Frank - O Caçador #28: "Restos de um Passado"


Cemitério Gallen Devor 

Uma figura espectral vagava pelas sombras, numa caminhada que alternava sua exposição, ora à escuridão, ora à luz pálida da lua cheia cercada de nuvens volumosas. O indivíduo usava um chapéu de massa marrom e trajava um sobretudo preto, calças sociais e sapatos de couro, além de carregar uma pá. Dirigiu-se à uma sepultura cujo nome talhado na lápide era "Arthur Wood" acompanhado de outros dizeres como "Filho amado" e as datas de nascimento e óbito. Fincou a pá na terra, cavando sem pausa para descansar, até formar um buraco do qual removeu o caixão com certo esforço e abriu sua tampa.

Viu o facho de uma lanterna se aproximando, ficando imóvel. Mas foi só ouvir o ruído de arma destravando que o homem, usando uma máscara branca de rosto inteiro - ou balaclava -, virou-se repentinamente para o guarda do cemitério. O vigilante deu passos adiante, seguramente, o revólver na mão direita e a lanterna na esquerda.

- Seu vândalo, profanando corpo de criança... Um movimento brusco e talvez um corpo tenha que ser recolhido daqui pra ser jogado numa vala ou num buraco qualquer. Você que escolhe: Alguns minutinhos aqui ou três anos na cadeia. - disse ele.

- É menos tempo do que fiquei acostumado a passar. - retrucou o mascarado.

- Não quero conversa. Tira a merda dessa touca e deita no chão! - ordenou o guarda. Porém, o mascarado se atreveu a desobedece-lo, agindo rápido ao agarrar o braço que segurava a arma e que disparou a esmo uma vez. Numa ação ainda mais ousada, o beijou na boca após uma mancha de sangue formar-se na "boca da máscara". O guarda debatia-se afoito.

O violador tirara a máscara ao ver o guarda caindo sem consciência, incrivelmente possuindo o rosto do mesmo. Deu uma risadinha de escárnio, zombando da sua mais nova vítima e obstáculo.

- Acho que não sou eu quem terá contas a prestar com a polícia, amigo. - disse ele, sorrindo ardilosamente.

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CAPÍTULO 28: RESTOS DE UM PASSADO

A casa de Carrie possuía uma estrutura externa ampla e chamativa, ninguém poderia contrariar isso. Poucas ocasiões na vida Frank visitou a residência da melhor amiga devido à altas cargas de trabalho que consumiam tempo impedindo de ocorrerem encontros divertidos de puro lazer do que ela chamava de "A Santíssima Trindade do DPDC", uma denominação soberba para celebrar a amizade, incluindo o diretor Duvemport. Ela estava na sua sala, em pleno telefonema, sentada ao sofá. Na sua expressão, a aflição estampada. O toque da campainha não tinha mistério para ela. Tapou o alto-falante para dizer.

- Está aberta! - disse ela, contendo um tom nervoso na fala. Frank entrou com o cenho franzido, intrigado.

Viu a TV ligada num volume baixíssimo passando um noticiário sobre uma estranha "chuva de meteoros" da noite anterior registrada em vários pontos da cidade, deixando astrônomos e ufólogos em polvorosa. Frank pegara o controle, desligando-a.

- Como sabia que era eu? - perguntou ele. A assistente ergueu uma mão em sinal de "espere" e o detetive logo notara as feições de angústia no rosto dela e aproximou-se em preocupação - Carrie, o que tá rolando? Pode contar pra mim à vontade.

A ligação terminou, Carrie suspirou com a boca, não segurando uma lágrima deslizando pela maçã da sua face.

- Não sou muito de receber visitas, assim como você. Eu não fui até a porta ver pelo olho mágico porque deduzi que você estava ali, apesar de ser contável nos dedos o número de vezes que pisou aqui.

- Foram muitos dias sem nos vermos pessoalmente, então considerei que podia fazer mais uma visitinha rara. - disse Frank, sentando-se ao lado dela - Toma cuidado da próxima. Se der permissão pra entrar desse jeito, pode não ser eu.

- É, eu sei. - respondeu ela, cabisbaixa.

- O que aconteceu pra alguém ligar e te deixar tão abatida? - questionou Frank - Sou seu amigo, tô aqui pro que der e vier.

- Nunca duvidei disso. E você veio numa hora oportuna pra cumprir essa função. - disse Carrie, olhando para Frank tristemente - O serviço funerário ligou avisando que a sepultura do meu filho foi violada.

- Filho?! Mas peraí... - disse Frank, estupefato - Nunca falou pra mim sobre ter sido mãe, muito menos que perdeu seu filho.

- São certos detalhes da minha vida pessoal que preferia manter ocultados. Até dos amigos mais fiéis.

- Pois não devia. Mas claro que essa é só minha opinião. - disse Frank, chocado - Alguma informação do meliante?

