Capuz Vermelho #57: "Fazendo história"


Oxford

Os cabelos ruivos de Alexia molhavam-se com o suor profuso e incessante. Acreditou ser uma noite normalmente tranquila, mesmo com a tempestade, ao lado de seu namorado, Charlie, que dormia profundamente sem se dar conta do seu estado naquele momento. A vidente virava-se de um lado pro outro, remexendo-se na cama com desconforto e gemendo como se uma dor crescesse aos poucos. Apertou os olhos mais fortes e cerrou os dentes no instante que um relâmpago atravessou a janela.

No seu pesadelo corria um filme de horror que envolvia inúmeras pessoas fardadas de preto marchando como num desfile similar aos nazistas, uma boa parte delas segurando uma enorme bandeira escarlate com um símbolo familiar à vidente. Uma estrela negra de oito pontas que pareciam setas ou flechas. O local parecia ser o Luitpold Arena, espaço aberto às marchas do partido nazista.

Um evento alternativo ocorria ao mesmo tempo da barulhenta passeata. Era noite. Um outro grupo de pessoas ovacionava um líder que gritava ao microfone discursos encorajadores. Correção: Não eram exatamente pessoas... humanas. Se tinham pele vermelha eram humanas? Vestiam como pessoas normais, mas suas características eram monstruosas. Atrás do eloquente líder, estava um homem.

O tal homem tinha pelo corpo um incontável número de cortes e ferimentos e estava nu preso a uma estrela de oito pontas metálica como numa crucificação. Seu rosto triste fitava a multidão. O líder acendeu uma tocha direcionando-a para o homem. Alexia o reconheceu imediatamente. E despertou sobressaltada chamando um nome.

- Hector! Não!

Charlie acordou assustado, levantando-se depressa.

- Calma, calma, calma. Alexia, me escute... Teve outra visão? Não foi?

Ela apenas fez que sim com a cabeça e se levantou correndo para acender o abajur na cômoda, logo pegando papel e lápis e escrevendo rápido. O mago do tempo estranhou o comportamento.

- O que está fazendo? - perguntou Charlie, chegando perto - Dessa vez foi tão grave? Alexia, por favor. Para que você saiba, eu até hoje não lido bem com essa sua mania de esconder o que vê...

- Eles precisam saber. - disse Alexia, terminando - Charlie... Por muito tempo não me culpei de ficar em silêncio sobre as visões... mas agora... devo avisa-los. - mostrou o símbolo desenhado no verso - Isto aqui... já vi isso antes. Robert Loub recebia visitas de pessoas com broches nesse formato. Pessoas ligadas ao nazismo. Loub, afinal, era partidário nazista! A pior parte é sempre no final.

- O que você viu pouco antes de acordar? Não espera... Ouvi você falar Hector.

- Pois é. Vi o Hector... - ela quase chorava - ... numa espécie de crucificação, prestes a ser queimado vivo diante de uma multidão que idolatrava um homem influente. Eles merecem ser avisados. Algo terrível está por vir.

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CAPÍTULO 57: FAZENDO HISTÓRIA

Grande Londres - 3 dias depois

Numa rua em plena noite, Rosie e Hector davam uma volta juntos no objetivo de espairecer. No entanto, o caçador pouco esboçava segurança com gestos pequenos que fizeram Rosie questionar.

- Se quiser, podíamos ir a um bar bebermos algo, já que a dispensa foi esvaziada. Você topa?

- Melhor que seja noutro dia. - disse Hector, parando - Por que não vamos até a galeria de arte que a Alexia nos recomendou há três dias?

- Há três dias ela enviou uma carta assustadoramente sinistra avisando sobre um domínio, regime, ou sei lá o quê, onde você foi exposto ferido e...

- Já chega. Só de relembrar, me dá arrepios. Eu simplesmente... não consigo tirar da cabeça. Venho tendo pesadelos com isso, pela grafia ela escreveu com muita urgência. E aquele símbolo...

- É, eu sei, parece uma espécie de rosa-dos-ventos macabra ou um grande asterisco. Sabe... a minha intuição tem me feito acreditar num tipo de conspiração. A atmosfera estranha que senti... Sei que você odeia falar disso, vamos à galeria então.

- A visão de Alexia me abriu os olhos. - disse Hector - Há algo muito suspeito rastejando como uma serpente prestes a nos estrangular como uma jiboia. A Caosfera pode estar mais próxima do que imaginamos, Mollock não inventou uma historinha da carochinha pelo visto.

- Você tem ido visita-lo demais ultimamente. - disse Rosie, retomando a caminhada - Viraram amiguinhos que compartilham segredos? Também quero participar desse clube.

- Interrogatórios de rotina. Precisava saber mais da relação entre ele a garota com a qual obteve o cetro com a pedra filosofal, a que ele chama de Dora... - o caçador parara - Estou lembrado.

- Do quê? - indagou Rosie.

- Ano passado, quando terminamos de reunir seis armas divinas após os leilões, em algum momento escutei Alexia mencionar essa Dora, uma compradora. Justamente era o cetro leiloado. Numa das minhas conversas com Mollock, ele revelou que ela serve à Caosfera. A minha intuição que estamos presos numa teia e seremos devorados pela aranha cedo ou tarde, se levarmos em conta que Alexia previu basicamente uma ditadura ainda mais nefasta que o nazismo.

