Crítica - As Trapaceiras


Tapeando personagens e espectadores também.

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.

A comédia estrelada por Anne Hattaway e Rebel Wilson é daqueles filmes sem compromisso para serem assistidos de forma igualmente descompromissada num dia qualquer em que você não está muito afim de rachar a cuca tentando captar referências ou conectar pontos da história para deduzir o final ou desvendar mistérios, daí opta por uma diversão bem água com açúcar que nem sempre cumpre o propósito de ser divertida. Em suma (e sendo meio redundante), não é pra pensar (como quase todo buddy movie cômico). Metaforizando a bagaça: Um chiclete que você masca, joga fora e pouco se lembra do gosto no dia seguinte. Trata-se de um remake do remake de História de Ninar (Beadtime Story, no original), filme datado (e põe datado nisso) de 1964 protagonizado por Marlon Brando e David Niven e Shirley Jones e tal longa foi base para a produção de um remake com Steve Martin e Michael Caine, lançado em 1988, intitulado aqui no Brasil de Os Safados (Dirty Rotten Scoundrels, no original), que foi inspiração para o filme aqui resenhado. Se você achou que eu fosse dar uma significação especial ao longa, mais precisamente a respeito de "empoderamento feminino', achou errado, redondamente errado (se é que aplicar golpes em ricaços tenha algo a ver com isso). A proposta "criativa" pode até ter sido construir uma resposta aos exemplares anteriores, mas não vem ao caso, pois isso aqui é um longa-metragem e devo analisa-lo como tal.

Longe de mim enveredar para aquele tema espinhoso, nem toco no assunto. Enfim, definitivamente entrando no cerne: Duas mulheres, Josephine Chesterfield (Hattaway) e Penny  Rust (Wilson) viajam rumo à Riviera Francesa - local onde também foram ambientados os filmes de 64 e 88 - com o objetivo de cometer umas vigarices pra cima de homens ricos, em especial um milionário jovem chamado Thomas Westburg versado em tecnologia com o qual Penny acaba por se apaixonar - isto numa altura em que as duas golpistas estavam em pé de guerra por não saberem trabalhar em equipe (ou por Josephine ser muito mandona e não querer concorrência com uma "novata"). No trem para a viagem, ambas se conhecem e bolam suas estratégias fraudulentas, o que rende uma química amena para situações de comicidade um tanto contraída, além de toques de humor pastelão, embora o politicamente incorreto predomine-se (Penny rebolando igual a uma funkeira e esfregando a buzanfa nas partes baixas do Thomas =P), Ao longo de 95 minutos acompanhando as peripécias dessa dupla improvável, só posso concluir que a performance de Rebel Wilson carregou o humor praticamente inteiro nas costas em contraste com Anne Hattaway que não exprime o mesmo tom nas gesticulações, expressões corporais e fala (na atuação em geral, sendo bem sincero) e nesse desbalanço favorece-se Penny que rompe com sua parceira e ambas disputam sobre quem melhor passa a perna no riquinho bem apessoado e de face simpática (quase indesconfiável). Elas não contavam com a astúcia do rapaz.

Numa reviravolta digna de um bom clímax (me fez grudar mais o olho na tela), Thomas revela-se um tremendo picareta que é parte de um legado (pra se chamar "Medusa" é porque o lance não é brincadeira) e roubou meio milhão de cada uma, totalizando a quantia necessária para seu aplicativo. Já dizia o ditado: Quem com muita trapaça trapaceia, com a trapaça, mais cedo ou mais tarde, será trapaceado. Porque não existe bom enganador que não possa ser enganado por alguém mais experiente (e foi uma derrota humilhante para as duas pilantras, já que o cara é novo e mostrou-se de uma esperteza superior - o que não é sinônimo de inteligência, vale salientar, mas no caso do Thomas rolou uma jogada inteligente também). Um plot twist adequado para o contexto de malandragem. Mas eis que mais tarde o roteiro caga e lambuza tudo com o happy end de reconciliação de forças. Thomas se propõe a ser uma espécie de mentor para Jo e Penny, reunindo-as como uma equipe. Eu não imaginaria um final tão logo sem essa cooperação. Redenção? Vida nova? Cada uma por si nas suas tramoias? Eu acho que haveria uma saída alternativa que não maculasse com a guinada que pelo lado "bom", contudo, dá a oportunidade para elas se aprimorarem (não tô defendendo a conduta, gostaria que uma delas se regenerasse, mas num momento de fraqueza teria uma recaída, o que seria uma surpresa menos incômoda do que coloca-las à disposição de um profissional mais qualificado no âmbito que as enganou feio). Como o filme mergulha no raso, não vejo o que mais tem para discorrer.

Considerações finais:

Em um gênero que abarca um público cada vez mais exigente (um panorama similar é o terror), As Trapaceiras gasta muito de seu texto não extraindo o tom humorístico na medida certa em suas protagonistas para que fiquem mais equiparadas e ajam em harmonia, coisa que fica somente nos golpes enquanto são aliadas. Logo não atende à atual demanda.

PS1: OK, eu ri daquele "treinamento" da Penny. E das camuflagens também.

PS2: Quando disse atual demanda, estava me referindo à minha visão do que os amantes de filmes de comédia nesse estilo querem que são piadas bem elaboradas e situações que provoquem risos espontâneos, mas sempre depende a qual público determinado filme deseja atingir, os politicamente corretos ou incorretos.

NOTA: 6,0 - REGULAR

Veria de novo? Provavelmente não. 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilusrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagens retirada de: https://oglobo.globo.com/rioshow/as-trapaceiras-com-anne-hathaway-ganha-primeiro-trailer-internacional-23446874

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