Frank - O Caçador #24: "O Substituto"


Após o turbilhão de luz branca que o rodeou, Frank perdera completamente a sensação do chão abaixo de si. A queda foi rápida, desenfreada e profunda. Nem os pedaços do piso se viam mais caindo. Tudo assumiu uma brancura luminosa cegante. O detetive deu uma olhada assustada para baixo e se arrependeu na hora. Havia uma esfera de luz no fundo ainda mais resplandecente.

O urro gutural de Frank descarregando todo o horror sucedeu-se em longos ecos até o fim. Numa floresta, localizada à poucos quilômetros de Danverous City, algumas árvores sofreram um pulso que as derrubou, tudo por causa de uma luz que surgiu num determinado ponto e aumentou de intensidade podendo ser avistada de uma boa montanha. Com o diminuir, restaram labaredas espalhadas numa cratera que muitos jurariam que a formação decorreu de um fenômeno natural.

Frank vagava por ela a fim de sair. Ao subir todo o caminho, levantou-se e pegou o celular teclando os números do exato jeito que fazia para ligações extremamente urgentes. As chamas ajudavam a enxergar no breu sufocante da noite.

- Vamos Carrie, atende logo essa merda...

- Alô? Não tô acreditando... Diretor, para com essas pegadinhas ridículas ou eu...

- Se liga, Carrie, aqui não é o diretor, sou eu. Muito suspeito você falar como se eu tivesse sumido.

- Mas você de fato desapareceu! Ai caramba, não tem ideia do quão aliviada fico só de escutar essa voz... Tenho que ser honesta com você, eu sugiro não retornar ao DPDC agora.

- Espera... O quê? - indagou Frank, mas logou recordou a queda ao abismo - Então fiquei sumido né? Por quanto tempo precisamente?

- Três meses e três semanas. Um pouco mais do que na última vez e me deixou novamente sofrendo com pensamentos horríveis das inúmeras formas que você poderia ter sido morto pelos bruxos.

- Mas Carrie... na minha percepção, não faz nem meia hora desde que estava cara à cara com o líder da facção dos bruxos, o Clancy. Acho que você é que tá de pegadinha comigo, só pode. Cadê a Natasha, o Jack, o Franz? E o que aconteceu com o FStein? Ele ainda tá inteiro ou foi perdido?

- Frank, vamos devagar, por favor. Em primeiro lugar: Eu nunca falei tão sério antes na minha vida. Uma simples olhada no calendário corrobora o que digo. E em segundo lugar: A Natasha ligou pra mim assim que o sinal telefônico foi restabelecido na cidade toda e a energia também, ela me contou sobre os possuídos terem se livrado de repente dos fantasmas. Foi obra sua num contrato forçado com os bruxos? Depois todos foram embora e o tal do Franz não conseguiu rastrear sua aura. O Stein foi abrigado num lugar seguro pela Natasha quando acabou seu limite de tempo e voltou à sua casa.

- Sim. verdade... Lembrei bem agora, eram apenas duas horas de vida extra que ele tinha. O Franz despertou os resquícios das memórias do Orb Esmeralda destruído e eles iam se consumindo aos poucos até ele cair duro no chão e não passar de uma lata velha com minha cara amarrotada.

- Onde você está agora?

- No meio de uma floresta, não sei se longe ou próximo da cidade... - o detetive fez uma pausa vendo um casal de campistas se direcionarem à ele - Que dia é hoje?

- 18 de Maio de 2019. - respondeu ela - Frank, o superintendente considerou você morto. Já era. Tenho por mim que... você não será mais bem-vindo aqui. De agente especial à um desertor.

- Eu não falhei com o departamento, me deixa explicar rapidinho...

- Olha, acabou meu expediente e tenho que ir, mas tô muito feliz por ter dado um sinal de vida.

- Carrie, não desliga, tem uma justificativa... - infelizmente sua fala foi interrompida com o fim da chamada. O detetive trincou os dentes de tanta raiva e olhou no calendário do celular, confirmando - Cacete.

- Olá amigo, será que, por gentileza, pode nos dar uma informação? - disse o campista ao detetive.

- Isso vai depender. A cidade e seus arredores andam infestados de monstros horrorosos... - o detetive pusera a mão num bolso interno do sobretudo - Nada melhor do que se precaver né? - tirara uma garrafinha com água santificada e jogara um pouco no rosto do homem.

- O que tá fazendo idiota?! - reclamou ele - Tá maluco? Só fiz uma pergunta!

- Bem, você tá limpo. Agora sua vez, moça.

- Ei, não sei que tipo de imbecil desvairado você é, mas acho bom pararmos por aqui ou vou chamar a polícia. - disse o homem, impedindo Frank - Ou talvez uma ambulância do sanatório.

- Tudo bem, amor. - disse a mulher - Podemos cancelar o acampamento. Hoje não demos sorte. E nem ele também. - seus lábios com batom vermelho formaram sorriso. Subitamente, seus olhos enegreceram totalmente. Sacou um punhal que fincou profundamente no tórax do marido.

- Ah, que droga. - disse Frank, enfurecido - Devia ter testado você antes.

- Pois é. - falou ela, vendo o companheiro cair sangrando profusamente - Por que não reagiu? Os caçadores perderam o pragmatismo? - apontou a lâmina para o detetive que foi recuando - A alta cúpula vai adorar saber que voltou lisinho como seda. Agora fala pra mim... como fez pra sair de lá?

- Mesmo que eu lembrasse, não abriria o bico. - disse Frank, mantendo sua postura ou pelo menos tentando - Não quero dar ideia, mas... podem fazer lobotomia sobrenatural que fica provado.

