Crítica - Owari no Seraph


Quem são os verdadeiros monstros?

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.

Vagamente me lembro desta obra, de autoria de Takaya Kagami, na época de lançamento do anime, com suas duas temporadas exibidas no primeiro e segundo semestre de 2015 (quando poderiam tranquilamente desenrola-lo como um 2 cour inteiro, gerando uma primeira temporada, ou temporada única, de 24 episódios), tendo uma certa notoriedade, mérito da sua temática (por mais banal que seja, embora ainda conquiste seus admiradores nas diversas fanbases de animes), mas é só uma memória nebulosa embora eu saiba que foi um anime do gênero sobrenatural que se destacou em meio às produções do referido ano (da mesma forma que Darling in the FranXX e Kimetsu no Yaba foram um dos grandes sucessos de 2018 e 2019, respectivamente). Owari no Seraph (ou Seraph the End, algo traduzível/adaptável como "Serafim do Fim" ou "Serafim do Apocalipse" - bem mais elegante heheh) se estabelece na utilização da premissa vampírica sem parecer notadamente uma história genérica de chupadores de sangue igual à muitas existentes, sejam de animes ou obras de diferentes mídias. Na verdade, o anime em si não pauta-se somente nos vampiros, promovendo espaço para demônios que no caso seriam os "mocinhos" que auxiliam os heróis bem armados na guerra pós-apocalíptica entre humanos e vampiros que foi deflagrada após a disseminação de um vírus que afeta exclusivamente maiores de 13 anos, dentre eles o protagonista Yuchiro Hyakuya.

Yu foi sequestrado por vampiros juntamente com outras crianças do orfanato no qual vivia e se salva da proliferação do tal vírus misterioso (e põe misterioso nisso @_@), mas o preço da sobrevivência é uma vida de escravidão e controle no interior de uma espécie de palácio onde todos os cativos são tratados como "gado" pelos tutelares vampiros (será que foi daí que Yakusoku no Neverland teria se inspirado? Fica a questão no ar). Assim como todos, Yu recebe o sobrenome Hyakuya e conhece um garoto oxigenado chamado Mikaela (pensei até que fosse trap =P) com o qual faz amizade - o início de uma relação que anos mais tarde se reacenderia da maneira mais complicada possível. Durante um plano de fuga tragicamente mal-sucedido, Yu é obrigado a fugir deixando Mika (além dos outros brutalmente mortos) à mercê do vampiro Ferid Bathory que acaba poupando o loirinho. O protagonista esquentadinho e marrento é (por coincidência milagrosa do destino) salvo e recrutado por Guren Ichinose, o tenente-coronel Exército Demoníaco Imperial Japonês e líder da Companhia de Demônios da Lua além de liderar o esquadrão que carrega seu nome, que não tem exatamente uma personalidade tão amigável ou muito confiável e por tal razão seu entrosamento com Yu é cheio de oscilações num relacionamento de trabalho, no geral, difícil. Apesar das desconfianças, Yu tem uma certa estima por Guren, demonstrando valorizar a vida do mesmo pelo simples fato de tê-lo resgatado de uma existência miserável. No grupo militar, temos a divertida Shinoa Hiragi, líder do esquadrão e membra da importante e poderosa família Hiragi que detém privilégios inquestionáveis, mas possui conduta ética duvidosa.