- Uma certeza absoluta não, mas uma teoria válida sim. - disse ela, pensativa - O Mark saiu da cadeia há três dias.

- O maluco que fazia de gato e sapato com você? Ao menos isso nunca foi escondido.

- Sim, eu omiti a morte do Arthur, meu filho, pra não despertar flashbacks horríveis daquele dia. E sobre o Mark: Um juiz concedeu liminar de soltura, vai responder pelo assassinato no regime aberto.

- Absurdo demais, o poder judiciário como quase sempre ferrando com as vidas dos cidadãos.

- Isso não é pior do que termos um prefeito vampiro. - retrucou Carrie - Mas no meu contexto particular é pior pra mim. A qualquer momento ele pode me encontrar de todas as formas possíveis.

- Me fala da sua teoria primeiro pra depois discutirmos se faço um bico como guarda-costas.

- Não, também não é pra tanto. Mark pode ser um calhorda desprezível, mas não seria capaz de fazer o que fez com o Arthur. - desabafou ela, fechando os olhos por uns segundos por conta das horríveis reprises do acontecimento trágico.

- O desgraçado... matou o próprio filho?! Tô entendendo agora onde sua teoria quer chegar.

- Era uma dívida com pessoas completamente erradas. Arthur foi a moeda de troca no fim das contas. Algo deu errado no acordo entre Mark e seu chefe pra ele ter que puxar o gatilho no Arthur... que não pode nem descansar em paz.

- Então acredita que o Mark esteja por trás da violação do túmulo?

- Eu acredito que ele enlouqueceu e sente remorso tardio pra cometer um crime, sei lá... dar um último adeus ao Arthur.

- Você ainda acha que tem sentimentos paternos dentro dele? O cara roubou o corpo do próprio filho.

- Frank, por favor, acho melhor eu mesma dar conta disso sozinha, por enquanto. E não fazer conclusões precipitadas, embora essa teoria seja convincente ao extremo.

- Olha Carrie, eu não concordo em dar o benefício da dúvida pra um assassino confesso. - redarguiu Frank, claramente indignado - As coisas se conectam. Três dias é um intervalo curto o bastante.

O detetive levantou-se do sofá para sair e Carrie empertigou-se.

- Pra onde vai?

- É que eu lembrei de ter ouvido um boato sobre um guarda desaparecido no Gallen Devor e vou conferir se no jornal aqui fora largado tá noticiado. - disse Frank, abrindo a porta. Olhou para baixo e viu o jornal enrolado, pegando-o. Folheou as páginas até que encontrou a manchete do guarda -  E não é que é verdade? Sumiu sem vestígios. Seu ex-marido é esperto.

Enquanto isso, Mark, em sua residência alugada, terminava de fazer a barba. mas antes de lavar seu rosto robusto, dirigiu-se à sala onde deixou seu laptop que estava sobre a mesinha. Acertou os últimos detalhes de um vídeo que gravou mais cedo e apertou o botão de enviar. Satisfeito em ter se livrado da acusação de violar túmulo, tomou um último gole do uísque deixado na mesa. Em seguida, retornou ao banheiro para molhar o rosto e encarou-se no espelho até que virou-se para a balaclava pendurava no cabide de toalhas. Ele tinha um impulso obsessivo para coloca-la sem motivo algum e voltou a encarar-se.

A mancha de sangue na boca formou-se naquela face branca, movimentando-se como se expandisse e contraísse. Mark não percebia, mas no corredor estava sob a atenta observância do fantasma de um enfurecido, porém hesitante, Arthur.
                                                                                ***

Departamento Policial de Danverous City

Na sua própria sala, Carrie navegava pela internet buscando notícias acerca da liberdade do homem que matou uma criança há 8 anos. O homem que cruelmente matou seu filho com um tiro no peito. Foi no site de vídeos expandir sua procura, indo para a aba dos assistidos do momento, clicando no primeiro vídeo que estava no topo das visualizações. A gravação tinha pouco mais de 2 minutos. A assistente ficou embasbacada ao ver que o homem do vídeo lhe era conhecido.

- Mas esse é... - disse, franzindo o cenho - É o guarda do cemitério. Inacreditável, não é possível...

O vigia do Gallen Devor discursava frente à câmera confessando o crime de violação de sepultura. O local onde ele se encontrava parecia um sótão mal iluminado cheio de tralhas. Em dado momento, moveu a câmera para mostrar a ossada roubada. Nas suas palavras, a mais pura rendição manifestada.

- Os ossos do Arthur... - disse Carrie, a comoção dominando-a - Tem algo errado...

Telefonou prontamente para o gabinete de um colega que trabalhava como criptógrafo de meio período.