- Eu não sou tão estúpida. Vou te esfaquear, abrir sua cabeça e espremer seu cérebro como uma laranja.

Frank ergueu a mão direita apontada para o demônio e fechara os olhos numa imersa concentração.

Com o exorcismo, o demônio se desprendera dela, correndo em fuga feito um animal acovardado.

- Dá o fora, seu verminoso! E diz pro bruxo-chefe que o castigo tá vindo a cavalo! - avisou Frank.

A mulher acordava desorientada e estranhando o local.

- Ai... Onde é que estou? Oh não... Mark! - vira o seu companheiro morto e desesperou-se - Não! Foi você que fez isso? Responde! - retirou um revólver da jaqueta de Mark e mirou-o no detetive.

- Olha, você não lembra, mas... esteve possuída por um demônio. Usou seu corpo para mata-lo. Não consegui impedir, eu sinto muito.

A mulher permaneceu num silêncio pesado por uns bons segundos, derramando lágrimas. Levou o cano da arma diretamente para baixo do queixo e puxara o gatilho. Frank lamentou por dentro.

Mas sua maior dúvida era focada no conhecimento do exorcismo romeno. Onde e quando o aprendera?

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CAPÍTULO 24: O SUBSTITUTO 

Uma fresta de luz despontava para o interior da casa de Frank, após quatro meses, pela porta que se abria lentamente com ranger fino e seco. O detetive carregava o surrado sobretudo no ombro ao chegar ao lar doce lar. Seu suspiro foi longo e cansado na visualização à sala de estar.

- Que sensação estranha. Parece mesmo que fiquei meses fora... Lá no fundo da pra sentir.

O vidro do porta-retrato contendo uma foto dele posando ao lado de Carrie e o diretor Duvemport estando coberto por uma fina camada de poeira comprovou. Frank passou o dedo e não duvidou mais. De qualquer forma, não seguiria o alerta de Carrie. Foi direto para o chuveiro tomar um bom banho e em seguida comer alguma coisa. Por último, voltaria ao banheiro para fazer a barba. No entanto, interrompeu o processo. Como estava de camisa branca de mangas curtas, notou algo no ombro esquerdo pelo reflexo do espelho. Puxara a manga e descobrira uma cicatriz vermelha em relevo no formato de uma cruz católica. Uma nova prova cabal de que passara uma temporada no lugar misterioso onde os demônios viviam.

Frank tocou na marca suavemente. Tivera a impressão que foi marcado a fogo por uma chapa de metal sustentada por uma barra de ferro. Um indício de tortura? Milhares de teorias desabrochavam.

                                                                             ***

Departamento Policial de Danverous City 

No corredor principal do prédio, o detetive fora recebido com uma salva de palmas por vários colegas. Carrie vinha correndo, passando por entre os funcionários e não tardou a enxergar novamente a vigorosa figura do amigo reaparecido. Seus olhos brilharam de pura emoção.

- Frank, seu idiota, vê se não faz mais isso. - disse ela, indo para o abraço - Devo ser a primeira a saber do que rolou naquela noite de quatro meses atrás. - falou baixinho no ouvido dele.

- Esse comitê de boas-vindas parece até festa-surpresa. - brincou ele - Bem, ao menos não tô vagando por aí como um fantasma. - olhou para todos os seus admiradores - Sério, pessoal... valeu mesmo. Só que... Como minha assistente já tratou de informar, eu infringi uma regra e acho que os caras do alto comando não vão gostar muito dessa recepção toda. Eu sinto muito. Minha presença é apenas visita.

- Está correto, Sr. Montgrow. - disse um homem de terno preto, engravatado e usando óculos de grau vindo atrás dele. Os outros policiais e detetives fecharam a cara - Eu particularmente sou contra.

- Quem é você? - indagou Frank, o cenho franzido.

- Todd Gaiman, porta-voz do dirigente. O chefe quer seu distintivo na mesa dele pra hoje.

- Eu podia simplesmente ir lá entregar pessoalmente. - retrucou Frank.

- Sabemos que não faria isso caso não avisássemos. O ponto é que sem apresentação de justificativa do seu desaparecimento misterioso implica desvincula-lo da corporação por tempo indeterminado.

- Não, precisam dar algum prazo. - contestou Carrie, alarmada - O superintendente não tá fazendo um bom julgamento. E sabe de uma coisa? Sempre achei que ele tinha um certo ranço do Frank.

- Não esquenta, Carrie. Já entendi o recado. - disse Frank, cedendo ao dar o distintivo - Quando exatamente tenho que prestar esclarecimento com o Conselho de Segurança?

- Senhorita Wood, por acaso está acusando o chefe de perseguição? Montgrow cometeu uma irregularidade, faltou com sua responsabilidade, é como um aluno reprovado por faltas. - direcionou o olhar frio para Frank que não escondia sua chateação - Definitivamente, não queria estar na sua pele.

O porta-voz dera as costas com ar de vitória. Carrie expressava repúdio absoluto pela decisão.

- Um coro de vaias pra esse cara, por favor.

- A menos que queira ir pra fila do desemprego. - disse Frank, vendo-o sair, bastante desapontado.

Na sala particular de Carrie, o detetive sentou-se para uma conversa franca e direta.

- Muito bem, será que finalmente pode me contar tudo sem meias palavras? - perguntou Carrie, tensa.

- É uma coisa muito louca, sabe... Abandonei o campo de batalha pra ir atrás de algum demônio e assim que peguei um, não hesitei e fui logo interrogando o desgraçado pra saber onde estava o Clancy. Eu perdi a chance de me desculpar com a Natasha por ter a largado com os possuídos...

