Crítica - School Days

Uma paixão de fazer perder a cabeça... 
É ferida que dói e não se sente, é dor que desatina sem doer...

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS (inclusive do final!)

Era óbvio que não iria me interessar à primeira vista num anime com esse título mega-sem-graça e ainda mais ambientado numa escola com personagens perdidamente apaixonados e centralizado num protagonista rodeado de mulheres (o que caracteriza o gênero Harém) que estão loucas para perder suas virgindades com o sujeito de caráter duvidoso. Se existe algo que me moveu em direção à School Days foram comentários de terceiros a respeito do polêmico final da série que muitos não poupam críticas sobretudo em relação ao personagens que destacam-se no ato derradeiro. Normal se agarrar a uma curiosidade, o que por si só é o único motivo de maratona-lo num único dia apenas na intenção de conferir o tão rechaçado desfecho da história. Mas tem uma dúvida que persiste até agora: Por que com tanto garoto nessa escola as meninas preferem o protagonista taradão que aparentemente tem um comportamento pervertido a conhecimento geral?

Pra começo de conversa, o anime não tem uma narrativa-base, ele começa e se prossegue num tom beirando ao novelesco, oscilando entre uma coisa próxima de Malhação, uma novela das sete com elenco jovem e por fim uma novela mexicana qualquer. Slice of Life, como já dito aqui outrora, passa longe, mas muito longe de ser um dos meus gêneros favoritos, pois abordam a monótona vida dos estudantes japoneses (sério, escola de tempo integral ninguém merece x_x) em histórias que se apoiam em somente uma frente de enredo carregada pelo romance e a melação total. Se visto em poucas horas, você, se pouco familiarizado com o gênero, apenas terá como grande referência à ele o final e do resto se ignora porque é completamente esquecível e dispensável. Falando na minha experiência, logicamente. Ou acha que vim aqui redigir essa crítica com meu coração amolecido e apaixonado lembrando os diálogos fofinhos e românticos entre os personagens que compõem o triângulo amoroso? É impossível uma vez passando do final que, por sinal, é a parte recompensadora verdadeiramente daquela que faz você dizer: "Nossa, valeu ter chegado até aqui".

A trama não podia ser mais bobinha possível: O rapaz Makoto Itou observa uma tímida e bela menina chamada Kotonoha Katsura alimentando uma paixão platônica pela mesma. Eis que ele tem a ideia de fotografa-la com seu celular, mas não acredita na lenda de que se ninguém descobrir por três semanas o amor estará no ar e será realidade (parece até aquelas simpatias da vovó ou da titia do tipo: escreva o nome do seu amado no fundo da sua calcinha e ele ficará caidinho por você em X dias). Itou é auxiliado por uma amiga fofoqueira e intrometida chamada Sekai Saionji que faz vezes de "conselheira amorosa" nos primeiros episódios ajudando-o a conquistar o coração da doce Katsura, mas de forma um tanto quanto autoritária. E mesmo sabendo da natureza poligâmica do rapaz, a menina ainda nutre sentimentos por ele e idealiza um "teste" para que se comporte adequadamente diante de Kotonoha. É tipo você simular um pedido de namoro ou casamento com alguém do mesmo sexo, mas nesse caso as coisas seguem além... muito além. A partir do episódio 5 eu diria que é onde o anime torna-se minimamente mais interessante, só que o marasmo e o tédio permanecem ali apesar de moderados. A profundidade de temas como desvirtuação moral não conversa com o espectador por mais implícita que ela pareça estar. A real mesmo é que ninguém (absolutamente NINGUÉM) tem vergonha na cara nessa história.

