Frank - O Caçador #17: "A fúria do replicador"


Parecia que a mente chacoalhava como um terremoto. A visão de Frank começou turva no abrir lento dos seus olhos e logo foi tomando ciência do local onde estava. O detetive se encontrava quase caído, encostado na parede, sentindo uma dor forte atrás da cabeça que o fez cerrar os dentes de tão aguda.

Com sua visão adaptada ao ambiente em tempo recorde, ele reparou numa presença à sua frente. Um dos pacientes do hospital. Um homem meio gordo de cabeça calva e barba por fazer trajava a típica roupa branca que se via encharcada de suor mas também misturado com lágrimas. A mordaça continha manchas de sangue e seus olhos direcionados à Frank passavam um sentimento de súplica.

- Seja bem-vindo, Frank. - disse uma voz masculina em algum canto. Frank percebeu logo à sua direita, um enfermeiros com olhos completamente negros - Espero que não tenha causado danos colaterais com minha... chegada de fininho. - deu uma risadinha.

- Miserável... - disse Frank, levantando-se - O que tá acontecendo aqui? Como é que sabe meu nome?

- Nos conhecemos de outros carnavais. Não lembra? Igreja... aquela igreja...

- Não pode ser... - disse Frank, recordando-se - Te exorcizei, mandei você de volta pro inferno...

- Pois é, aquilo foi doloroso. Só que agora o tempo pra brincadeiras acabou. Ironicamente, vou precisar jogar se eu quiser me vingar de você por toda a humilhação de três anos atrás.

- E esse cara aí? Deixa ele ir... Podia ter me dopado, me jogado num triturador, foi guarda baixa.

- Eu falei que ia jogar... - disse o demônio, aproximando-se - ... mas você será o jogador principal.

- O que tá planejando então? - perguntou Frank, olhando-o furioso - Se bem que nem posso atirar...

- Não mesmo. Tem 50 de mim espalhados por todo esse complexo que pode ir pelos ares se aquela bomba implantada no nosso amigo ali... - apontou ao paciente com o polegar - completar sua contagem de 30 minutos. Ele vai percorrer cada corredor desse lugar e se achar um beco sem saída, embora figurativamente já esteja em um, dá meia-volta. Já expliquei todas as regras. Agora é você.

- Vai sonhando. - disse Frank - Vai sonhando que vou concordar em ser seu fantoche.

- Tá achando que vou trapacear? É real, Frank. Vou faze-lo pagar por ter me tirado de cena.

- Você tinha intenção de matar todas aquelas pessoas na igreja graças a sua habilidade especial, só fiz meu trabalho. Se vencer esse joguinho de merda, o que eu ganho?

- Precisa achar o meu eu original e eu travo a bomba. Muito simples não acha?. - disse, sacando um aparelho que se assemelhava a um controle de carro. Apertou um botão e um bipe foi ouvido - Já podemos começar. Mexa-se.

Ele se teleportara num piscar de olhos. Frank olhou com dó para o homem cuja bomba presa nas costas parecendo um cilindro de oxigênio iniciara a contagem regressiva.

- Vou te tirar dessa, amigo. Todos aqui, eu prometo. - disse ele, sem muita certeza no tom.

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CAPÍTULO 17: A FÚRIA DO REPLICADOR


- Vamos, vai Carrie... atende essa merda. - disse o detetive, caminhando por um corredor pouco iluminado. A linha telefônica emitia apenas estática - O que há com essa droga? - bateu no celular quase querendo joga-lo na parede - Carrie... - o contato falhou novamente - OK. O infeliz bloqueou o sinal, me resta mandar mensagem. - escreveu um breve texto avisando da situação - Prontinho.

Um ruído estranho foi ouvido provindo de um quarto próximo, ouriçando Frank que sacou a arma.

Sem fazer nenhum som nos passos, o detetive foi chegando perto da porta entreaberta e levou sua mão esquerda à ela para abri-la devagar. A primeira coisa que entrou foi o cano do revólver.

O quarto aparentemente estava vazio de presenças humanas. Assim que Frank baixara a arma, a porta fechou-se rapidamente. Até tentou forçar a maçaneta, mas claramente estava trancada. Para não gastar munição e não fazer estardalhaço atirando na fechadura, ele imediatamente considerou a ideia para chegar a uma área possivelmente com maior número de cópias do replicador. O duto de ventilação parecia uma saída confortável e livre de complicações. Removeu a tampa metálica e entrou. Os cotovelos fizeram ruídos levemente altos enquanto ele cruzava o caminho.