- É, ela desabafou comigo sobre você ter deixado-a sozinha e, sinceramente, isso também me chateou. Se os demônios estavam próximos do perímetro, não havia porque lidar com os possuídos.

- Os possuídos não passaram de uma distração. - declarou Frank, certeiro - Você tem razão, foi meio radical enfrenta-los, afinal eram vítimas do plano diabólico dos bruxos, mas naquela altura ainda não sabia do que o Clancy tramou. E o negócio foi dos grandes. As três pedras do tesouro de Merlin se fundiram e criaram um artefato, parecido com um diamante, que pudesse ser usado para abrir uma porta. Fazia parte do feitiço.

- Uma porta para onde? O Inferno?

- Eu gostaria de lembrar, por mais estranho que seja dizer isso. Mas a reversão do feitiço exigia um sacrifício pois as almas das pessoas possuídas tinham trocado de lugar com as dos espíritos malignos e só podia liberta-las se uma alma pura caísse naquele buraco repleto de luz...

- E em seguida? Frank, o que houve depois, tá me deixando assustada.

- Eu não sei, apenas... caí. Quando dei por mim, já me via numa floresta, no meio de uma cratera cheia de fogo, como se eu tivesse me teletransportado. Mas não foi bem assim, não mesmo.

- Disse que gostaria de lembrar. Então se você caiu no portal e você voltou pensando estar na mesma época... - pensou por um segundo - ... significa que passou uma temporada de quatro meses no lugar desconhecido pra onde as almas inocentes foram parar e suas memórias foram apagadas.

- Matamos a charada, ótimo. - disse Frank, contentado.

- Nós não. - corrigiu Carrie - Eu e meu cérebro investigativo super-eficiente - gabou-se sorrindo.

Alguém entrara na sala pegando Frank de surpresa. Carrie levantou-se depressa para cumprimentar um agente recentemente contratado para suprir a ausência de Frank. Seu nome era Fred, um cara descolado de casaco de couro preto, calças jeans despojadas, botas de lenhador. na aparência física, o agente tinha um porte físico similar ao de Frank, esbanjava olhos atraentes num rosto caucasiano robusto e exibia um cabelo preto num semi-corte militar. O detetive o estranhou formando impressão.

- Opa, vejo que tá ocupada numa conversa aparentemente importante. Me desculpa. - disse ele, gentil - O direito veio até mim repassar os últimos detalhes dos desaparecimentos e vim partilhar.

- Já era tempo. - disse Carrie, recebendo o pacote de informações - Ahn... Eu queria te apresentar...

- Na hora. - disse Fred, estendendo a mão para Frank bem amigável - Olá, eu sou Fred Hackson. Você deve ser Frank Montgrow, certo? Não perdi nada da sua volta celebrada. E estragada pelo Gaiman.

- Tá legal... Quem especificamente é você, afinal? - questionou Frank, confuso. Olhou para sua assistente - Carrie, dá pra falar de uma vez? Pela sua cara...

- Sabe quando disse pra você não voltar aqui? Pois é. O Fred é a razão pela qual te pedi isso.

- Inacreditável... - disse Frank, passando a mão na boca num sinal de inquietude - Não, espera aí... Ele tá exercendo como temporário, igual aquele agente que me substituiu no começo do ano retrasado. O Conselho de Segurança não vai estipular uma data para eu retomar meu serviço até o dia em que serei autorizado a dar satisfações.

- O problema é que o Conselho revogou sua licitude como agente. - disparou Carrie, exalando tristeza - Frank, infelizmente, você não trabalha mais aqui. Eu avisei. Mas foi bom te reencontrar.

- Isso significa que... se eu for readmitido ao DPDC...

- Poderá estar de volta. Talvez como ascensorista de elevador ou faxineiro.

Frank não tinha palavras para exprimir diante do baque sofrido. Sua carreira colocou-se por um fio.

No corredor, após Fred sair, ele o seguiu mostrando uma retribuição pelo cumprimento amistoso.

- Aí Fred, vem cá, quero trocar uma ideia contigo. A gente pode se conhecer melhor. Gostei de você.

- Se bem que adoraria isso. - disse ele, virando-se para Frank - Eu lamento, de verdade, pelo que aconteceu com seu posto, mas a galera que dá as cartas é dura de engolir. Está tudo bem?

- Estar diante do começo do fim da sua vida profissional mais rentável não é estar bem, pra ser honesto. Mas não quero desistir. Esse trabalho foi minha luta diária que devotei minha vida. Peço um favor.

- Olha, seja o que for, não deve pôr em risco minha permanência. Vou ser honesto também, não me sinto mal por estar no seu lugar, selaram o seu destino por justa causa. Mas fiquei curioso.

- Que desaparecimentos são esses que você tá investigando?

Fred suspirou levemente pela boca, um pouco hesitante.

- Três pré-candidatos à prefeitura sumiram sem deixar vestígios. Pode encontrar cópias dos documentos que dei à Carrie na sala do diretor. - lhe deu a chave - Ele deu uma saída, confiou a segurança da chave à mim. O caso tá gerando repercussão na mídia inteira. Temo pelo diretor. A teoria mais aceita até o momento é um conluio de opositores.

- Caramba... - disse Frank, preocupado - OK, valeu Fred. Não vou me meter na sua investigação. Prometo.

                                                                              ***

A estranheza bateu rapidamente com a constatação de que a porta da sala do diretor estava entreaberta. Frank a passos largos, encontrando um dos agentes porta-vozes do Conselho de Segurança mexendo no computador. O homem ergueu um olhar apático à Frank, sem surpreender-se com sua chegada abrupta. Frank, por sua vez, fechou a porta e guardou a chave.