Na primeira temporada há uma divisão nítida no enredo após o prólogo com a primeira metade concentrada nos treinamentos para manejar as cobiçadas armas demoníacas que consistem em lidar com entes queridos falecidos disfarçados pelos demônios que abrigam as tais armas e manipulam visões parecidas com sonhos baseados nos eventos trágicos que deixaram marcas nas vidas de cada um (Yu e Yoichi como os mais frágeis nessa provação dolorosa: o primeiro pelo desejo contumaz de vingança contra todos os vampiros - acho que na mesma proporção de pura chatice que o Asta, de Black Clover, fala que vai se tornar o Rei Mago em praticamente todo santo episódio x_x - enquanto que o segundo pela sua sensibilidade emocional que o faz acovardar-se ante ao perigo, motivo pelo qual ele se culpa por não ter protegido sua irmã, Tomoe, do ataque dos vampiros quando a mesma tentou protege-lo o escondendo embaixo da cama, local comum de refúgio para uma criança assustada). Kimizuki, rapaz tão marrento quanto Yu que possui cabelo numa cor diferentinha, provou-se o mais apto corajosamente na tentação do demônio que reside na sua arma (se bem que esse lance de armas contendo seres sobrenaturais de repente faz lembrar de um certo anime protagonizado por um jovem de cabelo laranja... matou aí a "charada"?), ganhando uma boa introdução mais pelo drama de sua irmã adoentada do que pela sua rivalidade com Yuu (logo à frente superada pelo companheirismo durante trabalho em equipe, como era de se esperar) que num dado momento proporcionava mas cansaço que risadas (inclusive um ponto que a série demonstrou timidamente de fato foi a comédia).


Na segunda meia dúzia dessa leva inicial ganham enfoque as lutas nos campos de batalha contra os vampiros numa ação cuidadosa para despertar empolgação, algo que se vê nos movimentos bem ritmados nas horas que a porrada come solta. O reencontro tão aguardado entre Yu e Mika (agora do time dos sanguessugas e co-dependente do sangue de Krul Tepes, vampira influente do seu âmbito que teve um desenvolvimento bem aquém no que tange à tempo de tela, mas com um bom destaque nas interações com Mika) explode num espaço de tempo ideal para toda uma dramaticidade: o valente soldado de Guren, que estava à beira da morte alvejado pela ponta da espada de Mika, correndo furioso na direção do seu amigo que considerava sua "família" para ataca-lo sem reconhece-lo de costas e quando os olhares se cruzam surge o impacto da colisão de dois elementos opostos que foram iguais por um período. Isso sem falar na culminância da possessão de Yu por seu demônio, o Asuramaru, naquele típico surto de poder máximo num protagonista de shounen (mas no caso aqui nada de fortalecimento tirado da bunda), levando a Shinoa e os demais a tentarem para-lo a qualquer custo. O anime quer convencer o espectador de que a ameaça dos vampiros é perigosa num nível que reduz probabilidades de alguém não sair morto ou com um braço ou perna faltando. O êxito desta pretensão é obtido tão ocasionalmente quanto as vezes que o próprio mote da série, o Serafim do Apocalipse, é referenciado, sendo que trata-se de um experimento secreto orquestrado por Kureto Hiragi, um chefe militar com um insano anseio de utilizar subordinados como peças que pode mover no tabuleiro superável ao de Guren que pelo menos ainda preserva alguns valores básicos. Em Kureto não se vê um pingo de humanidade, apenas um prazer sórdido de tornar os fins justificáveis pelos meios, o que é atestado com a revelação, na segunda temporada, de que a experiência prometida como arma secreta para eliminar os vampiros de vez é a irmã de Kimizuki.