É amiga traindo a outra com o namorado, é menina se entregando ao cara pervertido confessando seu amor (e querendo coisinhas a mais, se é que me entende), é o cara querendo pegar a garota que foi namorada do seu melhor amigo mesmo ela ainda se considerando amante dele pelo fato de estar com outra (sem se importar com o cara ficar saindo com outras), enfim... é uma confusão do barulho. Inclusive, é no episódio 5 que vemos uma reviravolta: Itou se relaciona com Sekai após uma espécie de epifania, sei lá. É até compreensível visto que se conhecem há mais tempo, a garota se senta ao lado dele na classe enquanto Kotonoha é a garota nova que não passou de uma prova que comprovou o atestado de garanhão do Itou. O problema ululante do anime de fato é seu protagonista com desvios sexuais graves. Makoto Itou é o epítome de infidelidade. Da metade para pouco antes do final, a traição rola solta à medida que o espectador adquire um boa quantidade de ranço das condutas dele que são mesmo indefensáveis - verdade seja dita. Para tornar tudo mais "movimentando" tem ainda o bendito festival escolar. Nesse ponto eu já não sabia mais com quem esse cara estava realmente namorado, se era a Sekai, Kotonoha, Otome (a mandona colega da Kotonoha e que se pega com Itou num local reservado durante o evento heheh) ou a Setsuna (amiga traíra da Sekai que sai do país por conta do emprego da mãe - se bem que estranhamente os pais dos personagens NUNCA dão as caras). Mas a vida do Itou se resume ao trecho de uma música do Chitãozinho e Xororó: É como ter mulheres em milhões e ser sozinho. Outra guinada ocorre próximo do terceiro ato dessa conturbada e estranha trama amorosa: As garotas que se ofereceram ao Itou começam a dispensa-lo (bloqueando seu número de contato) após a revelação impactante e embasbacante da gravidez de Sekai a qual ela faz em plena sala de aula (vindo de fofoqueira de marca maior não é de ficar surpreso). Os vômitos dela confirmam para quem andou duvidando só porque Kotonoha desconfiou. Isso marca o retorno do triângulo amoroso estabelecido e o negócio ganha ares de novela mexicana pura. Me senti vendo um anime criado pela Televisa nas DRs presenciais (isso também acontece nos constantes envios de mensagens por celular, mas não tanto quanto pessoalmente).

Como esperado de Makoto, ele não dá a mínima para o fato de ter deixado uma companheira grávida e se atira novamente aos braços de uma deprimida Kotonoha que ganha novamente brilho nos olhos (sério, parecia que estava possuída por uma entidade sobrenatural o_o), desmitificando a lenda (ou simpatia) de que dançar na dança folclórica do festival o amor será eterno (é cada uma que me aparece...) e o par da edição do ano foi Itou e Sekai. Que pena, até torcia por eles (ah tá).

Agora sobre o polêmico final (ALERTA MÁXIMO DE SPOILER! Se ignorou o primeiro aviso, seria bom que não o fizesse com este)

Tomei a liberdade de reservar um espaço exclusivo para comentar sobre o final da obra. Talvez o autor odeie o protagonista para atribuir-lhe uma morte tão brutal. A atmosfera drasticamente se altera no último episódio com a tensão aumentando entre o triângulo formado por Itou, Kotonoha e Sekai fazendo tudo ganhar um belo ar de um caso propício ao saudoso (ou nem tanto) programa Linha Direta. A ênfase em facas anteriormente, numa cena com Kotonoha, já denotava e como eu sabia no terreno que eu estava me metendo, minha mente estimulada pelos comentários sobre esse final tão terrificante, me mantive no controle pra não ter que avançar cenas mediante a pressa. O final em si não é o bicho de sete mil cabeças estraga-prazeres que os espectadores deram a entender. Só faltou a imagem do Sérgio Malandro com seu clássico "Hááá, pegadinha do Malandro!" pra finalizar o vídeo (seria HILÁRIO se fizessem essa adição!) pois foi uma autêntica pegadinha o anime inteiro. Porém, como disse antes: Recompensador. A questão incômoda é o público estar muito mal-acostumado. A maioria quis um desfecho bonitinho e que mantivesse intacta a aura leve (pra mim foi tediosa) e romântica da história, ou seja, o típico final feliz para o casal Itou e Kotonoha (e a coitada da Sekai ficaria de mãe solteira precoce enquanto Itou se diverte com Kotonoha e passando o rodo em muitas outras por aí a ponto de virar um Mr. Catra da vida, realmente um lindo final emocionante). Chato isso, não? Muitas das críticas execradoras vieram desse público sensível a finais insólitos. Vejam Guerra Infinita! Praticamente todo mundo amou, não vi ninguém se doendo pelo final com metade da vida do universo virando pó através do estalar de dedos do Thanos. Quebra de tabu é 8 ou 80 pelo visto, mas no caso de School Days a rejeição é por conta do seguimento de camada mantido pelos 11 episódios que precederam a brusca virada que nada mais é do que uma quebra de camada ou uma descortinada do espetáculo fofinho e afável que vinha sendo apresentado. O autor não acordou num dia ruim e resolveu matar o personagem e jogar tudo pro alto.