- Desculpa, eu não quis invadir assim de supetão... é que pensei que a porta estava trancada, meu colega emprestou a chave já que o diretor saiu. A propósito, dá pra me dizer... pra onde ele foi?

- Reunião de campanha, até onde eu sei. - disse ele, levantando-se - Muito prazer, sou Thomas.

- Diferente do seu parceiro, pelo visto você é gente fina. - disse Frank, bem-humorado.

- Fiquei de checar algumas informações dos arquivos centrais do banco de dados do DPDC sob autorização do superintendente. - estendeu a mão para apertar a de Frank - Você tem cara de ser um agente privilegiado. Ia tratar algum assunto particular com o Sr. Duvemport?

No aperto de mãos, Thomas sentiu uma ardência queimando na palma intensamente. Tirou depressa sacudindo como se tivesse levado um choque. Frank notara logo o que aquilo significava e pegou-o pelo gola do paletó o inclinando na mesa. Thomas esboçou rendição, mostrando os olhos pretos.

- Então você é Frank Montgrow. - disse o demônio.

- E você um demônio praguento infiltrado no Conselho de Segurança. Cadê o diretor?

- Tem uma van no estacionamento. Cerca de três dos que foram noticiados desaparecidos estão lá, nós viemos justamente para capturar nossa quarta vítima, Ernest Duvemport. Não fomos muito pontuais.

- OK, contanto que o diretor esteja longe dessa tramoia, já é um alívio pra mim. Agora me fala: Por que o Clancy anda mobilizando tantos demônios? Quer sabotar as eleições pra reivindicar a cidade?

O demônio dera uma risada que conseguiu irritar Frank motivando-o a soca-lo.

- Eu tenho molotov com água sagrada comigo. Você tá cumprindo ordem pra não atacar. De quem?

- O bruxinho metido à besta foi chutado do barco há muito tempo. O grande Malvus é o novo capitão. Muitos demônios sequer o conheciam direito. Tem que ver... O cara é um monstro no que faz, literalmente. Quer peixe grande na sua rede, caçador? Experimenta então.

- Isso é um convite? Ficaria muito honrado em conhecer um sobrenatural tão relevante assim.

- Malvus é venerado como um deus e nos contou sua história de amargura, trevas, sangue e isolamento. Restaram tão poucos de nós naquele lugar... que ele quer repovoar criando uma nova ninhada. Começando pelos caras da política. Tudo para sorrateiramente chegar ao poder.

- Uma cidade governada por um demônio que seria pau-mandado de um monstro pior?! Nem ferrando. - disse Frank - Eu me ofereço em troca do diretor. O Malvus que me aguarde.

- Como quiser. - disse o demônio, sorrindo torto e de maneira sacana - Ah, o meu nome, não que o interesse saber, é Zyndao. Surpreso? Os demônios também tem nomes, não somos tão selvagens.

- Chega de falar besteira, vamos logo pro estacionamento, mas pra não gerar suspeitas... eu vou na frente. Você pega outro caminho. - determinou Frank, andando até a porta.

 - Você não me dá ordens. - reclamou Zyndao, abotoando o paletó - E o que é estranho... foi tocar em você e ter sofrido uma reação parecida com água sagrada corroendo minha pele. Parabéns, seu corpo é um repelente vivo de demônios. Que tipo de segredo tá escondendo, Frank? Desse jeito, é impossível ser possuído, mas o chefe tem um ás na manga.

- É Sr. Montgrow pra você. Vambora. - disse Frank, saindo da sala primeiro.

                                                                                    ***

Numa pausa do trabalho, Fred entrara num bar pouco requintado e rapidamente sentou-se na primeira mesa que avistou à sua frente. Mais adiante uma mulher de vestido vermelho e bem decotado o observava com interesse misterioso. A moça ajeitara os cabelos pretos e levemente ondulados que caíam sobre os ombros e saíra do balcão ao encontro do detetive que verificava algo no celular.

O foco de Fred foi totalmente esmigalhado ao ver a figura deslumbrante parada diante dele. Elevou o olhar para ela, desconcertado, e visualizou os atributos físicos irresistivelmente.

- Ahn... Desculpe, não posso e nem quero ajuda-la. Fiz voto de castidade.

- Não tô convidando pra tirar uma casquinha. Você é assim mesmo? De primeiras impressões? Saiba que não sou um livro tão bonito para ser julgado pela capa. - ela sentou-se - Tô atrapalhando alguma coisa?

- Tá me distraindo. - rebateu Fred, vidrado no celular - Ou pelo menos tentando. Quase conseguiu.

Ela parou um garçom para pedir uma bebida e esperou em silêncio até ele trazê-la. Fred não pôde ignorar o copo cheio que ela lhe empurrara. O detetive largou do celular, sabendo que a mulher nunca se satisfaria sem sua atenção.

- Esse é o encontro mais inusitado que já tive. - disse ele, sorrindo de canto - Bem, seria desfeita recusar. - pegara o copo, tomando um gole - Mas e aí? Quem você é? Nascida e criada ou forasteira em busca de aventuras fáceis? Eu sou Fred.

- Muito prazer. Na verdade, só quero auxilia-lo, sei que trabalha no departamento policial...

A visão de Fred enturvou-se de repente e o rosto da mulher parecia deformar-se. Ele piscou inúmeras vezes não acreditando na face horripilante que enxergava. Por algum motivo, hesitou em correr.

- O quê? O que tá havendo comigo? Nem falou o seu nome... Quem é você? Ou o que é você...

