Frank - O Caçador #33: "O Que Aconteceria Se..."


Tendo seguido, numa investigação cansativa, os passos de um bruxo chamado Lafayette que era receptor de contrabando de itens altamente orçados, Frank disputava violentamente com o feiticeiro, na luxuosa casa do mesmo, a posse de uma urna transportada ilegalmente de um museu britânico para chegar as mãos do portador criminoso. Lafayette, bem trajado com terno preto, repelia o detetive com sua magia, esticando sua mão para empurra-lo como se utilizasse telecinesia. Frank foi jogado ao chão de madeira, impactando suas costas. A urna transparecia ser uma caixa marrom de tamanho médio com detalhes intrigantes que davam uma certa impressão mística. Segurando-a, Lafayette, que tinha um evidenciado cabelo preto amarrado em rabinho, saboreava risonho sua vantagem contra Frank que carregava sua pistola com uma bala anti-magia sem que ele notasse. O bruxo colocou a urna de volta à mesa, despreocupado com Frank.

- Eu não medi esforços pra obtê-la bem nas minhas mãos, estou muito mais satisfeito que protegê-la de você será ridiculamente fácil. - disse Lafayette - Pra ser honesto, é uma oferta que devo à pessoas com um fascínio maior que o meu por ela. - nesse instante, Frank, mantendo-se no chão, apontava a arma já que o bruxo estava de costas.

O detetive atirou, mas a bala parou no ar sem que Lafayette pudesse vê-la. O bruxo virou-se, pegando a bala e dando um sorrisinho torto. Com um peteleco, jogou o projétil para trás.

- Esqueceu com quem tá lidando? Pode excluir guarda baixa da sua lista de fraquezas de bruxos.

- Dessa vez eu não erro. - disse Frank, tornando a mirar a arma, levantando-se - Eu não tenho a noite toda pra ficar brincando de cabo de guerra tentando puxar esse troço das suas mãos sujas.

- E sua melhor estratégia pra deixar nossa luta emocionante é insistir num outro tiro? - perguntou o bruxo.

- Não. - disse Frank, sorrindo confiante - Porque não tô mirando em você, desgraçado.

O segundo tiro disparado acertou na urna que fez um ruído metálico, mas não produziu nenhum arranhão.

- Duas tentativas frustradas. - disse Lafayette - O material dessa urna é poderosamente resistente. - ergueu sua mão direita, levitando o corpo de Frank ao mesmo tempo imobilizando e o virando de frente a uma armadura de cavaleiro medieval, baixando a lança telecineticamente para aponta-la ao detetive que possuía mais uma bala restando.

À medida que Lafayette o movia até a ponta da lança, o detetive fizera um esforço sofrido erguendo penosamente a mão direita que segurava arma para direcionar a arma contra o bruxo e efetuar um tiro preciso. Frank cerrou os dentes, as veias do seu pescoço saltadas e a expressão impetuosa, todos os sinais que indicavam sua perseverança intensiva. Até o dedo no gatilho estava difícil de movimentar, mas pôde pressiona-lo naquele ritmo terrível. O revólver disparou. Lafayette sentiu as pernas bambearem e caiu com o tiro tendo acertado sua canela esquerda. Frank foi ao chão, felizmente não dando tempo para a lança espetar sua barriga. Porém, a urna emitiu estalidos altos fazendo as atenções de ambos voltarem-se à ela.

Parecia que algo batia por dentro. Algo que estivesse aprisionado no interior... e quisesse escapar.

Com o intensificar dos barulhos, a urna ora tremia, ora se mexia na mesa.

- Viu o que fez, seu tremendo imbecil?

- Ah sim, foi mal por meter uma bala na sua perna quando devia ser na cabeça. - retrucou Frank.

- Não é isso! Provavelmente vamos morrer juntos aqui. - disse Lafayette, aparentando desespero - Eu que não vou dividir meu túmulo com um caçador medíocre!

- Tá se referindo ao quê? O que tem dentro dessa urna? Meu tiro mal fez um arranhãozinho nela.

- Mas você o perturbou! - disse o bruxo, olhando para a urna ruidosa - Por que acha que eu a mantive protegida para nada nem ninguém danifica-la por mais resistente que ela fosse? Agora é o fim! Eu não vou pagar pela sua atitude idiota!

Abaixo da tampa da urna haviam travas que se abriram liberando uma densa fumaça verde. Lafayette, horrorizado, caiu para trás no ímpeto de correr e levantou-se fugindo o mais depressa que podia com sua canela baleada. Frank permaneceu imóvel e atônito visualizando aquele gás esverdeado empestear o ambiente. Mas a fumaça deslocava-se como se fosse senciente, dando forma a um ser humanoide em meio à fenômenos como correntes fortes de vento e luzes piscando tremulamente.

A energia elétrica sofreu um corte abrupto após a fumaça materializar o ser de porte robusto, deixando a sala dividida entre escuridão e iluminação natural da lua atravessando a enorme janela.

O homem que saíra da urna foi aproximando-se de Frank, expondo seu físico vigoroso, mas apresentável sob uma pele verde, além do chamativo cabelo preto apenas na parte de trás como um longo rabo. Nas suas vestes, usava uma calça azul, sapatos dourados de bicos pontudos e curvados para cima e uma espécie de casaco preto que cobria apenas os ombros, as laterais abaixo das axilas e parte das costas. Seu rosto austero encarou fixamente Frank que não se deteve.

- A minha cápsula de segurança estava sob a tutela de quem?