Dos personagens secundários, destaca-se somente Makoto, porque os outros não possuem execuções eficientes para sequer nos fazer lembrar de seus nomes, nem personalidades que interessem. Não poderia me esquecer da quinta e última integrante do esquadrão Shinoa, a exigente Mitsuba que tem uma relação dúbia com Hiragi "excluída" e uma breve divergência com Yu nos métodos de agir nas situações de risco (o que achava não funcionar numa determinada circunstância, acabava contrariando ela dadas as ações aparentemente imprudentes e impulsivas de Yu, um choque de maneiras na tomada das decisões). Dedico o resto desse parágrafo à ligação de Yu e Mika após o reencontro: o matador de vampiros quer salvar sua nova família (Shinoa, Kimizuki, Yoichi e Mitsuba) da guerra que alcançou gravidade ao ponto de causar deserções, mas Mika não permite já que é possessivo e tem um ataque de ciumeira tentando convence-lo de que ele e apenas ele é sua família. Imagino como isso coloca o indivíduo numa encruzilhada: deixar o passado para trás, tal qual Yu abandonou Mika no massacre de Ferid, ou aceitar o presente em prol da sua nova família composta por humanos que Mika odeia por ser um vampiro, ainda mais humanos que caçam vampiros (pensei que ele fosse diferente, não pela sempre inevitável hesitação de beber sangue humano, mas pela mentalidade que ainda conservava alguma humanidade por conta do seu bromance com Yu interrompido pela chacina, o que podia fazê-lo tolerar os humanos pensando em como o Yu se sentiria caso o visse agir feito um vampiro que não compreende que a vida de seu amigo mudou). Mas numa coisa Mika tinha razão: Yu estava sendo usado... e por monstros tão capazes de atrocidades quanto os vampiros. Isso mesmo: "reles" humanos.

Considerações finais:

Owari no Seraph abrange uma mitologia bacanuda, mas que vai adicionando só por adicionar, por pouco não sobrecarregando a salada mista de demônios, vampiros e anjos. Isso em contrapartida aos bons personagens principais apresentados formando um time conquistador, tanto individualmente quanto unidos, e que ao longo da trama vai dando contornos definidos de sinergia e entrosamento em meio à uma trama conspiratória da qual são vítimas.

PS1: Se dessem continuidade ao anime, seria um ponto a favor não ambientarem o final de uma temporada ao pôr-do-sol pela terceira vez. Parece que o finalzinho da tarde é um horário pré-definido para esquentar as coisas e o pau comer.

PS2: O que obviamente não é mais repetitivo do que alguns personagens mandarem alguém calar a boca.

PS3: Shinoa, Mitsuba, Yoichi, Kimizuki e Makoto reunidos na praia, prontos para partirem após romperem com o Exército Imperial Demoníaco, esperando por Yu e Mika que sabe-se lá o quê estavam fazendo naquela casa. Possivelmente é algo que só se "descobre" lendo uma fanfic yaoi (não, não vou procurar pra conferir, ainda que eu esteja quase certo de que existem umas aventuras safadjenhas saídas das cabeças imaginativas de quem viu muito além de um bromance haha).

PS4: O gancho (também reviravolta) mais angustiante foi Guren, possuído por seu demônio, brandindo sua espada contra Yu, ameaçando parti-lo em dois, ironicamente o cumprimentando com expressão psicopata ao término do episódio 11 da segunda temporada (ou episódio 23). Logo ele que sempre alertava os subordinados do esquadrão Shinoa sobre não deixarem-se ceder ao demônio. Dá pra afirmar que é o personagem com maiores nuances de complexidade.

PS5; Falando em complexidade, Mika também lidou com seu pior dilema, ao contrário de Yu que estava bem resolvido nos rumos a seguir. O loirinho sabia que precisava de sangue humano para não morrer de desidratação e a fonte estava ali, na frente dele, seu melhor amigo, permissivo com o pescocinho dando sopa, mas ele insistia não quebrar sua promessa e ainda reclama com Yu sobre estar querendo transforma-lo num monstro ao dar de bandeja a chance de sobreviver! Eu não teria a mesma paciência que o Yu pra se dar ao trabalho penoso de abrir a mente de um amigo confuso e desnorteado e que te culpa por uma escolha difícil que DEVE ser feita! (tô passando a mesma raiva de quando a vi a cena, é sério...).

NOTA: 8,0 - BOM 

Veria de novo? Sim. 

*Muito provavelmente esta é a última crítica de anime postada no UL. O motivo foi explanado aqui

*As imagens acima são propriedades de seu respectivo autor e foram usadas para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagens retiradas de: https://samequizy.pl/owari-no-seraph-zodiaki-4/
                                      https://www.intoxianime.com/2015/12/impressoes-finais-concrete-revolutio-e/

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