- Lilith, ao seu dispor. Por tempo limitado, lógico. - disse o demônio, sua cara monstruosa em um branco meio cinzento com dentes negros e salientes - Fique onde está, não quero machuca-lo.

A criatura inclinou-se para Fred intencionando falar algo próximo do seu ouvido e disse algo em linguagem que se ouvida de fora era completamente ininteligível, mas para o detetive foram assimiladas em idioma natural.

- O que você ganha com isso? - perguntou ele - Aliás, pra quê pôr droga na bebida se podia se revelar sem me fazer ver essa cara horrorosa? Tudo bem, não ligo, acredito em você...

- Tem certeza? Geralmente a minha espécie tem compromisso devotado à mentira.

- Não, é sério. Me diz quem são os tais demônios e conto cada passo que eles derem.

- Ficou mais esperto, acho que o efeito passou. Veja ali. - apontou discreta para dois homens numa mesa à poucos metros - São aqueles, nem parecem suspeitos. Terá uma chance de saber o que meu marido está tramando se segui-los, vou confiar na sua experiência de detetive.

- Não sou tão novato pra perseguições sorrateiras. E a pergunta que vale um milhão: Seu marido quem?

- Alguém perigoso o suficiente para ser evitado em vez de desafiado. - disse Lilith, categórica. Levantou-se, arrumando o cabelo - Te desejo sorte, Fred. Ainda vamos nos esbarrar outra vez.

O jovem garçom aproximou-se dele, curioso.

- Está tudo bem, senhor? Precisa de mais?

- Não, tô legal. Pode deixar. - disse ele, retirando a carteira.

- Ahn... Ela já tinha pago. As duas doses. Homem de sorte você.

- Não faz ideia. - disse ele, guardando e logo tendo uma ideia - Vem cá, preciso de um favor. Vigia aqueles dois caras pra mim, sou do DPDC, agente especial - mostrou o distintivo - e os sujeitos ali batem com descrições de meliantes denunciados, então... Pode dar essa força? Quando eles saírem, me dê um sinal. Será uma boa volta do meu intervalo de trabalho.

- OK. - concordou o garçom, olhando desconfiado para os rapazes - No que depender de mim, eles são todos seus.

                                                                               ***

Debaixo do escaldante sol do meio-dia, a van cinzenta percorria a estrada desrespeitando o limite de velocidade. Um radar móvel detectou a quilometragem e constatou, logo registrando a placa em foto. No compartimento de carga do veículo, Frank estava algemado acompanhado dos três candidatos.

- Tá um calor medonho aqui dentro. Não acham? - perguntou, quebrando o silêncio ensurdecedor. Os três políticos estavam angustiados demais para trocarem palavras entre eles sob o risco de infringirem uma regra não anunciada pelo sequestrador. Mas Frank não desistiu - Olha, eu entendo como é horrível ficar de estômago vazio à essa hora. Eu tô bem apertado.

- Como consegue ficar de bom humor numa situação dessas? - questionou um deles, aborrecido - É funcionário de alta prioridade da maior corporação policial da cidade, esperava que agisse com o mínimo de seriedade tendo em vista a enrascada em que nos metemos. Corremos sério perigo de morte!

- Eu tenho ciência disso. OK? Só quis quebrar o gelo. E pra constar, fui destituído do meu cargo.

- Pelo que vimos, dá pra ver que o superintendente da agência fez muito bem. - comentou outro.

- Não conhecem minha trajetória pra dizerem coisas absurdas e muito menos tem razão de ficarem emburrados comigo apenas porque quero amenizar o clima, por mais que eu também esteja preocupado com a segurança de vocês.

- Por que o capturaram? Com que objetivo? - perguntou George Harley, justo o considerado maior adversário de Ernest na disputa - Afinal de contas, o empenho dos nossos raptores é mais focado em nós, figuras públicas da política que não devem nada a bandidos. Ou seja, não devia estar conosco. Portanto é Ernest Duvemport que estavam procurando.

- Isso mesmo, porém ele estava ausente e eu soube da tramoia por um informante cujo nome só revelo diante de um interrogador. Daí me voluntariei, mas não exatamente pra ser o herói do dia.

- Então deve saber que tipo de plano estão arquitetando contra nós. - apontou George - Sabe ou não?

Frank se retraiu, desviando o olhar e arrependido de ter tocado no assunto. Enquanto isso, a dupla de demônios saía do bar e Fred vinha no encalço sem faze-los perceberem. No entanto, seu celular bipou e ele teve que esconder-se num poste na rapidez de um ninja antes dos demônios virarem-se. Um deles, afrodescendente e musculoso, escureceu seus olhos, intrigado pelo barulho.

- Deixa pra lá, o chefe tá esperando a gente. - disse o companheiro, um homem de boné e roupas de flanela. Retomaram a caminhada e Fred olhava encostado no poste até eles dobrarem. Verificou o celular. Havia recebido um alerta e checou o rastreador que pusera em Frank quando se abraçaram. O ex-detetive do DPDC se deslocava numa direção correspondente ao que o alerta indicara.

- Te peguei. - disse Fred, pronto para entrar em ação. Na van, o emudecimento de Frank durou mais do que o esperado e começava a incomodar os políticos que insistiam saber do que ele se negava a contar.

- Desculpem. - disse Frank, sério - É pela segurança nacional. Melhor não saberem com o que estão lidando.

- Somos cativos, ora! - contestou o que questionou o bom humor de Frank - Temos direito de conhecer cada aspecto da natureza desses criminosos, não podemos morrer ignorantes à isso!