Numa sala de reunião alguns médicos, cerca de cinco deles, estavam confinados como reféns. Todos sentados e encostados na paredes numa tensão compartilhada em entreolhares nervosos.

Os ruídos do relógio na parede eram os únicos sons audíveis. O silêncio só ajudava o medo.

- Que se dane. - disse um dos médicos, este mais velho que os demais, levantando-se e indo ao telefone - Não vamos esperar um milagre ocorrer ou sermos estripados pelo psicopata que interrompeu nosso trabalho. - discou um número.

- Pra quem está ligando? - perguntou uma médica - Não percebeu? O sinal...

- A Força Tática tem que nos resgatar! - retrucou ele, ríspido - Só estou testando, fiquem calmos.

- É perda de tempo. - falou outro médico - Até agora ele não deu sinais de retorno. É uma brecha pra gente escapar. Não acham? Quem tá comigo?

- Não vou ser liderado por um estagiário. - resmungou outro com desdém.

- Ah qual é! Por acaso tem um plano melhor?

- Sim, fazer você sentar... - disse ele, intimidando-o ao toca-lo com grosseria - ... e calar essa boca.

- O sinal voltou. - disse outro médico conferindo no celular. Porém, quando o que estava prestes a fazer contato com a FT teclaria o resto do número seu pescoço virou repentinamente para um lado quase girando em 380 graus, espantando os outros. A médica os encarou num sorriso sacana.

- O que aconteceu? - perguntou o que sugeriu fugirem pela porta da frente vendo seu tutor cair morto ao chão - Alguém me fala, que merda é essa?

- Foi você né? - perguntou um deles olhando para a moça que logo tremeu seu corpo. Uma sombra parecendo uma fumaça negra saiu dele tomando rapidamente a forma de um ser totalmente negro com dentes pontudos para fora que logo saiu pela janela quebrando o vidro.

- O que houve? - questionou a mulher, levantando-se sem entender - Eu dormi?

O médico que planejava sair com todos do hospital ajeitou seu óculos, estarrecido.

- Eu preciso... preciso de uma arma. Alguém tem uma arma?

- O que quer fazer? - perguntou o médico metido que o insultou - Acha que fomos possuídos por aquela coisa? Não viu ela saindo pela janela?

- É claro, não sou cego! Eu só quero... sobreviver. Deve ter muitos deles, por toda parte...

- Calma, Norman. - disse o Dr. Travis que avisou o retorno do sinal - Tá sendo horrível pra todos nós... Assimilar o que acabamos de ver. Pra dizer a verdade, também estou desconfiado.

- O quê?! - indagou o outro médico - Vai cair na pilha do estagiário? Acordem!

- Eu já tô livre. - disse a médica, erguendo de leve a mão.

- Então é só o Travis e o Jake. - disse Norman, enraivecido.

- O que garante você não estar possuído por uma daquelas abominações? - perguntou Jake.

- Não tá vendo meu desespero? Vi um monstro sair do corpo da Stella! Acha que eu ficaria sossegado se estivesse com um deles em mim? Então é melhor... você parar de ser tão pé no saco.

- E se for mesmo o Jake? - indagou Stella.

- Aquele monstro saiu de você como se fosse... como se fosse um demônio. - disse Norman - Tem demônios aqui... E não posso confiar em ninguém, exceto na Stella. Quem mais está? Vou morrer com essa dúvida? - olhou para ambos - Travis? Jake? É melhor um de vocês confessarem.

                                                                                       ***

Frank havia entrado num escuro laboratório de pesquisa mantendo a arma em punho e o ritmo vagaroso. Com o avanço, ouvira soluços abafados. Soluços de choro. Destravou o revólver e seguira.

Tratava-se de uma enfermeira escondida num canto da parede ao lado de uma estante de ferro.

- Por favor, me ajude. - disse ela, os olhos encharcados de lágrimas.

O detetive a olhou fixamente com seriedade, sem saber como agir. Porém, logo escolheu apontar a arma diretamente à ela após muito pensar mesmo que por poucos segundos.

- Tá pensando que engana quem?

- Mas é verdade...

- As enfermeiras não tem acesso a essa á área nem que haja uma situação desse tipo. A porta não estava destrancada. - sorriu de canto - Deu umas atravessadas nas paredes né?