- Ahn... Pertencia ao cara que acabou de fugir daqui, não sei se você chegou a nota-lo enquanto saía da sua casinha, mas posso garantir que ele não tinha bons planos, afinal se apropriou ilicitamente, ou seja... você foi transportado pra casa de um malfeitor ladrão, um bandido de marca maior. - o olhou com análise - Espera aí... essa sua aparência tá meio familiar pra mim.

- Um dos dois agrediu minha cápsula. - disse o homem, seus olhos amarelos emanando autoridade.

- Tá bem, fui eu, o ignorante e imprudente caçador de monstros, quem incomodou o seu sono. Só que a droga do tiro não fez nenhum dano. Eu atirei na esperança de realmente causar um dano, mas não sabia que você morava dentro da urna.

- Mas eu ouvi um estrondo retumbante, meus ouvidos estão vibrando até agora. Ignorância não absolve nenhum culpado.

- O que você vai fazer? Me matar ou conceder três desejos pra mim, senhor gênio da lâmpada?

- Eu não saio da minha cápsula há séculos. A última vez que me solicitaram foi para realizar ambições nefastas.

- E o que você fez? - indagou Frank - Uma dessas pessoas se chamava Aladdin?

- Não, seus nomes, até mesmo seus anseios, pouco me importavam. Destruí todos sem exceção. - disse o "gênio", friamente - Minha maior dúvida nesse momento é: Qual de vocês dois de fato queriam me proteger? Talvez esse jeito seja o único meio viável de descobrir.

- Que jeito? - perguntou Frank, receoso.

- Esse. - disse o homem, retornando ao estado de fumaça, porém adentrando no corpo de Frank através da boca do detetive, possuindo-o de corpo, alma e espírito, como um demônio. Os olhos de frente se escureceram um pouco num tom de verde meio acinzentado. Passado um instante, a fumaça saíra por onde invadiu, rematerializando o homem anteriormente confinado na urna - Frank Montgrow, você é um homem repleto de emoções conflitantes numa vida com mais guerras do que calmarias.

- Isso é invasão de privacidade, sabia? - disse Frank, tendo uma sensação ruim, tocando no seu pescoço como se tivesse vomitado - Mas não me iludo mais com fantasia de criança. Eu achava que anjos eram bonzinhos e honestos e que gênios da lâmpada podiam transformar qualquer sonho em realidade. E aqui estou, diante de um, com uma personalidade suspeita.

- Você captou sinais suficientes pra entender como sou e quem sou. Não sabe o quanto é inteligente, mas às vezes se deixa levar pela impulsividade, colocando seus amigos em risco. Cada memória que vi tem muita importância pra sua punição. - disse ele, fechando os punhos, os erguendo de leve e deles despontado fachos de uma luz branca poderosa. Ao abrir suas mãos, a luz explodiu cegante. Frank reabriu os olhos bombardeado pelo clarão, vendo-se num corredor imediatamente reconhecido.

- O que... - Frank sequer sabia o que exprimir para questionar aquilo - Eu tô no DPDC?!

Virou-se para sua direita onde ficava a porta da sala do agente especial do departamento.

Batera com dois dedos, ciente de que o "gênio da lâmpada" estava à frente de uma manipulação da realidade.

A porta abriu-se e um baque assaltou a tranquilidade do detetive.

- Carrie?! Ma-mas... O que você tá fazendo aqui? Digo... Por que tá com esse sobretudo?

- Péssima hora pra fingir demência, Frank. - disse ela - Eu sempre serei sua chefe, a detetive e caçadora de monstros, Carrie Wood, quer você goste... ou não. Pronto pra mais um dia ou vai ficar aí com essa cara de quem viu assombração?

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CAPÍTULO 33: O QUE ACONTECERIA SE...

A perplexidade na face de Frank ficou estampada por vários segundos, causando uma estranheza aborrecida em Carrie que impacientemente o puxou para dentro da sala e fechara a porta batendo-a.

- O que há com você hoje? Tá visivelmente tenso. Peguei em você e parecia que estava... tremendo. Chocado por me ver?

- Exato, principalmente com essas roupas, vestida como uma agente especial do DPDC e que ainda por cima caça monstros pela cidade. No mundo real, eu sou o caçador e você é a assistente. Essa bagaça aqui é uma ilusão cabulosa e muito cretina.

Carrie expressou um sorriso que aliado ao franzir da sua testa denotava confusão.

- Frank, você pirou de vez? Tá sob efeito de psicotrópico? Vou pedir um exame toxicológico e caso dê negativo te passo o endereço do melhor psiquiatra que eu conheço. Porque você não tá mesmo parecendo nada bem.

- Eu me enrosquei numa arapuca das brabas por causa daquele miserável fumacento, entrei pelo cano. - disse Frank, preocupado - E agora, faço o quê? - andou pela sala, virado de costas para Carrie - Teria sido melhor arriscar os três desejos.

- Ei, ainda estou aqui, pare de falar pra si mesmo e desembucha sobre esse tal "miserável fumacento" que você tanto odeia e culpa pelo seu atual problema. Curiosamente, o caso que ando investigando é justamente relacionado com uma coisa fumacenta, uma suposta entidade divina que sai de uma ânfora ou urna, sei lá, para conceder desejos aos que se apossam dela, nós já vimos ele nos desenhos da TV, nos livros de historinhas, mas seu nome autêntico é...

- Djinn. - completou Frank, interrompendo-a - Lembrei agora. Meu pai tinha feito desenhos e anotações sobre ele, embora nunca cruzou com um na vida.

- Nunca me contou que seu pai foi um caçador. - disse Carrie, soando chateada - Por que não se espelhou nele?