Sons de sirenes tocando estridentes atravessaram a lataria da van e os candidatos soltaram suspiros de alívio. Frank, por outro lado, se tensionou, prevendo o pior cenário possível. Os carros da força de elite do DPD, revestidos de blindagem de altíssimo nível e uma forte cor preta, seguiam a van. Um ocupante de um dos carros disparou com seu fuzil acertando diretamente num dos pneus dianteiros. O segundo disparo atingiu com mais impacto, desestabilizando o veículo. A parte traseira se ergueu do chão e a dianteira deslizou até o para-brisa estilhaçar-se ao chocar com o asfalto. A van emborcou e as viaturas pararam ao mesmo tempo. Vários policiais fortemente armados saíram dos intimidadores carros e se dirigiram à van. A porta do compartimento de carga foi aberta e os reféns ganharam a liberdade.

- Perdoem a medida drástica. Ninguém se feriu gravemente né?

- Acho que torci meu tornozelo. - reclamou George, sendo prontamente ajudado pelo policial.

Frank se livrou das algemas por último, mas um policial chegara para ele o levando para uma viatura estacionada à uma certa distância das outras.

Assim que entrara no carro, tiros ressoaram. Frank testemunhou os agentes de elite atirando em si mesmos nas cabeças, não tendo dúvidas de que os demônios possuíram seus corpos. O condutor da viatura onde ele estava usava uma balaclava preta de cobrindo quase todo o rosto, apenas deixando o olhos à mostra, mas diferente dos demais, que agonizavam na estrada, usava óculos escuros.

- Você viu aquilo? Foram todos abatidos. - disse Frank, alarmado - Você tem que ir lá, chover bala em cima deles.

O policial ignorou o pedido e girou a chave ligando o carro. Frank pensou com mais calma.

- Tá certo, o exército de um homem só não tem a mínima chance. - admitiu ele. A viatura seguia adiante e Frank tentava recuperar a tranquilidade. Mas logo pensou nos políticos - Ei, espera aí, temos que voltar. Esqueceu dos reféns! Cinco homens armados até os dentes não deram conta de dois bandidos com pistolinhas de camelô e ainda se dizem de elite! - ele se culpava por dizer aquilo pois precisava manter a fachada - Onde já se viu abandonar as pessoas salvas? Ei, tá me escutando?

Pegando-o de surpresa, o policial sacou uma seringa e injetou uma droga sonífera no pescoço de Frank que caiu num profundo sono no banco do carona. Em seguida, mandou uma mensagem para pedir reforços e proteger os candidatos.

                                                                                ***

O despertar de Frank foi lento e penoso. Aos poucos ajustava sua visão ao local onde teve seus pulsos amarrados numa cadeira. Entreviu o vulto do seu captor imóvel como a sombra de um truculento guardião de fortalezas vigorosas.

- Quem diabos é você, desgraçado? Ah já sei... Um enviado do superintendente que se integrou entre o grupo de elite só pra me tirar do jogo. Não era motivo pra ter largado aqueles homens indefesos no meio da estrada, foi sacanagem.

O policial tirara os óculos e removera a balaclava. Os olhos de Frank arregalaram-se de espanto.

- Tá me tirando, né? Fred... - disse ele, embasbacado - Por que fez isso? Quem te pagou pra me salvar de um sequestro e me colocar noutro? Eu tinha razão, meu sexto sentido nunca falha. Você tá respondendo à alguém disposto a me deixar o mais longe possível de qualquer coisa que lembre a minha profissão de verdade, a profissão que fez de mim quem sou hoje!

- Relaxe, não tem ninguém do DPDC bancando minhas ações de horas atrás. - disse Fred, a postura pacífica - Foi mal, é sério. Mas tive que assumir minha responsabilidade sobre você não importando qual fosse o meio.

- O que você virou? Meu fiscal, por acaso? Isso não faz o menor sentido, me prendendo como se eu fosse um indivíduo de alta periculosidade. Se foi você quem tramou isso sozinho, tá na cara que se sente ameaçado porque tenho mais bagagem.

Fred dera uma risadinha que ferveu o sangue de Frank.

- Sua expertise investigativa não me incomoda, pra ser bem sincero. O lance aqui é que você tá em negação, não suporta o fato de que você foi desligado, carta fora do baralho. Nesse playground somente um pode brincar e você supostamente se cansou, outra pessoa tinha que aproveitar e preencher a vaga. Acabou pra você, Frank. Lamento mesmo.

- Lamenta coisa nenhuma. Você tá feliz em me afastar porque nessa circunstância eu sou mais útil do que pode imaginar e tá fazendo isso por saber do quanto falavam bem ao meu respeito e isso te deixa inseguro. - disparou Frank, desapontado - Vê se me compreende, por favor. Tem um cara chamado Malvus por trás dos sequestros, três candidatos estão com eles, tirando os outros que foram salvos... Não, espera. Eles estão salvos né?

- Sim, eu pedi reforços, tudo bem com eles. E consegui te achar através do meu aplicativo de rastreamento. Não curto muito abraços, mas precisei forçar a barra. - disse Fred, destacando o aparelho. - Fiquei curioso sobre esse tal de Malvus.

- É impossível explicar nos mínimos detalhes, o tempo tá se esgotando. Tenho que chegar aonde está o Malvus.

- Se eu não amarrasse, iria me dar uma surra. Não quero estragar uma possível amizade.

- É, eu te socaria nas fuças. E já estragou com essa ideia idiota. Confia na minha experiência e muitas vidas serão salvas se você me soltar e parar de ser um filho da mãe egoísta buscando apenas a própria satisfação. Não é assim que se trabalha.