- Certa resposta, caçador. - disse ele... o replicador, exibindo seus olhos pretos. A "enfermeira" levantou-se e esticou os braços empurrando Frank com telecinesia fazendo-o colidir-se numa parede.

O detetive levantou-se depressa e estendeu a mão direcionada ao demônio que novamente o atacou telecineticamente jogando-o até o teto e para um lado. Frank acabou caindo sobre umas mesas.

- Ia mesmo tentar o exorcismo? Bem, digamos que ocultei um pequeno detalhe.

- Ainda não desisti... - disse Frank, reerguendo-se, preparando para sacar algo discretamente - Você me conhece, sabe que sou um perito em lidar com pragas bizarras e paranormais.

- Ao contrário do que pensa, não subestimo você, Frank. Não vai conseguir me exorcizar. Acontece que não é possível se o eu de verdade e as cópias estiverem relativamente distantes.

- Então só consegui te expulsar na igreja... porque todos os clones estavam juntos num mesmo lugar?

- Eu podia dar um prêmio por isso. Tipo, uns cinco minutos de acréscimo. - disse ele, cinicamente.

- Dispenso. - disse Frank, logo retirando um coquetel com óleo sagrado e molotov e incendiando-o. Jogou-o contra o demônio antes que ele abandonasse o corpo. A agilidade foi fundamental.

O estardalhaço da cópia sentindo as chamas consumirem até o âmago era desesperador. O demônio gritava pela sala coberto de labaredas ardentes. Frani ia se aproximando com um pedaço de madeira das cadeiras que quebraram-se com sua queda e pegara um pouco do fogo antes dele sair da sala sem alterar seu estado agoniante. O detetive fugiu pela saída alternativa com sua tocha já que não havia trazido lanterna.

                                                                                     ***

Enquanto isso, Travis exercia o papel de apartador num confronto entre Norman e Jake ainda insistindo na paranoia de alguém mais estar possuído.

- É melhor vocês darem um jeito de esfriar a cabeça ou eu dou um jeito nos dois!

- Atitude de líder agora. - disse Gina, cruzando os braços - Mas não dá. Isso mexeu com eles. Ninguém está vindo. Se outro monstro vier...

- Tem pacientes à mercê, todos do meu prontuário correm perigo. - disse Jake.

- De qualquer forma, não acredito em ninguém. - disse Norman - Vou ligar pra Força Tática.

Um silêncio desconfortável se fez. Era como se Norman esperasse alguém o impedi-lo.

- Todos de acordo? OK. - sacava o celular.

- Não, espera Norman. - disse Travis, interrompendo-o - Pra garantir, vou fazer uma verificação. Não se preocupem, prometo voltar se constatar que está tudo bem. Gina, é você no comando.

- Deixa comigo. - disse ela - Toma cuidado. - o Dr. Travis saíra do ambiente pesado da sala de reunião, mas ainda assim o clima permanecia tenso entre ambos os médicos - As crianças vão brigar?

Paralelamente, Travis caminhava por alguns corredores munido de seu celular cuja lanterna estava ligada por estar ciente de que metade da energia elétrica do hospital havia sido cortada.

Na dobra para um corredor à esquerda avistou uma luminosidade alaranjada se avizinhando.

Se deparou assustado com Frank quase derrubando o celular.

O detetive apontou-lhe a arma como movimento automático, afinal de contas confiar era arriscado.

- Ei, calma aí, não tem necessidade disso! - disse Travis - Quem chamou você?

- A mesma pessoa que me pôs numa cilada infernal. Aliás, não é bem uma pessoa. - disse Frank, irredutível - De onde você veio? Celular na mão, sem sangue na roupa... Sei quando disfarçam bem.

- Suspeita que eu esteja possuído por um daqueles monstros?! Olha, se chegou há pouco...

- Eu sei o que tá rolando aqui. Não vem com nenhum papo furado pra cima de mim.

- Pode me dar o benefício da dúvida ao menos? - perguntou Travis, como se implorasse contidamente.

Frank cedeu ao pedido e jogara água adicionada de sal grosso no rosto do médico.

- O que é isso? O que tá fazendo?

- Não tá possuído. Olha, me desculpa...

- Obrigado por danificar meu celular. - reclamou Travis, frustrado pelo aparelho molhado.

- Será que dá pra me perdoar? Eu sou tão vítima quanto os pacientes daqui. Vou te explicar tudo.