- E as pessoas de pele vermelha... Demônios, não tem dúvidas. - disse Rosie - Mas você e o Derek viajaram por quase todo o país atrás das portas pro Tártaro e fecharam as cinco sem muito trabalho... Tudo ainda está confuso e eu saí sem disposição pra ficar remoendo preocupações. Mas de uma coisa é certa: Estamos salvos, pois ao menos desta vez ela se deu o trabalho de nos avisar. Como eu queria que fosse um convite de casamento.

- Sinceramente, eu também. - disse Hector, tentando controlar sua tensão. A dupla voltou a caminhar, mas a visão periférica chamou atenção para um beco à direita onde uma briga ocorria entre uma garota encapuzada toda de preto e três policiais. Eles correram após vê-la usando uma barra de ferro pontiaguda com intenção de matar um deles que derrubou facilmente com um chute no tórax.

- Ei você! - gritou Hector - Pare!

- Isso ainda não acabou. - disse a garota, tirando a ponta da barra do pescoço do policial e depois fugindo. Os outros dois se viam caídos queixando-se dos hematomas no rosto.

Ignorando-os, Rosie e Hector seguiram frenéticos correndo atrás dela dobrando por muitos becos.

- Algum sinal dela? - perguntou Rosie, parando - Desapareceu...

- Não sinto a presença dela, é como se... Eu ouvi seus batimentos cardíacos acelerados e eles bruscamente sumiram. - disse Hector, olhando em volta pelos cantos escuros.

- É impressão minha ou entramos num caso... normal? Perseguindo uma delinquente que desafia policiais. - disse Rosie, aparentando felicidade. No entanto, um sigilo desconhecido abaixo deles acendeu-se em vermelho vivo  - Comemorei cedo demais.

Um tipo de campo de força se formou entre eles à medida que a luz intensificava-se. O campo parecia uma bolha querendo engoli-los até esmaga-los num segundo fazendo sobrar um brilho ínfimo que tremeu até sumir rápido. O sigilo ficara marcado no chão como se tivesse sido desenhado a carvão.

Ambos caíra numa outra dimensão, especificamente numa rua de área residencial. Estava de manhã e o sol estava bloqueado por umas nuvens meio cinzentas.

- Você está bem? - perguntou Hector, levantando-se.

- Ai meu queixo... Asfalto de boa qualidade. - disse Rosie, sentindo dor ao levantar-se - Tá legal... as aparências enganam mesmo. Vou criar um manual de sobrevivência para caçadores iniciantes e o primeiro mandamento será: Sempre desconfie de alguém com um capuz.

Hector a olhou com estranheza.

- Com um capuz, todo vestido de preto e... fazendo maldades. - disse Rosie, dando de ombros - Preciso ser mais específica. Agora a questão é isso aqui... Onde viemos parar?

- Me parece o futuro. - disse Hector, visualizando - Ou algum futuro alternativo. Os carros ainda possuem rodas, embora ligeiramente diferentes. - virou-se e avistou um ônibus escolar amarelo prestes a atropelar Rosie que estava distraída. - Cuidado! - usara sua supervelocidade e salvou-a a tempo, levando-a ao outro lado. - Tudo bem?

- Obrigada. Ele podia ter buzinado...

- Pelo ritmo, é um apressadinho. - disse ele - Precisamos encontrar uma saída... Primeiro saber como para depois saber onde.

- Nunca vi aquele sigilo na vida. - disse Rosie - Se isso for um futuro... até que gostei. É bem pacífico comparado ao do Kyle. - começara a andar por uma direção aleatória. - Vai ficar aí parado? As pistas não caem do céu. Vamos explorar.

- Se você diz... - disse Hector, cedendo e seguindo-a.

A procura por algum indício não foi tão árdua quanto pensaram. Pouco mais de cinco minutos, o primeiro já havia sido detectado. Hector olhara para a parede cinza de um beco sem saída.

- Rosie, veja isso. - disse, andando na direção - Parece algum tipo de mensagem...

"Achem a saída em menos de 24 horas. Uma vez que ultrapassem esse tempo ficarão presos nesta dimensão para sempre. Ass: Aquele caçador da festa"

Abaixo da assinatura tinham números indicando um endereço.

- E quando penso que nada mais pode me deixar confusa... - disse Rosie, lendo - Faz algum sentido pra você? Por que se eu chegar a enlouquecer, não quero ser internada sozinha.

- É uma nova semente de dúvida. - disse Hector, balançando a cabeça negativamente - Achávamos que aquele caçador era um ponto isolado. Mas pensando bem... Andrew pode não ter sido seu contratante, mas alguém do alto escalão do Caosfera. Ambos foram lacaios. O plano provavelmente não era fazer Andrew recuperar a adaga, mas permitir que o caçador a levasse ao seu chefe.

- Então a morte do Andrew foi considerada uma possibilidade?

- Se sim, tenho que reconhecer a precisão em se preparar para qualquer eventualidade. Este aviso me soa como um bom blefe e não uma tentativa de ajudar.

- Tem razão. Sequer sabemos da identidade... Espera, olha esse endereço - tocou na parede e seu dedo ficou sujo de tinta -, pode ser um ponto de encontro. E olha... - destacou a tinta - ... está fresca. Não é uma tinta comum, parece que foi borrifada, a consistência é diferente. Ele deve saber onde fica a saída. E citou dimensão. Significa que não voltamos no tempo, só estamos num outro universo.