- Owen, é a Carrie. Tá livre pra um favorzinho? - fez uma pausa, ouvindo a resposta - OK, sei que você é um gênio nessa arte, um dos mais habilidosos que conheço. Rastreia a localização geográfica de um vídeo que nesse exato momento é o mais visualizado do GoTube. Achou? Assiste, põe uma lupa gigante em cima e bom trabalho. Liga pra mim assim que terminar, por favor. Valeu desde já, se fosse outro teria inventado um pretexto ridículo. Até mais, tchau.

Carrie sabia perfeitamente que ela mesma poderia dar conta de localizar a origem do vídeo, mas o tempo urgia e sentiu que precisava tirar a história a limpo indo na delegacia enquanto Owen rastreava o endereço de IP da máquina usada pelo suposto culpado que acabava de entregar-se à polícia. A assistente saíra apressada da sua sala com a chave do carro na mão. O trajeto à delegacia foi acelerado, o que demonstrava a insegurança dela somada à raiva pelo ato vil cometido.

O delegado Wright foi surpreendido pela ligeira chegada de Carrie à sua sala, quase o fazendo derramar o café sobre seu terno. A assistente apoiou as mãos na mesa, olhando firmemente para ele.

- Desculpa pelo jeito nada formal de entrar na sua sala, mas é uma emergência. Sou Carrie Wood, assistente de detetive prioritário no DPDC - mostrou um crachá - e tenho uma denúncia a fazer...

Um policial entrara subitamente reclamando dos modos que Carrie usou para obter acesso.

- Tentei impedi-la, senhor, me desculpa...

Wright ergue a mão esquerda num gesto que significava não haver transtorno. Voltou-se para Carrie.

- E então? Que tipo de ocorrência a trouxe até aqui passando pelos meus homens como um bola de boliche contra os pinos?

- E peço perdão outra vez, acontece que esse caso é pessoal o bastante pra me deixar afoita e nervosa. Certamente sabem que um detento da penitenciária da cidade foi liberto há 3 dias.

- Sim, o Mark Wood, o pai de família metido com narcotráfico que havia assassinado o próprio filho. O que tem ele?

 - Sou ex-esposa dele. - falou Carrie com desgosto - Por coincidência ou não, isso aconteceu depois que ameacei contratar um advogado para o divórcio. E jogou meu filho no mar de lama que ele afundava, o usando como refém pra me atingir emocionalmente e me convencer a voltar atrás. Veja isso. - retirou o celular, pondo o vídeo para reproduzir.

- Um homem falando sobre ter matado várias pessoas e ainda violado covas... - disse Wright - Qual a ligação?

- Viu os ossos que ele mostrou? São do meu filho! Estão bem ao lado do caixão que reconheci. Este homem faz a vigilância no mesmo cemitério onde meu filho foi enterrado e foi dado como desaparecido quando os outros funcionários descobriram o buraco cavado. Agora ele reaparece postando vídeo na internet pra confessar o crime? Ou ele não usa o cérebro direito ou o Mark orquestrou isso. Ele deve ser enquadrado até que se prove o fiapo de inocência que ele tiver. E me refiro ao Mark.

- Qual sua tese? Cúmplice ou disfarce?

- O Mark é um perigo pra sociedade, é ousado e astucioso, tá claro que ele armou essa arapuca pra chamar minha atenção e ir vê-lo pra ouvir súplicas ou ameaças ou as duas coisas. Não me espantaria se isso fosse um disfarce metodicamente criado para forjar um bode expiatório. O guarda é vítima, não cúmplice. Cooperem com o DPDC e investiguem, é tudo que eu peço.

- Eu sinto muito. - disse Wright balançando a cabeça em negação - As provas não são nada conclusivas, não tem nada que indique ser um disfarce. Sei que isso é como jogar sal numa ferida aberta, mas acho que deve deixar o passado pra trás.

Carrie mordeu os lábios reprimindo sua vontade de estourar com o delegado.

- Deu um ótimo conselho motivacional pra pessoa errada hoje. - disse ela, logo saindo da sala, exasperada.

                                                                                      ***

Andando na calçada de uma rua movimentada, Frank soltava o ar cansado em suspiros longos pensando na barra pesada que Carrie segurava lidando com um crime sádico contra a memória de seu inocente filho. Naquela altura tinha noção dos extremos horrorizantes que o ex-marido da amiga poderia chegar nessa sanha de atormenta-la desenterrando lembranças sofríveis junto com o corpo de Arthur. Desviou o olhar para o outro lado da rua, logo avistando o que parecia ser Adrael parado na calçada o observando com sua inalterável expressão séria. Por instinto, foi ao encontro dele.

- Adrael... Ei! - chamava, pronto para atravessar - Não tá me ouvindo? - perguntou, estranhando.