No caminho, ambos conversavam. Frank tinha se desfeito da tocha apagando-a com a água anti-demônio. Travis parecia ainda não digerir as informações do detetive.

- Então... Esse demônio é capaz de criar inúmeras cópias dele mesmo?

- Umas cinquenta, no máximo. - disse Frank, portando um rifle - Pior que minha munição tá pouca.

- Me empreste uma arma. Posso te dar cobertura, se não for pedir muito.

- Tá falando sério? - indagou Frank, franzindo o cenho.

- Pra sua informação, na minha base curricular consta treinamento de legítima defesa. Sou de muitos talentos desconhecidos até pra minha família. Vamos ser dupla dinâmica?

O olhar incerto de Frank sobre demorou uns bons segundos. Porém, entregou-lhe uma pistola.

Dois pacientes possuídos surgiram de repente no corredor, um garoto e uma mulher.

- Olá Frank? - disse a mulher.

- É melhor se apressar. - disse o garoto.

- O tempo está se esgotando. - falaram em uníssono, revelando os olhos totalmente pretos.

Travis lançou uma expressão de surpresa e denotava hesitação. Frank, por outro lado, disparou.

Os tiros acertaram as cabeças de ambos. O médico mal acreditava, em estado de choque.

- Desculpa, é tudo muito novo... Isso de... Demônios! Você é especializado nisso?

- Nisso e muito mais. - disse Frank, recarregando - Não te vou culpar por ter ficado sem reação. Mas infelizmente as coisas são assim. Quando se trata de demônios, sacrifícios acontecem.

- Eu não consegui... mirar neles. Eu nem sequer... tive um impulso mesmo sabendo que são monstros.

- Agora não é hora de ficar se martirizando. - falou o detetive, seguindo - Vambora, o tempo é curto.

- Quanto tempo?

- Temos menos de trinta minutos. - disse Frank, conferindo depois no relógio - Quinze pra ser exato.

De surpresa, uma das cópias do replicador atravessou uma parede no corpo de um dos pacientes, um homem anteriormente moribundo e se dirigiu à Travis. O médico notara uma presença e se virou, tomando um grande susto. Mas antes que pudesse apontar a arma, o demônio desincorporou-se do hospedeiro para cair diretamente nele. Travis cambaleou e Frank apenas encarava preocupado.

O médico virou o rosto por cima do ombro exibindo olhos pretos seguido de um sorriso maníaco.

- Puta merda. - disse Frank - Foi mal Travis. Essa vai ser por você. - mirou o rifle.

No entanto, o demônio avançou rapidamente pulando para cima que disparou uma bala perdida enquanto era derrubado ao chão. A cópia agarrava seu pescoço para estrangula-lo.

- Vou rasgar sua garganta e arrancar suas entranhas por ela. - disse o demônio.

Frank lutava para tirar as mãos fortes de Travis do pescoço. Porém, ele vira algo se diferenciando.

Travis parecia estar retornando... ou pelo menos tentando reassumir o controle do corpo.

- Travis, me escuta... Sei que tá resistindo, continua assim... Seja forte...

- Estou tentando... ao máximo... que posso. - dizia ele, as veias da testa saltando de tanta força.

- Você consegue. Só... tenta me largar.

Num instante, o médico tirara suas mãos do pescoço do detetive, ainda meio desorientado.

- Frank, fuja daqui, rápido. Está perdendo seu tempo, não tenho salvação.

- Não deixo um parceiro pra trás. - disse Frank, levantando-se - Continua no comando. Tive uma ideia. - sacou um canivete do sobretudo e escolheu uma navalha pequena - A água anti-demônio acabou, mas ainda tem um jeito de expulsar o desgraçado. - cortou a palma esquerda.

- O que pretende fazer? - perguntou Travis, encostando-se na parede até sentar - Frank, seja lá o que tiver em mente... faça logo. Ele quer voltar...

- Tá legal, fica quietinho aí. - disse ele, agachando-se perto do médico e tirando o jaleco dele. Afastou a gola da camisa para desenhar o pentagrama no peito com o seu sangue. - Tem um isqueiro?

- Um bom fumante não sai de casa sem um. - respondeu Travis - No bolso direito embaixo.

Frank pegara-o e acendeu. Aproximou a chama ao pentagrama de sangue lentamente.

- Não sinta pena, Frank. Vá logo!

- Já vou avisando que isso vai doer pra caramba. Tá pronto?