- Dada a sua análise da tinta, isso implica dizer que ele pode ter escrito a mensagem... não faz muito tempo, talvez uns dois minutos antes de vermos.

- Armadilha ou não, precisamos agir. - ressaltou Rosie - Mesmo que seja um golpe para nos pegar, ele e a garota unidos, nós vamos partir pra cima sem relutância. Eu quero fugir, mas se for necessário lutar pra conseguirmos, eu mergulho de cabeça. Você tá comigo?

- Rosie, não esqueça que ele quase matou você... chegou muito próximo de me matar... O estilo de combate dele nem parecia humano. Eu odeio sentir medo... e de me sentir preso.

- A gente dá conta. Exercitar auto-confiança não custa nada. - disse Rosie - Vamos ser mais fortes.

Estimulado, Hector assentiu à ela. A dupla se encaminhou ao local após uma busca que durou mais ou menos uma hora e meia. Era um amplo depósito de peças automotivas em estado precário.

- Olá? - chamou Rosie bem alto - Não tem ninguém?

- Não, há outra presença. - declarou Hector, atento com sua superaudição - Muito baixo...

O caçador de repente saltou de uma área alta e logo atacara Rosie com sua espada média. A jovem desviava e tentava desferir algum golpe impactante com seus punhos, mas agilidade do caçador mostrou-se superior. Hector avançara derrubando-o no chão ao pular sobre ele.

O caçador o empurrou contra uma pilha de caixas. Rosie pegou a espada e recomeçou sua luta. Ele a pegara pelo braço barrando um ataque e dera um chute na barriga e logo uma bofetada no rosto e depois um cruzado de esquerda. Rosie não conseguira revidar devido a rapidez dos golpes.

Hector reergueu-se e correu contra ele sendo pego pelo pescoço. Rosie, mesmo com o nariz sangrando, tentou novamente soca-lo, mas recebeu uma cotovelada do braço esquerdo que a fez cair. Quanto a Hector, o caçador tratou de empurra-lo com a outra mão, fazendo-o voar à uma parede.

- Você é bom no que faz... - disse Rosie, levantando e limpando sangue.

- Bom ver que reconhece. - disse o caçador, retirando sua máscara negra. A perplexidade foi intensa.

- Não... Isso não pode ser verdade. - disse Rosie, incrédula ao ver Adam sob o manto. Hector mal acreditava também, cambaleando - Adam...

- Adam Bolton está morto. - ele apanhara sua espada - Hora de escolher qual dos dois matarei primeiro. O grande cão traidor... ou a donzela amaldiçoada por ele.

- Adam, por favor, nos escute. - disse Hector - Somos nós, seus amigos...

- Nunca tive amigos. - rebateu ele, pronto para jogar a espada em Hector.

O acender de um sigilo próximo à Adam interrompeu. O mesmo o sugou como um imã à parede produzindo um clarão vermelho ofuscante.

- Ué? Cadê ele? - perguntou Rosie - Já vi esse truque antes, mas... só deuses podiam fazê-lo.

- E a linha que nos separa dos deuses - disse uma voz feminina - é bastante tênue.

Ambos se viraram e observaram a garota encapuzada chegar.

- É você. - disse Hector - Nos deve boas explicações. Fale agora ou...

- Começa respondendo por que lutava com aqueles policiais. - exigiu Rosie.

- Calma aí, pessoal. Uma pergunta de cada vez.

- Não brinque conosco. - retrucou Rosie - Não sabe do que somos capazes.

- Eu até temeria se não assistisse a bela surra que levaram. Mas como generosamente salvei suas vidas de uma marionete implacável... posso ser solidária.

- Marionete?! Aquele homem é nosso amigo. - disse Hector, furioso - O meu melhor amigo.

- Era. Não é mais. - disse a garota - O Adam Bolton que conheciam não passa de uma consciência deletada e substituída por outra, como uma reprogramação mental. Cortesia de uma certa organi...

- Caosfera. Já sabemos. - disse Hector - Por que nos plantou essa armadilha?

- Não eram vocês meu alvos. Aqueles caras me encurralaram e não aconteceu como planejei. Escolhi surra-los como se não houvesse amanhã. Desculpe pelo acidente.

- Também não vou agradecer por nos salvar. - disse Rosie, inflexível - Se esforça mais pra provar que merece nossa confiança ou se declare inimiga. Ficar em cima do muro não é opção.

- Mas vocês vão confiar em mim. - disse ela - Não sou eu que tô pedindo. O tempo irá mostra-los.

- É ligada à Caosfera. - salientou Hector.

- Antes ligada, agora desvinculada. Estou num jogo de gato e rato, mas vocês estão mais perto da ratoeira. Os "policiais" - fez aspas com os dedos - na verdade queriam minha cabeça.

- São membros da Caosfera? - perguntou Rosie - Logo agora tínhamos que ser arrastados pra isso...

- Está enganada. Vocês entraram no olho desse furacão desde o início. - disse ela, andando para trás e desaparecendo num piscar de olhos. Mas surgira perto de uma janela no alto, prestes a pular. - Querem escapar? Precisam achar alguém importante. 318. Não resta muito tempo.