Um caminhão passara e Adrael, que vestia uma roupa diferente da que usou na sua vinda - um casaco longo e elegante de cor Azul Oxford com detalhes de Prusia, desaparecera como se nunca estivesse realmente lá. Frank questionou se não estava alucinando, associando à marca sagrada. Seu telefone vibrou, mas não era ligação e sim uma nova mensagem. Na verdade, o vídeo do falso guarda do cemitério confessando o crime. Assistiu à gravação, ficando confuso, cabreiro, mas depois formou uma opinião. Ligou para Carrie que prontamente atendeu. O detetive não tinha uma boa notícia para dar.

- E então, viu a esparrela que o Mark aprontou pra cima do guarda?

- Carrie, escuta: Não dá pra confirmar 100% se é o Mark disfarçado ou não por um simples vídeo.

- Simples vídeo!? Frank, acorda! Posso conhecer o vigia do Gallen Devor apenas de nome e de vista, mas sei que jamais ele faria uma atrocidade medonha dessas. Cometer um crime e gravar vídeo de confissão pra postar na internet publicamente? Pensa comigo, como normalmente fazemos. Leva minha teoria em consideração. Seria muita ingenuidade minha achar que não foi arquitetado pelo maldito do Mark pouco depois de sair da cadeia e ainda exumar o caixão do nosso filho!

- Carrie, por favor, fica calma, perder o controle vai dificultar ainda mais a gente alinhar o raciocínio. - avisou Frank, severo - Respira fundo e me ouve. Faz aquela meditação rápida que você tentou me ensinar uma vez.

- Meditar o cacete! Como meu melhor amigo, esperava que compreendesse minha visão e não questionasse assim.

- A polícia já tá na cola do vigia, seja lá onde estiver vão pega-lo fácil, isso se não fugir antes.

- Pedi ao Owen, o criptógrafo, pra rastrear o IP do perfil anônimo que postou o vídeo, perfil este criado ontem à noite às 22 horas. Enquanto isso fui na delegacia implorar por um encarceramento temporário ao Mark até que as provas de inocentação viessem, do contrário ele iria a julgamento. Até sugeri uma cooperação com o DPDC. Diga o que quiser, eu não vou desistir.

- Minha palavra contra a sua. Mais tarde veremos quem acertou. Tô achando que esse caso não tem solução pra incriminar o Mark e vermos ele de volta pro xadrez. Não posso descartar nada, nem mesmo um cúmplice disfarçado do vigia.

- O Mark é esperto, já te falei. Eu tenho dúvidas também. E por incrível que pareça, o número de telefone dele. - disse Carrie, aflitiva - Você é mais um amigo meu que pedirei mais um favor hoje. O Arthur... gostava de brincar num parquinho perto da minha casa. Sempre que passo lá sinto um arrepio frio...

- Você quer que eu... invoque o fantasma do seu filho? Vai envolvê-lo nisso pra quê?

- Pra que você o convença a intimidar o Mark pra que ele se renda ou mesmo mata-lo. Converse com ele. Diga que a mamãe o ama e que o pesadelo vai acabar... e que ele achará paz e harmonia eterna.

O detetive não mentiu para si mesmo com a sensibilização ao pedido da assistente. Porém, um bipe no celular de Frank quebrou a atmosfera.

- Peraí, só um instante. É o aplicativo de notícias apitando com atualizações... - disse Frank, verificando a manchete e lendo rápido - Ah, essa não. - voltou sua ligação para Carrie - A boa ou a má notícia primeiro?

- Qualquer uma, mas não testa minha curiosidade com esse suspense clichê.

- A tropa de elite do DPDC invadiu a localização descoberta graças ao Owen e acharam uma bomba... desarmada. Essa é a boa. Lá vem a má: O miserável do violador escapou sem deixar nenhum vestígio.

Frank pôde ouvir Carrie gritar alto e depois barulhos de pancada certamente do celular jogado.

                                                                                 ***

Acatando o desejo da assistente, Frank se dirigiu ao parquinho infantil que era uma grande caixa de areia com escada, escorregador, balanços e pneus coloridos. Escolheu um horário conveniente para dialogar com o espírito de uma criança, próximo das onze horas. No ínterim, o detetive ficou no seu gabinete da ADP atendendo ligações de policiais que o atualizavam do arrombamento do prédio onde o violador do Gallen Devor residia e as conclusões tiradas. Conclusões errôneas para Carrie. frank deixava pegadas na areia do parquinho, andando devagar e procurando um modo de chama-lo.

- Ahn... Arthur, eu sei que você guarda memórias felizes desse lugar e por isso continua brincando aqui como se ainda estivesse vivo. OK, eu não vim pra conversa mole. - disse Frank, logo pigarreando - Conheço a sua mãe, sou um grande amigo dela. Então eu gostaria que você se mostrasse pra nos apresentarmos formalmente.