- Mas eu sou um caçador! Cumprindo um legado como o último da linhagem Montgrow porque com a mais absoluta certeza desse mundo não vou dar netos pra minha mãe, então meu papel é mais importante do que os descendentes.

- Esse seu delírio tá começando a encher o saco. Sempre fomos destinados ao que somos hoje, Frank. Você ajudando o meu trabalho investigativo e eu cuidando da parte prática de dirigir um carro semi-novo por quase todos os cantos, cuspir balas e deslizar facas. Como da noite pro dia você quer que isso mude? De repente perdeu o amor pelo que faz e tá me invejando.

- Inveja de você? Eu só te vi manusear armas umas três vezes. E você tinha uma péssima mira.

- Que sonho horrível você teve. Ah, acabo de lembrar - olhou no relógio de pulso - da entrevista coletiva do prefeito. - foi até sua estante pegar o controle remoto para ligar a TV LCD com suporte na parede - Bem, acho que ainda tá nos primeiros minutos. Ele tem chamado minha atenção ultimamente.

Frank mal pôde engolir a saliva ao ver Ernest discursando para uma multidão de repórteres como prefeito de Danverous City.

- O diretor... se elegeu prefeito? Mas quando?

- Diretor de onde, Frank? Tô quase acreditando que você realmente entrou em parafuso. Ernest Duvemport foi um dos maiores nomes do setor empresarial da cidade, se candidatou há dois anos e foi eleito com 60% de votos. Ele administra uma rede de hemoclínicas. E pra olhos destreinados de caçadores mais destreinados ainda, um detalhe fica despercebido.

O detetive prestou mais atenção na entrevista de Ernest, rapidamente capturando o tal detalhe reconhecível.

- É o colar. O protetor solar dos vampiros.

Carrie virou-se para ele mostrando uma cara de pasmo.

- Como sabe que esse colar torna os vampiros imunes ao sol?

- Te falei que sou caçador. Agora você vai me ajudar, ou melhor... a gente vai se ajudar a desfazer a bagunça que o djinn provocou pra zoar com a minha cara. É óbvio que isso é loucura pra você, eu sou o único que não tá aceitando essa realidade como algo normal porque fui mandado pra cá. Mas é sério, Carrie: Nada tá certo nisso aqui, nossas vidas foram trocadas, o djinn inverteu as coisas. Me deixa participar da sua caçada de uma forma, digamos... mais ativa? Que não seja eu ficando o tempo inteiro com a bunda pregada na cadeira olhando pra tela de um computador?

- Tem que pedir o aval do diretor. Mas já adianto que... dificilmente ele vai ceder pra um assistente trabalhar na área prática. No mais, não crie expectativa, apesar dele gostar de você. - avisou Carrie, um tanto desconfortável.

Frank saíra da sala da detetive, dobrando pra uns corredores até que encontrou o zelador passando o pano no piso.

- Ei amigo, será que podia me informar se viu o diretor hoje? - perguntou Frank ao homem de uniforme cinza e boné da mesma cor de costas para ele. O homem voltou-se para ele e novamente o choque travou o corpo Frank.

- Ah, olá, Sr. Montgrow. Não, infelizmente não me esbarrei com ele, nem vi passando. - disse Fred, causando espanto à Frank por ocupar aquele cargo - Por que está me olhando assim? Tem uma coisa no meu rosto?

- Fred?! - disse Frank, estupefato - Eu nem sei... Me faltam palavras pra... descrever o que sinto.

- Tá se sentindo mal? Se sim, tem um banheiro aqui no corredor à direita. Sua testa tá parecendo uma tampa de panela fervendo. Podemos não ser muito próximos, mas vou te dar um toque pra ajudar: ansiedade não se cura, mas tem controle.

- Não é nada disso, é que... - o detetive cortou sua fala ao pensar que poderia agir naturalmente sem fazer questionamentos a respeito das coisas estranhas daquele mundo - Olha, valeu pela resposta sobre o diretor. - Frank se recordou do desabafo choroso de Carrie sobre a invasão de Fred manifestando seu poder devastador como um nefilim e o fitou seriamente.

- Ahn... De nada. O que foi? Tá parecendo que nem me reconhece. Digo... Conhece, mas ainda sim ficou impressionado, eu só tô desinfetando o piso como o senhor me vê fazendo quase todos os dias. Por que a surpresa só de olhar pra minha cara?

- Melhor eu poupar você porque aí vou me poupar também. Tenha um bom dia de trabalho. - disse Frank, logo retomando a caminhada pelo corredor rumando para a sala particular do diretor.

- Igualmente, senhor. - disse Fred, respeitoso, segurando o cabo do rodo vendo Frank se distanciar.

O detetive logo encontrara a sala cuja porta estava entreaberta, desafiando seu instinto curioso.

Adentrando na sala, resolveu acender o interruptor. Nada parecia desorganizado ou fora do lugar.

- As persianas fechadas... computador desligado... Quem foi que entrou aqui e não triscou em nada?

- Não tenho a mínima ideia, mas sei quem entrou neste exato momento. - disse uma voz grave atrás dele.

Frank virou-se e aquele choque retornou, naquela hora mais impactante e perturbador.

- Aquele verdinho tá de sacanagem comigo. - disse em voz baixa, encarando fixamente o diretor do DPDC com seu terno preto usual e até aí nenhum detalhe incomum. Mas no rosto dele via-se uma face que despertava um ódio instantâneo em Frank que cerrou levemente os punhos para conter-se.

