Crítica - Angel Beats


E se você ganhasse uma segunda chance após a morte?

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS. 

Um outro aviso: A crítica está no formato de texto direto mesmo, sem divisão de prós e contras como normalmente faço com animes e séries, então hão de ocorrer exceções como esta se por ventura eu julgar necessário. O anime aqui em pauta até então se encontrava no seleto grupo dos procrastinados, mas este ficou varrido, por um bom tempo, para o fundo desse "freezer" de modo que nem era certo apertar o play e me dar ao trabalho de maratonar todos os 13 episódios como fiz num único final de semana. Esta é a segunda obra de Jun Maeda que resenho, enquanto a primeira foi Charlotte (cuja review você pode conferir clicando aqui) e pra começar vou tecer uma comparaçãozinha em relação à estética do anime que se ambiente em grande parte numa espécie de limbo ou plano astral com cenário escolar para onde são enviados jovens estudantes que possuem em comum o sofrimento com fatalidades que interromperam a concretização dos seus sonhos.

A comparação definitivamente é sobre o filtro que dá à fluidez da animação uma atmosfera mais iluminada. Em Charlotte vemos um eficiente uso dessa luz que clareia o rosto dos personagens. Por outro lado, Angel Beats exagera o recurso e nesse ponto eu não recomendo assistir num site que tenha qualidade baixa de imagem, a menor resolução possível basta para deixar a experiência meio incômoda, mas não atrapalha no geral porque o conjunto narrativo compensa. A trama acompanha seu protagonista Otonashi Yuzuru que acorda, desmemoriado, no lugar que serve de reduto para aqueles que tiveram suas vidas ceifadas (não faço ideia se o critério inclui também assassinatos) em plena juventude. E como protagonista, ele é especial de alguma forma. O início do anime é direto e reto, sem enrolação.

A apresentação dos personagens (sobretudo de Yuri Nakamura, proeminente durante toda a obra como a líder de um esquadrão que luta contra anjos chamado SSS) funciona de maneira bem orgânica, se vê entrosamentos que não soam forçados á primeira vista e que progridem ao desenrolar do enredo (como é o caso de Otonashi que desenvolve amizade com Hinata e posteriormente com o infame Naoi que injustificadamente adquiriu poderes hipnóticos ao cair no limbo). Cada personagem ali tem sua história dramática particular que explica suas permanência no estranho mundo, mas, infelizmente, são poucas as que realmente são melhor destrinchadas. No caso, são três: Yuri, Iwasawa e Naoi. Fosse pra escolher a que considerei tocante, não no sentido de fazer qualquer um se debulhar em lágrimas como se tivesse morrido alguém, eu elegeria a de Iwasawa, a líder da banda Girls Dead Monsters, responsável pelos divertidos números musicais (parte da operação da SSS chamada "Tornado" para conseguir vale-refeição), que é substituída pela espevitada Yui (ainda que não emule o talento vocal da ex-integrante) após desaparecer por ter se sentido realizada e feito as pazes com seu destino anteriormente deplorável com uma família disfuncional e um acidente em decorrência disso que arruína seu sonho visando carreira musical terminando por deixa-la com um tipo de paralisia no cérebro. É um padrão óbvio: Todo personagem que faz parte do núcleo da SSS esteve próximo de conquistar alguma meta, aquilo que daria sentido às suas vidas, mas os reveses lhe tiraram tudo. O culpado de tanta desgraça é acusadamente apontado por Yuri. Ninguém menos que Deus (porque na lógica se há um anjo deve haver um Deus). A personagem traça sua liderança com base numa queixa imatura. Daí o questionamento: Se há um Deus operando universalmente, então por que ele permite o sofrimento? E essa vai para a Yuri: Mas se Deus tira de você o que tanto almejava no mundo físico, o seu bem mais precioso, logo não é aceitável a existência de uma dimensão metafísica onde é possível se arrepender e uma chance de realizar seu sonho?