- É sério que é amigo da minha mãe? - indagou Arthur, atrás do detetive. O garoto de bochechas fartas e cabelo castanho meio encaracolado usava as roupas do dia de sua morte, um moletom verde e branco - Ou tá substituindo meu pai?

"Crianças, sempre sinceras", pensou Frank enrubescido.

- Não, nada disso. Amigo, somente amigo. - deu um sorriso nervoso - Eu vim pra te conhecer a pedido da sua mãe.

- O que você quer de mim? - perguntou Arthur, ressabiado.

- Vou ser bem direto com você, Arthur. Sei que é do tipo de fantasma que não fica preso ao local da sua morte, no seu caso pode se deslocar pra onde quiser. Qual foi o último lugar em que esteve? Deve saber que seu pai saiu da prisão faz uns dias.

- Ela te mandou vir pra me obrigar a falar onde meu pai tá escondido, não foi?

- Isso também. Mas principalmente pra...

- Não! - vociferou Arthur, levantando sua mão direita estendida e empurrando Frank com telecinesia contra o escorregador.

- Arthur, por favor, vamos conversar numa boa... não quero te fazer nenhum mal. - disse Frank, sentindo as costas doerem.

- Só eu posso mata-lo, sou o único que deve fazer ele pagar pelo que fez! - disse o garoto, enfurecido.

Enquanto isso, numa agência bancará o gerente ia até a recepção, afrouxando um pouco sua gravata preta, numa postura reta e determinada. Sorriu cordialmente para a moça no balcão, indo até o cofre principal com um molho de chaves que ficava sob sua exclusiva posse e uma bolsa de viagem. Passou pelos escaners de retina e impressão digital. Concedido o acesso, entrara noutro compartimento revelado pela abertura da porta automática deslizante no qual digitara uma senha.

A porta metálica, redonda e pesada abria-se lentamente e um sorriso de satisfação desenhava-se na face esguia do gerente que foi logo pegando umas notas e colocando dentro da bolsa. Paralelamente, um segurança armado entrava num banheiro para urinar, mas um box chamou sua atenção. Bateu na porta de leve, não obtendo resposta. Olhou pela brecha abaixo da porta e viu os pés com sapatos bem familiares. Dominado por curiosidade, abriu a porta, pouco ligando para privacidade.

Soltou um arquejo de espanto ao ver o gerente sentado inconsciente no vaso sem as roupas e tratou de tomar providência.

- Fiquem todos em posição de alerta, acabei de encontrar o gerente desacordado no banheiro. Alguém soe o alarme depressa! - disse através do rádio colado ao seu coldre. Nesse instante, o falso gerente saía do cofre com a bolsa cheia.

Os guardas, em prontidão, apontavam suas armas para ele. O barulhento alarme acionou-se de repente e a moça da recepção não entendia nada. O falso gerente não esboçava sinais de intimidação ante á mira das armas.

- O que tá acontecendo aqui? - perguntou a recepcionista - É o gerente, ele tem acesso privilegiado ao cofre principal! O que significa isso? Me pareceu que ia deixar um pacote lá...

- Esse não é o gerente! - disse um guarda - Não viu que a bolsa voltou mais cheia do que antes?

Ela tinha de concordar. Mas sua confusão só aumentou.

- O que fez com o gerente? Responde ou vamos tirar esse disfarce na marra! - bradou outro guarda.

- Ah, se impressionaram com meu truque de mestre? Não é nem um terço do sou capaz de fazer.

O copiador de rostos sacou um isqueiro, acendendo-o e jogando sobre a bolsa. O alarme de incêndio foi acionado e uma teve uma chuva que o bandido usara como distração para escapar por uma porta nos fundos. Alguns guardas foram no encalço dele atirando e outros contactavam a polícia. No parquinho, Frank foi interrompido por uma ligação da ADP que o informava sobre o assalto ao banco. Porém, aquilo serviu para distraí-lo do sumiço de Arthur.

- Arthur, cadê você? - perguntou ele - Aparece pra mim, amigão, eu não quero te atrapalhar. - viu que não adiantou - Merda. - pegou o celular e ligou para Carrie - Missão falhada. Ele é um espírito puramente vingativo, ainda mais levando em conta as circunstâncias da morte. Carrie, sinto te dizer, mas desse jeito não dá certo. O garoto já tinha plano de se vingar...

- Eu mudei de ideia quanto a isso, mas depois voltei pra indecisão. O Mark deixou de ser meu marido... mas pensei com mais calma e gostaria de fazer o Arthur entender que ele nunca deixará de ser o filho dele. - disse Carrie, quase aos prantos.

- Tem uma saída pra contornar isso. - disse Frank - O tabuleiro Ouija, você tem um que eu sei.

- Está bem, vou tentar. Se até agora ele não fez um arranhão no Mark, significa que ainda tem compaixão...