- Montgrow, o que faz na minha sala? Se esteve me procurando, devia ter perguntado à Carrie. - disse o diretor Sebastian Sullivan, cujo rosto era exatamente igual ao de Malvus. Não, era fisicamente Malvus, contudo sob outra identidade - Você chegou atrasado de novo. Outro desses e mais uma advertência pra você colecionar. - se aproximou da cafeteira, enchendo uma xícara - Não gosto de beber sozinho. Pode se servir à vontade, hoje você se safou. Acabei de voltar de uma reunião.

- Não, eu... Já tomei. - disse Frank, dominado de nervosismo - Err... O caso que a Carrie investiga atualmente inclui vítimas fatais? Eu saí apressado da sala dela pra vir procurar o senhor e vi a porta escancarada...

- Mas você é quem devia estar a par do curso da investigação. - disse Sebastian, aproximando-se dele com a xícara de café fumaçando. Frank, automaticamente, recuou dois passos, sendo pouco discreto na sua atuação de normalizar a realidade invertida na sua mente - Impressão minha ou você tá com medo? Vem cá, não vou grudar uma advertência na sua roupa.

"Essa é a coisa mais perigosa que ele sabe fazer nesse mundo do contra?", pensou Frank.

- Vou direto ao assunto: Preciso que me autorize a participar da investigação no caso de forma ativa, uma experiência de campo por um dia. Não posso ficar enfurnado naquela sala de cara no computador o tempo todo enquanto a Carrie fica no tiro, porrada e bomba.

- Acha que ela precisa de proteção? Montgrow, deixe-me refrescar sua memória: sua parceira de trabalho fez o curso de tiro oficial do departamento, aulas de auto-defesa em 10 artes marciais e treino tático de nível militar e todos os testes de aptidão foi bem-sucedida. Já você... apenas ganhou um prêmio do DPDC de melhor assistente. Você até tirou a medalha na noite de premiação... foi bem deselegante. OK, águas passadas, minha estima e consideração por você não mudou.

O detetive estava desconcertado ouvindo sobre um evento que jamais viveu.

- Mas não posso permiti-lo que se desvie do seu ofício. - disse Sebastian, andando devagar pela sala e dando um gole no café - Seria me obrigar a quebrar regras e você sabe o que acontece com os transgressores.

- Então peço demissão. - disparou Frank, perdendo o medo. Sebastian se voltou à ele numa expressão de surpresa e descontentamento - Calma, não é querendo apelar pra chantagem, mas...

- Mas é literalmente à isso que você tá recorrendo, Frank. - repreendeu Sebastian - Você sempre trabalhou proativamente, com entusiasmo e tenacidade, é o melhor assistente que um detetive poderia ter ao seu dispor. Não dá pra entender essa sua postura. E gostaria que olhasse nos meus olhos quando estou falando com você.

"Tá difícil conversar olho no olho com um Malvus bonzinho e que trabalha pela justiça.", pensou Frank.

Frank sentiu a mão de Sebastian tocar no seu ombro esquerdo e o detetive reagiu com um ínfimo susto.

- Você já provou seu valor fazendo o que faz. - disse Sebastian. Frank estranhou completamente uma serenidade tão grande vir de alguém com a aparência do seu mais perverso inimigo - A sua competência é essencial pro trabalho de Carrie.

- Entendi. - disse Frank, timidamente, fingindo assentir. Andou até a porta para sair em direção à sua sala de assistente.

- Ele está estranhamente diferente hoje. - falou Sebastian, tomando mais um gole do café.

Frank enfim chegara na sua sala própria e avistou um dossiê sobre a mesa. O arquivo continha relatórios acerca do caso envolvendo a influência do djinn sobre três pessoas que milagrosamente se afortunaram com sonhos realizados.

Mas aquilo aparentemente não pedia necessidade de uma investigação policial.

O celular na mesa tocou e o detetive atendeu-o de imediato.

- Alô? - disse Frank, sentando-se na cadeira.

- Frank, espero que esteja na sua senzala moderna. De volta ao jogo, desculpa começar sem você.

- E onde você está? Há quanto tempo você saiu?

- Tô xeretando o quarto de uma mulher que ganhou na loteria recentemente. Casa reformada, filhos estudando num colégio de primeira, marido investindo num negócio que tá indo de vento em popa...

- Eu queria ter essa sorte agora. Olha, sobre o diretor... ele se recusou a fazer minha vontade, ou seja, é cada um no seu quadrado. Eu conferi aqui o dossiê do caso, só tem três ocorrências registradas. A dessa mulher é nova, pelo visto.

- Pois é, tem uns dias que não é atualizado. - disse Carrie, olhando no guarda-roupa - Quero achar logo essa maldita lâmpada...

- Não é uma lâmpada mágica, Carrie, é uma urna. Consegue imaginar como é mais ou menos?

- Uma urna... Me leva a pensar em algo não muito leve pra passar de pessoa à pessoa.

- Vai ver o djinn sumiu com ela, talvez roubando de cada portador que o invocou e transferir pra uma próxima vítima.

- O pior é que não sabemos as consequências desses pactos a troco de sorte grande. - disse Carrie, verificando as gavetas da cômoda - Será que é parecido com demônios? Arrastam pro inferno depois de um período específico?

- Ele não é tipo um Cramunhão que sai da casinha pra fazer pacto com fachada de caridade e depois de uns meses ou anos esfaqueia pelas costas. Por que isso merece ser investigado? Pessoas estão felizes, feitas pelo resto da vida. Só temos que pegar a urna e dar um jeito pra aquietar o djinn.

