Crítica - Um Lugar Silencioso
Onde apenas os mudos sobreviveriam.
AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.
Bem, o que discorrer a respeito desse filme? Um enredo empurrando aos personagens uma limitação obrigatória de permanecerem em silêncio para continuarem vivos em meio a um pós-apocalipse alienígena que trouxe criaturas macabras e predadoras capazes de detectar suas presas pelo som já que não possuem visão (é tipo aquele alien de pelo laranja do Ben 10 que só se guia pela audição). É molezinha para estúdios de dublagem, mas talvez para espectadores mais ávidos por detalhes expressados por parte dos personagens não vá ser uma sessão muito aprazível. Infelizmente o filme, ao que indica, não foi engendrado para atender a esse público. A proposta é ter muito a dizer e ao mesmo tempo não estar afim de faze-lo. E quer saber? É muito melhor assim. Mas o contexto está ali, o roteiro só não preocupou-se em criar aberturas de expansão, o que seria contradizer aquilo que foi pretendido. Portanto, é bom aguentar calado o foco 100% em torno da família Abbott e se deliciar (ou se angustiar) com o suspense conquistador que é executado. As explicações podem vir futuramente (afinal, tem sequência já planejada, se não me engano). É como iniciar um livro pela metade da história.
Não adianta falar que o enredo é chato e tedioso se é do cerne do filme colocar os personagens vivenciando uma situação desesperadora que exija o silêncio total deles. Desprover o filme disso é o mesmo que se auto-sabotar com relação ao próprio suspense que é o volante do negócio e as mãos nesse volante conduziram magistralmente, sobretudo quanto à Evelyn, personagem de Emily Blunt, que por determinado momento é a mais vulnerável da família pela sua gravidez inconveniente à circunstância, o drama sofrido que ela passa, especialmente na cena da banheira em pleno trabalho de parto (pura aflição nessa hora!), provoca uma reação empática bastante natural assim como a atuação transmite muito bem. Em suma, os melhores momentos são os piores vividos por Evelyn. O filme não está mesmo pra brincadeira quando quer dificultar a vida dos Abbott. Na primeira meia-hora já somos pegos desprevenidos com a súbita morte de Beau, o caçula, que é catado por um dos aliens asquerosos (principalmente no visual que tá no capricho, o design está bem tenebroso, eu me cagaria de medo se topasse com um daqueles monstros numa rua escura). Aparentemente eles estão em menor número. A família teve bastante tempo para garantir preparo, inclusive no aprendizado da linguagem de sinais.
Lee Abbott (John Krasinski, que atuou, dirigiu e escreveu o longa, pra você ver que nem sempre três ou mais cabeças roteirizam melhor que uma), o pai, é o herói e mártir, entregando sua vida para salvar a dos dois filhos (Noah e Regan) gritando para a morte. As criaturas parecem onipresentes e imbatíveis enquanto os Abbott são carne fresca que não podem dizer um "a" senão estarão condenados. No clímax surge uma ponta de esperança no confronto direto com os aliens: a fraqueza deles é exposta, o que anima Evelyn, pois o tiro que disparou contra a cabeça do que a ameaçava no abrigo (na sala de monitoramento) chamou a atenção dos demais. Mas naquela altura a preocupação minimizou, afinal o ponto fraco dos feiosos foi descoberto facilmente, uma brecha desvantajosa quando eles mostram a carne por baixo daquelas fendas (nojentas) na cabeça. No mais, é inegável que o único modo de superar o medo é encarando-o de perto.
Considerações finais:
Um Lugar Silencioso não é nem de longe uma chatice sonífera pelo fato de abrigar poucos personagens que dialogam mais em gestos do que com palavras, mas é uma introdução contida num só núcleo para algo que levanta a hipótese de ser maior e que faz valer os 90 minutos unicamente pelo suspense. Se vai alongar o leque que tome os rumos corretos.
PS1: Qual é a daquele velho que soltou o berro perto do Lee? Além de fraco ainda é FDP.
PS2: Esse cenário é o paraíso dos invasores e o inferno para os tagarelas compulsivos (provavelmente extintos).
PS3: E pensar que quase virou capítulo da saga Cloverfield. Sábia decisão contrária tomaram.
NOTA: 8,0 - BOM
Veria de novo? Sim.
*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.
*Imagem retirada de: https://assets.papelpop.com/wp-content/uploads/2018/02/um-lugar-silencioso.jpg
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