Travis fez que sim com a cabeça, suando frio e fazendo força para permanecer no controle.

O detetive encostou a chama. O desenho queimou em pequenas brasas e Travis gritara de dor.

Subitamente, o demônio se desprendeu do corpo de Travis, derrubando Frank. A cópia do replicador se materializou ao tocar o chão. Ele avançara contra Frank, mas num movimento ágil Travis pegara sua arma e disparou três vezes. O demônio, por fim, se desmanchou em fumaça negra dissipante.

Mas a sensação vitoriosa durou menos que o esperado. Frank foi acometido por uma pontada na cabeça que os fez trincar os dentes e apertar os olhos. Travis o amparou sem entender.

- Você tem apenas 12 minutos, Frank. Que decepção. Só 10 cópias foram mortas, realmente esperava mais de um caçador do seu nível, eu te respeito por isso. Digo, respeitava. Espero que tenha um bom plano se não quiser que o infeliz carregando a bomba e o resto dos pacientes virem cinzas.

O replicador havia se comunicado telepaticamente com o detetive. Sem dizer nada, Frank fora até um quarto e Travis o seguiu sem questionar.

- O que foi aquilo? - perguntou o médico - Quer me contar logo? Ficar de segredo não ajuda.

- Restam só 12 minutos. - disse Frank, andando de um lado para o outro, aflito - O número de cópias que matei até agora não é suficiente. Merda! - chutou uma cadeira.

- Eu bem que gostaria de sugerir algo, mas... o perito em sobrenatural aqui é você, então... se esforce.

- Obrigado, Travis. Isso ajuda muito. - disse Frank, irritado.

- Só estou tentando motiva-lo. Podemos simplesmente encontrar o cara com a bomba e desarma-la.

- Não, nessa hora deve estar a muitos corredores distante de nós. E se fizermos isso, uma regra vai ser quebrada, uma regra que ele omitiu, o filho da mãe vai querer trapacear se facilitarmos as coisas.

- Entendi. - disse Travis, baixando um pouco a cabeça - Sem saída a não ser jogar o jogo dele. Perfeito golpe. Mas essa briga não é apenas sua. Todos desse hospital estão nesse jogo maldito.

- Espera aí... - disse Frank, um tanto pensativo - O replicador, pelo que conheço, gosta de entrar em detalhes e ele não falou nada sobre... você. Isso só indica que a conexão dele com as cópias é limitada. Ele só sente que foram mortas. Não pode ver pelos olhos delas.

- E o seu plano brilhante é...?

- Armar uma cilada. - disse Frank, empolgando-se - Presta bem atenção no que vou explicar.

Enquanto isso, a sala de reunião tornava-se um inferno pessoal para cada um dos médicos.

- Se isso tudo acabar, acho que vou direto para a ala psiquiátrica. Não aguento mais. - disse Norman.

- Tudo bem, pra mim chega. - disse Stella, andando na direção da porta.

- Ei, não podemos sair até o Travis voltar, além do mais sou seu chefe. - disse Jake que ao toca-la sentiu sua mão arder acidamente retirando-a de imediato.

- Desculpe, a sua empregadinha tá fora de área. - disse ela, virando o rosto e mostrando olhos pretos.

- Não pode ser... - disse Norman, estarrecido - Ma-mas... Vimos a Stella ser livrada do monstro!

- É, viram mesmo. - disse o demônio, andando pela sala e encarando-os.

Jake, repentinamente, sacara uma arma para o espanto de Norman.

- O quê? Tinha uma arma com você?! Só podia ser...

- Calado! - vociferou, mirando a arma ora em Norman ora no demônio/Stella - Vou mata-lo, depois ela ou ele, sei lá... e enfim me matar.

- Posso realizar seu desejo então. - disse a cópia, erguendo a mão direita para ele. As mãos de Travis que seguravam firmemente o revólver tremiam. Sua mobilidade estava sendo controlada para que apontasse a arma para si mesmo através da influência telecinética do demônio.

- Não... Para! Para com isso! Ninguém precisa morrer! - disse Norman, no auge da tensão.

- O que... diabos é isso? - perguntou Jake, forçando para reaver controle dos movimentos - Não...

- Mais um pouco e... - disse o demônio, sorrindo em divertimento próprio. O dedo no gatilho moveu-se pronto para apertar - Bang. - por fim, fechou a mão que controlava.