Fred não podia se contrapor àquelas palavras e sabia do poder que elas tinham ao serem proferidas por um agente com anos de profissionalismo no currículo. Sua expressão era de relutância, porém...

- Com uma condição. - disse ele, usando uma faca para cortar as cordas - O rastreador permanece ligado. Peguei registros do monitoramento de carros. Aquela van saiu de um galpão à 10 quilômetros daqui. - entregara as chaves da viatura.

- Eu devia te bater agora. - disse Frank, tocando os pulsos - Mas vou deixar passar essa. Prometi não interferir, mas tudo mudou de repente. Pelo menos te convenci, isso melhora um pouco as coisas.

- Boa sorte, Frank. Posso dar cobertura se eu notar que a proporção do problema aumentou.

- Não, deixa comigo. - disse Frank - Sugiro você continuar bem distanciado. Vai por mim, é cilada das brabas.

Certificando-se de que o ex-detetive credenciado estava bem longe, após sair daquele casebre, Fred telefonou para um contato pessoal que não gostava muito de ver na lista de chamadas atendidas.

- Ele já tá à caminho. Daqui pra frente me deixa em paz. - disse ele, com amargor, logo desligando.

                                                                                ***

No galpão, Frank esquadrinhava o interior espaçoso e nada limpo da estrutura onde via-se mais concreto do que metal por toda parte e com piso repleto de poças d'água, canos gotejando, vigas enferrujadas e colunas fragilizadas pelo tempo. A luz do sol da tarde passava pelas janelas altas, mas não alcançava uma boa extensão da amplitude.

O ex-detetive virou-se sobressaltado, deparando-se com os três políticos que foram sequestrados primeiro. O trio piscara e mostraram seus olhos totalmente pretos simultaneamente. Naquele instante, Frank deu-se conta de que havia chegado atrasado. A porta dos fundos reproduziu um ruído estridente e Frank se virou para vê-la abrindo. Pela porta tinha-se acesso a um corredor iluminado por uma luz de vermelho intenso. A porta abriu rangendo, revelando a figura espectral de um homem sob a luminosidade da cor do sangue, mal dando para ver seu rosto. Frank respirou fundo, sabendo de quem tratava-se.

O homem deu firmes passos à frente, cravando sua atenção em Frank. Sua aparência se esclareceu mais, apresentando um homem aparentando possuir em torno de uns 50 e poucos anos, com um rosto relativamente magro e enrugado, olhos meio apertados, sobrancelhas arqueadas e cabelo preto bem curto com umas pontinhas no alto da testa, além de trajar um longo sobretudo de couro preto. Frank sentia-se encurralado, estando preocupado com os políticos, mas não conseguindo ignorar aquela presença poderosa. Malvus deu um sorriso fechado para ele, parecendo contente.

- Frank Montgrow, finalmente reapareceu. O esperei ansiosamente, seja muito bem-vindo.

- Desculpa, mas... De que carnaval a gente se conhece? Que eu me lembre, nunca vi, tampouco ouvi falar de um chefão dos demônios que morava no andar de baixo.

- Bem, digamos que eles saíam da linha ao cruzarem a fronteira e estavam provocando uma bagunça tremenda com toda a liberdade que eles nunca mereceram. Aqui estou eu de volta para restaurar a ordem.

- Chama isso de ordem?! - disse Frank, apontando para os políticos com o polegar esquerdo.

- Me referia ao meu exército de seguidores. Inclusive, três deles estão acomodados nas suas cascas. Vou explicar: Já que se intrometeu para bancar o herói desses condenados homens, devo propor um desafio simples valendo um prêmio inestimável.

- O prêmio que quero levar saindo daqui é a segurança deles e nada mais! O que tá planejando?

Malvus tirou um cronômetro do bolso e ajustou o tempo.

- Vamos ver se ainda é o caçador valente que diz ser. Uma vez lutou contra três demônios? Ou só se especializou em exorcismos? Espero que acabe num tempo recorde. Em menos de 3 minutos.

- O quê?! Três minutos?! - disse Frank, desaprovando - Nem ferrando. O que acontece se eu não conseguir mata-los ou expulsa-los dentro desse tempo?

-  Restando um demônio quando o cronômetro parar, os três são livrados da possessão. No cenário inverso, caso mate os três, mando buscarem novamente os que não vieram e assumo o controle desta cidade como um governante oculto que vai eleger o que vai parecer estar no comando, só que não vai. Minha ideia original era fazer tudo arder em chamas e reconstruir das cinzas. Devido à sua intervenção, tive que mobilizar meus servos e alterar as prioridades.

Os demônios aproximavam-se de Frank, preparados para o ataque. O detetive posicionou-se para o combate, mas lembrou-se de algo.

- Acho que não vão gostar me tocar. - disse ele, sorrindo de canto - Querem vir pro abraço?

Os três avançaram e o agarraram, mas puderam sentir a fervência emanar dos seus corpos e Frank usou isso para repeli-los fazendo-os caírem no chão. Malvus percebeu a desvantagem. Frank chutou o primeiro que viu levantando e depois socara outro. O terceiro hesitou, mas levou um cruzado de direita e outro de gancho sendo derrubado aos pés de Malvus.

Frank sacudia a mão doído pelo impacto dos punhos. Malvus rangia os dentes em inquietação.

- Você tem a marca. Nesse caso, dou por encerrado. - decretou, erguendo sua mão esquerda fechada e pressionando-a. Os demônios desincorporaram-se dos políticos. Em seguida, tirou do sobretudo uma espada média - Pegue. Experimente. - jogou-a para Frank - Uma verdadeira arma anti-demônios.