- Ei, espera aí! - gritou Rosie, alarmada. Mas a garota pulara de costas sem medo numa queda de 7 metros. A dupla correu para fora e não viu sinal dela. - Odeio esses truques.

                                                                                ***

A campainha da casa de número 318 foi tocada mais de uma vez.

- Qualquer ruído estranho que ouvir, puxe o gatilho. - disse Rosie, apreensiva - Sim, eu não confio nela. Difícil pra mim acreditar que a chance de voltarmos mora nessa casa.

- Até agora só o mais puro dos silêncios. - disse Hector - Toque de novo. Última vez.

Antes que Rosie levasse o dedo indicador ao botão, as trancas foram sendo removidas.

- Desnecessário. - disse ela.

A pessoa que abrira a porta era um jovem aparentando uns 20 e poucos anos, vestindo camisa preta, calças jeans e tênis. Tinha cabelo curto preto em corte social e rosto caucasiano com olhos penetrantes que encaravam a dupla com confusão.

- Eu posso ajudar? - perguntou ele, meio tímido.

- Ahn... Nós não somos daqui, err... - disse Rosie - Hector, melhor você explicar.

- Eu sei quem vocês são. - disse o rapaz - Só ainda tô tentando processar o que vejo bem na minha frente. Tem ocorrido coisas tão bizarras e inesperadas que vocês não tem noção...

- Lidar com o bizarro e coisas inesperadas é nossa especialidade. - disse Rosie.

- Disse saber quem somos? - indagou Hector - Olhe, pra começo de conversa, uma pessoa que não sabemos se devemos ou não confiar nos aconselhou procurar sua casa.

- Por favor, entrem. - disse ele, virando as costas ansioso - Acho que sei o que está havendo.

Ambos entraram ainda mais confusos. Em um cômodo próximo da sala, o jovem mexia em seu computador desesperadamente.

- O que ele está fazendo? O que é aquilo? - perguntou Rosie.

- Não consigo. Mas que droga! - reclamou ele, batendo na mesa.

- Seja lá qual for o problema, talvez possamos ajudar. - disse Hector.

- Não podem, a menos que um mutirão de deuses distorça a realidade em 1942 e os efeitos afetem a humanidade fazendo evoluir suas tecnologias... e vocês dois consertem a merda do wi-fi.

- Como sabe que viemos de 1942? - perguntou Rosie. Algo no sofá ao lado lhe atraiu. Um livro entre outros cuja capa mostrava a silhueta de um lobisomem num cemitério e um fundo vermelho e logo acima o título "Capuz Vermelho". Ela pegara o exemplar, abrindo-o.

- Me chamo Lucas. Estou feliz e zangado. Na verdade, mais feliz. Vocês... aqui... na minha frente... tão reais! - ele sorriu emocionado - Acho que tá me faltando ar... - pegou um saco para hiperventilar.

- Hector... - disse Rosie num tom preocupado - Acho que aquela garota não mentiu sobre ser alguém importante. E-esse livro...

- Pois é. Que doideira não? É muito pra processar, mas não consigo conter. - disse Lucas.

Rosie ergueu o olhar para ele.

- Nesse livro... a sinopse dele - virou para a contracapa -, olha que loucura, fala sobre mim, sobre você Hector... Como isso é possível? Nossas vidas estão narradas aqui.

- Sou o autor dessas histórias. - disse Lucas - Bem-vindo ao meu mundo. Minhas belas criações.

Boquiaberta, Rosie mal sabia o que pensar.

- Uau! - disse, olhando para o livro.

Sentados nos sofás, a conversa séria finalmente tivera início.

- Tenho três livros publicados, mas minha renda deu uma queda ultimamente. - disse Lucas - Tá, não vamos falar sobre mim, mas sim sobre porque minha ajuda é tão valiosa. Eu só tive ideias. Acabei descarregando tudo no papel. Rascunho pra lá, rascunho pra cá... Trabalhei duro e sou grato. Agora estou tão surpreso quanto vocês, é sério. O mundo que criei... de fato existe. Sou um deus?

- Você não é um deus. - disse Rosie - Me parece um cara normal, inseguro e... bem criativo, diga-se de passagem.

- Porém, especulamos que houve intervenção divina. - falou Hector.

- Não recebo visitas há certo tempo. Visitas... como agora. Pensem o que quiser, mas... a coisa mais próxima dessa teoria é isso aqui. - puxou a manga esquerda da camisa. No seu ombro havia uma marca no formato de estrela de oito pontas - Não é tatuagem. Mas também nenhum ferro quente me marcou, embora pareça. Na noite que descobri isso, uma pessoa invadiu meu quarto. Pela fisionomia acho que era mulher. - a informação fez Rosie e Hector entreolharem-se - E essa marca é a estrela do caos, um símbolo ocultista. Ando trabalhando no quarto livro e o conflito tem a ver com ela.

- O que vivemos até agora são eventos do novo livro? - perguntou Hector.

- Exato. Não posso contar maiores detalhes. Seria spoiler.

- O que é um spoiler? - perguntou Rosie.

- Esperava que você perguntasse isso. - animou-se Lucas - Simplesmente são revelações do enredo.

- Tá, podemos ir mais direto ao ponto. - disse Rosie - O que essa marca faz com você?