- E provavelmente ele que desarmou a bomba plantada para emboscar os policiais na casa onde o vídeo foi gravado. Acabei de receber a ligação da ADP me falando de um assalto à banco. O gerente sumiu e uma espécie de clone dele estava saqueando o cofre. Tô indo pra lá agora. Me retorna dizendo se deu certo ou se deu ruim no contato com o Arthur.

                                                                                      ***
Indo à agência bancária, cuja fachada estava banhada por luzes azuis e vermelhas de sirenes das viaturas, Frank foi logo atrás do gerente real para colher depoimento, passando por uma multidão de curiosos, alguns até clientes que presenciaram a abordagem à mão armada contra o impostor.

- Olá, sou detetive da ADP, Frank Montgrow... - disse ele, mostrando a licença para os policiais - Onde é que tá o gerente que sofreu o ataque? - apontaram para uma direção e o detetive seguiu - Err... posso falar um minuto com você?

- Só falarei ao lado de meu advogado. - disse o gerente, transtornado - Quem você é? No que vai agregar nisso aqui?

- Venho em nome da Agência de Detetives Particulares, mas não posso fazer nada além de repassar em primeira mão para a imprensa, deixamos a polícia cuidar dos destrinchamentos mais profundos. Você pode estampar a capa de um jornal amanhã.

- Um mascarado entrou no banheiro pouco depois de mim, daí me pegou de guarda baixa e tascou um beijo... na boca. Não consentido, é claro, eu tentei me soltar. A máscara dele era tipo uma daquelas toucas que cobre o rosto inteiro...

- Uma touca de ninja? - indagou Frank, anotando no seu bloco.

- Não, as dos ninjas ao menos tem uma abertura para os olhos e via de regra são pretas. A do usurpador desgraçado era toda branca, sem orifícios, como se fosse um manequim vivo sem face. - declarou o gerente, ainda abalado - Mas tinha uma mancha na máscara dele quando fui beijado...

- Que tipo de mancha?

- Parecia sangue... uma mancha se formando na boca. O que aconteceu em seguida... foi que apaguei.

Num ponto discreto, afastado do mutirão, Frank ligara para Carrie inteirando-a.

- Disse máscara?! - falou ela, abismada - Calma aí, tá passando uma nova reprise desse filme de terror na minha cabeça...

- As peças começam a se encaixar direitinho. - disse Frank - O que foi? Lembrou de alguma coisa de repente?

- Na época, apesar de tomar como mero boato, ouvi dizer que o assassino do Arthur usava uma máscara exatamente como me descreveu, exceto o lance da mancha de sangue que certamente tem algo a ver com essa história de rostos copiados. Primeiro o guarda, segundo o gerente...

- Onde será que o Mark conseguiu um objeto amaldiçoado? E se mencionaram a máscara na época do crime, por que não apreenderam? Acho difícil que ele tenha ficado com ela nesse tempo todo?

- Pode ter guardado a máscara num lugar secreto que somente ele saberia. Ou também o seu cúmplice. Frank, serei sincera com você: Não duvidava da vida bandida do Mark e nem do que ele podia ser capaz pra ver seus planos bem-sucedidos, tudo com a desculpa de ser pra minha proteção e a do Arthur, mas creio na existência de um segundo personagem nessa história. Alguém que talvez quisesse me fazer acreditar na condenação do Mark fingindo ser ele... Mas que tipo de cúmplice aceita ser preso no lugar do parceiro?

- Essa maracutaia toda ficou mais nebulosa. Quer saber? Vou ao necrotério aqui próximo, o mesmo onde o Arthur foi periciado. Afinal, você nunca soube exatamente como ele morreu.

- Não dava pra acompanhar as investigações de perto com esses olhos que não paravam de lacrimejar...

Frank sentiu-se de coração cortado pelo tom lamentoso da assistente que desabava de luto. No necrotério, analisava o obituário de Arthur que havia sido baleado na cabeça. O médico legista era um senhor meio baixinho, calvo e usando óculos redondos.

- Receio que esse não seja o único a passar pelo seu conferimento. - disse o legista.

- O quê? Tem mais um? Só tem uma pessoa morta no dia 15 de Março de 2012 que me interessa aqui.

- Acho que está enganado. - disse o legista, mostrando um obituário do mesmo dia - Esse não foi publicado nos jornais. Na verdade, não liberamos pra não causar repercussão caótica na mídia.

Frank passava os olhos pela folha, estarrecendo-se.

- Isso detalha... a causa da morte do pai do Arthur, justo ele o assassino do próprio filho.

- O qual teve prisão decretada por juiz e televisionada localmente. - retrucou o legista, intrigado - Todos sabem que ele foi solto, também judicialmente. Então o que explica o corpo desfigurado que nos trouxeram e identificado como Mark Wood?

- Eu não sei, não faz o menor sentido, mas bem que podiam esclarecer isso pra mãe do garoto, ela estava sofrendo. - reclamou Frank que naquele instante sentiu o celular vibrar - Alô, Carrie.

