Crítica - Cópias: De Volta à Vida


Um "milagre" da ciência centrado numa questão profunda que nunca chega a ser refletida como se deve.

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.

Dá para depositar confiança num filme que se pauta na vida após a morte numa ótica tecno-científica mas que não incentiva em nenhum momento o espectador a se fazer perguntas pertinentes aos mistérios mais transcendentais da humanidade? Ao menos insufla um posicionamento contrário ao projeto que é desenvolvido e que é elemento-chave de composição da trama e na minha humilde opinião as condutas do personagem de Keanu Reeves, tanto profissional quanto pessoal, não são nada elogiáveis, nem dignas de reconhecimento apesar do avanço significativo demonstrado (que respeita mais a suspensão de descrença do que a inteligência de quem assiste) no campo da neurociência, o seu ramo de atuação. Infelizmente, o prestigiado ator adentrou numa roubada que coincidentemente (ou não, pois talvez ele leu o roteiro e topou o papel justamente pela tragédia que marcou sua vida) tem um certo paralelo com sua comovente história real. William Foster (Reeves) é um neurocientista que perde sua esposa e filhos num acidente de carro, posteriormente, num ato desesperado, recorrendo à tecnologia de finalidade intencionalmente solidária que ajuda a mapear a cadeia neural para realizar uma clonagem, assim oferecendo a coisa mais próxima que o ser humano pôde alcançar em relação à vida após a morte.

Como é sabido por muitos fãs (e é difícil não se virar fã de um cara como esse após ter conhecimento das tempestades que atravessou e das suas convicções sobre como lida com a fama), Reeves perdeu sua namorada, Jennifer Syme, num acidente de mesma natureza e pouco anos antes ela havia estado grávida, porém o bebê foi descoberto morto numa ultrassonografia faltando pouco para o nascimento. Será que a premissa envolta do seu personagem o atraiu para o papel pela identificação? Indagações à parte, uma coisa é certa: a atuação dele foi se resultou bem abaixo do esperado, parecendo interpretar o sofrido neurocientista no piloto automático. Mas quando o roteiro não coopera para engrandecer sua narrativa e torna-la menos infeliz na sua execução, não tem atuação que passe do mediano - quase sempre é culpa da direção, no caso aqui, todavia, é uma conjunção de fatores que transformam cada bloco de enredo partes de uma auto-sabotagem que só poderia ser cometida por uma roteirização acomodada e pouco engajada em arrancar a nata de potencial da trama. Novamente sobre a oscilante performance de Reeves, a tensão da cena do grave acidente é sucedida por uma absurda carência de emoção por parte da reação de William Foster às mortes de seus entes queridos. Aliás, o enredo não se preocupa com isso durante o espaço de tempo em que poderia comprometer-se mais com a dramaticidade do protagonista que faz da mulher e de seus três filhos (eram quatro, tinha a mais nova, a Zoe, que foi descartada pela quantidade limitada de aparelhos) mais cobaias de uma experiência de seu trabalho do que pessoas que ama em situação de risco necessitando serem salvos - ou não necessariamente, porque não adianta querer "brincar de Deus" para reverter a causalidade mortal que se manifestou na forma do processo mais indefectível da existência humana. Tal preocupação inexiste ainda mais no encadeamento de ação com a interferência do ambicioso Jones (John Ortiz), chefe de Foster na empresa de pesquisa biomédica na Bionyne Coporation (localizada em Porto Rico), que inicialmente deu uma prensa em Foster quanto ao sujeito 345 (um androide super-forte) e as falhas no experimento acarretariam no fechamento da iniciativa. O cara desde o começo não inspirava ser boa gente, então foi zero de surpresa quando ele veio à casa de Foster reivindicar a posse de um algoritmo desenvolvido pelo cientista ameaçando se livrar de Mona, Sophie e Matt, os quais são sequestrados e Foster parte ao resgate deles para negociar, mas claro que no meio desse imbróglio alguma coisa trágica ocorreria (a morte do parceiro de Foster, Ed Whittle).

A integração da mente num clone biológico não era nada mais que uma segunda fase do projeto, um segredo que ficara apenas entre Foster e Ed, esses dois parceiros de crime que agiram como se não tivessem mais nada a perder (sim, afinal o cara tocou o foda-se para a ética e as leis e independente do seu luto pelas mortes dos familiares ou dos progressos da ciência em questão é uma prática criminalizável, pois é no mínimo lógico que transferir uma mente para um corpo robótico é um destino pior do que a própria morte e a clonagem não suaviza muito essa contenda). Não faço ideia se a tecnologia hoje em dia chegou ao nível do que se vê nas cenas de mapeamento neural, mas tudo parece inverossímil demais para uma temática que interliga-se ao mundo real de maneira contida e que vai evoluindo a passos de formiga, pois suponho que o longa seja ambientado em 2018 ou 2019. Eu sei que ficção científica não é terreno para esperar compromisso com a realidade, o que apontei foi mesmo a inverossimilhança demasiada que força a precisa suspensão de descrença que citei mais acima. O mocinho e o vilão terminam com seus finais felizes: Jones trabalha com o androide 345 (ou Foster-345 já que ele gravou sua mente e a inseriu no robô) para ajudar na venda de transferências neurais em clones de pessoas cheias da grana e que querem fazer hora extra no mundo, enquanto Foster vive em paz com sua família de clones e ainda com a caçula Zoe que ganhou sua sobrevida. O único a perder nessa é o admirador de um bom sci-fi que recompense pela sua proposta.

Considerações finais:

Cópias: De Volta à Vida provavelmente é o pior longa da carreira de Keanu Reeves (ator errado num filme ainda mais errado), mas no geral não se conclui como um desastre horrendo do gênero, embora peque no quesito profundidade haja vista o assunto delicado que aborda de maneira pouco contemplativa. Esvaziado de substância, faz bem menos que a obrigação.

PS1: Foster como mentiroso é péssimo (quem acredita que uma tossezinha daquelas é pneumonia? x_x) e como motorista pior. O cara quase mata de novo a família durante a fuga aos guardas do Jones.

PS2: Tem pitadinha de alívio cômico beeem passageira dentre as cenas de Foster escarafunchando as redes sociais dos filhos para se passar por eles e inventando desculpas pelas ausências ao longo dos 17 dias para os clones amadurecerem. Eu sei que é muito errado, mas foi engraçadinho ele respondendo o suposto amor platônico de Sophie.

NOTA: 6,0 - REGULAR

Veria de novo? Provavelmente não. 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://www.terra.com.br/diversao/cinema/copias-de-volta-a-vida-ficcao-cientifica-estrelada-por-keanu-reeves-ganha-cartaz-e-trailer-legendado,9a09a111911369251238d27b2953e882cub2it80.html

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