- Tenho feito esboços de ideias e o que escrevo... geralmente ganha vida. Isso desde que recebi a marca. Nos noticiários só cobrem a notícia da queda de um meteorito radioativo. Eu nem posso escrever os últimos capítulos com vocês aqui, pois tudo que sai da minha cabeça e jogo no papel acontece. E neste universo o sobrenatural não existe.

- O quê? - indagou ambos em uníssono.

- Quer dizer... - disse Rosie, cética - ... que não há monstros em parte alguma da Terra? Nem deuses?

- Deuses provavelmente sim, mas o sobrenatural mundano que envolve lobisomens, vampiros, bruxas e etc... não veio no pacote do criacionismo.

- Criacionismo? Talvez tenha funcionado aqui. - disse Hector.

- Apotheosis! - disse Rosie, tocando no brasão de Yuga. Nada ocorreu. - Caramba, é verdade.

- Sua vez, Hector. Tenta se transformar. - pediu Lucas.

O caçador fizera caras e bocas, rosnou e grunhiu... mas nenhuma reação.

- Não dá certo. Minha licantropia está...

- Cancelada. - completou Lucas, dando um gole no café.

- Mas a garota que marcou você é certamente a mesma que acidentalmente nos mandou pra cá e ela usou alguma magia pra nos salvar de um...

- Eu sei, o Adam. Me perdoem pela decisão de transforma-lo numa máquina insana de caçar. A magia que ela usou supera a magia negra convencional em todos os níveis. Magia do caos. Uma vantagem da marca é que ela permite que rastreie portais. E o último que detectei veio de um galpão em obras. - pegou umas folhas que estavam na mesinha e começou a esquematizar - Este é o portal pelo qual ela veio pela primeira vez. E este é onde vocês foram pegos. A diferença é que o sigilo conjurado pelo mago do caos fica gravado no local onde ele foi parar, podendo ser reutilizado para que volte. Por que não viram sigilo nenhum quando vieram? Simples: A presença do conjurador é o requisito crucial para gravar o sigilo nos dois pontos. Mas quando uma ou mais pessoas ativam o portal ao ficarem por cima do sigilo, ele não é gravado no outro lado. Deu pra entender? Eu desenhei.

- Compreendemos perfeitamente. - disse Hector - Pelo menos à mim não precisou desenhar.

Rosie o olhou de cara feia.

- Você se acha demais o cérebro da equipe. Não me faça ser os músculos o tempo inteiro.

- Por favor, não comecem uma discussão. - disse Lucas - Vocês tem se dado tão bem...

- Na realidade, estamos em descobrimento.... - disse Hector.

- Ele já sabe disso. Soube muito antes de nós, aliás. - retrucou Rosie - Voltando ao assunto: Ainda ficou uma dúvida pendente. O que diabos o Adam tá fazendo aqui?

- Lucas, você por acaso já escolheu um nome para a garota misteriosa? - perguntou Hector.

- Repito: Me proibi de revelar eventos futuros. Vocês descobriram mais tarde, é só o que garanto. E quanto ao Adam... eu não faço ideia. Parei de escrever justo quando Hector deu um pote cheinho de sangue pro Mollock se deliciar, aumentando suas forças exponencialmente...

- Coméquié? Que história é essa? - questionou Rosie - Peraí... É o motivo pelo qual ia ao QG toda a semana no mesmo horário? Interrogar Mollock coisa nenhuma né?

- Eu escrevo super bem, mas piorar as coisas é meu verdadeiro dom. - disse Lucas, frustrado, levantando-se. - Não... discutam... na minha... frente! Qual é? Vocês chegaram numa fase da relação em que tem segredos guardados perderam espaço, agora é carta na mesa sem rodeios nem mentiras. Em primeiro lugar: Ele - apontou à Hector - fez isso por você. - apontou à Rosie - Uma negociação pra que Mollock hipnotizasse Derek e te livrar das suspeitas. Fim de papo. Se abracem, se beijem, mas não fiquem vociferando um com o outro. O amor veio à tona em vocês. Não o deixem morrer. - fez uma pausa, constrangido - Ahn... Tô me sentindo terapeuta de casal.

- Tudo bem. - disse Rosie - Mas iremos conversar sobre isso a sós. Levanto minha bandeira branca.

- OK. O Adam pode não ter vindo sozinho, já que a Do... Digo, a garota misteriosa não joga mais no mesmo time. Porém, eu sou o alvo principal. A marca vai atrai-los à mim. E vou estar morto pouco antes de vocês retornarem.

- Se depender de nós, com certeza não. - disse Hector, levantando-se com Rosie - Venha conosco.

- Adoraria... viver cada segundo da minha história, do meu mundo... sobrevivendo a cada perigo, colecionando vitórias, derrotas e vergonhas... mas gosto da minha vida como ela é. Eu amo vocês. Vou ficar bem, podem acreditar. Serei apenas um estorvo se os acompanhar. E normalmente eu não falo nessa linguagem, só tô querendo causar boa impressão...

- Lucas. - disse Rosie, aproximando-se - Nós somos gratos. Não desenvolva complexo de deus. Você não nos criou literalmente, mas... foi de grande ajuda. Posso levar um desses?

Lucas virou-se, remexendo nos livros espalhados no sofá pequeno e pegara três exemplares.