- Frank, tomei uma decisão, mas você não vai gostar. Lembra que falei de eu ainda ter o número de telefone do Mark?

- Carrie... O que você fez? E o que te pedi pra fazer naquela hora? Você achou a tranqueira?

- Está aqui comigo, estou pronta pra falar com o Arthur por tempo suficiente até que ele venha.

- Ele quem? Ah não... Carrie, você não devia... Cometeu um grave erro.

- Sim, quero dar um basta nessa dor que me consome há oito anos. Isso acaba hoje. Vou acertar as contas com quem estiver por trás daquela máscara maldita. E tenho dito. - disse Carrie num tom fervoroso. Desligou, fazendo Frank gelar de tensão.

- Obrigado pela atenção doutor, tenho que ir, boa noite. - disse ele, saindo ás pressas da sala. O legista abriu a boca para dizer "de nada", mas Frank já se distanciara bastante.

                                                                                 ***

Na sua casa, Carrie ajoelhou-se diante da mesinha com o tabuleiro Ouija sobre o móvel, tocando no triângulo para quando o fantasma do filho controlasse suas mãos a fim de focar em cada letra do alfabeto escolhida e dar forma à mensagem.

O triângulo teve sua lente parada nas letras que formavam a frase "Estou com raiva".

- Eu sei melhor do que ninguém o quanto está. - disse Carrie, reprimindo lágrimas - Ah... - afastou o triângulo e o tabuleiro, cansando-se rápido daquilo - Isso é pra amadores. Deve ter conhecido o Frank, não foi? Ele me recomendou usar essa tábua como modo seguro de te chamar. Mas por que estaria insegura por falar com meu próprio filho? Apesar dos pesares. Apesar de tudo que aconteceu naquela noite infernal. - baixou a cabeça, mordendo os lábios - Arthur, por favor, sei que está aí.

- Mamãe. - disse o menino, surgindo na frente dela - Não chora, isso logo vai acabar. Vou fazer com que ele pague.

- Não... Arthur, meu anjinho, me escuta: Eu errei pensando que vingança fosse a solução ideal. Não vá por esse caminho.

- Mas eu quero, ele tem que merecer! - disse Arthur, enraivecendo-se de súbito a ponto de queimar uma lâmpada da sala que soltou faíscas - Nem a senhora ou aquele seu amigo estranho vão me impedir!

O arrombamento da porta, batida por um chute violento, assustou Carrie que tremeu com o barulho. O ladrão de rostos adentrava com sua máscara branca, trajado como quando invadiu o cemitério.

- Ora, veja só o que temos aqui. - disse ele, visualizando o fantasma de Arthur - O filhinho da mamãe que sabotou minha cilada pra polícia hoje cedo. Eu bem que desconfiava do ar frio, não era o ar-condicionado no máximo.

Carie levantou-se rapidamente e foi à cômoda puxar uma gaveta da qual tirou uma Tauros calibre 380 e apontar para o invasor. Arthur recuava devagar, hesitando realizar uma ação ofensiva contra ele.

- Sua única arma é essa máscara amaldiçoada que te auxilia no roubo de rostos. Uma pena que não pode me submeter a te beijar e ter meu rosto copiado... Seria estranho sair por aí com corpo de homem e rosto de mulher, não acha? É óbvio, apenas pessoas do sexo masculino são seus alvos. - destravou a arma - Consegue ver o Arthur... Se for você, Mark, vai se arrepender amargamente se acha que resolver nossas vidas como uma família está nas suas mãos. Acabou, já era!

Frank chegara dando um golpe na cabeça do violador com a coronha do seu rifle, mas ele resistiu e contra-atacou com um chute que derrubou-o. Arthur tentava mover um vaso que tremia, porém o violador sacara uma arma e atirou despedaçando o objeto antes que voasse na sua direção.

- Bem, essa é minha única arma. - disse ele para Carrie. Frank levantou e desferiu um soco nele que pareceu não ter muito efeito e logo desferiu outro e mais outro. O violador revidou com uma cabeçada e em seguida um golpe de cotovelo no peito do detetive. Frank caiu novamente para depois ser levar socos contínuos sem brechas para se defender.

- Frank! - exclamou Carrie, logo atirando nas costas do ladrão de rostos que segurava Frank aproximando seu rosto coberto ao dele desprotegido. Tiros ineficazes e mais que superficiais. A arma fez "click" várias vezes - Merda!

Frank lutava para se libertar, mas fora beijado pela boca sangrenta da máscara.

- O que tá havendo? Sai de cima dele, seu miserável!

- Ele é invencível. - disse Arthur, acuado - A máscara protege ele, não consigo ataca-lo.