O estampido reverberou no espaço. O tiro atravessara entre o queixo e a parte central da cabeça de Jake, espalhando respingos de sangue na parede e no rosto de Norman que gritara horrorizado.

- Agora é sua vez, novato. - disse o demônio, sacando um bisturi - Pena não se despedir da sua amiga. - fincou a lâmina no corpo de Stella, manchando o jaleco de sangue.

- Não! A Stella...

- Eu disse que era a sua vez, certo? Pensa um pouco. - disse a cópia, dando um sorriso infame com os lábios de Stella ao se aproximar. Norman finalmente entendera a partir dali para o seu assombro.

                                                                                    ***

Para que o plano de Frank tivesse o máximo de sucesso, Travis precisaria ir a um corredor de uma zona com maior concentração de demônios para convencer um deles de que estava possuído enquanto o detetive observava escondido num armário metálico pelas três estreitas brechas da porta.

O médico teria de disfarçar sua apreensão antes, durante e após o ato. Uma das cópias surgira vindo doutro corredor, uma garota de cabelos negros que ocultavam boa parte do seu rosto. Ela exibiu um olho negro e um semblante de raiva que aumentava quanto mais chegava próximo de Travis.

- Ei, espere... Na verdade, sou um de vocês. Veja... - disse ele, sacando uma garrafinha com água que foi derramada sobre seu braço causando um efeito ácido equivalente ao da água benta. - Viu só?

- Por que está carregando um recipiente de água benta? Por acaso é idiota?

- E-eu... Eu roubei do caçador. Sem mata-lo, claro. O que acha de irmos até nosso mestre?

No armário, Frank passou a mão pelo rosto notando uma falha na atuação e pensava no pior.

- Mas nós somos o mesmo monstro. - disse a cópia, cada vez próxima - Não tem porque chegar nele.

- Até então nunca me dei conta... de que poderíamos ter uma consciência própria. Livre arbítrio.

- É a mentira que os humanos acreditam. A ilusão de ser independente. Caminhamos com nossas pernas, decidimos nossas ações... mas não passamos de escravos daquele que nos gerou. Nem podemos nos tocar. Somos partículas... facetas diferentes de um mesmo ser. Se não houvesse tantos limites...

O celular de Frank tocara abruptamente para o completo desespero dele. Olhando a chamada, era Carrie, o que fez soltar vários palavrões na mente. A cópia desviou o olhar para o armário.

- Tem certeza que ele não estava mentindo?

- O que tá dizendo? Não toque em mim!

- Não posso descobrir se não tentar né? - Travis intencionava toca-la.

- Se afaste! - gritava a cópia que acabou tropeçando ao andar para trás. Travis a segurou pelo braço.

- Frank, agora! - alertou o médico.

O detetive tinha desligado o celular e saíra do armário. O demônio, com telecinesia, arrancou a porta e a lançou contra Frank derrubando-o.

- Sinto cheiro de queimado vindo de você. - disse a cópia - Não é um de nós! - o arremessou. Logo em seguida, desprendeu-se da garota para escapar.

Frank habilidosamente jogara uma corda banhada a óleo sagrado como um laço pegando-o pela cintura antes que corresse. O demônio fora subjugado pela acidez causticante caindo de joelhos e rugindo tenebrosamente. Travis ainda parecia reagir com muito temor diante daquilo.

- Vamos domar essa fera. - disse Frank, pegando a corda para amarra-lo pelos pulsos. - Fica quieto...

- E agora? Qual o próximo passo? - perguntou Travis, sacando sua arma e puxando a trava.

- Faltam oito minutos. Tempo de sobra pra gente usar nosso prisioneiro como cão farejador. E aí sua aberração do inferno? Tá pronta pra caçada?

O demônio-cópia respondeu com grunhidos selvagens dos seus dentes alvos, pontiagudos e salientes.

- Frank, tem uma falha nesse seu plano. - disse Travis - Usa-lo como uma bomba para todo o restante não faz o menor sentido. Ele também é uma cópia, vai explodir.

- A corda com óleo sagrado impede ele de virar fumaça se encostar nos outros.

- Tem certeza?

- Palavra de especialista. Pode confiar. - disse Frank, sentindo-se determinado a concluir o desafio.