- Os três primeiros livros. Vai ser como ler uma autobiografia.

- Obrigada. - disse Rosie, contente - Hector, guarda pra mim no sobretudo...

Enquanto a jovem se aproximava da porta para sair, ela sentira uma ardência na panturrilha.

- Ai... - tocou na bota esquerda sentindo um objeto com muitas pontas - Que negócio é esse?

- O que foi? - perguntou Hector, curioso.

Rosie retirara da bota esquerda uma mini-estrela do caso metálica em alta temperatura. O objeto entrara em combustão rápida e ela largou-o no chão. O mesmo se incinerou espontaneamente sem sobrar nenhum grão de pó.

- Foi ele. O Adam, tenho certeza. - disse Rosie - Colocou isso em mim enquanto lutávamos. No meio de todos aqueles golpes super-rápidos conseguiu implantar essa coisa...

- Um rastreador místico. - informou Lucas - Ele trouxe um mago. Sondou tudo o que dissemos além de saberem minha localização.

- A magia do caos funciona em qualquer dimensão. - disse Hector - Impressionante. Lucas, tem certeza de que quer mesmo lidar com os comparsas de Adam sozinho? Aceitamos passar a noite aqui com você, iremos protege-lo mesmo sem poderes.

- Concordo. - disse Rosie - Esperei tanto tempo pra reencontrar minha avó... posso esperar até amanhã pra voltar ao nosso mundo. Tecnicamente ele é seu também.

- Vou pedir mais uma vez: Não se preocupem. Se possível, aliem-se à encapuzada. A que horas vocês pretendem ir ao galpão? Fica a 12 km ao norte. Não tem guardas lá.

- Por volta das oito. - disse Hector. Olhou no relógio de pulso - Fomos capturados pelo sigilo às nove e quarenta. Há uma chance de voltarmos para esse mesmo horário?

- Não é viagem no tempo. Quando se volta de um universo paralelo, terão se passado o equivalente de horas que ficaram nele. Entendido?

- Tá bom então. - disse Rosie - Se cuida. Adoramos te conhecer. - sorriu.

- Igualmente. Nem tenho palavras pra descrever. - disse Lucas, empolgado - Vou ficar ajudando à distância mesmo com essa marca dos infernos me torturando. Continuem lutando... meus amigos.

                                                                                    ***

Num local desconhecido e aparentemente secreto, com paredes bege e janelas que eram retângulos ordenados na parede, o mago do caos aliado à equipe de Adam tirara a palma da sua mão direita sobre uma estrela do caos de igual tamanho e espessura do rastreador. Seus olhos antes completamente brancos voltaram a ter íris e pupilas.

- Algum progresso? - perguntou Adam, encostado num parede de braços cruzados.

- Encontrei o garoto. E de quebra descobri o próximo passo da dupla de idiotas. Chegarão às oito a um galpão situado à 12 km ao norte.

- E o número da casa do garoto? - perguntou Adam, aproximando-se.

- 318. Numa área residencial pacata demais pro meu gosto. Se minha opinião vale alguma coisa... sugiro nos dividirmos. Até imaginei que eles fossem ficar de babá do garoto, o que daria menos trabalho. Então sobra formarmos duas equipes.

- É esse o meu plano. - disse Adam, virando-se para a porta. Ao abrir, chamou os outros caçadores que jogavam baralho - Chega de diversão. Hoje à noite mataremos dois coelhos. Ou melhor, três.

                                                                                     ***

Em um dos compartimentos menores do galpão, Rosie e Hector andavam praticamente na ponta dos pés e optaram por não usarem lanternas por via das dúvidas. O sigilo gravado estava, com muita chance, no espaço central de extensão que cobria uma boa quantidade de metros do território.

Hector se guiava pelo EMF ligado cuja leitura se acentuava à medida que avançavam.

Apontou para uma porta entreaberta por onde a luz da lua atravessava. O aparelho disparou de 2.0 para 4.0. Fez um sinal para Rosie segui-lo e assim foram.

Ao entrarem, avistaram a certa distância o sigilo marcado no piso como se estivesse queimado.

- Como isso é possível? - perguntou Rosie - O sigilo nem está ativo e ainda emite ondas?

- Leve em consideração os resíduos de atividade. O número registrado, agora que encontramos, é a leitura mínima. Se fosse ativado neste momento saltaria para próximo do limite, mas é uma suposição. Chegamos. - guardou o o aparelho - Precisamos estar perto até que...

- Não contem com isso. - disse Adam, caminhando na direção deles. Sacara uma espada.

- Procura a esquisitona. - pediu Rosie, preparando-se - Eu cuido dele. - sacou uma adaga.

Ela avançou contra o caçador, mais ágil do que nunca ao tentar desferir um corte. Adam barrou cada ataque da pequena lâmina com sua espada e depois partiu para golpes físicos, dando um soco direto.

Em seguida, ele girou chutando-a na barriga duas vezes. Rosie tentou soca-lo, mas foi segurada. Recorreu à cabeçada para depois girara chutando-o no tórax e derrubando-o. Adam recuperou a espada se reerguendo, mas Hector veio para empurra-lo contra barris. Adam se levantou rápido e lançou duas adagas contra os dois. Rosie pegou uma antes que acertasse. Hector desviou e o pegou pelo pescoço, mas não teve força o bastante para levanta-lo. Adam o socou sequencialmente, de esquerda e direita e depois apenas com um punho direito cinco vezes até derruba-lo. Rosie veio com chutes mas sequer o afetou. Voltara a usar os punhos, mas Adam parecia prever cada soco, bloqueando todos, com as palmas e os antebraços.