- Por isso nunca criou coragem pra se vingar... - disse Carrie, compreendendo a vulnerabilidade do filho.

O violador reergueu-se triunfante, alongando o pescoço. Retirou a touca, mostrando que copiara o rosto de Frank.

- Tá afim de saber como essa belezinha conveniente chegou até mim? Não vai acreditar...

- Fica longe... O jogo virou, mas tenho mais chances de levar a melhor. Você obviamente não é o Frank, tampouco o Mark. Também não era o guarda confessando o crime bárbaro, muito menos o gerente do banco que assaltou. Tanto desespero por grana pra quê? Incriminou um homem inocente pra quê? - questionava Carrie, os olhos mordazes e raivosos para o invasor.

- Há muitos anos, Danverous City sofria diariamente com o terror causado por um respeitado assassino e ladrão de bancos que usava a máscara pra ocultar sua identidade, ele não se diferia muito dos bandidos comuns, tirando suas maneiras peculiares de lidar com a polícia e reféns. Até o dia em que ele foi morto por mercenários. O sangue na máscara foi cuspido por ele, o último sangramento dele. Os idólatras consideraram a máscara como uma joia preciosa e a mandaram para um bruxo que criou um feitiço que fizesse jus à fama dele. O assassino por hábito beijar suas vítimas depois de mata-las.

- E o Arthur? Quem diabos é você? O que houve naquela noite?

- O Mark foi um traíra escroto, não deu outra e o chefe decretou a execução, não importando se ele quisesse vender o filho ou qualquer outra coisa de valor material ou sentimental. Fui incumbido pra dar cabo dele na mesma noite que a polícia achou nosso esconderijo pra resgatar o moleque. Mas nós fizemos um trato porque éramos muito amigos.

Frank despertava aos poucos, entrevendo a máscara largada no chão. Carrie percebeu e disfarçou.

- Que trato foi esse? A vida do meu filho estava no meio dessa droga!

- Eu tive que ir preso pra que você soubesse que o Mark ia pagar pela vida que escolheu mofando numa cela sabe-se lá por quantos anos. Além do mais, ele reconhecia minhas necessidades, não seria naquele momento que ele sujaria comigo como sujou com todo o resto. Eu ainda tinha algum respeito por ele. - disse o violador, fazendo com os dedos indicador e polegador para representar a quantidade desse "respeito" - Minha esposa e eu sonhávamos com um filho, nunca fomos abençoados por mais que tentássemos. Por isso roubei o seu. Prometi ao Mark trazê-lo de volta se procurasse um bruxo ou uma bruxa pra revivê-lo com essa coisa de necromancia. Ele praticamente doou o fedelho pra mim por caridade.

Carrie soluçava aos prantos.

- O dinheiro que tentei roubar seria a recompensa de quem ressuscitasse o garoto. - completou o violador. Frank aproveitou a deixa e tirou um isqueiro, acendendo-o e levando a chama à máscara que queimou. O detetive levantou-se e jogou a máscara num cesto de lixo. Um fenômeno espantoso ocorria: a face do violador transformava-se em vários rostos, todos os que havia replicado. Finalmente seu rosto autêntico estava revelado. Um homem branco, careca e de olhar maldoso.

- Não! - disse ele, virando-se para Frank. Mirou sua arma em Carrie - Vou fazer o que sempre faço com obstáculos.

No entanto, o violador não apertou o gatilho pois Frank encostou o cano da sua arma na cabeça dele e ainda destravando.

- A sua máquina de xérox sobrenatural foi pras cucuias. - disse Frank - Quer descobrir quem puxa primeiro o gatilho?

O violador largou a arma, erguendo as mãos em rendição.

- Assim que eu gosto. - falou Frank. Carrie suspirou de alívio - E quer saber? Você beija mal pra cacete.

- Para de queixa, senti você movendo a língua. E muito prazer, me chamo Willy.

                                                                                  ***

De volta ao parquinho, Frank ajudava Carrie a reunir forças para dar o último adeus à Arthur.

- Não se esqueça que a mamãe o amará pra sempre. - disse ela, agachada, tocando no rosto do filho. O abraçou. Arthur demorou a corresponder, mas com um meneio de cabeça por parte de Frank ele retribuiu o gesto amoroso - Vá em paz, filho. É provável que não reencontre seu pai...

- Eu sei disso. - respondeu Arthur, conformado - Adeus, mãe. E adeus, Frank.

O detetive deu um joinha de despedida. A luz branca brilhava enquanto Arthur alçava para a eternidade e desapareceu junto com seu espírito. Frank se pôs ao lado de Carrie para dar calor humano e ambos contemplaram as estrelas abraçados. Uma delas tinha brilho bem mais vívido.

                                                                               -x- 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos.

*Imagem retirada de: http://www.assombrado.com.br/2016/11/uma-criatura-misteriosa-teria-mordido-e.html

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