- Geralmente sou eu que costumo dar um ar de facilidade. - disse Carrie, notando a diferença - Pesquisa aí as fraquezas dele.

- Ué, pensei que você soubesse. Ou não é uma perita de monstros tanto quanto você se gabava.

- Nenhuma ancestral minha deixou registros sobre djinns, eles são raros, milenares e quase inacessíveis, dá um desconto.

- Tudo bem, mas vê se agiliza essa busca porque não vou garantir terminar minha parte no vapt-vupt.

- Contanto que ela não volte pra casa antes dos próximos quinze minutos, tô tranquilona.

- Boa sorte. - disse Frank, abrindo a página de pesquisa online - Pra nós dois.

                                                                                   ***

Passaram-se duas horas e a pesquisa de Frank foi a mais improdutiva possível, marcada pela dificuldade em emular a habilidade de filtragem que a Carrie que conhecia demonstrava com maestria. O detetive estava com a cabeça deitada sobre a mesa, considerando desistir do caso. Mas reergueu-se ao ouvir o som vibrante do celular que indicava uma nova mensagem recebida.

- "Não sai daí e nem ouse fazer besteira, tô voltando trazendo a urna." É do tipo de coisa que eu faria. - disse Frank, referindo-se ao ato de furtar a urna. Uma outra mensagem surgiu - "Tentei abrir esse troço com um martelo, mas percebi umas travas de segurança nas laterais da tampa. Será que tem um código pra fazer a fumacinha do djinn sair pelas fissuras?" Sei lá... Abre-te Sésamo? Eu testaria esse. - os olhos de Frank focaram-se no monitor cuja tela fazia aparecer misteriosamente um resultado de pesquisa.

O detetive, desconfiado, clicara no site, sendo redirecionado para uma espécie de jogo com fundo verde limão e uma figura em desenho animado de um gênio da lâmpada verde e sorridente apresentando o desafio.

- Mas que negócio é esse? - perguntou Frank, já depreendendo que aquilo tratava-se de uma artimanha oriunda dos poderes do djinn em relação ao seu controle dimensional - O gênio vai adivinhar meu pensamento... OK, vamos nessa.

O jogo consistia em perguntas com quatro alternativas, à medida que o jogador avança torna-se mais fácil para que o gênio acerte a resposta. A primeira pergunta era "O seu personagem é do sexo masculino?" e a segunda "Ele te conhece?".

A cada pergunta respondida o gênio mostrava indício do seu "poder adivinhatório". A resposta final levou a quem de fato Frank estava pensando: Fred. Repentinamente um vídeo apareceu carregando, surpreendendo-o. Porém, não mais lhe surpreendeu que o conteúdo da filmagem. Frank inclinou-se um pouco diante da tela vendo com pasmo Fred pendurado num gancho e acorrentado gritando por socorro. Uma mão verde foi vista rapidamente estalando os dedos no canto inferior direito e a voz de Fred emudeceu apesar dele continuar movimentando a boca com aquela face genuína de aflição.

Abaixo do vídeo surgira um endereço piscando em letrinhas vermelhas na frente dos dizeres "Parabéns, este é o seu prêmio! Você tem 3 horas para vir busca-lo! Aproveite!". Carrie retornara ao DPDC, entrando na sala de Frank de posse da urna.

- Essa não é a cara de um pesquisador satisfeito com o seu trabalho. - disse ela, notando a palidez de Frank - O que houve? Não costumo te ver desse jeito, você nunca demonstrou baixo rendimento e incapacidade.

- A pesquisa foi horrível, se é que dá pra chamar de pesquisa. Olha, quer saber? Tô de saco cheio disso, pra mim já deu, já tive o bastante até agora. - disse Frank, levantando-se enraivecido - Você vai ter que me ouvir e acreditar em mim.

- Eu ouço e acredito em você... sempre. - disse Carrie, levantando uma sobrancelha - Frank, todos temos dias ruins, provavelmente a situação é de impaciência, não de incompetência.

- É incompetência pura pelo simples fato de que não sirvo e nunca vou servir pra assistente de detetive especial. Por um instante achei que podia ser fácil, só que não. Carrie, levei duas horas o que você teria feito em... 5 minutos, talvez menos. Nesse mundo, nessa realidade invertida, eu faria com esse tempo. Será que não entendeu a inconsistência nisso tudo?

- Então... - disse Carrie pensando a fundo - ... o djinn simplesmente modificou o espaço-tempo pra te pregar uma peça trocando nossos papéis? Uma espécie de brincadeira de mau gosto pra desestabilizar seu psicológico?

- Bingo! - disse Frank, estalando os dedos para ela.

Os lábios de Carrie se moviam fechados de modo que formavam um sorriso, mas na verdade era uma risada contida que logo se desprendeu num tom de sarro. Frank deixou cair os ombros de tanta decepção.

- A piada foi boa até pra você que é péssimo com senso de humor. - disse ela, gargalhando - Vou ligar pro psiquiatra, urgente.

- Não, não, Carrie, é sério, dá uma olhada nisso aqui. - disse Frank, virando o monitor para ela e reiniciando o vídeo - O Fred tá em apuros, o djinn sequestrou ele e tá oferecendo ele como prêmio por eu ter vencido um joguinho virtual.

- O nome do zelador é Fred?! Como sabia?

- Pouco importa! O djinn forneceu a localização e pelo que é possível ver do ambiente deve ser algum tipo de... matadouro. Não tem mais conversa fiada, a gente tem que passar por cima das normas e ir rápido ou o Fred vira carne abatida.

