição frenética com desfecho trágico (Miles na sua moto veloz e AXL com suas patas mecânicas - e bem feias, por sinal - fugindo dos militares após a derrota dos cientistas - por mérito de Berman que cabuetou Andric (melhor parceiro de trabalho hehe).
Eu não vou cometer a desonestidade de falar que compreendi o significado do final. Mas falando da inevitável morte do AXL, ou auto-destruição, após encurralado pelo exército americano, a escolha pela lentidão da câmera na hora H me pareceu uma tentativa de imprimir emoção que não funcionou e nem deveria funcionar, afinal de contas é uma máquina, um cão de vida meramente artificial, portanto é evidente que não tem como causar aquela comoção lacrimosa no espectador da mesma forma que um cão natural (uma reação igual não faz sentido). Se tudo terminasse de boas para Miles e Sara, sem punições ou interferências, AXL seria parcialmente um brinquedo para eles, tratado como animal de estimação, mas a natureza dele pesa nessa relação, pois ele tem propriedades existenciais extremamente diferentes. Com isso eu tô querendo dizer que quem ficou tristinho pela explosão do AXL tem problemas mentais? Não, até porque o AXL tem seu carisma próprio pra torcemos por ele. Comedido, mas tem. Voltando ao final: AXL ressurgiu de algum modo, só não ficou claro qual.
Considerações finais:
AXL: O Cão Robô faz uma decente exploração dessa disputa sofrida pelo personagem dividido entre obedecer aos comandos de seus criadores e se abrir ao carinho, companheirismo e calor humano de Miles que sem ligar para a sua natureza física se encarrega de protege-lo. Mas por outro lado erra na condução inicial, tardando a centralização da história que no meio do caminho o roteirista "se lembrou" de que era acerca de um sci-fi e não de competições de motocross.
PS1: O AXL foi teoricamente criado para ser uma arma, então faltou uns atributos mais letais para aumentar a periculosidade.
PS2: Ainda teve tempo para flertes românticos antes da bagaça engrenar de vez, com direito a dança embalada por uma música esquecível e um jogo de luzes maneiro do AXL (pra fazer nascer o amor no casal) que foi a única coisa aproveitável.
PS3: Incrível como até as atuações se fortaleceram no ponto de virada que pode não ter salvado milagrosamente tudo, mas reduziu (e muito!) a sonolência (sempre que isso acontece ponho a culpa no horário - assisti às 21h15).
NOTA: 7,5 - BOM
Veria de novo? Provavelmente sim.
*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*Imagem retirada de: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-263788/trailer-19559733/
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