                                                                                       ***

A todo instante que achava alguns demônios-cópias, Frank usava o que prendera como arma, segurando bem firme a corda e jogando-o com toda força contra eles, cada um sendo reduzido à fumaça como se vaporizassem. Travis matava os que fugiam dos corpos. Ao menos era uma alternativa de menos inocentes morrerem enquanto possuídos. Inesperadamente, Norman apareceu.

- Dr. Travis! - disse ele, vindo correndo - Me desculpa ter vindo assim...

- Eu não mandei todos ficarem até que eu voltasse? Norman, o que aconteceu? - indagou ele, rude.

O replicador novamente entrou em contato com Frank em telepatia.

- Está ficando um pouco chato jogar com você, confesso. Matou mais clones em tão pouco tempo. Então resolvi radicalizar um pouco, se é que me entende. Quando pegou um dos clones para usar como artilharia pesada faltavam oito minutos. Agora são três.

- Miserável... Acelerou a contagem.

- O que tá havendo com ele? - perguntou Norman - Quem é esse cara?

- Não interessa. Responde minha pergunta, Norman. Descumpriu minha ordem. Por que?

- Tinha... alguém a mais possuído. Mas o motivo de ter voltado é...

- Muito bem, Travis. A coisa ficou feia pro nosso lado agora. Seu amigo aí vai se juntar a nós?

Travis virou-se para o detetive a fim de dizer algo.

- Frank, eu tô com a sensação de que...

A frase do médico foi subitamente cortada quando uma mão ensopada de sangue transpassou seu peito esquerdo. Travis tremia indefeso. Atrás dele, Frank visualizou Norman com olhos negros.

- O tempo urge, Frank. Corre. - disse o demônio.

- Seu filho da puta. - disse Frank, enfurecido, mirando o rifle. Porém, fora empurrado com telecinesia a uma parede derrubando um extintor de incêndio. Em seguida, a cópia privou os pulmões do detetive de oxigênio infligindo uma asfixia terrível. Frank agarrava o pescoço resistindo enquanto tentava alcançar o rifle. O corpo de Travis havia caído sobre uma poça expansiva de sangue.

- Bem, mudei de ideia. O caminho mais fácil é bem mais divertido. As vidas que tentou salvar com tanto esforço de herói... serão queimadas. Meu jogo, minhas regras!

- Não... - disse Frank o rosto vermelho, forçando-se mais. Os dedos tocaram no rifle e por fim o pegou. Disparou um tiro certeiro na cabeça. - Isso foi pelo Travis... seu maldito. - voltou a respirar.

Ele olhou para um lado e constatou que o seu prisioneiro tentava escapar rastejando com a corda.

Frank levantou-se meio trôpego, mas nada que interferisse na pontaria.

- Você foi muito útil, sabia? Adíos. - disse, logo atirando. A cópia vaporizou rapidamente em fumaça após gritar em agonia.

Frank caminhava freneticamente pelos corredores em rumo aleatório para achar o paciente-bomba.

- Tá esquentando... - dizia o replicador na sua mente em tom debochado. O detetive seguiu pelo medidor eletromagnético. O achado foi imediato. - Ué... cadê ele? - se referia ao replicador.

- Bem na sua frente. - disse o paciente, revelando-se possuído.

- Ora essa... E se for mais uma das suas cópias? Hein? Chega dessa palhaçada! Me mata logo!

- Eu mudo de planejamento com muita facilidade. Esse cilindro pesa... Mesmo que ele sobrevivesse, não suportaria a dor nas costas, talvez sua coluna ficasse comprometida...

- Então tô diante do original? Me prova.

- Só descobrirá... se atirar. Mas... se fizer isso é kabooom.

- Você já tem a mim. Por que não larga desse joguinho sádico e aproveita tua chance? Minha vida tá entregue nas suas mãos. Eu morreria pelas pessoas que estão aqui!

- Muito heroico da sua parte. Só que não, Frank. Preciso ver a queda da sua moralidade matando esse pobre homem desgraçado que não tem nada a perder. Dois minutos. O que vai ser?

- Quer saber? Tô aguardando sua próxima mudança de plano. Sou eu que pergunto: O que vai ser?

Um minuto de silêncio era um tortura para o detetive. O replicador sorriu.

- Um último desafio. Você tem um minutinho para desativar a bomba. Boa sorte.

O replicador se desprendeu do homem e escapou teleportando-se. Frank correu direto à ele para ampara-lo bem como abrir o compartimento do explosivo.