- Quer dizer que a urna está vazia?

- Eu vi os dedos do djinn no vídeo, ele silenciou a voz do Fred. Deixa eu pausar... - disse ele, clicando nos dois tracinhos verticais - Aí está. Tá vendo bem? Sem dúvida nenhuma é ele. Pode estar querendo a urna pra barganhar pela vida do Fred.

- Opa, vai com calma aí, apesar do caso ficar desesperador. Você não quer ir pra lá sem bolar um plano né?

- E que estratégia você sugere? Prefiro chegar e negociar.

- Algo me diz que a intenção dele é menos pacífica. Somente trocar a urna pelo Fred? Muito literal pra não despertar suspeitas. Por isso, vou te dar uma chance de pesquisar aquilo que podemos usar contra ele se estivermos lidando com uma armadilha. Eu vou ajuda-lo. Porque é isso que parceiros fazem.

Frank deu um sorriso fechado e condescendente.

- Carrie, você como uma caçadora é uma excelente assistente.

                                                                                 ***

O modelo do carro de Carrie era exatamente igual ao de Frank, com a diferença da pintura ser deu m vermelho escurecido, e tomava proximidade com o abatedouro. A noite já caíra e o local não aparentava estar provido de uma boa segurança externa. Carrie saiu do carro fixando sua atenção na cerca elétrica com linhas de metal em forma de hexágono. Frank a acompanhou, observando os arredores. Tudo estava no mais pleno silêncio. O matadouro parecia até estar fechado.

- Estranho... Cerca elétrica ligada nos 300 volts, mas as câmeras não estão funcionando...

- E tá achando que ele vai se preocupar com a segurança? Ele obviamente quer que entremos sem obstáculos. - disse Frank, pondo-se ao lado dela - Dá a entender que previu cada movimento nosso.

- Ouça o zumbido da cerca, se está ligada então não condiz com o que acabou de afirmar. E se ela dispara um alarme estridente só de danificarmos o circuito? Odeio ficar indecisa sobre arriscar ou não.

- É nisso que sou bom: arriscar corajosamente. - disse Frank, sacando uma pistola do bolso interno do sobretudo, em seguida disparando três vezes no transformador que salpicou faíscas - Aprendeu aí? Pra um caçador a opção mais duvidosa nunca merece ser descartada por medo. Mas por que tô explicando isso pra uma versão subvertida da minha assistente?

- Reserva perguntas como essa pro psiquiatra. Já marquei a consulta escondida de você. E... a cerca não está mais eletrizada, podemos ultrapassa-la. Vem. - disse Carrie, andando até a cerca. A caçadora subira primeiro e Frank veio logo depois, quase caindo no chão ao passar para o outro lado - É nessas horas que uma Scully precisa mais de um Mulder.

- Muito bem... Vamos seguir o plano à risca. - disse Frank, levantando-se e limpando o sobretudo - Ainda não completaram as três horas do limite, é bom que aquele safado com cara de repolho não se atreva a nos tapear. Como conseguiu passar pela cerca aguentando o peso da urna?

- Já peguei no pesado tantas vezes que isso não dificultou nada. - respondeu Carrie, tirando a urna de dentro do sobretudo - Mas tenho que concordar, é incômodo carrega-la no bolso. Vamos lá, eu pelos fundos e você pela frente.

De uma área escura, surgiram dois seguranças portando cassetetes sinalizando uma repressão. Os olhos deles exibiam veias preto-esverdeadas nas órbitas, um indicativo de que o djinn os controlava.

- O que tinha dito mesmo sobre preocupação com segurança? - perguntou Carrie, entregando a urna à Frank para ir enfrenta-los.

- Ei, Carrie! Você fica com a urna, deixa que eu arrebento com esses caras!

Porém, para o completo espanto do detetive, Carrie performava como uma exímia lutadora, socando ambos e defendendo-se dos cassetetes para aplicar golpes eficazes. Após derrubar um dos seguranças, retirou uma arma de eletrochoque para eletrocuta-lo no pescoço.

- Atrás de você, Carrie! - avisou Frank, odiando estar apenas assistindo para não largar a urna.

O outro segurança envolveu seu braço para um mata-leão na caçadora. Carrie, aguentando o aperto do forte braço que quase a sufocava, levou com esforço sua mão direita que segurava a arma de eletrochoque, atingindo-o na têmpora. O guarda caiu tremelicando, a corrente elétrica o enfraquecendo.

- O que tá esperando? Vambora! - disse ela, pegando a urna e correndo para o ponto onde deveria entrar, mas parou virando-se para o detetive que parecia com uma reação estática - Frank, se você prefere ficar plantado aí com essa cara de choque, eu altero nosso plano e lido eu mesma com o djinn.

- O diretor tinha razão, você é bem habilidosa, provou que passou por um treinamento de primeira.

- Ué, por que tá dizendo isso? Tá impressionado por saí na mão com dois caras? Eu já me atraquei com três vampiros ao mesmo tempo. Ah sim, é a sua loucura de novo. A Carrie do seu mundo não sabe enfrentar monstros como um caçador faria.

- Sim, mas pra deixar claro eu achei incrível. - disse Frank, recompondo-se - A Natasha ficaria orgulhosa.

- Não me compare àquela vadia mal-agradecida. - disparou Carrie, irritando-se com a menção à caça-vampiros.

Frank franziu o cenho, desconfiado do que poderia ter tornado Natasha um desafeto de Carrie, mas assumiu que pela razão do mundo onde estava funcionar numa realidade de posições, vidas e sentimentos invertidos o poder da dúvida se amenizou.