Hector não desistira e usou uma barra de ferro para deixa-lo inconsciente, Mas Adam a segurou e usou-a para ataca-lo no rosto e depois tomando-a dele para golpear mais duas vezes. Por fim, enfiou a barra de metal no lado esquerdo do tórax de Hector.

- Não! - gritou Rosie, cuspindo sangue. - Adam, chega! As pessoas para quem trabalha... te transformaram em algo que você não é! Ainda tem suas memórias né? Seja forte, se lembre!

- Minhas lembranças com vocês... não significam nada. - disse ele, chutando o rosto de Hector que estava ajoelhado derrubando-o novamente. O pegou pelas duas golas - Suas feridas não cicatrizam. Por que será? Ah, devem ser estes incríveis e eficazes socos-ingleses de pura prata.

- Eu falhei com você... - disse Hector, bastante machucado - Mas quero meu velho amigo de volta...

- Guarde seus sentimentos pra si mesmo, escória. - disse Adam, frio - Naquela noite, a festa que estraguei... Meu objetivo era matar quem se opusesse a minha missão. Não tinha alvos certos. Era liquidar quem encontrasse pelo caminho, sem misericórdia. Havia uma regra, como incapacitar os licantropos, não concordei de início, mas... segui. Iria matar Rosie porque estava carregando a adaga. Mas não tinha esquecido que você era licantropo e joguei a lâmina na espera que você protegesse-a.

- No fundo... ela não era seu alvo, mas sim eu. Sua percepção aprimorada... previu que eu a salvaria.

- O que quer dizer com isso, escória?

- Que... o antigo Adam reside aí dentro. Ele guiou seu coração naquele momento.

- Cala a boca! - disse Adam, socando-o novamente.

Enquanto isso, a casa de Lucas era invadida pelos outros caçadores programados, começando a com a porta arrombada com um chute que arrebentou a tranca. Três deles entraram armados com espadas.

Lucas trancou-se no quarto e escondeu-se no apertado closet com uma folha de papel e lápis. Retirou o celular e o colocou no colo para usar a lanterna e facilitar a escrita.

- Vamos lá. Cena número 7. Você consegue, Lucas. O seu lema é: Nunca desista. - disse, começando o primeiro parágrafo. A marca brilhava forte quanto mais linhas eram feitas. Lucas resistiu ao ardor.

Porém, a porta do quarto foi arrombada e ele assustou-se. Não desligou a lanterna do celular a tempo e acabou por ser pego por um caçador que reparou num instante. A folha foi confiscada pelo comparsa e Lucas viu o fio da espada ameaçar seu pescoço.

- O esconde-esconde acabou. - disse o caçador acendendo o isqueiro para queimar a folha.

- Não, por favor! Me sequestrem e deixem meu trabalho intacto, eu imploro!

- Olha aí, o imbecil achando que dá as ordens. - provocou o caçador, aproximando a chama do papel.

Num ato impulsivo e corajoso, Lucas pegara seu despertador no criado-mudo e arremessara contra o caçador e deu uma cabeçada por trás no que o segurava.

O terceiro iria empala-lo, mas ele pegara a folha e deu sinal de "Pare".

- Alto lá seus palermas! Estou no comando agora. - disse, escrevendo apenas duas palavras. Os caçadores avançaram contra ele... mas Lucas sorriu despreocupadamente.

Uma refulgente luz branca preencheu toda a casa com fachos atravessando as janelas.

No galpão, Adam fora jogado por telecinesia contra caixas de papelão. A garota encapuzada chegava com sua mão direita esticada. O sigilo ativava-se, brilhando em vermelho.

- Devem ir, depressa!

Rosie removia a barra metálica cravada em Hector que grunhiu com dor. Os dois correram frenéticos.

Adam levantou-se encarando sua ex-parceira com fúria. Ela retribuiu com olhar confiante, finalmente mostrando o branco e doce rosto de uma mulher jovem emoldurado por cabelos pretos e lisos com uma mecha diagonal na esquerda. Ambos começaram um embate equilibrado.

- É impressão minha ou você enfraqueceu? - perguntou Rosie, correndo avidamente.

- Aqui fui reduzido a uma condição humana normal! Sinto falta das minhas habilidades!

- Não sente falta da sua humanidade?

- É uma questão complicada sendo levantada na hora errada! Vamos, rápido!

A garota deu uma olhadela para a dupla e os viu se aproximando do portal. Resolveu apelar para magia, neutralizando suas articulações com a mão fechada antes que fosse atacada.

- Sua... vadia trapaceira!

- O que foi? Jogar limpo nunca fez o estilo da Caosfera. Essa é minha última vez. - disse ela, dando uma piscada e mantendo-o imobilizado enquanto corria ao portal.

No último segundo, ela os alcançara. A luz vermelha desapareceu num brilho ínfimo após o portal suga-los. Adam recobrou os movimentos, mas a raiva só aumentou.