- Calma, tá tudo bem. Prometi que salvaria você. - olhou no contador. 52 segundos. Removeu a tampa do cilindro e viu três fios: verde, azul e vermelho - E essa agora... Quando penso que não pode piorar... - a desperança tomou conta - O que eu faço?

- Fuja... - disse o paciente, caído - Salve-se. Não tem outro jeito.

25 segundos. Frank não hesitou ao impulso. 15 segundos. Pegara a bomba-relógio, retirando-a dele, correndo para a janela e por fim a lançara para o mais distante que pôde.

Em 10 segundos após o arremesso a explosão refulgiu no estacionamento levantando a nuvem colossal de fogo e fumaça. Frank fitou o "espetáculo" ainda mais angustiado.

Voltou sua atenção ao homem que permanecia no chão. Verificou seu estado.

- Ótimo, vou te levar de volta pro quarto.

- Não... É tarde demais. - disse ele, olhando para a barriga. Frank acompanhou o olhar. Para sua frustração completa uma mancha de sangue formava-se e crescia na roupa branca - Ele me feriu assim que entrou. Eu sinto muito...

- Não, você não tem culpa. Mas entendo uma coisa: Sacrifícios... são inevitáveis e às vezes precisos.

O homem assentiu derramando lágrimas. Sua mão segurando a de Frank perdeu o calor.

Transtornado por dentro, era a vez de Frank jurar vingança em pensamentos ao chorar pelo homem.

                                                                                    ***

Algumas horas antes... 

O início da noite prenunciava um final de expediente tranquilo para Frank no DPDC, mas eis que inesperadamente seu telefone fixo, ao lado do computador, tocou estridente.

O detetive analisava minuciosamente uma pasta contendo referências de casos que pareciam individuais mas tinham algumas correlações suspeitas. Não hesitou em pegar o fone e atender.

- Alô? - indagou, tirando os óculos de grau exclusivos para leitura à noite - É do DPDC. Com quem eu falo? - ouviu sons de sussurros e choro - Por gentileza, me diga quem tá falando. Alô?

Uma perturbada voz feminina falara.

- Aqui é do hospital emergencial, unidade de pronto-atendimento... estamos sendo atacados e ameaçados, feitos reféns... manda um esquadrão, qualquer pessoal que tiver! Por favor...

- Calma, fica tranquila. Me descreve resumidamente a situação. Primeiro: Onde você está?

- Escondida no depósito, por enquanto. Vieram uns homens... não estão armados, nem nada, mas... é loucura o que vou dizer, mas... tinham olhos pretos, completamente pretos! Mataram pacientes!

A partir dali, Frank certamente não teve mais dúvidas e assumiu seriedade.

- Segue duas recomendações minhas: Não liga pra polícia ou a Força Tática e fica exatamente onde você tá agora, sem fazer movimento brusco ou tomar ação precipitada. Ouviu bem? Já tô indo pra aí.

O trajeto ao hospital fora demorado, apenas balançando os nervos de Frank que entrara correndo pela porta dupla de vidro da frente armado com seu rifle altamente carregado com balas molhadas de óleo sagrado. A área de recepção estava vazia e as luzes meio esverdeadas piscavam levemente.

- Sem sinal de enxofre... - disse ele, apurando o olfato, depois tirando o medidor eletromagnético que apontou assinatura moderada - Só metade da leitura. Talvez esteja perto...

Frank não completara sua fala pois fora golpeado na nuca por um punho cerrado. Este que pertencia a um homem possuído que parecia ter em torno de 30 anos, com cavanhaque e cabelo bem curto, vestindo casaco azul-marinho. Agachou-se olhando para o detetive, a sua grande presa, caído.

- Brinquedinho interessante, Frank. - disse, pegando o medidor. Depois reparou no dedo anelar da mão esquerda dele, tocando-o - Incrível. - escureceu os olhos ao sorrir - Sabia que era um cara sortudo, mas agora... você é sinistro. Eu podia tirar esse anel. O meio mais fácil pra acabar com você. Mas pra onde ia minha diversão e todo o trabalho que tive arquitetando ela? Você vai viver, Frank. - aproximou sua boca ao ouvido do detetive - Vai viver o bastante para perceber que não é tão forte.

Se teleportou com ele num piscar de olhos deixando escapar a chance de destruir Frank facilmente.

                                                                                   -x- 

*A imagem acima pertence ao seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: http://mundotentacular.blogspot.com/2014/07/o-horror-no-hospital-impressionantes.html

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