Dentro do abatedouro iluminado por lâmpadas douradas, Fred se contorcia balançando com as correntes apertando seus braços ao corpo a fim de se desprender do gancho. O djinn, desdenhoso, fazia pouco caso do sofrimento do zelador.

- É sério, me soltar daqui não vai trazer nenhum prejuízo à você, posso te garantir com toda a sinceridade. Por favor, faço tudo o que quiser, mas não tem razão pra me manter preso aqui. Eu não vou te delatar pra ninguém, eu juro, prometo.

- Quantas vezes você implorou repetidamente a mesma coisa na esperança de que eu fosse benevolente e fizesse a sua vontade por misericórdia? - perguntou o djinn - A sua utilidade no meu plano é crucial. Eu preciso de você, Fred. Você é imensamente importante pra mim. Frank deve chegar aqui com o que me pertence antes do cronômetro zerar.

- Ou o quê? Você não fala nada com coisa nenhuma, é um maníaco psicótico de outro mundo, tem mais é que voltar pro inferno de onde veio. E o que o Sr. Montgrow tem a ver com isso?

- Mais do que você deveria saber. - disse Frank, entrando naquele espaço amplo repleto de bovinos ensacados e pendurados nos ganchos - Cheguei tarde? Espero que não tenha feito uma trapaça. Solta o Fred, vamos resolver numa boa.

- Está me pedindo pra libertar uma criatura dotada de um poder devastador?!

- A criatura com esse poder é você, aqui o Fred não passa de um cara comum, normal e inocente. Você fez um troca-troca medonho, bagunçou a realidade e vai restaurar tudo ao normal. - disse Frank, desafiadoramente.

- Tem certeza de que ele é completamente humano? De que merece ser salvo? - indagou djinn, sorrindo com malícia - Veja os olhos dele.

Fred mostrava-se com as íris vermelhas e a cor da sua pele acinzentando, mas sua expressão de medo persistia.

- Sr. Montgrow, não acredita nele, tá querendo te manipular, ele é o monstro, não eu. Me tira daqui!

- Sabe esse gancho no qual o pendurei? Fiz representando o que ele escolheu se tornar: uma reles e patética marionete que sabe ver suas cordas e ainda assim comete atos em nome de um ser maligno. A verdade sobre ele confunde você, não é?

A face do detetive estampava uma apreensão crescente. Uma bifurcação dolorosa se evidenciava.

Numa sala pequena, acessada pelos fundos, Carrie desenhava o círculo com um giz ao redor da urna para fazer o sigilo cujo feitiço recitado em árabe tragaria o djinn de volta à urna e o destruiria nela.

Após desenhar os símbolos em torno do círculo, pôs a urna no centro do mesmo, logo depois retirando do bolso externo do sobretudo abotoado um papelzinho com o encantamento escrito.

- Finalmente meu curso de poliglotismo vai servir pra alguma coisa. - disse ela, bastante nervosa.

No espaço principal do abatedouro, Frank recusava-se a acreditar nas palavras do djinn.

- O que você tá tentando fazer comigo... Já saquei. Não vai rolar. A minha vida não tá acima de ninguém com quem me importo. E o Fred é uma dessas pessoas, apesar dos pesares. Ele não tem culpa. Mas não exime da minha obrigação.

- Significa que está num impasse moral. - afirmou o djinn - Escolha, Frank. A urna pouco me interessa agora, a barganha foi um bom chamariz, não tive dúvidas que atrairia você.

- Se eu escolher a vida do Fred, você me mata? Joga as cartas na mesa logo, seu filho da mãe!

- Eu mantenho tudo como está. Mas você deve reconhecer seu heroísmo falho. - disse o djinn, erguendo o dedo indicador direito levemente. Estava usando sua telecinesia trazendo algo de um canto escuro. Algo que embasbacou Frank - Essa sua guerra vem com o custo de escolhas terríveis.

A cabeça decepada de Ernest Duvemport rolava pelo chão. Abalado, Frank ajoelhou-se mal podendo desviar o olhar estupefato daquela imagem dantesca.

- Esse é o prefeito!? - disse Fred, abismado - O que diabos tá acontecendo aqui? Alguém me explica!

O djinn usou os dedos da mão direita erguida para estala-los, assim explodindo o corpo de Fred em pedaços que espalhavam-se junto com o sangue abundante, fazendo cair as correntes ensaguentadas, alguns respingos pegando no rosto de Frank que ainda estava chocado com a morte brutal de Ernest, mas não ignorou o que o djinn fizera com Fred.

- Eu nunca tive a chance de escolher, né? Seu desgraçado... - disse Frank, entristecido e impotente.

- O tempo esgotou, sinto muito. - disse o djinn, cínico - Mas para conforta-lo, vou tomar a liberdade generosa de conceder ao menos um desejo. Incondicionalmente pessoal, pra ser exato.

- Posso desejar que me acorde desse pesadelo.

- Lamenta pelo seu ex-chefe? Outra vez defendendo um monstro sanguinário.

- Ele é meu melhor amigo! E tô falando no tempo presente porque nada nesse maldito dia do contra é real! Quer me convencer de que não posso salvar todo mundo usando um truque fajuto de ilusão? Eu tenho uma carta na manga pra te obrigar a limpar essa bagunça. Não importa se é vampiro ou lobisomem, se uma pessoa querida por mim acaba nesse destino eu não paro até achar uma solução. Acha que eu puxaria o gatilho como faço contra qualquer outro monstro?