A presença destacante que completa o trio principal é Tachibana Kanade, aquela que inicialmente se pensava como uma vilã pois para Yuri e o resto da Frente de Batalha os anjos eram responsáveis por "apagar" as almas, mas apagar significa fazer reencarnar e as incertezas, aliada à falta de confiança num Deus (cuja existência fica em aberto tal como o final inteiro) que julgam injusto, os movem a escolher se prender ao limbo eternamente. Kanade é inexpressiva, mas esbanja uma delicadeza que encanta, além de um vínculo rápido com Otonashi fortalecido pelos conflitos. Na verdade, ela é a primeira de um trio de antagonistas que inclui Naoi (após ele assumir o posto de presidente do Conselho Estudantil) e o cara responsável pelos softwares que controlavam aquelas sombras que devoravam os "NPCs" (como são denominados as pessoas que agem como professores e estudantes normais e são comparadas aos personagens não-jogáveis num vídeo-game) apenas porque o amor estava no ar e isso deixaria todo mundo acomodadinho demais para enxergar aquilo como paraíso. Os dois primeiros sofrem uma virada, mas posso desconsiderar a Kanade por ela ser incompreendida (também ela não colaborava e nunca explicava suas motivações ao pessoal da SSS, o que sempre deixaria tudo ao passo de conflitos). São três atos muito bem amarrados e introduzidos.

Só a resolução do último que foi vítima da pressa. Um anime que aborda temáticas psicológicas densas (com questionamentos do tipo "Por que eu nasci?", "Por que tô vivendo essa vida de merda?", "Será que minha vida é uma farsa?" etc) que conseguem transmitir emoção quando executadas merecia algo mais que 1 cour. E quanto a expressão emocional, sinto dizer, mas comigo não foi essa dramalheira toda que pensei ser. Não estou dizendo que a carga dramática não funcionou, muito pelo contrário, ela tem sim um grande peso fundamental para gerar empatia sobre aquelas almas tão jovens e tão confusas e perdidas ao mesmo tempo. O que aconteceu, no meu caso, foi que me senti tocado pelas situações, como bem falei acima, mas não a ponto de me desidratar em lágrimas e ir comentar "malditos ninjas cortadores e cebolas" e outras coisas clichês. No máximo, meus olhos lacrimejaram. Se isso pra alguém que superestima o anime não for suficiente e achar que reagir assim denota uma confirmação de que a pessoa é um psicopata desalmado (ó o pleonasmo na área), me desculpe, mas não sou obrigado a chorar oceanos de lágrimas por mais comovido que eu esteja. Não importa se a obra é o anime dramático mais hypado da história, eu vou externar meus sentimentos de acordo com a forma que eu responder à situação retratada no anime. Vai da sensibilidade de cada um, no fim das contas, algo que sempre e pra sempre será relativo. Porém, também posso estranhar alguém que não tenha sentido uma tristezinha com as principais histórias trágicas.

A ação tem um bom direcionamento (o combate na Guilda é meu favorito), mas peca umas vezes num embaçamento desnecessário na hora do combate. No roteiro ficaram alguns pontos injustificados. Otonashi se tornou um doador de órgãos após sua morte (sua irmã morreu de câncer e precisaria de um doador compatível) e seu coração foi transplantado à Kanade. Mas como isso é possível se a própria Kanade chegou antes dele? Os objetivos que determinaria a saída de ambos dali era um agradecer e o outro receber o agradecimento. A cena final, inclusive, imerge fundo no relacionamento trazendo à tona a declaração de Otonashi e a resposta kawaii de Kanade num belo momento de "despedida".

Considerações finais: 

Angel Beats acaba como sendo uma comédia dramática que não se excede em nenhum dos dois gêneros, muito embora sua força motriz seja o drama rodeado pela tragédia. Além do mais, temos as boas reflexões que são válidas num debate. Até entendo deixar pontas soltas para não entregar tudo mastigadinho demais, mas, por generosidade, algumas "colherinhas de chá" seriam bem-vindas.

PS1: Quanto mais eu absorvia do plot central, mais eu lembrava da música Epitáfio dos Titãs. "Devia ter aceitado/ A vida como ela é..."

PS2: Noda, Matsushita, T.K e Shiina são alguns dos personagens que injustamente careceram de histórias.

NOTA: 8,0 - BOM 

Veria de novo? Sim. 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://pt.wikipedia.org/wiki/Angel_Beats!

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