School Days é uma narrativa que ao fim sabota a posição "superior" do protagonista. E é lógico afirmar ter sido justo e merecido. Makoto Itou, de todos os personagens, era o mais corruptível dentre os corrompidos, fazendo das garotas seus objetos de prazer, meras aventuras passageiras e nem tendo a decência de assumir um filho acidental. Um homem sexualmente volúvel. Justo o cara mais cafajeste e capcioso é o mais desejoso, o sonho das garotas mais bonitas do colégio. Se eu tirei uma lição desse anime posso dizer em linhas gerais que foi: gente sem-vergonha atrai gente sem-vergonha (senão até mais). Você amar aquela pessoa independente dos defeitos horrorosos que ela tiver não é demonstração comprovativa de amor. É tudo, menos amor. A maior definição disso, sem dúvida, é a falta de vergonha na cara. O anime mostrou o pior desses personagens sob um verniz romântico e leve que, sem pudores, escancarou sua real face no final. Sekai, obsessiva, não aguentou a visão de um futuro sombrio cuidando de um filho cujo pai é um salafrário e tomou a medida mais drástica e impulsiva: mata-lo a múltiplas facadas na barriga. Exagerado? Sim, mas pertinente ao clima denso que a situação adquiriu nesse apogeu, foi a maneira que Sekai (não que eu defenda a postura dela no decorrer do anime, de "conselheira amorosa" a amante) encontrou de evitar um colapso e ainda cabe depreendermos um desequilíbrio mental dela que só não é maior e pior do que o surpreendentemente evidenciado por Kotonoha, ela que não suportou ver seu amado morto e não mediu esforços em torna-lo seu... ao seu modo que é a parte bizarra. A última conversa entre Sekai e Kotonoha é marcada pela última parcela trágica do desfecho.

Kotonoha estava paranoica quanto a gravidez da rival e saiu fora da caixa ao revelar que decapitou Makoto e logo em seguida vingando-se, removendo um obstáculo da sua vida ao matar Sekai com uma serra transpassada profundamente na barriga a fim de verificar sua teoria. Contudo fazia pouco tempo que Sekai tinha descoberto a gravidez, o feto não estava em formação. Kotonoha devia estar muito insana de cabeça pra não ter que esperar ao menos seis meses. Afinal, a própria Kotonoha era tímida, reprimia demais seus ciúmes ou fingia relevar as puladas de cerca do Itou e uma hora essa bomba-relógio humana iria detonar. Isso mostra que garotas tímidas em animes escondem uma faceta sombria, um alter-ego que é a sua verdadeira personalidade. Podemos classifica-la ao arquétipo comum de Yandere (garota boa que vira garota má, em simplificação). No frigir dos ovos, Kotonoha não esconde sua disfunção mental ao abraçar a cabeça decepada de seu amado e - o detalhe mais chocante nisso tudo! - viajando a bordo de um iate aparentemente bem caro.

(FIM DO SPOILERS, MEUS PARABÉNS SE TIVER RESISTIDO E PULADO - Também pularia o 3º PS se fosse você)

Eu particularmente recomendaria School Days para quem gosta de um bom final de explodir cabeças (não de raiva como uma esmagadora maioria que se sentiu tapeada fez). Mas para isso vai ter que atravessar um mar raso de declarações amorosas chatas, conflitos tediosos e uma dança das cadeiras envolvendo o protagonista pelo qual você deseja um destino pior do que a morte tendo em vista suas atitudes nada exemplares (Itou é um péssimo homem e um péssimo ser humano, ele pisou num território imprevisível e ganhou o merecido fim por mais exagerado que seja). Não me senti enganado, muito pelo contrário. Sim, o final compensa todo o marasmo. O grande porém é que ele não salva esse mar raso da temperatura morna e avaliar super-positivamente um anime fraco enaltecendo seus desdobramentos finais não é nem um pouco válido. Não tenho culpa de ser tão generoso (e esse tópico serviu como considerações finais).

PS1: Sugestão ótima de final para o Itou seria a descoberta de uma DST bem ferrada. Não ia poder transar nem com uma súcubo no inferno (muahahahaha).

PS2: E se Kotonoha fosse uma súcubo? Poderia ser a Sekai. Ou ambas. Ou todas que foram pegas. Acho que qualquer um é capaz de construir um enredo melhor. A fantasia e seu toque mágico.

PS3: Psicopatas são inteligentes, mas Kotonoha detém apenas o ímpeto psicopata. Encontra o corpo ensanguentado e em vez de comprar um vasto estoque de formol, fica só com a cabeça. Que burra, dá zero pra ela!

PS4: O anime foi lançado em 2007 e os celulares são dos modelos daqueles que abrem pra você ter que atender as ligações. Nesse ano, no meu "confiável" achismo, celulares assim já estavam meio obsoletos, substituídos pelos que levantava a tela pra acessar as teclas (não se sei descrevi bem) A menos que o anime se passe em 2004 ou 2005, aí sim.

NOTA: 6,0 - REGULAR

Veria de novo? Sim... apenas para me deliciar com o final! 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://myanimelist.net/featured/502/20_Quotes_from_School_Days_About_Love_Dating_and_Relationships

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