- Sim, acho. Não, na verdade tenho absoluta certeza. - retrucou o djinn, cruzando os braços numa postura altiva - Uma vez que a Carrie ou seu ex-chefe sucumbisse á sede de matar, não pensaria duas vezes antes de sair para caça-los. Não pode fugir da sua hipocrisia, Frank. Você merece confrontar com esses fatos para que se dê conta do quanto é inútil lutando sozinho uma guerra que está predestinada a esmaga-lo junto com suas utopias de um mundo livre de todo o mal. 

- Se eu tiver que cair, caio atirando. Ainda guardo mais uma bala pro caso de eu sobreviver. E não sou arrogante de pensar que tenho um dever universal, tipo um messias de profecia. Esse mal não vai acabar depois que eu chegar no fim da linha.

Na salinha emporcalhada, Carrie recitava o feitiço árabe fluentemente. O djinn começara a incutir dor em Frank, torturando com seu poder para força-lo a revelar seu maior e mais decisivo pedido.

- O desejo, Frank. - disse a entidade, fechando e esticando o punho esquerdo diante de Frank infligindo uma dor aguda no seu corpo inteiro - Não é permitido que peça a restauração do seu amado mundinho.

Carrie terminava de ler as palavras finais. Ela olhou para trás, preocupada com Frank, escutando gritos abafados. Frank pôs suas mãos ao chão, rendido à força sobrenatural que agredia seu organismo.

- Eu quero que... - falava ele com dificuldade - ... reviva...

- Reviva quem? - indagou o djinn, arqueando uma sobrancelha.

O detetive levantou a cabeça para encara-lo com um sembante de ironia elucidado pelo sorriso.

- Quero que você vá se ferrar. - disse Frank, mostrando seu celular que tirava do bolso vibrando.

- Já entendi. - disse o djinn, cessando a tortura - Você trouxe um acompanhante oculto. - fechou os olhos, usando uma habilidade que possibilitava visualizar todos os cantos de um grande local passando por todos eles como uma tour em alta velocidade. Logicamente que encontrou Carrie, no exato instante em que ela sofria dificuldade em pronunciar as duas últimas palavras. Abrindo os olhos, o djinn lançou um olhar repreensivo à Frank e fechou seu punho direito erguendo-o.

- Hora da sua amiga sentir a mesma dor. Seu desejo passou a ficar previsível, mas tenho curiosidade de saber quem você gostaria de ressuscitar. Será ela? Tudo bem mata-la pra traze-la de volta? Ou vai suplicar pra que eu a poupe?

O desespero de Frank retornava pior do que antes. Carrie bolava no chão de tanta dor, gemendo alto com os dentes cerrados. A caçadora alcançou seu celular que usou para mandar uma mensagem à Frank como um sinal de que estaria terminando o feitiço, mas não foi planejado que Frank, confiantemente, revelasse ao djinn não sabendo que ainda estava um pouco cedo. Com a mão tremendo, acessou o arquivo de áudio e clicou para reproduzir o que havia gravado antes de partir ao resgate com Frank. A gravação era o recitamento do feitiço árabe como um genioso plano de antecipação.

Com o áudio totalmente reproduzido, as travas da urna abriram-se e uma sucção afetou o djinn que viu seu corpo tornar-se fumaça dos pés à cabeça formando uma nuvem atraída diretamente à urna.

A fumaça invadiu a salinha penetrando dentro dos buracos das travas que absorviam. Frank correu para reencontrar Carrie ao passo que a fumaça foi completamente drenada. As travas fecharam-se e a urna iniciou um processo de superaquecimento de altíssimo grau, parecendo incinerar o djinn no interior. Frank achou Carrie debilitada no chão, a pegando nos braços e temendo o pior.

- Primeiro o Fred, depois o diretor... Você não, Carrie! Tem que resistir! Fica comigo... - disse ele num tom choroso. Debulhou-se em lágrimas sobre o corpo da amiga já desacordada - Não... Não tem que acabar desse jeito.

De repente, a urna resfriou e uma fumaça escura e cinzenta foi liberada das fissuras ocupando todo o espaço ao redor de Frank que levantou-se confuso. Por um momento a fumaça bloqueou toda sua visão. Até que foi dissipando lentamente.

Por mais incrível que parecesse, o detetive via-se novamente na casa de Lafayette no mesmo período em que fora parar no universo distorcido. Frank virou-se para um lado e deu de cara com o djinn que lhe deu um sorriso maroto.

- Excelente desempenho, Frank. Você decididamente foi aprovado.

- Como é que é? Então... - vislumbrou ao redor - Foi tudo mesmo uma ilusão? Esse é o seu castigo?

- Meus poderes trabalham para remodelar a realidade física e não criar mentiras. - explicou o djinn.

- Significa que... foi apenas um teste?

- Pra analisar até que ponto você suportaria testemunhar todos de quem gosta morrerem. Por isso bisbilhotar suas memórias foi conveniente. Se me permite... - voltou-se para a urna - ... agora preciso descansar. Cuide bem dela. Nem pense em ir atrás de mais urnas. Eu tenho dois irmãos e eles com certeza não são tão complacentes. E mais uma coisa: O fim de todas as coisas boas se aproxima. É bom que esteja preparado.

- Tá se referindo ao Malvus e ao Fred?

- Exato. Odeio arrasar esperanças, mas... receio que sua desvantagem seja muito maior do que pensa.

O djinn retornara à urna como fumaça. Frank ficara parado na sala refletindo sobre o desanimador alerta para o futuro.

                                                                                      -x-

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://arautodochaos.wordpress.com/2015/02/17/djinns-genios/

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