- Não... Não... - disse ele, frustrado - Aaaaaahh! - gritara raivosamente com as mãos na cabeça.

                                                                                        ***

No mesmo beco o sigilo acendeu-se e os três puderam enfim retornar. A luz vermelha reduziu-se num segundo e o símbolo voltara ao estado anterior como uma marca de queimado.

O sol nascente começava a banhar as paredes.

- É, voltamos. - constatou Rosie - Foi aqui exatamente.

- Agora só nos resta... - disse Hector, olhando para trás.

Se distraíram um pouco, deixando a garota encapuzada fugir visualizando uma saída ao entrar num bar de pouca classe. Hector pôde desfrutar novamente das habilidades licantrópicas e correu atrás dela em supervelocidade a alcançando e barrando-a dentro do bar. A algemou, logo empurrando-a para sentar numa cadeira. Rosie fechava a porta improvisando uma tranca com uma tábua.

- Certo, certo... Ainda insistem em me considerar a vilã. Se provaram difíceis de ganhar confiança.

- É bom que volte para buscar o Adam depois que a libertarmos. - disse Rosie.

- Você não presta atenção? O escritorzinho falou que há um mago do caos no grupo dele. Obviamente ele voltará e ainda mais possesso de ódio.

- E como sabe disso? Andou nos espionando? - perguntou Hector.

- Espionando, sim. Mas não vocês. Não diretamente. Rastreei eles com a mesma coisa que Adam plantou nela e por conveniência acabei ouvindo a conversa. Uma espionagem da espionagem. - olhou para ambos - Eu sou inocente! Julgaram a pessoa que foi desvinculada por traição.

- O que não garante você pensar em nos passar uma rasteira eventualmente. - disse Rosie, severa.

- Olhem aqui... garota do capuz berrante e caçador-lobo: As pessoas mais enganadas nesta história continuam sendo vocês. Falei da ratoeira... vocês foram pegos sem nem perceberem.

- Do que está falando? - perguntou Hector - Vá logo direto ao assunto.

- Tudo não passou de um grande jogo de tabuleiro... e vocês foram os peões que logo logo serão descartados facilmente. A menos que ajam com inteligência. - disse ela, observando-os séria - A iniciativa promissora do Exército, o DECASO, é um tremenda farsa. A Caosfera é um monstro tentacular que vai intoxicando um organismo aos poucos... até que todos os tentáculos agarrem a sua presa. Corte um e dois nascem no lugar. O tempo é curto pra explicar aprofundadamente...

- Posso entender como o Lucas se sentiu ao nos ver. - disse Rosie, estarrecida - Muito pra processar. Eu não consigo acreditar... Como assim uma farsa? O DECASO tem um propósito...

- O DECASO é uma fachada muito bem construída pelos homens escolhidos para passar uma imagem de propósito que visa o bem maior, um futuro próspero sem mortes por causas sobrenaturais e todas as motivações que eles falsamente incentivaram em vocês. A Caosfera é um vírus, um câncer que se insere para contaminar pouco à pouco. E tudo está a um passo da metástase. O objetivo maior deles se concentra no Tártaro. É lá que está a chave para o triunfo deles.

- Mollock mencionou a Caosfera na primeira vez que o visitei. - disse Hector - E na última vez disse estar tendo visões. Não profecias, mas algum tipo de conexão psíquica. Disse que algo quer se libertar, algo nos confins do Tártaro.

- Mollock não mentiu. - salientou ela.

- Espera aí... Conhece Mollock, então você... você é... - disse Rosie, ainda mais atônita.

- Dora. - completou Hector - Foi hipnotizada por Mollock e concedeu o cetro com a pedra filosofal.

- Confere. - disse Dora, incomodada com as algemas - A coisa no Tártaro necessita de chaves, figurativamente falando. Seis chaves que removam as camadas da sua prisão. São eventos específicos ordenados no maior feitiço de invocação da história da magia. Vocês completaram quatro, isto é, quatro camadas já eram. Matar uma harpia com o fogo do Tártaro, invocar um demônio goético com magia do caos, destruir a alma de um Lich - enquanto Dora falava, a dupla aumentava o espanto -, matar um Inccubus, queimar o cadáver de um mago do caos... e por último e não menos importante... sacrificar uma alma pura com uma adaga especial.

- Acho que vou vomitar. - disse Rosie, devastada por dentro - Fomos vistos como... objetos nesse tempo todo? E eu que pensei... ter achado meu lugar definitivo onde pudesse ajudar pessoas. - derramou uma lágrima.

Hector passou uma mão no rosto, contendo o impulsos.

- Alguém chamado Derek Marshall - perguntou Dora - esteve ligado ao DECASO?

- Sim, afinal é o líder condecorado da força-tarefa. - disse Rosie.

- O dia de vocês não pode piorar mais. 

- Já vivemos piores. - retrucou Hector - Bem piores.

- Então se preparem pra mais um dia ruim. - avisou Dora - Pois Derek é justamente o filho do grande ancião britânico da Caosfera europeia.

A informação deixara Rosie e Hector com os nervos abalados. A podridão da fraternidade oculta parecia não ter se limitado ao que Dora falou.

                                                                                 CONTINUA...

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: http://www.alemdaimaginacao.com/Noticias/Portais_e_Dimensoes.html

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