Crítica - Gasparzinho: Como Tudo Começou


O prelúdio das aventuras do fantasminha camarada.

AVISO: A crítica abaixo contém SPOILERS.

Aquele filme que não assistimos há tempos imemoriais de infância e no aflorar da nostalgia também surge uma dúvida sobre se vamos ou não permanecer apreciando o filme de uma forma próxima à reação do passado. Gasparzinho é um de muitos filmes com os quais tenho a sensação de "medo" que me persegue. Depois de adultos, a consequência natural é detectarmos algumas coisas que passaram batidas na primeira olhada e isso acabar refletindo num julgamento maduro, embora desfaça esse pedacinho do encanto pueril de uma época saudosa. Bem, tenho 23 anos, vi esse filme umas vezinhas na Sessão da Tarde e na Temperatura Máxima nos anos 2000, então devo analisa-lo como produção cinematográfica e passar por cima da memória afetiva. Isso pode levar a um resultado desastroso, mas é preciso.

Pra começar, já digo que a "história de superação" do Gasparzinho não faz o mínimo sentido. O icônico Trio Assombro, os guardiões de uma mansão marcada para ser demolida (colocando o negligente pai do garoto Chris em oposição à professora dele, Sheila - com a voz inconfundível da Tânia Gaidarji hehe), treinam o novato para que ele fique um craque na arte de assustar como se deve. Mas o Gasparzinho, no início do filme, já não assustava geral apenas dizendo um sereno e amigável "Olá"? Assustar, na visão profissional do trio, é fazer caras e bocas medonhas e monstruosas que ele não consegue fazer, mas sua condição fantasmagórica por si só basta para meter medo nas pessoas. Em suma, ele cumpriu o objetivo do seu modo, só foi ludibriado pelos seus "tios", o que serviu pra gerar mutreta pelo resto do filme mesmo.

Gasparzinho estava com destino traçado (na dimensão fantasma?) a bordo de um estiloso trem (que é a única coisa realmente assustadora, porque se aquilo fosse real o cagaço era certo), mas foi chutado por um fantasma babaca e não pôde chegar à estação, o que faz com que o chefe carrancudo, um fanstamão chamado Kibosh (que mais parece uma versão dark do Geleia de Caça-Fantasmas), incumba um dos seus subordinados a vigiar os passos do fantasminha bonachão, listando cada irregularidade que ele comete ao passo que vai seguindo os conselhos do Trio Assombro (só que aí, numa atitude heroica, salvando a loja de um assalto, sua fama não corresponde às expectativas e o coitadinho é expulso do clube). Esse arquétipo de indivíduo deslocado do seu meio é usado para construir a relação amistosa com Chris, o menino de 10 anos que sofre bullying na escola e não recebe a devida atenção do pai (sempre dedicado ao trabalho).

Chris é um garoto aficionado por bizarrices paranormais (a camisa de Arquivo X diz tudo) e reergue a auto-estima de Gasparzinho para ensina-lo a usufruir melhor das habilidades de fantasma. Só que inevitavelmente, o treinamento acaba sendo voltado a salvar o dia de Chris arruinado pelos valentões da escola - incluindo uma garota no grupo que por mais pena (ou outro sentimento) que sinta de Chris, ainda continua andando com os babaquinhas até que ela finalmente para de fazer-se de difícil e o defende. Escolheram bem o ator para o Chris, essa cara de bobo alegre dá autenticidade pro background do personagem e talvez gere simpatia entre os baixinhos, porque é um dos princípios básicos de um mocinho num filme infantil. Mas Gasparzinho e Chris ficam numa relação de dependência e dividem o protagonismo, ainda que sobressaia a impressão de que o garoto rouba o tempo de tela do fantasminha com seu drama relacionado ao pai que não tá nem aí.

Toda o destaque exacerbado à Chris relega a trama de Gasparzinho ao segundo plano (a missão de Kibosh que acaba não desempenhando o papel de vilão de acordo com o que se esperava - julgando pela sua aparência, logicamente), principalmente quando tudo culmina num resgate à mansão onde Chris foi prendido pelos bullys que jogaram a chave fora e não sabiam que tinha uma bomba implantada por Bill Case - afiliado a Tim Carson (pai de Chris). Gasparzinho novamente foi o herói do dia ao comer o explosivo em contagem regressiva (por que Tim não avisou antes pro Bill Case que seu filho estava correndo perigo na mansão e ficou só querendo tomar o detonador dele?) que não atravessou seu corpo como qualquer outro objeto sólido (coerência pra quê né?). Perdoados os efeitos especiais, a nostalgia sobreviveu (por pouco).

Considerações finais:

Gasparzinho: Como Tudo Começou entrega aquela diversão bem moderada pra um filme infanto-juvenil e noventista, mesmo não fazendo rir este que vos escreve que infelizmente teve de crescer. Além disso, é um bom exemplar de um desenho animado transposto ao live-action (embora com alguns abusos).

PS1: Preservação de patrimônio histórico contra demolição do mesmo e à construção de um shopping (era isso?) que vai promover geração de emprego é ato de viés esquerdista? Se sim, então por que o Bill Case chamou os manifestantes de liberais? (ou liberais nos EUA não tenha definição igual aqui no Brasil onde aparentemente são alinhados à direita).

PS2: Se bem que já sentia o clima de divergência política na cena do protesto (antes do Trio Assombro botar toda a galera pra correr), uma intuição mesmo sendo meio ignorante sobre essa questão de patrimônio histórico ligado à causa esquerdista. Bacana ver ambos os lados no fim das contas idealizarem um projeto que beneficiará todos.

PS3: O pessoal inteiro ficou caladinho no instante que Kibosh entra na mansão. Enfim, tem várias formas de esboçar medo e manter-se parado olhando com cara de besta e boquiaberto é uma delas.

PS4: Gasparzinho podia ter ficado invisível no momento em que Sheila visita Chris. Qual graça teria? Acho que não muita. Teria sido mais coerente? Claro, mas o filme não se obriga (por uma boa razão).

NOTA: 7,5 - BOM 

Veria de novo? Provavelmente sim. 

*A imagem acima é propriedade de seu respectivo autor e foi usada para ilustrar esta postagem sem fins lucrativos. 

*Imagem retirada de: https://twitter.com/cdecinemaa/status/748595646278545408

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