Crítica - Daphne & Velma


Paródia involuntária?

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.

Quando Scooby e sua turma foram levados ao cinema pela primeira vez, rolou uma apresentação estética dos personagens um tanto quanto caricata, obtendo o êxito, porém, de arrancar risadas do público menos exigente sobre live-actions derivados de animações clássicas e por mérito ganhou uma sequência reprisando o mesmo nível qualitativo do antecessor. Anos mais tarde, com a franquia cinematográfica encerrada, no fim da década, veio o reboot desta vez sendo um telefilme humilde e decentemente produzido que respeitou a essência da obra num sentido geral (ainda que tenha alterações gritantes como o cabelo do Fred, por exemplo), o que, arrisco dizer, é a melhor adaptação de Scooby-Doo para um live-action e ainda recebeu continuação que nem sabia que existia.

Surge em 2018 uma produção que faz do reboot televisivo uma obra-prima se posta em comparação. Ele pode ser considerado como qualquer coisa, menos como uma partícula do universo rico que abrange Scooby-Doo. Estas Daphne e Velma não devem ser vistas como contrapartes justas das versões originais que gerações cresceram assistindo. A ideia de um spin-off em carne e osso focado nas duas personagens femininas do desenho (que, diga-se de passagem são de personalidades bem opostas, a patricinha e a nerd, tipicamente uma dupla dinâmica, tal como Fred e Salsicha, respectivamente o cara atraente e charmoso e o magrelo que não pega nem gripe) não prediria tamanho equívoco desastroso se não tivesse um background tão asqueroso e fútil. Sério mesmo, eu me senti vendo alguma produção aleatória do Disney Channel. E sim, estou ciente do orçamento parco que esse filme deve ter tido, talvez nem passe da casa dos 2 milhões, logo sei que se trata de um filme de baixa renda, mas ele não se mostra baixo somente no aspecto financeiro de produção. É em tudo! Não minto de maneira alguma, absolutamente toda a atmosfera emana o mais puro ar de fan-made.

A principal diferença que coloca O Mistério Começa num patamar superior e rebaixa essa película que diz ser do Scoobyverse é a substância. Não se extrai nada minimamente canônico da série original além das aparências de Daphne e Velma - esta segunda disparando no quesito caracterização e personalidade relativamente fiéis. As duas conheceram-se online e quando Daphne passa a estudar no colégio de sua melhor amiga a relação se abala e começa o festival de briguinhas estúpidas porque a nerd não pode ser vista como amiga de uma garota no arquétipo de patricinha descolada. Ao menos, as diferenças entre as duas foram bem evidenciadas e trabalhadas em cima de um conflito a ser solucionado antes do mistério em si vir à tona para que ambas pudessem agir já superadas da intriga.

Os demais personagens do colégio que se destacam são igualmente patéticos na maior acepção da palavra. Desde quando inserir filtro de cachorro com partes reais é uma ideia revolucionária? Era pra soar cômico? Ah, mas não me recordo de nada que venha a ser cômico no filme inteiro. O centro de atenção desse núcleo é Spencer, um completo idiota que elogiou a invenção acima e a primeira vítima do "fantasma" que transforma os alunos mais inteligentes em "zumbis" (não o trivial zumbi de cara feia que come cérebro, é algo próximo de uma pessoa que teve seu Q.I drasticamente reduzido e acho que esse filme executa essa tarefa melhor no espectador do que o verdadeiro "monstro" da narrativa) só para subir num ranking supérfluo. Um outro incômodo desconcertante é a intensa presença da tecnologia de viés futurista. Parece que a prelúdio se passa num época bastante "Black Mirror" e a dupla interage com gadgets e aparatos modernos quase o tempo todo. Scooby-Doo Mistério S/A possuía esse destaque na contemporaneidade, mas aqui, onde eu nem deveria mencionar um título de alguma série do dog alemão, é uma superexposição abusiva, pouco casando com o que normalmente Scooby-Doo oferece e mais pendendo para um estilo meio agente secreto, desvirtuando completamente quando já nem aparentava ser uma coisa que esforçava-se para ser parte desse mundo.

Além disso, prosseguindo com meu massacre, tem a trilha sonora hiper-genérica de suspense que toca a cada vez que o "fantasma" faz suas aparições (com um vulto passando na parede que nem foi explicado) com luzes piscando e aquela coisa toda. Sempre que o mistério "aperta", esse "assovio" tenebroso (no sentido de ser somente genérico) começa a tocar como se não tivesse mais nenhuma outra alternativa sonora, transparecendo caráter amador como se não bastasse na condução do filme em si. E digo mais: Daphne foi a mais privilegiada do roteiro tanto é que sua mãe e seu pai estiveram ligados ao mistérios de diferentes formas e até o vilão desmascarado tem relação com ela. Carol, uma das colegas de Daphne, arquitetou toda a bagaça com sua motivação fútil, sequestrando alunos e transformando-os em mongoloides para uma subida fácil no ranking e ainda usando da tecnologia que do conhecimento público pertencia a Tobias Bloom - um holograma confundido com um fantasma logo pela Velma... pela Velma! Chega, pra mim deu. Veredito já!

Considerações finais:

A receita para um spin-off derivado de Scooby-Doo com esse engajo de produção é a fórmula infalível do desastre. Daphne & Velma é limitado em 99% dos aspectos, mas pior ainda em se achar uma cria digna de figurar como uma side story do universo criado pela Hanna-Barbera. Desnecessário e muito, mas muito porco, na falta de um termo que o (des)qualifique melhor. Teria sido menos horrendo assistir um spin-off protagonizado pelo Scooby-Loo, mas acho que os fãs merecem ser poupados de adaptações estapafúrdias de seus desenhos favoritos. Há certos territórios que é aconselhável deixar ali bem quieto e acabam fazendo pior do que só invadir, gerando ideias forçadas que não provam razão de existência.

PS1: Nem a diretora escapa do "retardamento mental" que assola os coadjuvantes. Adesivo da vergonha é uma eficaz punição...

PS2: Alguém cria uma máquina do tempo e apaga essa atrocidade? Não tô sabendo lidar...

PS3: De semelhança com a Daphne, a atriz tem só o cabelo, mas antes uma caracterização alterada do que uma atuação horrorosa.

PS4: Elas irão conhecer Fred e Salsicha na faculdade? Porque o coerente e natural seria que todos estudassem no mesmo colégio e partilhassem do ímpeto de desvendar um mistério. Essa ideia das duas terem começado primeiro foi a carroça na frente dos bois que rolou precipício abaixo.

NOTA: 0,5 - PÉSSIMO 

Veria de novo? Nunca! (e não recomendo pra nenhum fã de Scooby-Doo). 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://pipocamoderna.com.br/2018/03/daphne-velma-filme-derivado-do-scooby-doo-ganha-primeiro-trailer/

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