Frank perfurou um dos monstros que em segundos se desmanchou em fumaça enquanto seu grito gutural abaixava. Os outros dois fugiram apavorados logo quando Frank iria destruí-los.

- Que espada é essa? Essa lâmina... Tem cara de que parte um fio de cabelo em dois.

- É a lâmina sacerdotal, nenhum caçador a manejou antes de você. Generosidade não é meu ponto forte, mas quando você disse que eles não iriam gostar de toca-lo soou como uma ameaça real, desconfiei e perdi a excitação. Minha intuição acertou. Você possui a marca sagrada, apenas um sacerdote pode conferi-la a alguém que considera digno. Onde a conseguiu?

- E eu vou saber? Saquei logo que tinha a ver com essa marca quando o Zyndao, o demônio que dirigia a van, apertou minha mão e isso ferrou com o disfarce dele. Não lembro de nada dos últimos três meses.

- Então você a obteve na Terra Negativa. - declarou Malvus, tendo certeza - Sacerdotes tem uma magia exclusiva, capacitada para apagar memórias também. - aproximou-se de Frank que segurou a espada com mais força - Avise quando se lembrar. Entro na sua mente, descubro o nome e o rosto do desgraçado e o mato só estalando meus dedos. - estalara, colocando medo sobre Frank - Pode ficar com a espada. Você venceu, mantive minha palavra. Aproveite sua boa e encurtada vida.

Desapareceu num piscar de olhos. Frank observou o nada, pensativo. Analisou a bela espada, um adicional à sua coleção.

                                                                              ***

Na saída do galpão, já tendo anoitecido, Frank fingiu não ver o carro estacionado da força de elite onde avistou Fred ao volante. O detetive substituto saiu do carro às pressas, mas Frank passara reto.

- Frank! Tá indo pra onde? - perguntou, pegando-o pelo braço - Não vai me inteirar do que rolou?

- O que rolou? Quer saber o que rolou? Quase aconteceu uma tragédia. Na verdade, acho que tá pra acontecer.

- Por que está tão bravo? Tudo acabou bem, não foi? Só que agora quem toca esse barco sou eu.

- Eu sei e vai afundar mais cedo do que parece! Não queria ter que contar, mas não vejo escolha. - disse Frank, pondo a mão sobre o rosto, preocupado - O mandante dos sequestros é um monstro, um ser sobrenatural que ainda nem sei direito o que é, e comanda uma legião de demônios infernais, literalmente infernais. Malvus é o nome dele, me convenceu bastante.

- Eu sei disso. Digo, sobre demônios. - disse Fred, surpreendendo-o - Uma mulher do tipo incrivelmente gostosa veio conversar comigo na hora do recreio. Claro, não exatamente uma mulher feita pra dar um amasso.

- Ou seja, um demônio. Você é caçador?

- Aspirante. Mas tô afim de aprender com você, embora não esteja autorizado a ter um parceiro.

- Tira o cavalinho da chuva. Depois do que ocorreu hoje, você tá mais pra uma pedra no sapato. Os candidatos estavam possuídos quando cheguei lá. Tinha um demônio na sala do diretor e o forcei a falar, ele deu a entender que o Malvus não ia se apressar no plano. O que me leva a pensar que alguém, um informante, o avisou de que eu voltei e me envolvi nisso.

- Tem uma suspeita?

- Por enquanto, não. Se for pra retornar ao DPDC com outra função, vou só pra investigar. E sua amiga demônio?

- O nome dela é Lilith. Pediu que eu seguisse dois demônios que estavam no bar, eram ligados ao marido dela que arrisco dizer que é esse Malvus, mas o rastreador deu alerta e fui atrás de você. Afinal, podíamos cobrir juntos esse caso.

- Não. - disse Frank, categórico - Aqueles homens ficaram próximos da morte e nem seriam possuídos hoje. Se não tivesse achado que eu tô querendo te sabotar por estar inconformado com a demissão, ido me sequestrar e me dopar, eu não teria chegado tão tarde! Tem uma coisa que não posso falar agora, mas me deu uma baita sorte na hora. E sem isso, era eu ou eles. - virou as costas para ir embora, porém voltou para dizer mais - Fica fora do meu caminho. - exigiu, o dedo em riste. Enfim, seguiu a pé, recusando uma provável carona que Fred daria. Seu celular vibrou e ao conferir viu uma mensagem de Carrie a ser lida. Ficou olhando a tela por uns segundos, até que resolveu deletar a mensagem.

 Atrás de Fred, Malvus surgira com um sorriso cínico.

- Que péssimo primeiro dia de trabalho em equipe. - disse, sua voz fazendo Fred virar-se para ele.

- O que houve com os reféns?

- Os deixei sob os cuidados de Frank. Perdi uma aposta e dei um presente à ele, o que não lhe diz respeito. Sabe por que? Eu recompenso quem supera minhas expectativas e você fraquejou.

- Decepcionado porque bati um papo com a sua esposa? Eu não arrastei asa, se quer saber.

- Mas cumpriu um pedido dela. Seguiu dois servos meus, eles perceberam e me reportaram.

- Ela tá me espionando, eu tô espionando o Frank... Até onde isso vai parar? Até quando?

- Não me interessa. Me diga o que ela compartilhou com você. - falou Malvus, inclinando-se para acovarda-lo.

Fred recuou a cabeça sentindo-se intimidado com aquele olhar que o encarava fulminante e não ousaria resistir à ele.

                                                                                  -x- 

*A imagem acima e propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://www.thegospelcoalition.org/blogs/trevin-wax/the-pastor-must-fall-on-his-sword-before-he-wields-it/

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